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21 de fevereiro de 2014

Os valores cristãos e o carnaval


Espetáculo para turistas e oportunidade aos menos escrupulosos


O carnaval é uma realidade. Ele aí está e penetra pelos olhos. Melhor dizendo, já vivemos esse clima há várias semanas.
Todo indivíduo sente necessidade de alegria. Sem ela, a existência se torna insuportável. A própria saúde física se ressente. Diz a Sagrada Escritura, no livro Eclesiastes (9, 15ss): “Por isso louvei a alegria, visto não haver nada de melhor para o homem (...) é isto que o acompanha no seu trabalho, durante os dias que Deus lhe outorgar debaixo do sol”. E o Senhor, nos Provérbios (2,14-15), lembra que há limites, pois são reprovados os “que se alegram por terem feito o mal e se regozijam na perversidade do vício, cujos caminhos são tortuosos e se extraviam por vias oblíquas”.

Os festejos carnavalescos têm remota e obscura origem eclesiástica. Tanto assim que dependem de uma data móvel do calendário litúrgico.
Antecedem sempre o início da Quaresma. Terminam – quando terminam - com as cinzas da quarta-feira. E a Igreja, em seu ritual, recorda ao homem a fragilidade de sua condição: “Lembra-te, ó homem, que és pó e ao pó hás de tornar”.
Encaro com realismo esses dias ruidosos. Devemos ter a coragem de avaliar o que ocorre na Cidade. Por vezes, assumem proporções de verdadeiras orgias coletivas, com crescente degradação dos padrões morais e agressão à dignidade humana.

O carnaval perde, aos poucos, seu sentido original de diversão simples do próprio povo. Vem a ser mais um espetáculo para turistas, e oportunidade aos menos escrupulosos de extravasar baixos instintos, esperando contar com certa cumplicidade do meio ambiente. Aumentam os crimes, os atentados ao pudor, as violências e o excesso de álcool. Cresce o consumo das drogas, que geram os “dependentes”, porque usaram abusivamente sua “independência”.

O corpo humano tem uma dignidade inalienável. Não pode ser profanado pelo exibicionismo desregrado. Aviltar dessa maneira a beleza é atingir o próprio Deus, de onde emana tudo o que temos de positivo. São Paulo nos ensina: “Fugi da fornicação. Todo pecado, que o homem comete, é exterior ao seu corpo; aquele, porém, que se entrega à fornicação, peca contra o próprio corpo"! Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo?” (1Cor 6,18-19). E o Apóstolo é incisivo: “Se alguém destrói o templo de Deus, Deus o destruirá” (Idem 3,17).

Em uma cidade onde persistem tão grandes carências básicas, são feitos gastos suntuosos de brevíssima utilização, com os efeitos negativos. Tentam acobertá-los sob o pretexto de divisas ou razões semelhantes. Também a gente humilde se impõe pesadas privações para ostentar galas efêmeras. É despendido em poucos dias ou em horas o que se economizou durante o ano inteiro, talvez com sacrifício da alimentação da própria família. Explicações ou motivos alegados não justificam essa dura realidade.
Compreendo a necessidade da descontração na vida de um povo sofrido. Entendo também que há limites. Ultrapassá-los é cair na insensatez coletiva.

Não tenho a ingenuidade de pretender reviver padrões de comportamento de um passado que não volta. Insisto, isto sim, em afirmar que há formas nobres, simples e sadias de lazer. Elas irradiam a alegria autêntica que refaz as forças do corpo e aumenta as energias do espírito. Igualmente, não nego aspectos positivos nesses festejos. Contudo, tomados como um todo, merecem restrições ditadas pelo mais elementar bom senso.
Que fazer, então? Refletir, durante esses dias, sobre as conseqüências que poderão advir. Isso nos conduz a uma indispensável moderação, distinguindo, do que há de aceitável, aquilo que encerra em seu bojo condenáveis manifestações de baixos instintos. Afinal, somos seres racionais e não simples animais, destituídos de razão. Isso nos possibilita selecionar, o que é saudável, nesse período que antecede a Quaresma e rejeitar o que fere uma consciência cristã. Assim evitamos desgraças irrecuperáveis.

Recordamos o que nos diz João Paulo II: “Tenho diante dos olhos a imagem da geração de que fazemos parte: a Igreja compartilha a inquietude de não poucos homens contemporâneos. E no entanto, há que preocupar-se ainda com o declínio de muitos valores fundamentais, que constituem um bem incontestável, não só da moral cristã mas também, simplesmente, da moral humana, da cultura moral” (Encíclica “Dives in Misericordia”).
Por uma submissão generosa, o homem prudente orienta seu procedimento, discernindo o aceitável e repudiando tudo aquilo que contraria frontalmente nossa qualidade de filhos de Deus. Temos que compreender nossa época, inseridos que somos no mundo, mas é preciso coragem para reprovar o que se opõe à dignidade humana, fundamentada no Evangelho de Cristo. Muitos são severos nos julgamentos, aliás justos, da corrupção pública. Costumam, entretanto, omitir-se nesse outro tipo de devassidão coletiva, igualmente conseqüência de uma sociedade impregnada de critérios materialistas.

Dezenas de milhares de católicos que não saem do Rio participam de retiros espirituais. Como exemplo, o Retiro Rio de Água Viva, promovido pela Renovação Carismática Católica. Foi iniciado em 1981, em uma paróquia, reunindo 300 pessoas, gradativamente foi crescendo, levando os organizadores a realizá-lo no Ginásio do Maracanãzinho. Durante muito tempo reuniu milhares de adultos e jovens, do sábado à terça-feira de carnaval, sempre de 9 às 18 horas. Hoje, devido às obras desse local, é utilizado o ginásio esportivo de um grande colégio. São quatro dias em que as pessoas acorrem ao sacramento da confissão, atendidas diariamente por dezenas de sacerdotes; participam intensamente da celebração da Eucaristia e de outros atos de piedade.

Recordo-me que num determinado ano, ao encerrar esse retiro, a assistência aproximada era de 20.000 pessoas, em parte ponderável composta por jovens. Em muitos outros locais são promovidos retiros espirituais em regime de internato e também retiros menores nas paróquias, que têm significativa presença. Em muitas igrejas o Santíssimo Sacramento é exposto e atos de reparação pelos pecados cometidos são realizados.
Quando, no estrangeiro, ouço referências desabonadoras ao Rio de Janeiro, a propósito de excessos ocorridos no Carnaval, costumo lembrar que a cidade, nesses dias, possui, também, outra face, que nobilita seus habitantes. E cito esses retiros, para que tenham uma idéia correta de nossa realidade.

Recentemente, tive notícia que denigre o nosso país. Um determinado site – e pelo visto não é o único – faz propaganda de turismo no Rio, no carnaval, apresentando cenas de festas regadas à bebida e exploração da figura feminina. Pelo visto, o Rio de Janeiro e outras capitais só podem merecer visitantes que se interessem por isso.
O carnaval constitui um desafio. Deve nos impulsionar a alguma atitude positiva, distinguindo o direito ao lazer dos abusos oriundos dos desvios morais, tentam obscurecer a nobreza do espírito. Os excessos – e aí está o que há de condenável nesses festejos – em vez de deixarem o ânimo abatido no cristão, estimulam nossa confiança no Salvador, possibilidade de recuperação, sempre latente no íntimo de nossos irmãos. Condenemos o mal, mas confiemos no poder de Deus.





Cardeal D. Eugenio de Araújo Sales
Arcebispo Emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro




CARNAVAL


O Carnaval é caracterizado por muita música, dança, festa e alegria. Mas qual é esta alegria? É uma alegria verdadeira?

