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10 de dezembro de 2014

Papa Francisco está dividindo a Igreja Sobre a comunhão aos divorciados



Um importante príncipe da Igreja chegou a afirmar, entre poucas pessoas de confiança, que estes são, provavelmente, os meses mais dramáticos de toda a história da Igreja. No entanto, disse também que, em dois mil anos, ela passou por grandes tempestades. Escapa à maioria das pessoas a gravidade da situação. Embora os meios de comunicação estejam apaixonados pela ardente controvérsia anunciada para o Sínodo, que terá início em 5 de outubro, eles não compreenderam bem as questões em jogo. Para entender o que está acontecendo na Igreja, é necessário sair da luxuosa e auto-referencial corte vaticana de Santa Marta, povoada por alguns vaticanistas, eclesiásticos de carreira, camareiras e bajuladores. É necessário ir às verdadeiras periferias existenciais.

Com efeito, a partir daí — depois do explosivo relatório do cardeal Kasper no Consistório de fevereiro (relatório sobre a Eucaristia aos divorciados recasados, desejado por Bergoglio) — recebemos algumas palavras esclarecedoras. Elas são de um missionário do PIME (Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras), padre Carlo Buzzi, 71 anos, milanês, há quarenta anos em Bangladesh, um dos países mais pobres do mundo. Suas cartas foram publicadas por Sandro Magister em seu famoso site “Chiesa”. Padre Buzzi é um homem de Deus extraordinário. Dedicou sua vida à pregação do Evangelho aos mais pobres; para eles construiu escolas, ambulatórios, capelas, e os reconstruiu quando eles lhes destruíram. Muitas vezes arriscando a própria vida. Dessa periferia, comentou da seguinte forma o relatório de Kasper no Consistório: “Se se continuar no caminho traçado pelo cardeal Kasper, danos consideráveis serão causados: 1) a Igreja se tornará superficial e complacente; 2) a infalibilidade da cátedra de Pedro terá que ser negada, porque será como se todos os papas precedentes houvessem errado; 3) deverão ser tomados por estúpidos todos aqueles que deram suas vidas como mártires para defender este sacramento”.

Padre Buzzi acrescentou algumas considerações concretas: “Há milhares de católicos que morrem todos os anos, perseguidos por sua fé, e nós vivemos tranqüilamente, nos preocupando obstinadamente com a comunhão aos recasados. Quantos mártires há na Inglaterra por haverem mantido a fé na integralidade do sacramento do matrimônio! Ai da Igreja católica se seguir o mesmo caminho da Igreja anglicana”. Isso seria devastador. Por isso, disse o velho missionário: “não provoquemos um cisma por causa de uma coisa tão secundária”. Padre Buzzi observa que “se dermos a comunhão aos recasados, isso significaria que eles não precisariam mais se confessar”. Daí, como em cascata, caem os sacramentos e os mandamentos. E então, a própria Igreja: “Desta forma, tudo se explode. Novo e Velho testamento”. Disse o velho missionário: “Eu quero permanecer católico. Eu não quero me tornar anglicano ou batista”. Finalmente, a sua deslumbrante conclusão: “Vemos que os Estados e as grandes organizações estão todas submetidas a uma força misteriosa que tende ao mal. A única instituição que não se dobra e que mantém a cabeça em pé, firme nos verdadeiros valores do homem, é a Igreja Católica. Agüentemos firmes e não turvemos a água da nossa fonte.
Um dia, quando eles estiverem cansados e com sede, muitos homens saberão onde encontrar um pouco de água fresca”. Infelizmente, o papa Bergoglio, em vez de ouvir estes homens de Deus, que falam dos subúrbios existenciais, prefere conversar com um poderoso guru do salão burguês como Scalfari ou — como aconteceu nestes dias — com o queridinho dos salões da esquerda européia, Alexis Tsipras, líder do partido grego de extrema-esquerda Syriza. Ontem, um importante príncipe da Igreja, o cardeal Pell, usou os mesmos argumentos que o padre Buzzi.

Ele pediu para o Sínodo “a reafirmação da doutrina católica” e ressaltou que a questão da comunhão aos divorciados recasados é — mesmo estatisticamente — uma coisa secundária, mas que se tornou “um símbolo”, isto é, uma bandeira ideológica. É “uma disputa entre o que resta do cristianismo na Europa e um neo-paganismo agressivo. Todos os adversários do cristianismo gostariam que a Igreja capitulasse neste ponto”. É muito importante sublinhar isso, porque realmente o que parece preocupar a imprensa não é tanto a condição de sofrimento de alguns casais (neste caso, eles percorreriam outros caminhos, já identificados), mas a subversão de fato da doutrina católica através da chamada “prática pastoral”. A mesma posição de Pell, contrária a Kasper e à “revolução”, é compartilhada pelos cardeais mais influentes que fizeram pronunciamentos públicos clamorosos. Começando pelo prefeito do ex-Santo Oficio, cardeal Müller, que — em polêmica com Kasper — acaba de publicar um livro e participou do famoso livro dos “cinco cardeais” (Caffarra, Müller, Brandmuller, Burke e De Paolis). Livro este que tanto irritou Kasper e Bergoglio. Outras declarações oficiais em defesa da doutrina católica e contra a “subversão” vieram dos cardeais Collins, Martino, Ouellet e Scola.

Todos nomes importantíssimos. E estamos falando apenas dos pronunciamentos públicos, porque estima-se que, no Consistório, cerca de 85% dos purpurados rejeitaram a tese de Kasper, o qual, porém, protesta com o título de representante de Bergoglio: “Falei duas vezes com o Santo Padre. Eles sabem que eu não fiz nada disso por conta própria. Estávamos de acordo sobre tudo. Eles sabem que eu não fiz isso por conta própria. Concordei com o Papa”. Com efeito, foi Bergoglio quem o quis como único relator no Consistório, e é ele quem o tem elogiado entusiasticamente, enquanto a grande maioria dos cardeais o rejeita. Kasper tem razão em indicar em Bergoglio o líder dos “revolucionários”. De resto, isso jamais foi desmentido. Bergoglio, já como bispo de Buenos Aires, em grave desobediência ao papa e à Igreja, autorizava que se desse a Eucaristia a todos. Isto foi relatado de forma tranqüila pelo padre Pepe Di Paola, o famoso “padre de estrada” muito próximo dele, em uma entrevista ao jornal “Il Resto del Carlino”, em 13 de março de 2014. E depois, como bispo de Roma, em 23 de abril de 2014, Bergoglio deu o famoso telefonema a uma senhora argentina, casada civilmente com um divorciado, durante o qual disse a ela para “tomar tranqüilamente a Comunhão, porque ela não está fazendo nada de errado” — criando assim um caso clamoroso. Portanto, Bergoglio está há muito tempo em seu próprio caminho, diferente da doutrina e do magistério da Igreja. Por isso, a situação é explosiva. Nunca, na história da Igreja, sucedeu que a maioria dos cardeais tivessem que tomar posições públicas contra uma subversão do magistério e da prática da Igreja, que foi proposta pelo cardeal Kasper, mas que, na realidade, é chefiada pelo próprio Bergoglio. Nunca sucedeu que um bispo de Roma propugnasse uma tese que vai contra toda a tradição e o magistério da Igreja. Mas, cumprir essa subversão — como disse o cardeal Pell — é simplesmente “impossível”.




Por Antonio Socci - Tradução: renitencia.com


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