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3 de março de 2016

E nas outras religiões, há Deus presente?



De fato Nosso Senhor disse a frase: "Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, Eu estarei entre eles" (Mt XVIII, 20).

Repare que Nosso Senhor diz também: "Nem todo o que diz ´Senhor, Senhor` entrará no Reino dos céus" (Mt VII, 21).

E ainda: "Muitos me dirão naquele dia: "Senhor, não profetizamos nós em teu nome, e em teu nome fizemos muitos milagres"? Então Eu lhes direi bem alto: "Nunca vos conheci; apartai-vos de mim vós que praticais a iniqüidade" (Mt, VII, 22-23).

Você vê, por essas citações do Evangelho, prezado Marcelo, que não basta invocar o nome de Cristo.

Não basta até mesmo profetizar em nome de Cristo e mesmo fazer milagres em seu nome, para se salvar. Pelo contrário, Cristo os desconhecerá e os repelirá, no último dia.

Estar reunidos em nome de Cristo, profetizar em seu nome, fazer milagres em seu nome, não garante que se esteja com Cristo.

O que garante estar com Cristo é ouvir e aceitar realmente a sua palavra, e colocá-la em prática.

Pois Cristo, aí mesmo nessa passagem, observa: "Nem todo o que diz ´Senhor, Senhor` entrará no Reino dos Céus; mas o que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus, esse entrará no Reino dos céus" (Mt. VII, 21).

Também nos disse Cristo taxativamente: "Quem vos ouve, a Mim ouve" (Luc X, 16).

Ora, o protestantismo se fundamenta no livre exame da Bíblia, isto é, cada um que lê, entende como quer. Portanto, os protestantes não ouvem a palavra de Deus, mas procuram ouvir sua opinião pessoal.

Por outro lado, a doutrina luterana estabeleceu que basta ter fé para se salvar, sem ser necessário praticar boas obras.

"Crê firmemente, e peca muitas vezes" foi uma recomendação e um princípio ensinado por Lutero ao qual o protestantismo não renunciou. Você pode encontrá-lo num folheto largamente difundido entre os protestantes e que afirma que o Caminho da salvação não é prática dos mandamentos, mas só Cristo. E também, os protestantes se recusam a ouvir Pedro, e seus sucessores , os Papas. Portanto recusam ouvir a voz de Cristo falando em Pedro.

Logo, os protestantes não se reúnem em nome de Cristo, embora digam que o adoram e seguem que profetizam e fazem milagres em seu nome.

É claro que há que considerar os que, teoricamente, estejam de boa fé e por ignorância invencível, entre eles, e que, nessas condições, poderiam se salvar. Mas, a esses cabe só a Deus julgar, se estão com boa intenção ou não. Não nós.

Nesse terreno a nós cabe seguir o que escreveu e determinou, como de fé, o Papa Pio IX, no Syllabus, que condenou a seguinte frase como contrária à Fé verdadeira: "Pelo menos, deve-se ter fundadas esperanças acerca da eterna salvação de todos aqueles que não se acham de modo algum na verdadeira Igreja de Cristo" (Erro 17 condenado pelo Syllabus de Pio IX, Denzinger, 1717).

E Pio IX condenou também a seguinte frase: "O protestantismo não é outra coisa senão uma forma diversa da mesma verdadeira religião cristã e nele se pode agradar a Deus da mesma forma que na Igreja Católica" (Erro 18 do Syllabus de Pio IX, Denzinger 1718).

Logo, não se deve presumir que Cristo esteja presente na reunião de hereges, ainda que eles digam que se reúnem em seu nome.



Por: Orlando Fedeli - Associação Montfort



25 de fevereiro de 2016

Misericórdia não pode ser pretexto para dar comunhão a divorciados em nova união, explica Arcebispo



O Arcebispo de La Plata (Argentina), Dom Héctor Aguer, afirmou que “os sacerdotes não têm permissão de fazer o que quiserem e violar as disposições sobre a admissão da comunhão eucarística aos divorciados que vivem em segunda união, como pretexto para exercer a misericórdia”.

O Prelado fez esta advertência durante a instrução pastoral “A misericórdia de Deus e a nossa”, enviada à comunidade arquidiocesana da cidade de La Plata por ocasião do Jubileu Extraordinário da Misericórdia.

Recordou que neste ano especial para a Igreja pedem aos sacerdotes “uma maior disponibilidade para o ministério da reconciliação, para a pregação e os ensinamentos a fim de esclarecer as condições necessárias para receber a absolvição sacramental”.

Em 1994, a Congregação da Doutrina para a Fé emitiu uma carta a todos os bispos, por meio da qual determinou como errônea a crença de que algumas pessoas divorciadas e recasadas poderiam receber a Eucaristia normalmente.



A doutrina é clara em relação aos divorciados em nova união. O numeral 2382 do Catecismo da Igreja Católica explica o caráter indissolúvel do matrimônio e o numeral 2384 precisa que contrair uma nova união aumenta a gravidade da ruptura pois se converte “em situação de adultério público e permanente”, algo que impossibilita o acesso à Eucaristia.

Em seguida, o Arcebispo de La Plata lamentou: “Atualmente expõem este tema como se tratasse da reconquista de um direito humano. Quem assim o faz, ignora o que é a Eucaristia, o ensinamento de Jesus exposto nos três Evangelhos sinóticos acerca do adultério e da constante disciplina da Igreja”.

Dom Héctor Aguer ainda mencionou a confusão gerada entre a nulidade matrimonial e o divórcio devido “à gritaria de alguns conhecidos jornalistas quando o Papa Francisco publicou as novas normas para os processos de nulidade” em setembro de 2015.

Esta reforma do processo de nulidade considera uma maior participação dos bispos, maior brevidade para a resolução dos casos e a declaração da gratuidade dos mesmos.

Nesse sentido, este também procura melhorar o sistema de declaração de nulidade, pela salvação das almas, enquanto reafirma o ensinamento católico acerca da indissolubilidade do matrimônio.

Finalmente, Dom Aguer citou como exemplo o Movimento ‘Camino a Nazaret’ (Caminho a Nazaré), pertencente a sua arquidiocese, “este reúne casais que não podem celebrar o sacramento do matrimônio, mas procuram crescer na fé e na caridade, se exercitam na oração e aguardam com esperança a hora da graça”.

“Sou próximo a cada um deles por meio do meu afeto e a minha oração”, concluiu o Arcebispo.