A alegria do Carnaval é tão passageira que antes da festa acabar já passou. Muitas pessoas carregam, para sempre, lembranças dolorosas de acontecimentos destes dias. Isto sem contar o grande índice de pessoas acidentadas, assassinadas e mortas por overdose. Quantas pessoas são infectadas pelo vírus da Aids e quantos bebês são gerados sem nenhuma responsabilidade e depois abortados. As Campanhas governamentais não conseguem amenizar a situação, porque oferecem uma solução errada.

Nos Estados Unidos, o presidente decidiu mudar a Campanha de preservativos para Campanha de abstinência. Pesquisas constataram que a camisinha não é segura e o número crescente de aidéticos confirma isso. Enfim, as conseqüências são inumeráveis. No entanto, isto não é sem motivo.

O Carnaval teve início provavelmente quatro mil anos antes de Cristo no Egito e era uma festa em honra dos deuses, principalmente ao Deus Momo. Este é o deus da zombaria e do sarcasmo, ou seja, era uma festa demoníaca. Depois da Vinda de Cristo deu-se o nome de Carnaval. “Carnavale”, significa “adeus a carne” por ser antes da quarta-feira de cinzas, quando não se deve comer carne. Hoje, o Carnaval se tornou realmente a festa da “carne” exaltada contra o espírito.

Segundo São João da Cruz, um grande doutor e místico da Igreja, a alma tem três inimigos: o mundo, a carne e o demônio. O mundo é o menos difícil de ser vencido.

A carne, na verdade é o nosso humano, o nosso próprio eu, e dura enquanto durar o homem velho.

O demônio é o mais obscuro de entender.

Os três trabalham muito unidos para destruir a vida da alma e enfraquecendo um o outro perde a força. O carnaval é uma festa na qual os três atacam a alma com grande intensidade. Por isso, devemos nos precaver com as armas de Deus. Ninguém está imune à tentação. Não adianta falar: “Eu sou de Igreja, participo das missas e do Grupo de oração”... Contra as pessoas de Deus o ataque é pior. Porque o demônio não vai perder tempo com aqueles que já se entregaram a ele pelas suas más obras. Ele vai concentrar suas energias para desencaminhar os que caminham com Deus.

Devemos ter cuidado com as mínimas brechas. Aquele “pecadinho de nada” pode dar origem a grandes pecados. Os “pecadinhos” deixam a alma vulnerável à tentação e assim acontece o ataque dos três inimigos. O mundo oferece o mal, o demônio tenta, incita e a carne fraca, aceita.

Para nós cristãos, este é tempo de vigiar e orar para não cairmos em tentação. (Cf. Mt 26, 41 ). Porque onde abunda o pecado, pode e deve superabundar a graça ( Rm 5, 20), por isso existem tantos retiros de Carnaval.

“Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém”. ( Cf. I Co 6, 12) Temos o exemplo do Rei Davi. Ele é um escolhido, ungido pelo Senhor, mas também caiu na tentação. Tudo começou com uma pequena brecha, a dos olhos. Conta o Livro de Samuel (Cf. II Sam 11 e 12) que Davi estava no terraço e viu Betsabéia, uma mulher muito bonita, tomando banho.

Davi tendo visto poderia ter se esquivado, mas não o fez e assim desencadeou outros pecados. Isto acontece com muitos na questão da pornografia.

Betsabéia era casada, mas mesmo assim Davi pediu que a trouxessem para si e ela ficou grávida. Como seu marido estava na guerra Davi pediu para ele voltar para ficar com ela e seu erro ser encoberto, no entanto, isto não aconteceu. Davi pediu que o colocasse a frente na guerra para que ele morresse. Depois que ele morreu Davi tomou Betsabéia por esposa. Observe bem como um pecado atraiu o outro. Parece absurdo, mas se nos descuidar algo semelhante pode acontecer conosco. Precisamos estar atentos àquilo que vemos principalmente pela TV, para não cairmos em tentação.

Não devemos ter medo. O demônio é um perdedor, mas precisamos abrir os olhos da alma para não deixar ele ter nenhuma vitória na nossa vida. Se desacreditarmos de sua ação já é um grande sinal de que ele já está agindo. Contudo, temos uma certeza Jesus é o Senhor e Libertador. Se vigiarmos em oração, a ação do inimigo será neutralizada, porque Jesus é mais poderoso do que qualquer ação do Mal

Jesus é a alegria verdadeira. Só Ele pode nos dar a felicidade eterna. Busquemos a felicidade no lugar certo.




Fonte: Irmã Simone



11 de fevereiro de 2014

A Teologia da Liturgia, por Cardeal Joseph Ratzinger - Parte II


 2. Os princípios da pesquisa teológica

Voltemos para a questão fundamental: é correto descrever a liturgia como um sacrifício divino, ou isto se trata de uma impiedade detestável? Nesta discussão, deve-se primeiramente estabelecer os pressupostos principais que, em todo caso, determinam a leitura da Escritura, e assim as conclusões que se tiram dela. Para o cristão católico, duas linhas de orientação hermenêutica essenciais se afirmam aqui. A primeira: confiamos nas Escrituras e nela nos baseamos, não em reconstruções hipotéticas que vão além dela e, de acordo com o seu próprio gosto, refazem uma história em que a ideia presunçosa do nosso saber o que pode ou não ser atribuído a Jesus tem um papel fundamental; o qual, é claro, significa atribuir a ele apenas o que algum acadêmico moderno se contenta em atribuir a um homem pertencente a uma época que o próprio acadêmico reconstruiu.

A segunda é que lemos a Escritura na comunidade viva da Igreja e, portanto, na base de decisões fundamentais que lançaram os alicerces da Igreja, graças às quais ela, a Escritura, tornou-se historicamente eficaz. Não se deve separar o texto deste vivo contexto. Neste sentido, a Escritura e a Tradição formam um todo inseparável, e é isto que Lutero, na aurora do despertar da consciência histórica, não podia enxergar. Ele acreditou que um texto só poderia ter um significado, mas esta univocidade não existe, e a historiografia moderna há muito abandonou esta ideia. Que na Igreja nascente a Eucaristia tenha sido, desde o início, entendida como um sacrifício, até num texto como a Didaquê, que é de certo modo difícil e marginal face à grande Tradição, é uma chave interpretativa de primeira importância.

Mas há outro aspecto hermenêutico fundamental na leitura e na interpretação do testemunho bíblico. O fato de que eu posso, ou não, reconhecer um sacrifício na Eucaristia tal qual o Senhor instituiu, depende mais essencialmente da questão de saber o que eu entendo por sacrifício, consequentemente no que se chama de pré-compreensão. A pré-compreensão de Lutero, por exemplo, em particular sua concepção da relação entre o Antigo e o Novo Testamento, sua concepção do evento e da presença histórica da Igreja, era tal que a categoria de sacrifício, como ele via, não poderia aparecer como outra coisa a não ser uma impiedade quando aplicada à Eucaristia e à Igreja. O debate a que Stefan Orth se refere mostra o quão confusa e atrapalhada é a ideia de sacrifício entre quase todos os autores, e mostra claramente quanto se precisa fazer aqui. Para o teólogo crente, é claro que é a própria Escritura que deve ensinar-lhe a definição essencial de sacrifício, e isto resultará de uma leitura “canônica” da Bíblia, em que a Escritura é lida em sua unidade e em seu dinamismo. Os diferentes estágios dela recebem seu significado final de Cristo, a quem tudo isso conduz. Por esta mesma norma a hermenêutica que aqui se pressupõe é uma hermenêutica de fé, encontrada na lógica interna da fé. Não é óbvio? Sem a fé, a própria Escritura não é Escritura, mas sim uma coletânea desorganizada de obras literárias que não pode pretender ter qualquer significado normativo atualmente.

