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25 de fevereiro de 2016

Reflexões sobre temas da Sagrada Escritura: A inveja.



“Por inveja do demônio entrou no mundo a morte, e experimentam-na os que são do partido dele” (Sab. II, 24 e 25)

O que é a inveja? É uma espécie de tristeza profunda que se experimenta à vista do bem que se observa nos outros. É filha do orgulho, porque quando um está convencido da própria superioridade, entristece-se, ao ver que outros são tão bem ou melhor dotados que ele, ou que ao menos alcançam maiores triunfos. O invejoso não gosta de ouvir louvar os outros; e então procura-se atenuar esses elogios, criticando os que são louvados.

Muitas vezes confunde-se a inveja com o ciúme. Mas há uma diferença, porque o ciúme é um amor excessivo do seu próprio bem, acompanhado do temor de que nos seja arrebatado por outros. Numa palavra podemos dizer: Tem-se inveja do bem de outrem; e tem-se ciúme do seu próprio bem.
Agora, existe uma coisa que parece inveja, mas não o é; até pode ser uma coisa boa e agradável a Deus: é o que chamamos de EMULAÇÃO. É ela um sentimento louvável que nos leva a imitar, igualar, e, até se possível for, a sobrepujar as qualidades dos outros, mas por meios leais, e, até apoiando-se na graça de Deus, leva-nos também a  igualar e até a sobrepujar as virtudes do próximo. Mas para ser uma coisa boa, ou seja uma emulação cristã, deve ser honesta no seu objeto, isto é, ter por objeto não os triunfos, senão as virtudes dos outros, para as imitar; deve ser nobre na sua intenção, não procurando triunfar dos outros, humilhá-los, dominá-los senão tornar-se melhor, se é possível, para que Deus seja mais honrado e a Igreja mais respeitada; deve ser também leal nos seus meios de ação, utilizando, para chegar a seus fins, não a intriga, a astúcia, ou qualquer outro processo ilícito, senão o esforço, o trabalho, o bom uso dos dons divinos.

Vejamos algumas passagens da Sagrada Escritura em que o Espírito Santo fala da inveja: “Por inveja do demônio entrou no mundo a morte, e experimentam-na os que são do partido dele” (Sab. II, 24 e 25). Por isso Jesus Cristo disse que: ” O diabo é invejoso e homicida desde o início” ; “Deixando, pois, toda a malícia, todo o engano, dissimulações, invejas e toda sorte de detrações” (1 Pedro II, 1); “Não nos façamos ávidos da vanglória, provocando-nos uns aos outros e tendo inveja uns dos outros” (Gál. V, 26). “A caridade… não é invejosa” (1 Cor. XIII, 4).
Assim podemos apontar alguns frutos diretos da inveja: ódio, detrações, discórdias, murmurações, traições e embargos a obras de zelo.

Há na inveja uma baixa e louca malícia, que não se encontra nas outras paixões. Estas defendem-se com seus pretextos; têm em vista algum bem, ao menos aparente: o ambicioso quer honras, o avarento riquezas, o voluptuoso prazeres; tudo coisas que só são desordenadas pelo desregramento da vontade que as busca. Só a inveja não oferece nenhuma vantagem nem mesmo aparente; tudo nela é vergonha, sofrimento e perversidade.
Quem tem sentimentos elevados, o espírito reto, e principalmente um pouco de caridade, desejaria que todos os homens fossem felizes; aflige-se com os que o não são; alegra-se, quando sabe que as obras de Deus prosperam  através de outros.  Infelizmente, até entre aqueles que normalmente deveriam estar isentos da peste da inveja, são por ela contaminados. Vede os discípulos de João Batista: Vão ter com ele, e dizem-lhe: “Mestre, aquele de quem vós destes testemunho, também batiza, e todos vêm a ele!” E, caríssimos, eis o espírito reto e santo do Precursor: … “Eu não sou o Cristo, mas fui enviado diante d’Ele”.. “Convém que Ele cresça e que eu diminua” (S. João, III, 26, 28 e 30). Eis a maldade da inveja: VÃO TODOS TER COM ELE! Mas, que mal vedes nisto? Dizem-vos acaso que é um falso profeta, que a sua doutrina é perigosa, que a sua direção é capaz de transviar. Não, antes pelo contrário.

São João Crisóstomo julga que os escravos desta paixão são piores que os mesmos demônios; porque, diz o santo, perseguindo aos homens encarniçadamente, esses espíritos malfazejos poupam os outros demônios; ao passo que o homem invejoso se lança contra os seus semelhantes, e contra os que ele mais deveria amar.

O próprio Espírito Santo na Sagrada Escritura mostra exemplos dos estragos desta paixão: Ela matou Abel; os irmãos de José (do Egito), pela inveja,  desejam matá-lo, e  vendem-no  aos estrangeiros; a inveja lançou o profeta Daniel na cova dos leões; e foi também a inveja que crucificou a Nosso Senhor Jesus Cristo. É este vício que tem causado a maior parte dos cismas e das heresias. Simão Mago inveja aos Apóstolos o dom de comunicar o Espírito Santo; Tertuliano não pode tolerar que outrem lhe seja preferido para o episcopado; Novaciano não é elevado à sede de Roma, como ele esperava; Lutero não é eleito para pregar as indulgências: e daí  que resultou? Todos o sabem. Muito tempo antes destes terríveis triunfos da inveja, tinha ela transformado Anjos em demônios. Ela tinha introduzido a morte no mundo, introduzindo nele o pecado. Que lágrimas tem feito derramar à Igreja, dividindo entre si os seus ministros, que deviam proteger-se uns aos outros, e que algumas vezes se têm despedaçado mutuamente, com grande escândalo das almas e proveito do inferno!

E, no entanto, vício tão terrível, tão horroroso, tão maligno e diabólico é muito comum. Ninguém se admirará muito por descobrir o seu germe em tantos corações, se se  considerar que não há paixão mais universal que a soberba, e que a primeira filha da soberba, é a vanglória, da qual nasce logo a inveja. Vejam como isto, infelizmente é verdade: Até depois da descida do Espírito Santo, num Clero tão puro e tão fervoroso, São Paulo acha invejosos: “É verdade que alguns pregam a Cristo por inveja…” (Fil. I, 15). Ah! caríssimos, se esta miserável paixão ousou manifestar-se num tempo em que o martírio era a recompensa ordinária do ministério sacerdotal; quem se admirará de que ela se haja introduzido até entre nós, clérigos e leigos?
Caríssimos, quando formos comungar, isto é, receber o Deus de toda misericórdia, de toda humildade, supliquemos-Lhe que preserve a nossa alma de um paixão tão diabólica. Que Nosso Senhor Jesus Cristo nos dê um espírito de paz, de caridade de união para unidos procurarmos sempre e unicamente a maior glória de Deus. Amém!


Por Padre Élcio Murucci

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