O Movimento ‘Camino a Nazaret’ é uma comunidade formada por divorciados em nova união, que apesar de sua situação procuram imitar a Sagrada Família. Contam com a assessoria de sacerdotes que os acompanham no processo de crescimento da fé.

Esta iniciativa começou em 1995, por um casal em nova união, Silvia e Jorge Castello, junto com o Pe. Juan Francisco Ronconi, pároco de San Carlos de Buenos Aires. Eles decidiram dar uma resposta a este desafio pastoral dentro da Igreja Católica.


Por Diego López Marina



‘Não sejam egoístas!’: papa se irrita após ser puxado por fiéis no México.

BBC – Em uma rara demonstração de perda de paciência, o papa Francisco gritou com fieis no México após se puxado e quase cair.

O pontífice estava cumprimentando um grupo de pessoas na cidade de Morelia.

O “histórico encontro” entre Francisco e Kirill.



Entre os muitos sucessos atribuídos pela mídia ao Papa Francisco, está o “histórico encontro” realizado no dia 12 de fevereiro em Havana com o patriarca de Moscou, Kirill. Um acontecimento, escreveu-se, que viu cair o muro que há mil anos dividia a Igreja de Roma daquela do Oriente. A importância do encontro, nas palavras do próprio Francisco, não está no documento, de caráter meramente “pastoral”, senão no fato de uma convergência rumo a uma meta comum, não política ou moral, mas religiosa. O Papa Francisco parece querer substituir o Magistério tradicional da Igreja, expresso através de documentos, por um neomagistério transmitido por eventos simbólicos. A mensagem que o Papa pretende dar é de um giro na história da Igreja. Mas é precisamente através da história da Igreja que devemos começar a compreender o significado do evento. As imprecisões históricas entretanto são muitas e devem ser corrigidas, porque é justamente sobre falsificações históricas que muitas vezes se constroem os desvios doutrinários.

Em primeiro lugar, não é verdade que mil anos de história dividiam a Igreja de Roma do Patriarcado de Moscou, uma vez que este nasceu apenas em 1589. Nos cinco séculos precedentes, e ainda antes, o interlocutor oriental de Roma era o Patriarcado de Constantinopla.

Durante o Concílio Vaticano II, em 6 de janeiro de 1964, Paulo VI reuniu-se em Jerusalém com o patriarca Atenágoras, para iniciar um “diálogo ecumênico” entre o mundo católico e o mundo ortodoxo. Esse diálogo não pôde ir adiante por causa da milenar oposição dos ortodoxos ao Primado de Roma. O próprio Paulo VI admitiu-o em um discurso ao Secretariado para a Unidade dos Cristãos de 28 de abril de 1967, afirmando: “O Papa, sabemo-lo bem, é sem dúvida o maior obstáculo no caminho do ecumenismo” (Paulo VI , Insegnamenti, VI, pp. 192-193).

O Patriarcado de Constantinopla constituía uma das cinco sedes principais da Cristandade estabelecidas pelo Concílio de Calcedônia de 451. Os patriarcas bizantinos sustentavam, no entanto, que após a queda do Império Romano, Constantinopla, sede do renascido Império Romano do Oriente, deveria tornar-se a “capital”  religiosa do mundo. O cânon 28 do Concílio de Calcedônia, revogado por São Leão Magno, contém em germe todo o cisma bizantino, porque atribui à supremacia do Romano Pontífice um fundamento político, e não divino. Por isso, em 515, o Papa Santo Hormisdas (514-523) fez os bispos orientais subscrever uma Fórmula de União, com a qual reconheciam a sua submissão à Cátedra de Pedro (Denz-H, n. 363).

Entre os séculos V e X, enquanto no Ocidente se afirmava a distinção entre a autoridade espiritual e o poder temporal, nascia entrementes no Oriente o chamado “cesaropapismo”, no qual a Igreja era de fato subordinada ao Imperador, que se considerava o chefe, como delegado de Deus, tanto no campo eclesiástico quanto no secular. Os patriarcas de Constantinopla foram na verdade reduzidos a funcionários do Império Bizantino e continuaram a alimentar uma aversão radical à Igreja de Roma.

Depois de uma primeira ruptura, causada pelo patriarca Fócio no século IX, o cisma oficial ocorreu em 16 de julho de 1054, quando o patriarca Miguel Cerulário declarou que Roma caiu em heresia, devido ao Filioque no Credo e outros pretextos. Os legados romanos depuseram então contra ele, no altar da igreja de Santa Sofia em Constantinopla, a sentença de excomunhão. Os príncipes de Kiev e de Moscou, convertidos ao Cristianismo em 988 por São Vladimir, seguiram os patriarcas de Constantinopla no cisma, reconhecendo sua jurisdição religiosa.

As discórdias pareciam insuperáveis, mas um fato extraordinário ocorreu em 6 de julho de 1439 na catedral florentina de Santa Maria del Fiore, quando o Papa Eugênio IV anunciou solenemente, com a bula Laetentur Coeli (“que os céus se rejubilem”), a bem-sucedida recomposição do cisma entre as Igrejas do Oriente e do Ocidente.

Durante o Concílio de Florença (1439), do qual haviam participado o Imperador do Oriente João VIII Paleólogo e o Patriarca de Constantinopla José II, chegou-se a um acordo sobre todos os problemas, do Filioque ao Primado de Roma. A Bula pontifícia concluía com esta solene definição dogmática, assinada pelos Padres gregos: “Definimos que a Santa Sé Apostólica e o Romano Pontífice possuem o primado sobre todo o universo; que o mesmo Romano Pontífice é o sucessor do bem-aventurado Pedro, Príncipe dos Apóstolos, e autêntico Vigário de Cristo, chefe de toda a Igreja, pai e doutor de todos os cristãos; que Nosso Senhor Jesus Cristo transmitiu a ele, na pessoa do bem-aventurado Pedro, o pleno poder de apascentar, reger e governar a Igreja universal, como é atestado nos atos dos concílios ecumênicos e nos cânones sagrados” (Conciliorum Oecumenicorum Decreta, Centro Editorial Dehoniano, Bolonha, 2013, pp. 523-528). Este foi o único abraço histórico verdadeiro entre as duas igrejas durante o último milênio.

Entre os participantes mais ativos do Concílio de Florença estava Isidoro, metropolita de Kiev e de toda a Rússia. Assim que ele retornou a Moscou, anunciou de público a reconciliação ocorrida sob a autoridade do Romano Pontífice. Mas o príncipe de Moscou, Basílio o Cego, declarou-o herege e o substituiu por um bispo submisso a ele. Esse gesto marcou o início da autocefalia da igreja moscovita, independente não só de Roma, mas também de Constantinopla.