3. Sacrifício e Páscoa

A tarefa a que se alude aqui excede, obviamente, os limites de uma palestra; permitam-me, então, fazer uma referência ao meu livro sobre o “Espírito da Liturgia” no qual procurei dar as linhas principais desta questão. O que emerge disso é que, no seu curso através da história das religiões e da história bíblica, a ideia de sacrifício teve conotações que vão muito além da área de discussão que costumeiramente associamos à ideia de sacrifício. De fato, abre-se um portão para uma compreensão global do culto e da liturgia: estas são as grandes perspectivas que eu gostaria de tentar apontar aqui. Necessariamente preciso omitir também questões particulares de exegese, em particular o problema fundamental da importância da Instituição, na temática da qual tentei prover alguns pensamentos na minha contribuição em “A Eucaristia e a Missão”.

Há, contudo, uma observação que não posso deixar de fazer. Na revisão bibliográfica mencionada, Stefan Orth diz que o fato de se ter evitado, após o Vaticano II, a ideia de sacrifício, “levou o povo a pensar no culto divino a partir da Festa da Páscoa nos relatos da Última Ceia”. À primeira vista, esta formulação parece ambígua: pensa-se no culto divino nos termos das narrativas da Última Ceia, ou nos termos da Páscoa, à qual as narrativas se referem como contexto cronológico, sem contudo a descreverem? Seria correto dizer que a Páscoa Judaica, a instituição relatada em Êx 12, adquire um novo significado no Novo Testamento. É aí que se manifesta um grande movimento histórico que, nas origens, remonta à Última Ceia, à Cruz e à Ressurreição de Jesus. Mas o que é mais espantoso na exposição de Orth é a oposição posta entre a ideia de sacrifício e a Páscoa.

O Antigo Testamento Judeu priva a tese de Orth de significado, pois da lei do Deuteronômio em diante, a imolação de cordeiros está associada ao templo; e mesmo no período mais antigo, quando a Páscoa ainda era uma festa familiar, a imolação dos cordeiros já tinha um caráter sacrifical. Assim, precisamente pela tradição da Páscoa, a ideia de sacrifício é levada às palavras e gestos da Última Ceia, onde está presente também na base de um segunda passagem do Antigo Testamento, Êxodo 24, que relata a conclusão da Aliança no Sinai. Aí é relatado que o povo era aspergido com o sangue das vítimas trazidas previamente, e que Moisés disse, nesta ocasião: “Este é o sangue da Aliança que Javé faz convosco, de acordo com todas estas disposições” (Êx 24,8). Assim, a nova Páscoa Cristã é expressamente interpretada nas narrativas da Última Ceia. A Igreja nascente sabia que a Cruz era um sacrifício, porque a Última Ceia seria um gesto vazio sem a realidade da Cruz e da Ressurreição que nela é antecipada e tornada acessível por todo o tempo em seu conteúdo interior.

Eu menciono esta estranha oposição entre a Páscoa e o sacrifício, porque representa o princípio arquitetônico de um livro recém publicado pela Fraternidade São Pio X, afirmando que há uma ruptura dogmática entre a nova liturgia de Paulo VI e a precedente tradição litúrgica católica. Essa ruptura é vista precisamente no fato de tudo ser interpretado, de agora em diante, à luz do “mistério pascal”, e não do sacrifício expiatório e redentor de Cristo; a categoria de mistério pascal é tida como o coração da reforma litúrgica, e é precisamente isto que parece ser a prova de ruptura com a doutrina clássica da Igreja. É claro que há autores que são abertos a tal equívoco; mas que isso seja um equívoco é completamente evidente para os que olham mais de perto.

Na realidade, o termo “mistério pascal” claramente se refere às realidade que tomaram lugar da Quinta-feira Santa até a manhã do Domingo de Páscoa: a Última Ceia como antecipação da Cruz, o drama do Gólgota e a Ressurreição do Senhor. Na expressão “mistério pascal” estes acontecimentos são vistos de modo sintético, como um só evento, como “a obra de Cristo”, como ouvimos o Concílio dizer no início, que teve lugar historicamente e ao mesmo tempo transcende este ponto específico no tempo. Como este evento é, interiormente, um ato de culto prestado a Deus, poderia tornar-se culto divino, e dessa forma estar presente para todas as épocas.

A teologia pascal do Novo Testamento, sobre a qual lançamos um rápido olhar, dá-nos a entender precisamente isto: o aparente episódio profano da Crucificação de Cristo é um sacrifício de expiação, um ato salvador do amor reconciliador de Deus feito homem. A teologia da Páscoa é a teologia da redenção, uma liturgia de um sacrifício expiatório. O Pastor tornou-se Cordeiro. A visão do cordeiro, que aparece na história de Isaac, o cordeiro que fica preso nos arbustos e resgata o filho, tornou-se uma realidade; o Senhor tornou-se um Cordeiro; ele se permite ser preso e sacrificado, para nos libertar.

Tudo isto se tornou muito estranho ao pensamento contemporâneo. Reparação (“expiação”) pode significar talvez algo dentro dos limites dos conflitos humanos e o pagamento da culpa que domina entre os seres humanos, mas sua transposição para o relacionamento entre Deus e o homem não pode acontecer. Isto, com certeza, é o grande resultado do fato de que nossa imagem de Deus tem se obscurecido, tem se aproximado do deísmo. Não se pode mais imaginar que as ofensas humanas possam ferir a Deus, e menos ainda que elas precisem de uma expiação tal a que constitui a Cruz de Cristo. O mesmo se aplica à substituição vicária: nós dificilmente podemos ainda imaginar algo deste tipo – nossa imagem do homem tornou-se por demais individualista para isso. Assim, a crise da liturgia teve suas bases em ideias centrais acerca do homem. No intuito de superar a crise, banalizar a liturgia e transformá-la numa simples reunião e uma refeição fraterna não é a solução. Mas como podemos escapar de tais desorientações? Como podemos recuperar o significado desta coisa imensa que está no coração da mensagem da Cruz e da Ressurreição? Numa última análise, não através de teorias e reflexões acadêmicas, mas somente através da conversão, por uma mudança radical de vida. É, contudo, possível destacar algumas coisas que abrem o caminho para esta mudança de coração, e eu gostaria de apresentar algumas sugestões neste sentido, em três etapas.


Por Luís Augusto - membro da ARS

A Teologia da Liturgia, por Cardeal Joseph Ratzinger - Parte I


Uma conferência de Sua Eminência Joseph Cardeal Ratzinger, Prefeito da Congregação para Doutrina da Fé, proferida durante as Journees liturgiques de Fontgombault, de 22 a 24 de julho de 2001.

O Concílio Vaticano II definiu a Liturgia como “obra de Cristo Sacerdote e de seu Corpo que é a Igreja”.

No mesmo texto a obra de Jesus Cristo é referida como a obra da redenção que Cristo realizou especialmente pelo Mistério Pascal de sua Paixão, Ressurreição dos mortos e gloriosa Ascensão.

“Por este Mistério, morrendo ele destruiu nossa morte e ressurgindo restaurou a vida”. À primeira vista, nessas duas sentenças, a expressão “obra de Cristo” parece ter sido usada com dois sentidos diferentes.
“A obra de Cristo” refere-se antes de tudo às ações redentoras, históricas de Jesus, sua Morte e Ressurreição; por outro lado, é a celebração da liturgia que é chamada “obra de Cristo”.

Na verdade, os dois significados estão inseparavelmente unidos: a Morte e a Ressurreição de Cristo, o Mistério Pascal, não são apenas eventos históricos, exteriores. No caso da Ressurreição isto é muito claro. Está unido à história, penetra-a, mas transcende-a de duas formas: não é ação de um homem, mas uma ação de Deus, e assim leva Jesus ressuscitado para além da história, para aquele lugar em que ele está sentado à direita do Pai. Mas também a Cruz não é uma ação meramente humana. O aspecto puramente humano está presente nas pessoas que levaram Jesus para a Cruz.