Pouco depois, em 1453, o Império Bizantino foi conquistado pelos turcos, e arrastou em seu colapso o Patriarcado de Constantinopla. Nasceu então a ideia de que Moscou deveria assumir o legado de Bizâncio e tornar-se o novo centro da Igreja cristã ortodoxa. Após o casamento com Zoe Paleólogo, sobrinha do último Imperador do Oriente, o Príncipe de Moscou Ivan III deu-se a si mesmo o título de Czar e introduziu o símbolo da águia bicéfala. Em 1589 foi estabelecido o Patriarcado de Moscou e de toda a Rússia. Os russos se tornaram os novos defensores da “ortodoxia”, anunciando o advento de uma “Terceira Roma”, após a católica e a bizantina.

Face a esses acontecimentos, os bispos daquela área, que então se chamava Rutênia e que hoje corresponde à Ucrânia e a uma parte da Bielorrússia, reuniram-se, em outubro de 1596, no Sínodo de Brest e proclamaram a união com a Sé Romana. Eles são conhecidos como uniatas, por causa de sua união com Roma, ou greco-católicos, porque, embora submetidos ao Primado romano, conservaram a liturgia bizantina. Os czares russos empreenderam uma perseguição sistemática à Igreja uniata que, entre os muitos mártires, contou com João (Josafá) Kuncevitz (1580-1623), arcebispo de Polotzk, e o jesuíta Andrea Bobola (1592-1657), apóstolo da Lituânia. Ambos foram torturados e mortos por ódio à fé católica e hoje são venerados como santos. A perseguição tornou-se ainda mais cruenta sob o império soviético. O cardeal Josyp Slipyj (1892-1984), deportado por 18 anos nos campos de concentração comunistas, foi o último intrépido defensor da Igreja Católica ucraniana. Hoje os uniatas constituem o maior grupo de católicos de rito oriental e são um testemunho vivo da universalidade da Igreja Católica. É mesquinho afirmar, como o faz o documento de Francisco e Kirill, que o “método do uniatismo”, se entendido “como a união de uma comunidade à outra separando-a da sua Igreja [originária]”, “não é uma forma que permita restabelecer a unidade”, e que “por isso, é inaceitável o uso de meios desleais para incitar os crentes a passar de uma Igreja para outra, negando a sua liberdade religiosa ou as suas tradições”.

O preço que o Papa Francisco teve que pagar por essas palavras exigidas por Kirill é muito alto: a acusação de “traição” lançada aos católicos uniatas, sempre fidelíssimos a Roma. Mas o encontro de Francisco com o patriarca de Moscou vai muito além daquele de Paulo VI com Atenágoras. O abraço de Kirill tende sobretudo a acolher o princípio ortodoxo da sinodalidade, necessário para “democratizar” a Igreja Romana. No que diz respeito não à estrutura da Igreja, mas à substância da sua fé, o evento simbólico mais importante do ano será contudo a comemoração por Francisco do 500º aniversário da Revolução protestante, prevista para outubro próximo em Lund, Suécia. (Roberto de Mattei)



Por Roberto de Mattei| Tradução: Hélio Dias Viana – FratresInUnum



Papa, “uniões civis”? Eu não me meto! “O que eu penso é o que pensa a Igreja. O Papa é para todos e não pode se meter em política. Este não é o papel do Papa”.



 Papa Francisco todo à vontade no avião papal do México de volta à Itália. Das uniões civis (entre homossexuais) com as quais não se mete, aos casos em que a contracepção poderia ser tolerada; do sonho da viagem à China às acusações contra Donald Trump de não ser cristão, pelo fato de Trump querer construir um muro na fronteira (entre México e EUA), muitos foram os tópicos abordados.

Sobre as uniões civis (entre homossexuais): “Eu não sei como andam as coisas no Parlamento Italiano. O Papa não se intromete na política italiana”. Assim falou o Papa sobre o projeto de lei de uniões civis entre homossexuais. “Na primeira reunião que tive com os bispos no dia 13 de maio uma das coisas que eu disse foi:  com o governo se arranjem vocês. Porque o Papa é para todos e não pode se meter na política concreta de um país. Isto não é o papel do Papa. E aquilo que eu penso é o que pensa a Igreja e tem se falado tanto sobre isso porque este não é o primeiro país que faz esta experiência, há muitos”.

Respondendo depois a uma segunda pergunta sobre o mesmo assunto, Francisco disse que não se lembrava bem do documento do Vaticano de 2003, o qual diz, entre outras coisas, que os parlamentares Católicos não devem votar a favor de tais leis. “Mas o parlamentar Católico – sublinhou – deve votar de acordo com sua consciência bem formada, eu diria apenas isso.  Creio que que é o suficiente, eu digo bem formada.”

“Me recordo – acrescentou – quando foi votado o casamento entre pessoas do mesmo sexo em Buenos Aires. Eles estavam lá com os votos empatados e em uma discussão um deles sugeriu ao outro:  bem, vamos lá votar porque se não formos não conseguiremos fazer o quórum. Enquanto outro dizia: mas se atingirmos um quórum damos o voto a Kirchner.  E o primeiro: bem, eu prefiro dar a Kirchner do que a Bergoglio”. E para a frente! Isto não é consciência bem formada. No tocante às pessoas do mesmo sexo – rebateu- repito o que está no Catecismo da Igreja Católica”.

Falando depois das indicações feitas a nível internacional sobre o aborto e contracepção para evitar os danos do vírus Zika, Francisco recordou que “o aborto não é um mal menor, é um crime, é eliminar para salvar, e é o que faz a máfia: é um crime, é um mal absoluto. Sobre o mal menor, evitar a gravidez, falamos em termos de conflitos entre o quinto e o sexto mandamento. Paulo VI, o grande, em uma situação difícil na África, permitiu que as freiras usassem contraceptivos em casos de violência sexual”. Quando perguntado qual era seu sonho, o Papa Francisco respondeu sem hesitar um segundo: “China, ir lá, eu realmente gostaria”. E quando perguntado se os seus sonhos eram em espanhol ou italiano respondeu com um sorriso: “Eu vou te dizer que sonho em esperanto, eu não sei como responder, realmente. Às vezes sim, lembro-me, sonho em outro idioma. Mas sonhar em línguas não, sonhar figuras, a minha psicologia é assim, com palavras sonho pouco”.

Duríssima no entanto foi sua tomada de posição contra os bispos que acobertam padres culpados de pedofilia: “Um bispo que transfere um sacerdote de paróquia quando são detectados casos de pedofilia é um inconsciente e que deveria por isso apresentar sua renúncia”.  Disse o Papa Francisco respondendo a repórteres no vôo de volta do México. Pedofilia – disse ele – é uma monstruosidade, porque um sacerdote que é consagrado a Deus subtrai um filho a Deus se o come em um sacrifício diabólico, o destrói “.

Resposta à distância depois sobre Donald Trump. “Uma pessoa que pensa em construir muros, quem quer que seja, não é cristão. Este não é o Evangelho”, disse Francisco aludindo às declarações do candidato à presidência dos EUA que planeja construir 2500 km de cerca ao longo da fronteira entre EUA e México e deportar 10 milhões de imigrantes ilegais. Católicos americanos devem votar nele? “Eu não me meto, apenas digo que este homem não é cristão, se ele diz essas coisas. É preciso ver se ele disse isso ou não. Sobre isso dou-lhe o benefício da dúvida.” Por sua vez, a resposta do magnata republicano veio logo: “O Papa é uma figura muito política. Para um líder religioso por em dúvida a fé de uma pessoa é vergonhoso. Eu sou orgulhoso de ser cristão e como presidente não vou permitir que a Cristandade continue sendo constantemente atacada e enfraquecida, assim como está acontecendo agora, com o atual presidente norte-americano”.

E na sua página do Facebook, Donald Trump também respondeu ao Papa:

Em resposta ao Papa:

Se e quando o Vaticano for atacado pelo ISIS, que como todos sabem é o troféu mais cobiçado pelo ISIS, eu posso assegurar- lhes que o Papa teria desejado e rezado para que Donald Trump fosse o Presidente, porque comigo isso não teria acontecido. ISIS já teria sido erradicado ao contrário do que está acontecendo agora com nossos políticos que são tudo conversa e nada de ação.

O Governo Mexicano e sua liderança tem feito muitos comentários depreciativos sobre minha pessoa ao Papa, porque querem continuar a defraudar os Estados Unidos, tanto no comércio como na fronteira, e eles entendem que eu estou totalmente por dentro do que eles estão fazendo. O Papa só ouviu um lado da história – ele não viu o crime, o tráfico de drogas e o impacto negativo que as políticas econômicas atuais têm sobre os Estados Unidos. Ele não vê como a liderança mexicana é mais esperta que o Presidente Obama e nossa liderança em todos os aspectos da negociação.
Para um líder religioso por em dúvida a fé de uma pessoa é simplesmente vergonhoso. Eu sou orgulhoso ser cristão e como presidente não vou permitir que a Cristandade continue sendo constantemente atacada e enfraquecida, assim como está acontecendo agora, com o atual presidente norte-americano.

Nenhum líder, especialmente um líder religioso, deveria ter o direito de questionar a religião ou a fé de outro homem. Eles estão usando o Papa como um títere e eles deveriam ter vergonha de fazê-lo, especialmente quando tantas vidas estão envolvidas e quando a imigração ilegal está tão desenfreada.

Donald J. Trump


Por ANSA | Tradução: Gercione Lima – FratresInUnum


Microcefalia: o novo pretexto para o aborto.



Neste setor de abortos há uma corrente forte da qual participam muitos médicos, que acreditam no dogma de Hitler. O aborto deu a algumas pessoas grande poder sobre a vida e sobre a morte. Aguardamos o tempo em que a mãe terá o direito de matar o seu filho até algumas horas depois do parto normal. Quando a criança nasce a mãe deve ter a possibilidade de olhar bem para ela e ver se corresponde à sua expectativa e resolver se ela deve continuar vivendo. Isto é o ideal, o sonho, naturalmente. Mas ainda estamos muito longe do tempo em que a sociedade em seu conjunto aceite uma coisa destas. Temos que ir muito devagar.

Se se dissesse uma coisa destas logo no começo, quando entrou em vigor a Lei do Aborto, teria havido protestos, o público teria ficado horrorizado. Temos que conquistar nosso terreno centímetro por centímetro[1].

As palavras acima foram pronunciadas por um farmacêutico, dono de um consultório de teste de gravidez em Londres. Foram gravadas secretamente pelos jornalistas Michael Litchfield e Susan Kentish, que investigavam o que ocorria nas clínicas de aborto logo após a sua legalização na Inglaterra (o “Abortion Act”, de 1967). Esta foi uma das vezes em que os jornalistas se depararam com uma simpatia entre os praticantes do aborto e as ideias nazifascistas. Digna de nota é a frase: “Temos que conquistar nosso terreno centímetro por centímetro”.

No Brasil está acontecendo algo semelhante. Em abril de 2012, o Supremo Tribunal Federal julgou procedente o pedido da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n. 54 (ADPF 54), deixando de considerar crime o aborto de crianças anencéfalas. Agora, com o surto do nascimento de crianças com o perímetro cefálico menor que 32 centímetros (microcefalia), fato este supostamente associado ao vírus zika, eis que aparece um grupo desejando pleitear na Suprema Corte o aborto de tais bebês de cabeça pequena[2]. E o advogado que defendeu a ignóbil causa do aborto de anencéfalos é hoje ministro do STF: Luís Roberto Barroso. Pode-se imaginar qual será o voto dele quanto à morte dos portadores de microcefalia…

Uma jornalista portadora de microcefalia

Não foi à toa que a jornalista Ana Carolina Cáceres, 24 anos, moradora de Campo Grande (MS), portadora de microcefalia, reagiu com indignação à notícia do plano de liberar o aborto de pessoas como ela. Eis o que ela disse em entrevista à BBC Brasil:

Quando li a reportagem sobre a ação que pede a liberação do aborto em caso de microcefalia no Supremo Tribunal Federal (STF), levei para o lado pessoal. Me senti ofendida. Me senti atacada.

No dia em que nasci, o médico falou que eu não teria nenhuma chance de sobreviver. Tenho microcefalia, meu crânio é menor que a média. O doutor falou: ‘ela não vai andar, não vai falar e, com o tempo, entrará em um estado vegetativo até morrer’.

Ele – como muita gente hoje – estava errado.

Meu pai conta que comecei a andar de repente. Com um aninho, vi um cachorro passando e levantei para ir atrás dele. Cresci, fui à escola, me formei e entrei na universidade. Hoje eu sou jornalista e escrevo em um blog.