Para o próprio Jesus, a Cruz não é primariamente uma ação, mas uma paixão, e uma paixão que significa que ele se conformou à Divina Vontade – uma união, o caráter dramático do que nos foi mostrado no Jardim do Getsêmani. Assim, a dimensão passiva de ser entregue à morte é transformada numa dimensão ativa de amor: a morte torna-se o abandono de si ao Pai, pelos homens. Assim, o horizonte se estende, como se faz na Ressurreição, para bem além do aspecto puramente humano e do ter sido pregado à cruz e ter morrido. Este elemento adicional para o mero evento histórico é o que a linguagem da fé chama de “mistério” e que condensou no termo “Mistério Pascal” o núcleo mais profundo do evento redentor. Se podemos dizer, por isto, que o “Mistério Pascal” constitui o núcleo da “obra de Jesus”, então a conexão com a liturgia fica imediatamente clara: é precisamente esta “obra de Jesus” que é o conteúdo real da liturgia. Nela, através da fé e da oração da Igreja, a “obra de Jesus” é continuamente posta em contato com a história, a fim de nela se inserir. Assim, na liturgia, o evento histórico meramente humano é sempre mais transcendido, e torna-se parte da ação divina e humana da Redenção. Nela, Cristo é o verdadeiro sujeito operante: é a obra de Cristo; mas nela ele atrai a história para si, precisamente nesta ação permanente onde tem lugar a nossa salvação.

1. O Sacrifício colocado em questão

Se voltarmos até o Vaticano II, encontramos a seguinte descrição desta relação: “A Liturgia, pela qual, especialmente no sacrifício eucarístico, ‘se opera a obra da nossa Redenção’, contribui em sumo grau para que os fiéis exprimam na vida e manifestem aos outros o mistério de Cristo e a autêntica natureza da verdadeira Igreja”.

Tudo isso tornou-se estranho ao pensamento moderno e, apenas passados 30 anos do Concílio, foi posto em questão mesmo entre liturgistas católicos. Quem hoje em dia ainda fala do “divino Sacrifício Eucarístico”? Discussões sobre a ideia de sacrifício tem se tornado novamente bem vivas, tanto no lado católico como no protestante. Qualquer um percebe que uma ideia que sempre esteve presente, sob várias formas, não só na história da Igreja, mas na história inteira da humanidade, deve ser expressão de algo que bem nos diz respeito. Mas, ao mesmo tempo, as posições do antigo Iluminismo ainda vivem por toda parte: acusações de mágica e paganismo, contrastes entre o culto e o serviço da Palavra, entre o rito e o ethos, a ideia de um Cristianismo que se abstrai do culto e adentra o mundo profano, teólogos católicos que não tem o menor desejo de serem acusados de anti-modernismo. Mesmo se o povo quiser, de uma forma ou de outra, redescobrir o conceito de sacrifício, embaraço e crítica são o resultado final. Assim, Stefan Orth, no vasto panorama de uma bibliografia de obras recentes voltadas para a temática do sacrifício, acreditou que poderia fazer a seguinte afirmação como uma síntese de sua pesquisa: "De fato, vários Católicos hoje ratificam o veredito e as conclusões de Martinho Lutero, que diz que falar de sacrifício é 'o maior e mais terrível horror' e uma 'impiedade detestável': eis por que queremos evitar tudo que remete a sacrifício, incluindo todo o Cânon, e manter somente o que é puro e sagrado”. Orth, então, acrescenta: “Esta máxima foi também seguida na Igreja Católica depois do Vaticano II, pelo menos como tendência, e levou o a se pensar no culto divino sobretudo a partir da Festa da Páscoa nos relatos da Última Ceia”. Recorrendo a uma obra sobre o sacrifício, editada por dois liturgistas católicos modernos, ele então disse, em termos levemente mais moderados, que realmente pareceu que a noção de sacrifício da Missa – ainda mais que a de sacrifício da Cruz – foi, na melhor das opiniões, uma ideia muito aberta a incompreensões.

Certamente não preciso dizer que eu não sou um dos “numerosos católicos” que consideram o maior e mais terrível horror e uma impiedade detestável o falar do sacrifício da Missa. Isso sem falar que o escritor não mencionou meu livro sobre o espírito da liturgia, o qual analisa detalhadamente a ideia do sacrifício. Seu diagnóstico continua a ser apavorante. Ele é verídico? Eu não conheço esses numerosos católicos que consideram uma impiedade detestável entender a Eucaristia como um sacrifício. O segundo diagnóstico, mais discreto, que afirma que o sacrifício da Missa está aberto a incompreensões, é, por outro lado, facilmente verificável. Mesmo se alguém deixar de um lado a primeira afirmação como um exagero de retórica, permanece um problema preocupante, o qual deveríamos enfrentar. Uma parte considerável de liturgistas católicos parece ter praticamente chegado à conclusão de que Lutero, mais do que Trento, é que estava substancialmente correto no debate do séc. XVI; muito se pode perceber a mesma posição nas discussões pós-conciliares sobre o Sacerdócio.

O grande historiador do Concílio de Trento, Hubert Jedin, apontou para isto em 1975, no prefácio ao ultimo volume de sua História do Concílio de Trento: “O leitor atento... ao ler isto não ficará menos consternado que o autor, ao perceber que muitas das coisas – quase tudo, de fato – que perturbaram os homens do passado estão sendo repropostas hoje em dia”. Somente neste contexto de negação efetiva da autoridade de Trento é que se pode entender a violência da luta contra a permissão para a celebração da Missa de acordo com o Missal de 1962, depois da reforma litúrgica. A possibilidade de celebrar assim constitui a mais forte e, por isso (para eles), mais intolerável objeção à opinião daqueles que acreditam que a fé na Eucaristia, formulada por Trento, perdeu seu valor.

Seria fácil reunir provas para sustentar esta afirmação sobre esta posição. Eu deixo de lado a extrema teologia litúrgica de Harald Schützeichel, que se distancia completamente dos dogmas católicos e expõe, por exemplo, a afirmação audaz de que foi apenas na Idade Média que a ideia da Presença Real foi inventada. Um liturgista moderno como David N. Power conta-nos que no decorrer da história, não só a maneira de se expressar uma verdade, mas também o conteúdo expresso pode perder seu significado. Concretamente ele relaciona sua teoria com as afirmações de Trento.

Theodore Schnitker conta-nos que uma liturgia atualizada inclui tanto uma expressão diferente da fé como mudanças teológicas. Além disso, de acordo com ele, há teólogos, pelo menos nos círculos da Igreja Romana e de sua liturgia, que ainda não assimilaram toda a importância das transformações levadas a cabo pela Reforma Litúrgica na área da doutrina da fé. A obra certamente respeitável de R. Meßner sobre a reforma da Missa realizada por Martinho Lutero, e sobre a Eucaristia na Igreja primitiva, que contém várias ideias interessantes, chega, entretanto, à conclusão de que a Igreja primitiva foi melhor compreendida por Lutero do que pelo Concílio de Trento.

A natureza séria dessas teorias vêm do fato de que frequentemente elas são imediatamente postas em prática. A tese segundo a qual é a própria comunidade que é o sujeito da liturgia, serve como uma autorização para se manipular a liturgia de acordo com a compreensão de cada um. Novas descobertas, como chamam, e as formas que daí seguem, são difundidas com uma rapidez assustadora e com uma tal obediência às modas como há muito deixou de existir às normas da autoridade eclesiástica. Teorias, na área da liturgia, são transformadas em prática muito rapidamente hoje, e a prática, por sua vez, cria ou destrói maneiras de se comportar e pensar.