Escolhi este curso para dar voz a pessoas que, como eu, não se sentem representadas. Queria ser uma porta-voz da microcefalia e, como projeto final de curso, escrevi um livro sobre minha vida e a de outras 5 pessoas com esta síndrome (microcefalia não é doença, tá? É síndrome!).

Com a explosão de casos no Brasil, a necessidade de informação é ainda mais importante e tem muita gente precisando superar preconceitos e se informar mais. O ministro da Saúde, por exemplo. Ele disse que o Brasil terá uma ‘geração de sequelados’ por causa da microcefalia.

Se estivesse na frente dele, eu diria: ‘Meu filho, mais sequelada que a sua frase não dá para ser, não’.

Porque a microcefalia é uma caixinha de surpresas. Pode haver problemas mais sérios, ou não. Acho que quem opta pelo aborto não dá nem chance de a criança vingar e sobreviver, como aconteceu comigo e com tanta gente que trabalha, estuda, faz coisas normais – e tem microcefalia.

As mães dessas pessoas não optaram pelo aborto. É por isso que nós existimos[3].

Uma sobrevivente de um aborto tentado

Tatiana Alves Baliana, 34 anos, funcionária pública de Uberlândia (MG), sobrevivente de uma tentativa de aborto, dá o seguinte testemunho:

Amados irmãos, peço-lhes um favor:

Deitem em sua cama e aconcheguem em seus cobertores, edredons e lençóis.

Durmam…

De repente, vocês têm a sensação de perder o ar, ficam ofegantes, mas como saber se é sonho ou realidade?

É a realidade e, estão perdendo o ar, não conseguem respirar e, até mesmo desfalecem…

Têm a sensação de estar caindo em um abismo, mas de repente o ar volta!!!

Ai, como é bom ter a sensação de respirar, sentir o ar encher os seus pulmões…

Sensação de vida, né?

Pois bem, lembram-se da falta de ar, da vontade constante de respirar e não poder? De cair em um abismo e não conseguir voltar?

Sim, eu sei bem o que é isto, eu passei por isto…

Passei por isto como uma criança indefesa que não tinha para onde ir ou correr…

Nasci aos 5 meses e meio de gestação em um aborto provocado por sonda, onde esta sensação que vocês tiveram, eu tive, porém com um detalhe: nasci morta.

Para a honra e glória da Santíssima Trindade, da Santíssima Virgem e de meu Santo Anjo da Guarda, eu comecei a me mexer e gritaram: O feto está vivo!

Sim, eu era um feto, para os médicos, enfermeiras e técnicos de enfermagem, eu era apenas um feto lutando pela vida, após inúmeras tentativas de aborto, até a que culminou com o meu nascimento, abandono no hospital e a minha adoção.

Portanto amados, se vocês acham que o aborto é direito da mulher, pois “meu corpo, minhas regras”, pensem no corpo e nas regras da criança que está sendo gestada.

Só Deus sabe a minha missão e o motivo por que consegui sobreviver. Sou uma mulher feliz, pois tenho uma família maravilhosa, à qual só tenho a agradecer.

Mas, eu sei o que sinto todas as vezes que vejo notícias de abortos, ou até fotos de instrumentos usados para este infanticídio. Sinto que sou eu que estou sendo abortada, que o que aconteceu no dia 29/10/1981 está acontecendo novamente, só que desta vez com outros instrumentos, outras formas e outros jeitos.

Eu passei por isto, e não quero que nenhuma criança sofra o que eu sofri. Tente, coloque-se no lugar daquela criança. Tenho certeza que você não ficaria feliz de morrer de formas tão cruéis.

Lembre-se: Deus deu a vida e somente Ele tem o poder para tirá-la.

O primeiro inocente

Infelizmente, o juiz Jesseir Coelho de Alcântara, célebre em Goiânia por autorizar abortos eugênicos, passou agora a defender publicamente o direito ao aborto de crianças microcéfalas. Eis suas palavras:

Se houver pedido oportuno por alguma gestante no caso de gravidez com microcefalia e zika com comprovação médica de que esse bebê não vai nascer com vida, analogicamente a autorização judicial poderá ser concedida[4].

Acontece que a microcefalia não é nenhuma sentença de morte logo após o parto. Normalmente tais crianças nascem vivas (que o diga Ana Carolina Cáceres), a menos que haja alguém que queira abortá-las.

Embora o juiz Jesseir insista que o aborto deve ser avaliado “caso a caso” e que “é importante não banalizar”, não sei de um único caso em que esse magistrado tenha negado um pedido de aborto de deficientes.

Segundo Ricardo Dip, Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo,

é conhecido o emblemático episódio — difundido até pela indústria do cinema — em que um oficial nazista, durante os processos do Tribunal de Nuremberg, explicou a um seu colega, médico e militar norte-americano, que as atrocidades do nacional-socialismo germinaram a contar do dia em que se aceitou, sem resistência, matar o primeiro inocente[5].

Conscientemente ou não, o juiz Jesseir, após ter autorizado a morte do primeiro inocente, tem conquistado centímetro por centímetro o terreno rumo ao aborto irrestrito e ao homicídio neonatal. Talvez ele venha a descobrir isso tarde demais…

Anápolis, 15 de fevereiro de 2016. [www.providaanapolis.org.br]


Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz

[1] LITCHFIELD, Michael; KENTISH, Susan. Bebês para queimar: a indústria do aborto na Inglaterra. 6. ed. São Paulo, Paulinas, 1985, p. 52-54. Título original: Babies for burning: the abortion business in Britain. O “copyright” é de 1974.

[2] Ricardo SENRA. Grupo prepara ação no STF por aborto em casos de microcefalia. BBC Brasil, 26 jan. 2016, in:http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160126_zika_stf_pai_rs

[3] Ricardo SENRA. ‘Sou plena, feliz e existo porque minha mãe não optou pelo aborto’, diz jornalista com microcefalia. BBC Brasil, 1 fev. 2016, in: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/02/160201_microcefalia_aborto_pontodevista_ss

[4] Jesseir Coelho de ALCÂNTARA. Aborto em casos de microcefalia. O Popular, 2 fev. 2016, p.7.

[5] Ricardo DIP. Os direitos humanos do neoconstitucionalismo: direito natural da pós-modernidade? Aquinate, n. 17 (2012), p. 14, in: http://www.aquinate.net/revista/edicao_atual/Artigos/17/C.Aq.17.Art.Dip.pp.13-27..pdf

Reflexões sobre temas da Sagrada Escritura: A inveja.



“Por inveja do demônio entrou no mundo a morte, e experimentam-na os que são do partido dele” (Sab. II, 24 e 25)

O que é a inveja? É uma espécie de tristeza profunda que se experimenta à vista do bem que se observa nos outros. É filha do orgulho, porque quando um está convencido da própria superioridade, entristece-se, ao ver que outros são tão bem ou melhor dotados que ele, ou que ao menos alcançam maiores triunfos. O invejoso não gosta de ouvir louvar os outros; e então procura-se atenuar esses elogios, criticando os que são louvados.

Muitas vezes confunde-se a inveja com o ciúme. Mas há uma diferença, porque o ciúme é um amor excessivo do seu próprio bem, acompanhado do temor de que nos seja arrebatado por outros. Numa palavra podemos dizer: Tem-se inveja do bem de outrem; e tem-se ciúme do seu próprio bem.
Agora, existe uma coisa que parece inveja, mas não o é; até pode ser uma coisa boa e agradável a Deus: é o que chamamos de EMULAÇÃO. É ela um sentimento louvável que nos leva a imitar, igualar, e, até se possível for, a sobrepujar as qualidades dos outros, mas por meios leais, e, até apoiando-se na graça de Deus, leva-nos também a  igualar e até a sobrepujar as virtudes do próximo. Mas para ser uma coisa boa, ou seja uma emulação cristã, deve ser honesta no seu objeto, isto é, ter por objeto não os triunfos, senão as virtudes dos outros, para as imitar; deve ser nobre na sua intenção, não procurando triunfar dos outros, humilhá-los, dominá-los senão tornar-se melhor, se é possível, para que Deus seja mais honrado e a Igreja mais respeitada; deve ser também leal nos seus meios de ação, utilizando, para chegar a seus fins, não a intriga, a astúcia, ou qualquer outro processo ilícito, senão o esforço, o trabalho, o bom uso dos dons divinos.

Vejamos algumas passagens da Sagrada Escritura em que o Espírito Santo fala da inveja: “Por inveja do demônio entrou no mundo a morte, e experimentam-na os que são do partido dele” (Sab. II, 24 e 25). Por isso Jesus Cristo disse que: ” O diabo é invejoso e homicida desde o início” ; “Deixando, pois, toda a malícia, todo o engano, dissimulações, invejas e toda sorte de detrações” (1 Pedro II, 1); “Não nos façamos ávidos da vanglória, provocando-nos uns aos outros e tendo inveja uns dos outros” (Gál. V, 26). “A caridade… não é invejosa” (1 Cor. XIII, 4).
Assim podemos apontar alguns frutos diretos da inveja: ódio, detrações, discórdias, murmurações, traições e embargos a obras de zelo.

Há na inveja uma baixa e louca malícia, que não se encontra nas outras paixões. Estas defendem-se com seus pretextos; têm em vista algum bem, ao menos aparente: o ambicioso quer honras, o avarento riquezas, o voluptuoso prazeres; tudo coisas que só são desordenadas pelo desregramento da vontade que as busca. Só a inveja não oferece nenhuma vantagem nem mesmo aparente; tudo nela é vergonha, sofrimento e perversidade.
Quem tem sentimentos elevados, o espírito reto, e principalmente um pouco de caridade, desejaria que todos os homens fossem felizes; aflige-se com os que o não são; alegra-se, quando sabe que as obras de Deus prosperam  através de outros.  Infelizmente, até entre aqueles que normalmente deveriam estar isentos da peste da inveja, são por ela contaminados. Vede os discípulos de João Batista: Vão ter com ele, e dizem-lhe: “Mestre, aquele de quem vós destes testemunho, também batiza, e todos vêm a ele!” E, caríssimos, eis o espírito reto e santo do Precursor: … “Eu não sou o Cristo, mas fui enviado diante d’Ele”.. “Convém que Ele cresça e que eu diminua” (S. João, III, 26, 28 e 30). Eis a maldade da inveja: VÃO TODOS TER COM ELE! Mas, que mal vedes nisto? Dizem-vos acaso que é um falso profeta, que a sua doutrina é perigosa, que a sua direção é capaz de transviar. Não, antes pelo contrário.

São João Crisóstomo julga que os escravos desta paixão são piores que os mesmos demônios; porque, diz o santo, perseguindo aos homens encarniçadamente, esses espíritos malfazejos poupam os outros demônios; ao passo que o homem invejoso se lança contra os seus semelhantes, e contra os que ele mais deveria amar.

O próprio Espírito Santo na Sagrada Escritura mostra exemplos dos estragos desta paixão: Ela matou Abel; os irmãos de José (do Egito), pela inveja,  desejam matá-lo, e  vendem-no  aos estrangeiros; a inveja lançou o profeta Daniel na cova dos leões; e foi também a inveja que crucificou a Nosso Senhor Jesus Cristo. É este vício que tem causado a maior parte dos cismas e das heresias. Simão Mago inveja aos Apóstolos o dom de comunicar o Espírito Santo; Tertuliano não pode tolerar que outrem lhe seja preferido para o episcopado; Novaciano não é elevado à sede de Roma, como ele esperava; Lutero não é eleito para pregar as indulgências: e daí  que resultou? Todos o sabem. Muito tempo antes destes terríveis triunfos da inveja, tinha ela transformado Anjos em demônios. Ela tinha introduzido a morte no mundo, introduzindo nele o pecado. Que lágrimas tem feito derramar à Igreja, dividindo entre si os seus ministros, que deviam proteger-se uns aos outros, e que algumas vezes se têm despedaçado mutuamente, com grande escândalo das almas e proveito do inferno!

E, no entanto, vício tão terrível, tão horroroso, tão maligno e diabólico é muito comum. Ninguém se admirará muito por descobrir o seu germe em tantos corações, se se  considerar que não há paixão mais universal que a soberba, e que a primeira filha da soberba, é a vanglória, da qual nasce logo a inveja. Vejam como isto, infelizmente é verdade: Até depois da descida do Espírito Santo, num Clero tão puro e tão fervoroso, São Paulo acha invejosos: “É verdade que alguns pregam a Cristo por inveja…” (Fil. I, 15). Ah! caríssimos, se esta miserável paixão ousou manifestar-se num tempo em que o martírio era a recompensa ordinária do ministério sacerdotal; quem se admirará de que ela se haja introduzido até entre nós, clérigos e leigos?
Caríssimos, quando formos comungar, isto é, receber o Deus de toda misericórdia, de toda humildade, supliquemos-Lhe que preserve a nossa alma de um paixão tão diabólica. Que Nosso Senhor Jesus Cristo nos dê um espírito de paz, de caridade de união para unidos procurarmos sempre e unicamente a maior glória de Deus. Amém!