Entretanto o problema se agravou pelo fato de que o pensamento do recente movimento do Iluminismo vai muito além de Lutero: onde Lutero literalmente levou em conta as considerações da Instituição e fez delas, como norma normans, a base de seus ensaios na Reforma, as hipóteses do criticismo histórico há muito tentam causar uma vasta erosão nos textos. Os relatos da Última Ceia aparecem como o produto da construção litúrgica da comunidade; procura-se um Jesus histórico, entre os textos, que não poderia estar pensando no dom do seu Corpo e Sangue e que não compreendeu sua Cruz como um sacrifício de expiação; deveríamos, melhor, imaginar uma refeição de despedida que incluiu uma perspectiva escatológica.
Não só a autoridade do magistério eclesiástico decaiu aos olhos de muitos, mas a da Escritura também; em seu lugar são postas hipóteses pseudo-históricas mutantes, que imediatamente são substituídas por qualquer ideia arbitrária e põem a liturgia à mercê da moda. Onde, na base de tais ideias, a liturgia é sempre mais livremente manipulada, os fiéis sentem que, na verdade, nada é celebrado, e é compreensível que eles abandonem a liturgia e, com ela, a Igreja.



Por Luís Augusto - membro da ARS


Os apóstolos dos últimos tempos


Haverá fogo ardente
Haverá flechas pontiagudas nas mãos de Maria poderosa
Haverá nuvens troantes e soltas pelos ares
que ao menor sopro do Santo Espírito,
sem prender-se a nada,
sem admirar-se de nada,
sem preocupar-se com nada,
derramarão a chuva da Palavra de Deus e da Vida eterna.
Eles retumbarão contra o pecado.
Eles trovejarão contra o mundo.
Eles fulminarão o diabo e seus seguidores,
e transpassarão de lado a lado,
pela vida ou pela morte,
com os gládios afiados da Palavra de Deus (Hb 4,12),
aqueles a quem o Altíssimo enviar.
Eles serão os apóstolos verdadeiros dos últimos tempos
a quem o Senhor das virtudes dará a palavra e a força para operar maravilhas.
Eles deixarão em seu rasto, nos lugares em que tiverem pregado, o ouro da caridade, que é o cumprimento de toda fé.
E nós saberemos que serão os verdadeiros discípulos de Jesus Cristo
porque, caminhando nas pegadas da sua pobreza, humildade, caridade e desprezo do mundo, e ensinando o caminho estreito de Deus, carregarão em seus ombros o estandarte ensanguentado da Cruz, o Crucifixo na mão direita, o Rosário na esquerda, os sagrados nomes de Jesus e Maria no coração, a modéstia e a mortificação de Jesus Cristo no coração, em todas as suas atitudes.
Eis os grandes homens que virão.
Mas quando e como acontecerá? 
Somente Deus o sabe. A nós nos cabe calar, orar, suspirar e esperar."



Cristãos não ajam como privilegiados - Papa Francisco

O verdadeiro cristão é como o Batista: segue o caminho da humildade sem se apropriar da profecia. A liturgia desta sexta-feira, 7, narra que Herodes mandou matar João para contentar a amante Herodíades e os caprichos de sua filha. “João, observou o Papa, é um homem que viveu pouco, teve pouco tempo para anunciar a Palavra de Deus e terminou mal sua vida, na corte de Herodes”:

“Quando existe corte, tudo é possível: corrupção, vícios, crimes. As cortes favorecem estas coisas. João Batista anunciou o Senhor com firmeza, exortando todos a se converter. Era um homem forte, e mesmo que tenha lhe sido dada a possibilidade de dizer “Eu sou o Messias”, ele nunca se apropriou da autoridade moral de Jesus, esta foi a primeira grande coisa que fez”.

“Quando os fariseus, os doutores, lhe perguntaram se ele era o Messias, ele disse que não. No momento da tentação e da vaidade, ele foi claro, não roubou o título: este ‘homem de verdade’ fez esta segunda grande coisa, não roubou a dignidade”. E a terceira coisa que João Batista fez foi ‘imitar Jesus Cristo’, principalmente se rebaixando: João se humilhou, se rebaixou até a morte. Morreu como um infrator, ladrão, criminoso na cruz. Francisco advertiu que os cristãos têm muito que refletir:

“João também teve seu ‘jardim das oliveiras’, sua angústia na prisão, quando pensava que havia errado e seu coração estava nas trevas. Aquela escuridão da alma, a mesma sentida pela Beata Teresa de Calcutá! A mulher que todos louvavam, a vencedora do Nobel!”.

“João é o ícone do discípulo – disse o Papa – onde está a fonte desta atitude de discípulo? Em um encontro – respondeu. O Evangelho nos fala do encontro de Maria e Isabel, quando João exultou de alegria no ventre de Isabel. Aquele encontro o transformou em discípulo”. Assim, o Papa concluiu a homilia colocando aos presentes as seguintes questões:

“Questionemo-nos sobre o nosso discipulado: nós anunciamos Jesus Cristo? Aproveitamos da nossa condição de cristãos como se fosse um privilégio? Caminhamos na estrada de Jesus Cristo? Na estrada da humildade, da humilhação, do rebaixamento, do serviço? E quando me encontrei com Jesus, o encontro me encheu de alegria? Devemos voltar ao encontro, à primeira Galileia do encontro; reencontrar o Senhor e prosseguir com Ele neste caminho”.




Senegal: Papa pede aos jovens senegaleses para rezarem pela paz no mundo e na região de Casamance

Realizou-se neste último fim de semana, em Kaolack, no Senegal, a 5ª edição do encontro inter-territorial da juventude 2014.

O Papa Francisco enviou uma mensagem aos jovens pedindo-lhes para rezar pela paz no mundo e na região de Casamance. A nota foi lida, neste domingo, pelo Núncio Apostólico no Senegal, Dom Loius Mariano Montemayor, durante a missa de encerramento do encontro juvenil no Estádio Lamine Guèye. A missa foi presidida pelo Arcebispo de Dacar, Cardeal Théodore Adrien Sarr.

Dom Montemayor pediu aos jovens para se engajarem no processo de paz no Senegal e rezarem pela reconciliação dos corações.

Participaram do encontro 25 mil jovens provenientes de 7 dioceses do Senegal, mas também de outros países africanos como Gâmbia, Mauritânia, Guiné-Bissau, Cabo Verde, Guiné Conacri, Mali, Togo, Burquina Fasso, Costa do Marfim, Benin e Gana. Uma delegação proveniente da Espanha também tomou parte do evento. O encontro ofereceu aos jovens momentos de comunhão com o objetivo de promover a paz, justiça, reconciliação e desenvolvimento, além de orações, testemunhos e reflexões para reforçar os jovens na fé.

O Cardeal Adrien Sarr disse aos jovens que a Conferência Episcopal da África Ocidental tem projetos para os próximos encontros regionais juvenis. O purpurado pediu aos jovens para que sejam missionários e anunciadores da verdade e da salvação, porta-estandartes da alegria e da escuta recíproca, testemunhas fiéis de acolhimento e meditação da Palavra de Deus.



Ruanda: Comércio solidário para promover a paz na região dos Grandes Lagos Africanos

"Comércio solidário pela paz" é o nome do projeto lançado recentemente pela Diocese de Cyangugu, em Ruanda. A iniciativa é destinada à região dos Grandes Lagos Africanos devastada pelos conflitos.

"O projeto terá a duração de dois anos e envolve, sobretudo, as mulheres, principais vítimas de guerras e conflitos entre as comunidades", ressalta numa nota a Conferência Episcopal Ruandesa.

Está previsto que 60 mulheres de várias dioceses iniciem o comércio solidário e regular a fim de "construir pontes de paz, consolidar a reconciliação, reforçar a confiança recíproca e reconstruir a coesão comunitária destruída pela guerra".

"O projeto 'Comércio solidário pela paz' é um instrumento que ajudará a melhorar o espírito de amizade, tolerância e confronto entre os países e será também um apoio aos esforços diplomáticos implementados pelos líderes políticos da região dos Grandes Lagos Africanos", disse o Bispo de Cyangugu, Dom s. Jean Damascane Bimenyimana.

Segundo o presidente da Comissão Justiça e Paz de Cyangugu, Pe. Valens Niragire, encarregada de acompanhar a iniciativa, "através do contato com as mulheres que farão comércio solidário com diferentes pessoas, a mensagem de unidade que vem da paz e da tolerância chegará a uma grande parte da população".

As mulheres envolvidas no projeto também manifestaram sua satisfação: "No 'Comércio solidário pela paz' as mulheres se sentem em casa, independentemente do país de origem", disse a comerciante de Bujumbura, capital do Burundi, Joselyne Ndizeye.




Egito: cristãos rezam juntos pela paz - Cairo

Os representantes de várias Igrejas e comunidades cristãs presentes no Egito se encontraram na noite de segunda-feira, 10 de fevereiro, na Catedral católica latina de Nossa Senhora de Heliópolis, no Cairo, para rezar juntos e pedir o dom da paz e da unidade para todo o país.

“O encontro de oração foi convocado pelo Conselho Nacional das Igrejas cristãs, que no próximo dia 18 de fevereiro celebrará o primeiro ano de sua instituição.

Esta data permitirá traçar um primeiro balanço do novo organismo, avaliar juntos o trabalho feito e olhar para as perspectivas do caminho”, declarou à Agência Fides o bispo Adel Zaki OFM, Vigário apostólico de Alexandria do Egito para os católicos de rito latino.

No encontro de oração estavam presentes, entre outros, o Patriarca copta católico Ibrahim Isaac Sidrak e o bispo copta-orotodoxo Morcos, junto aos representantes das Igrejas e das comunidades melquitas, greco-ortodoxas, luteranas e episcopalianas.

Neste momento, destaca o Bispo Zaki, “a oração comum dos cristãos egípcios assume um caráter especial: estamos vivendo um tempo em que no país persistem episódios de grave violência, mas no horizonte se entreveem sinais de esperança. Depois do apoio popular à nova Constituição, todos aguardam que esta nova fase se consolide com as próximas eleições presidenciais e que o Egito saia finalmente de um período obscuro. Pediremos também isso com as nossas orações”.




Representante da Santa Sé na ONU fala da contribuição das mulheres para o desenvolvimento sustentável

“As mulheres estejam sempre mais no centro do empenho internacional pelo desenvolvimento sustentável.” Foi o que pediu o Observador da Santa Sé nas Nações Unidas em Nova Iorque, Dom Francis Chullikatt, durante a sessão do grupo de trabalho sobre os Objetivos de desenvolvimento sustentável da ONU, realizada nos dias passados.

O Arcebispo Chullikatt destacou que as desigualdades econômicas impedem que as pessoas gozem de seus direitos e são fonte de problemas sociais, violência e conflitos. Em especial, o Observador da Santa Sé falou da dignidade das mulheres, que muitas vezes é espezinhada por meio de aborto seletivo, evasão escolar, mutilações genitais, matrimônio forçado e tráfico para exploração sexual e laboral.

Portanto, exortou o Arcebispo, “é necessário um forte empenho pela defesa de seus direitos”. O desenvolvimento das mulheres, afirmou, será realmente sustentável somente se permitir a elas dar prioridade a suas ações.

Para Dom Chullikatt, as políticas de geração de emprego devem garantir que as mulheres possam conciliar o trabalho com as responsabilidades familiares, através de programas em prol da maternidade, seguro-desemprego e aposentadorias suficientes para a família. “São necessários esforços sérios para apoiar as mulheres em suas escolhas”, defendeu por fim Dom Chullikatt.




O que significou o Tratado de Latrão?

Neste dia 11 de fevereiro, recordam-se os 85 anos do Tratado de Latrão. Assinado em 1929, o Tratado resolveu de maneira definitiva a "questão romana", ou seja, o conflito aberto em 1870 com a anexação de Roma ao Reino da Itália.

O atual Estado da Cidade do Vaticano ocupa a área conhecida como "Ager Vaticanus", a colina vaticana que não foi ocupada pelas tropas italianas, que tomaram Roma no dia 20 de setembro de 1870, durante o processo de unificação da Itália. Considerado como o menor Estado do mundo, esse território assegura a liberdade da Sé Apostólica e a independência do Papa, para poder realizar sua missão.

O Vaticano tem uma população de pouco mais de mil pessoas. Os habitantes do Estado da Cidade do Vaticano procedem de muitos países, embora na sua maioria sejam italianos. Pelo menos 400 têm cidadania vaticana, entre eles os prelados que são chefes de organismos da Cúria Romana. Todos os Cardeais residentes em Roma obtêm automaticamente cidadania vaticana, mas conservam a original.

O Vaticano emite selos e moeda própria (só metálica) e conta com todos os serviços próprios de um Estado, como uma central telegráfica, estação de rádio (Rádio Vaticano), um jornal (L'Osservatore Romano) e rede ferroviária, conectada com a ferrovia italiana. Além disso, pode dispor, com base na Convenção de Barcelona, de 1921, de uma frota marítima com bandeira própria.

A segurança do Vaticano está confiada ao Corpo de Vigilância, formado por uma centena de efetivos. Além disso, dispõe da Guarda Suíça, único corpo militar que existe no Vaticano, integrado também por uma centena de membros e cuja função é defender o Papa e controlar os portões que dão acesso à Cidade do Vaticano, entre outras coisas.

Sua atual Constituição data de 2001, em substituição da de 1929: reitera que o Papa é o soberano absoluto, que concentra em si os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, os quais, em caso de falecimento do Pontífice, passam ao Colégio Cardinalício até a eleição do sucessor.

Em tal circunstância, o Colégio só pode aprovar normas de caráter de urgência e com eficácia limitada, a não ser que depois sejam confirmadas pelo novo Pontífice.

A "Lei Fundamental da Cidade do Vaticano", nome oficial da Carta Magna, contém 20 artigos. A Constituição estabelece que a bandeira oficial do Vaticano é amarela e branca, em vertical, tendo, ao centro o escudo com as chaves entrecruzadas sobre as quais se encontra a tiara papal.

O Tratado de Latrão estabeleceu o Estado soberano da Cidade do Vaticano, declarando que o Catolicismo era a religião oficial da Itália. O acordo regulamenta as relações entre a Igreja e o Estado. A revisão da Concordata, em 1984, declarou que o Catolicismo não seria mais a religião oficial do Estado italiano.

O Tratado de 1929 fixou também o caráter internacional da Santa Sé, que é reconhecida perante a legislação internacional e mantém relações diplomáticas com outras nações. A esse respeito, o Estado da Cidade do Vaticano foi instituído como "uma realidade jurídico e política, à qual é necessário identificar e garantir a absoluta e visível independência da Sé Apostólica no exercício de sua elevada missão espiritual no mundo".





Teólogo Dom Bruno Forte: a renúncia de Bento XVI foi um ato de profunda honestidade

A renúncia, como todo o Pontificado de Bento XVI, foi inspirada pelo Concílio Vaticano II.

Essa é a convicção do Arcebispo de Chieti-Vasto, o teólogo Dom Bruno Forte, que, numa entrevista concedida à Rádio Vaticano, se detém sobre a decisão do Papa Ratzinger e sobre os desdobramentos da renúncia um ano depois:

Dom Bruno Forte:- "A meu ver, é a expressão coerente do estilo que o Papa Bento teve durante todo o seu Pontificado: um estilo inspirado na intenção única de agradar a Deus. Em seu modo de ser, o Papa Bento jamais buscou o consenso fácil das multidões.