Por Padre Élcio Murucci

Paulo VI e o caso das freiras violentadas no Congo. O que o Papa jamais disse.



 Na  pirotécnica conferência de imprensa no voo de regresso do México para Roma, o Papa Francisco entre outras coisas sacou a história segundo a qual “Paulo VI – o grande – em uma situação difícil, teria permitido às freiras na África, o uso de contraceptivos em casos de violência sexual “. Ele acrescentou que “para evitar a gravidez não é um mal absoluto, e em certos casos, como ao que referi do Beato Paulo VI, [que] foi claro.”

Dois dias depois, até o padre Federico Lombardi se saiu com a mesma história, em entrevista à Rádio Vaticano realizada com o intuito de endireitar o que saiu errado nas declarações do Papa publicadas pelos meios de comunicação, e que interpretado com aparente sinal verde para os contraceptivos, já estavam cantando vitória.

“O contraceptivo ou preservativo, especialmente em casos de emergência e gravidade, podem igualmente ser objeto de um discernimento de consciência sério. Isso diz o papa. […] O exemplo que [Francisco] fez de Paulo VI e da autorização para uso da pílula para as religiosas que estavam em risco muito sério e contínuo de  violência sexual pelos rebeldes no Congo, naqueles tempos da tragédia da guerra do Congo, sugere que não era uma situação normal em que tal medida foi considerada ” .

Agora, que Paulo VI tenha dado explicitamente aquela permissão é questionável. Ninguém  jamais foi capaz de citar uma única palavra dele a esse respeito. No entanto, esta lenda urbana continua de pé por décadas, e no presente estão sendo usadas até mesmo por Francisco e seu porta-voz.

Para reconstruir como é que esta história nasceu é necessário voltar não ao pontificado de Paulo VI, mas ao do seu antecessor, João XXIII.

Era o ano 1961, e a questão : “se era lícito para as freiras em perigo de serem estupradas recorrer aos contraceptivos, em uma situação de guerra como aquela que assolava o Congo”, foi submetida a três teólogos morais de autoridade:

– Pietro Palazzini, então secretário da Sagrada Congregação do Conselho que depois se tornou cardeal;

– Francesco Hurth, professor jesuíta na Pontifícia Universidade Gregoriana;

– Ferdinando Lambruschini, professor da Pontifícia Universidade Lateranense.

Os três juntos formularam as suas opiniões em um artigo na revista do Opus Dei “Estudos Católicos”, número 27, 1961, pp. 62-72, sob o título: “Uma mulher pergunta:.. Como negar-se à violência? Moral exemplificada. Um debate”

Todos três eram a favor de se admitir a legalidade desse ato, embora com argumentos diferentes entre eles. E este parecer favorável não só passou ileso, sem qualquer consideração submissa ao Santo Ofício, mas tornou-se doutrina comum entre os moralistas católicos de todas as escolas.

Em 1968, Paulo VI publicou a encíclica “Humanae Vitae”, que condenou como “intrinsecamente má toda a ação que, ou em previsão do ato conjugal, ou durante a sua realização, quer no desenrolar das suas consequências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação “. E essa condenação foi posteriormente publicada em 1997, com as mesmas palavras, no Catecismo da Igreja Católica.

Mas, mesmo após a publicação da “Humanae Vitae”, a legalidade do hipotético comportamento das freiras congolesas continuou a ser pacificamente admitida sem que Paulo VI e seus sucessores dissessem uma palavra a esse respeito.

Aliás, de fato em 1993, no pontificado de João Paulo II, essa questão voltou mais uma vez ao centro das atenções, desta vez não por causa da guerra no Congo, mas na Bósnia. O teólogo moral que naquele ano se tornou porta-voz de autoridade para a doutrina comum em favor da legalidade foi o jesuíta Giacomo Perico, com um artigo na revista “La Civiltà Cattolica” impresso com o imprimatur das autoridades do Vaticano, com o título: “O estupro, o aborto e anticoncepcionais. “

Na verdade, a controvérsia entre os moralistas, a partir de então e até hoje, não diz respeito à legalidade do ato em questão, mas aos fundamentos desta legalidade.

Há quem retém a legalidade deste ato como uma “exceção” a qual poderiam ser associadas outras, avaliando-se caso a caso, e invalidando assim o status de “intrinsecamente mau” – e, assim, sem exceção – poderia ser aplicada à “Humanae vitae “no que diz respeito à contracepção.

E há aqueles que consideram o comportamento das freiras congolesas ou bósnias como um ato de legítima defesa contra os efeitos de um ato de violência que não tem nada a ver com o ato sexual livre e voluntário do qual se deseja excluir a procriação, que é o único sobre o qual recai a sentença – sem exceção –  da ” Humanae vitae” .

O estudioso que reconstruiu com mais clareza o choque entre essas duas correntes é Rhonheimer Martin, professor de ética e filosofia política na Universidade Pontifícia da Santa Cruz, no livro “Ética da procriação e da defesa da vida humana”,  Universidade Católica de Imprensa Americana, Washington, 2010, nas páginas 133-150.

Na opinião de Rhonheimer é a segunda tese, a mais fiel ao Magistério da Igreja, enquanto a primeira, tipicamente casuística e ” proporcionalista”, é uma crítica à “Veritatis Splendor”, a encíclica de João Paulo II sobre a teologia moral.

Mas, curiosamente, é precisamente sobre essa primeira tese que parecem se inclinar tanto o Papa Francisco, na conferência de imprensa em 17 de fevereiro, como ainda mais o padre Lombardi na entrevista de 19 a Rádio Vaticano.

Tanto um como o outro, de fato, fazem uma distinção entre o aborto, um mal absoluto que não admite nenhuma exceção, e a contracepção, que segundo o que – eles dizem – “não é um mal absoluto”, mas “um mal menor” e, portanto, pode ser permitido em “casos de emergência ou situações especiais”.

Padre Lombardi cita uma outra destas exceções permitidas: o uso do preservativo em situações de riscos de contágio da AIDS, comentado por Bento XVI em seu livro-entrevista “Luz do Mundo”, em 2010.

Mas, de fato, isso também é reduzido a um caso de exceção. Ignorando a nota de esclarecimento – de parecer bem diferente – que a Congregação para a doutrina da fé, dando voz ao Papa Bento, publicou em 21 de dezembro de 2010, com relação  à polêmica que explodiu como resultado daquele livro.