Ele foi um homem que quis portar avante a reforma espiritual da Igreja e, portanto, a única exigência fundamental – para ele – era que o seu modo de ser Sucessor de Pedro, Bispo de Roma, Pastor universal da Igreja, e o modo de ser da Igreja inteira fossem tais que agradassem a Deus.

Creio que essa seja a grande chave de compreensão de tudo aquilo que o Papa Bento foi. E nesse sentido, também a sua renúncia foi um ato de obediência ao fato de ele sentir-lhe faltarem as forças. Foi um ato de profunda honestidade!

Creio poder dizer que ele vê no Pontificado do Papa Francisco a confirmação que Deus quis dar à validez desta escolha: uma voz vicejante, nova, que de algum modo é também auxiliada por uma grande energia, inclusive física, que o Papa Bento não teria."

Considerando que a renúncia de Bento XVI deu-se no âmbito do cinquentenário do Vaticano II, houve quem viu em sua surpreendente decisão um singular acolhimento dos ensinamentos conciliares...

Dom Bruno Forte:- "É preciso partir do fato que Bento XVI, Joseph Ratzinger, foi um protagonista do Concílio. O Concílio faz parte de seu DNA. Quem pensou que, de algum modo, o Pontificado de Bento XVI fosse um distanciar-se do Vaticano II, no fundo, contradiz aquela que é a profunda identidade do pastor, do teólogo e depois do Papa Joseph Ratzinger.

Portanto, o ponto forte a ser ressaltado é que o Vaticano II continuamente inspirou o Pontificado do Papa Bento e ele mesmo o disse reiteradas vezes, colhendo a herança também de seus predecessores.

Naturalmente, na visão do Concílio Vaticano II é bem claro o que chamo de mística do serviço: João Paulo II foi aquele que, com a sua energia física e espiritual, mexeu com continentes inteiros; depois veio a estação da doença, chegando ao ponto extremo do silêncio, da mudez, quando já não conseguia falar, a não ser com os gestos.

Analogamente, com Bento XVI houve a estação de seu grande magistério: ele foi um grande catequizador, em muitos aspectos foi um Padre da Igreja moderna; depois, sentindo faltar as forças, veio o tempo do silêncio, que ele escolheu como melhor caminho, no qual pôde continuar servindo à Igreja na oração."




Bento XVI, humildade e coragem por amor à Igreja

No dia em que se recorda um ano da renúncia de seu antecessor, o Papa Francisco convidou os fiéis a rezar juntos com ele por Sua Santidade Bento XVI, “homem de grande coragem e humildade”. Dias atrás, em carta publicada pelo jornal italiano “La Repubblica” ao teólogo Hans Kung, Joseph Ratzinger se dizia grato pela grande semelhança de visões e pela amizade que o une ao Papa Francisco. O Papa Emérito afirma que seu único e último dever é encorajar o atual Pontificado com a oração.

Um ano após sua renúncia, que surpreendeu o mundo, a atitude de Joseph Ratzinger é hoje vista como um ato de coragem, que abriu a Igreja para uma “primavera”. Já naquele dia, o Cardeal João Braz de Aviz, Prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, disse esperar para a Igreja o Pontífice melhor para aquele momento. Entrevistado pela RV naquela mesma manhã, ele contou que a sua primeira reação ao ouvir a notícia da renúncia do Papa foi consultar o cardeal que estava ao seu lado para ter certeza de que tinha entendido direito.

“Foi uma surpresa para todos nós porque esta atitude da renúncia não é uma atitude muito comum na Igreja. É um ato de extrema humildade por parte do Papa, de extremo amor à Igreja e que nos colheu muito de surpresa, a gente via na própria sala esta surpresa. Não sabíamos de nada, só da questão do Consistório para os santos e não de sua renúncia. Nesse sentido, foi uma grande surpresa. Da nossa parte, queremos pedir pela Igreja, pedir também pelo novo Conclave e pedir para que o Senhor dê a nós o Pontífice que ele pensou para este momento”.

Já Dom Cláudio Hummes, que havia colaborado diretamente com Bento XVI como Prefeito da Congregação para o Clero, no Vaticano, foi surpreendido em São Paulo com a notícia. Em exclusiva ao Programa Brasileiro, em sua chegada a Roma para o Conclave, Dom Cláudio ressaltou a humildade de Joseph Ratzinger, um homem “que não se agarrou ao poder e ao prestígio":

“A grandeza dele está em sua humildade, no despojamento. O Papa e um homem que não se aferra ao poder e ao prestígio, mas como ele mesmo dizia: eu vejo que não tenho mais suficientes forças humanas para continuar neste encargo, então para o bem da Igreja, eu renuncio. Ficou claro que o fez para o bem da Igreja. Talvez seja uma oportunidade para coisas novas acontecerem, para o bem da Igreja”.





Pe. Lombardi: Bento XVI vive o tempo da oração, sua renúncia incidiu na história da Igreja

Celebra-se nesta terça-feira, 11 de fevereiro, o primeiro aniversário do anúncio da renúncia ao ministério petrino de Bento XVI.
Um gesto destinado a permanecer no tempo, que foi tomado com imensa surpresa no mundo inteiro e não somente na Igreja. De fato, no momento da renúncia, muitos observadores admitiram que não se estava preparado para uma decisão de tal alcance. Para uma reflexão um ano após a renúncia do Papa Bento XVI, a Rádio Vaticano ouviu o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi, também diretor da RV:

Pe. Federico Lombardi:- "Há séculos não se via uma renúncia por parte de um Papa e, portanto, para a grandíssima maioria das pessoas se tratava de um gesto inusitado e surpreendente. Na realidade, para quem acompanhava Bento XVI mais de perto, se entendia que havia uma reflexão sobre esse tema, e já o havia dito explicitamente em sua conversação com Peter Seewald, algum tempo antes – muito tempo antes. E, portanto, era um tema sobre o qual ele rezava, refletia e avaliava, fazia um discernimento espiritual. Foi o que colocou em prática ao nos comunicar e o fez de modo sintético no dia da sua renúncia, naquelas palavras breves, mas densíssimas que explicavam de modo absolutamente adequado e claro os critérios segundo os quais tomara a sua decisão. O que digo – e o disse já na ocasião – é que me parecia um grande ato de governo, ou seja, uma decisão tomada livremente que incide verdadeiramente na situação e na História da Igreja. Nesse sentido, é um grande ato de governo, feito com uma grande profundidade espiritual, uma grande preparação do ponto de vista da reflexão e da oração; uma grande coragem porque, efetivamente, tratando-se de uma decisão inusitada, podia haver problemas ou dúvidas sobre "o que teria" significado, como reflexos, como conseqüências para o futuro, como reação por parte do povo de Deus ou do público. A clareza com a qual Bento XVI se preparou para este gesto e, diria, a fé com a qual se preparou, deram-lhe a serenidade e a força necessárias para colocá-lo em prática, caminhando com coragem e serenidade, com uma visão verdadeiramente de fé e de expectativa do Senhor que acompanha continuamente a sua Igreja, diante dessa situação nova que ele viveu em primeira pessoa, durante várias semanas, e que depois a Igreja viveu com a sucessão, a eleição do novo Papa, como todos sabemos. Eis, portanto, verificou-se plenamente, por parte do Espírito do Senhor, este sentido de acompanhamento da Igreja em caminho."

Um ano atrás, muitos se perguntavam como seria a inédita convivência entre dois Papas. Hoje se vê que tanto temor – talvez mais da parte de "especialistas" do que do Povo de Deus – era exagerado...