Por Sandro Magister | Tradução: Gercione Lima – FratresInUnum.com

O Anticristo



Como será o Anticristo? Sabemos que, em Paulo, nas cartas de João e no Apocalipse, existem espalhados por toda parte vários avisos prévios de uma realidade na tradição cristã identificada como (e eu vou citar um livro de Teologia) “o príncipe do mal que virá e reinará sobre o mundo no fim dos tempos, antes do retorno definitivo do Filho do homem estabelecer os novos céus e nova terra”.

Em muitas eras, os crentes pensaram identificar com aquela misteriosa figura algum personagem histórico sanguinário: Nero, Átila, Napoleão, Lenin, Stalin e Hitler.

No entanto, há também uma tradição cristã, mesmo se minoriatária, que coloca o perigo do Anticristo (“homem do pecado” e “filho da perdição” de São Paulo) não em violência e sangue, mas no mimetismo dissimulado de uma persuasiva e convidativa realidade. O livro de Robert H. Benson, de 1907, O Senhor do Mundo, só recentemente foi traduzido para o italiano e nele o grande adversário de Jesus se apresenta sob o disfarce de “humanista”, um mestre da tolerância, pluralismo, irenismo e ecumenismo; [Ele é] um corruptor sorridente, mais do que um antagonista estridente do Evangelho; um anulador de dentro mais do que um assaltante do exterior.

Talvez, até agora, poucos souberam que alguns anos mais tarde, em 1916, a mesma tese foi reproposta por Carl Schmitt. Schmitt morreu em 1985 com quase 100 anos de idade, e está entre os que mais vamos ouvir a respeito nos próximos anos: já há uma indicação exata disto (aumentando a cada dia) na esmagadora bibliografia de sua obra, que foi por décadas reprimida e exorcizada, uma vez que ele era, de fato, suspeito de nacional-socialismo. Na realidade, este brilhante jurista alemão e especialista em política foi rapidamente descartado pelo Terceiro Reich (no qual, inicialmente, ele viu tão bem o cumprimento de alguns pontos de sua teoria política) na medida em que ele foi acusado de “insuficiente e superficial anti-semitismo ” e acima de tudo por causa de suas “corrupções católicas”.

Na realidade – como estudos recentes têm confirmado – o catolicismo de Schmitt não era simplesmente cultural e determinado por seus estudos de juventude em escolas religiosas, mas foi uma fé professada e vivida até o fim. O que torna este pensador tão inquietantemente fascinante (redescoberto agora ainda por ex-esquerdistas, em sua busca confusa por “mestres”, após o colapso de todos os seus pontos de referência) é que ele inseriu [no seu trabalho] com o realismo maquiavélico e hobesiano, temas religiosos como culpa, redenção, salvação, Cristo e o Anticristo. Foi dito que fazia uma espécie de “teologia política”, embora para aqueles que o leiam atentamente, o seu trabalho seja, talvez, “política teológica”: uma discussão sobre a ordem humana das coisas, 1) por ter também em conta o transcendente e 2) por um confronto com a história, com a consciência de que não é o quadro geral, mas está destinada a fluir para um mistério que vai muito além dela.

A partir de 1916, como militar no exército bávaro, o Carl Schmitt de 28 anos de idade, começou suas reflexões sobre o Anticristo, com um livro dedicado ao Nord-licht (“Luzes do Norte” ou seja, “a aurora”) por Theodor Däubler. O jovem Schmitt, nestas páginas, cita um texto que ele encontrou em “Latin Sermo de fine mundi” de Santo Efrém. Vale a pena citar o original daquela passagem realmente singular, segundo a qual, o grande enganador irá provocar a apostasia de muitos antes da definitiva vitória de Cristo «erit omnibus subdole placidus, munera non suscipiens, personam non praeponens, amabilis omnibus, quietus universis, xenia non appetens, affabilis apparens in proximos, ita ut beatificent eum omnes homines dicentes: Justus homo hic est!». O que significa dizer: “dissimuladamente, ele vai agradar a todos, ele não vai aceitar cargos ou funções, ele não vai mostrar favoritismo para com as pessoas, vai ser amável para com todos, calmo em todas as coisas, irá recusar presentes, parecerá afável com o próximo, e assim, todos irão elogiá-lo exclamando: ‘Eis um homem justo!'”. Este trecho, do latim de São Efrém, tem uma perspectiva inquietante: o anticristo sob o disfarce enganoso de “um homem de diálogo”; um pacífico, contido, honesto “humanista”? É precisamente a essa identidade do adversário que Schmitt parece favorável: para ele, o Anticristo surgirá a partir de uma sociedade semelhante ao Ocidente moderno, em que: “os homens são pobres diabos que sabem tudo e não acreditam em nada”; uma sociedade onde “os mais novos e as coisas mais importantes são secularizadas: beleza tornou-se o bom gosto, a Igreja é uma organização pacifista e no lugar da distinção entre o bem e o mal, o que é útil e prejudicial.”

Em tal cultura, o dissimulado, “dialogador” Anticristo fará crer que a salvação depende de certezas sociais e de desenvolvimento. Acima de tudo, (e esta é uma das intuições mais inquietantes do ainda jovem Schmitt), o Anticristo não será um materialista, nem um inimigo da religião: antes,”ele irá prover para todas as necessidades, incluindo aquelas de ordem espiritual”.

Ele irá satisfazer o desejo do homem para a transcendência, falando sobre espiritualidade, propondo uma “religião da humanidade”, onde todos estão de acordo com tudo e onde qualquer divergência é banida, e, acima de tudo, qualquer dogma é visto como um mal radical.

No momento da sua escrita, logo no início do século 20, a prospectiva de Schmitt passou praticamente despercebida, parecendo decididamente improvável. No entanto, não é talvez o caso de refletir sobre isso hoje, quando o que está nos ameaçando, na esfera religiosa, certamente não é mais a intolerância, mas se alguma coisa, o seu oposto: a “tolerância” que se transforma em indiferença, recusando-se a considerar as várias religiões como algo mais do que uma forma única (diferenciadas apenas por fatores históricos e geográficos) de venerar o mesmo, idêntico Deus? Onde o “inimigo” não é mais velho, honesto materialismo, mas talvez, um insidioso “humanitário” espiritualismo?

[Do livro Pensare la storia,San Paolo, Milan 1992, p. 517-519]

* Nosso agradecimento a um caro amigo pela tradução gentilmente providenciada para o Fratres.Por Vittorio Messori | Tradução: FratresInUnum.com*


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