Pe. Federico Lombardi:- "Sim... deste ponto de vista, parecia-me absolutamente claro que não havia motivo para se ter nenhum temor. Por quê? Porque a questão é o fato de o papado ser um serviço e não um poder. Se os problemas são vividos em chave de poder, então é claro que duas pessoas podem ter dificuldade a conviver porque pode ser difícil renunciar a um poder e conviver com o sucessor. Mas se se vive tudo exclusivamente como serviço, então uma pessoa que cumpriu o seu serviço diante de Deus e em plena consciência passa o bastão deste serviço a outra pessoa que com atitude de serviço e de plena liberdade de consciência realiza esta tarefa, então o problema não existe absolutamente! Há uma solidariedade espiritual profunda entre os Servidores de Deus que buscam o bem do povo de Deus no serviço do Senhor."

Bento XVI despediu-se ressaltando que teria continuado a servir a Igreja mediante a oração: essa foi uma contribuição realmente extraordinária que deu, e que ainda continua dando, não é isso mesmo?

Pe. Federico Lombardi:- "Sim... apresento apenas uma pequeníssima recordação pessoal: sobretudo nos primeiros tempos do Pontificado, toda vez que havia uma audiência e eu passava para saudar o Papa, como de costume, me dava um Terço, porque habitualmente se dá uma imagem, um Terço, uma medalha... e toda vez que o Papa me dava um Terço, dizia: "Também os padres devem se lembrar de rezar". Eis que jamais me esqueci disso, porque manifestava assim, de modo muito simples, a sua convicção e a sua atenção para o lugar da oração em nossa vida, inclusive e em particular na vida de quem tem tarefas de responsabilidade no serviço do Senhor. Bento XVI certamente sempre foi um homem de oração, em toda sua vida, e – provavelmente – desejava ter um tempo para viver essa dimensão da oração com mais espaço, totalidade e profundidade. E este agora é o seu tempo."

Por outro lado, a vida de oração de Bento XVI não deixa de ter momentos de encontro, inclusive com o Papa Francisco, como sabemos. O que o senhor pode nos dizer sobre essa dimensão da vida distante dos olhos do mundo, mas não isolada de Joseph Ratzinger?

Pe. Federico Lombardi:- "Creio que é justo dar-se conta de que ele vive num modo discreto, sem uma dimensão pública; mas isso não significa que vive isolado, fechado como numa pequena clausura. Desempenha uma atividade normal para uma pessoa anciã – uma pessoa anciã religiosa: uma vida de oração, de reflexão, de leitura, de escritura no sentido que responde à correspondência que recebe; de colóquios, de encontros com pessoas que lhe estão próximas, que com satisfação encontra, com as quais considera útil manter um diálogo, que lhe pedem conselho ou proximidade espiritual. De fato, trata-se da vida de uma pessoa rica espiritualmente, de grande experiência, numa relação discreta com os outros... O que não existe é a dimensão pública com a qual estávamos acostumados, sendo o Papa, e, portanto, estava sempre nas telas, diante da atenção do mundo inteiro. Isto não há; mas fora isso é uma vida normal de relações. E entre essas relações encontra-se a relação com o seu sucessor, a relação com o Papa Francisco que, como sabemos, tem momentos inclusive de encontros pessoais, de diálogo... Um já esteve na casa dou outro. Ademais, existem outras formas de contato que podem ser o telefone ou mensagens que são enviadas: uma situação de relação totalmente normal, diria, e de solidariedade. Parece-me ser muito bonito para nós, quando temos aquelas raras imagens dos dois Papa juntos e que rezam juntos – o Papa atual e o Papa emérito: é um sinal muito bonito e encorajador, da continuidade do ministério petrino no serviço da Igreja."

Uma última questão: Pe. Lombardi, o senhor acompanhou Bento XVI durante os seus quase oito anos de Pontificado. O que o Papa emérito está lhe dando agora, pessoalmente, espiritualmente, desde 11 de fevereiro do ano passado?

Pe. Federico Lombardi:- "Sinto muito a presença do Papa Bento XVI, como uma presença espiritual forte que acompanha, que serena... Penso nas grandes figuras de anciãos da História da Igreja e da História sagrada; em particular, todos pensamos – por exemplo – em Simeão, que acolhe Jesus no Templo e que olha com alegria também para seu destino eterno e inclusive para o futuro da comunidade que continua caminhando nesta terra. Todos sabemos o grandíssimo valor de termos conosco anciãos, anciãos ricos de sabedoria, ricos de fé, serenos: são verdadeiramente uma grandíssima ajuda para quem é mais jovem, para seguir adiante olham para o futuro com confiança e com esperança. É o que Bento XVI é para mim – e creio para a Igreja: o Grande Ancião, sábio, digamos – inclusive – santo. É sereno, porque é bonito, quando o vemos, dá verdadeiramente uma impressão de grande serenidade espiritual. Conservou o seu sorriso com o qual nos acostumamos, nos momentos bonitos em que o encontrávamos – e que, portanto, nos convidam a seguir adiante no caminho, confiantes e com esperança."




Verdadeiro e Falso profeta

A palavra profeta quer dizer: “falar em nome de”. Na Bíblia, profeta é alguém que fala em nome de Deus (leiam em Ez 3, 10-11). O que quer dizer isso?

Os profetas são os porta-vozes de Javé, o Deus da Aliança. Eles comunicam ao povo o recado que Deus tem a dar nas mais diversas situações (Am 3,3-8). Também apresentam a Deus o recado do povo (Am 7, 1-3). É boca do povo para Deus e boca de Deus para o povo!

Os profetas: falavam com Javé e transmitiam os recados Dele para o povo; eram videntes, curandeiros, líderes populares, poetas...
Conheciam profundamente a realidade presente, prevendo suas conseqüências futuras; questionavam o povo de volta à aliança; denunciavam a injustiça e anunciavam a justiça de Javé.

Havia profetas contratados pelos reis para orientar suas ações (2Sm 24,11; 2Rs 22,13-14). Outros eram pessoas simples que se entregavam à causa da verdade (Jr 1,4-8). Outros, ainda, faziam política partidária com o objetivo de melhorar a vida do povo (1Rs 9,1-4).

Nem todos os profetas agiam de acordo com a vontade de Deus. Alguns “profetizavam” em nome de interesses próprios (Mq 3,5-8). Eram os falsos profetas, que mentiam e defendiam os opressores usando o nome de Javé.

O povo hebreu havia saído do Egito, terra da opressão. Lá, o faraó era o senhor que se apropriava do fruto do trabalho do povo. Na Terra Prometida, o povo teria o fruto de seu próprio trabalho. Não haveria nenhum Senhor além de Javé! Essa era a ideia central da Aliança.

Com o surgimento dos reis em Israel, o povo foi esquecendo o Êxodo e deixou de lado o projeto igualitário das tribos. Acabou construindo um “Egito” na Terra Prometida, fazendo da terra da liberdade uma terra de escravidão.

Reis, sacerdotes, magistrados, proprietários de terras e ricos usavam o nome de Javé para cometer toda espécie de injustiça e tomar o que era dos pobres (Am 5, 10-12; Mq 2,8-9). Seus aliados eram os falsos profetas. Estes justificavam a corrupção dos ricos e a miséria dos pobres como se fosse vontade de Javé.

Os maiores adversários dos poderosos eram os verdadeiros profetas. Eles sabiam como abrir os olhos do povo e desmascaravam os injustos com a autoridade dada por Javé.
Eram fiéis à verdade e à justiça, mesmo quando isso lhes trazia problemas (Jr 20, 7-8).

E nos dias de hoje, continua igual, temos inúmeros falsos profetas, não é tão difícil saber quem são! CUIDADO, VIGIAI E ORAI.


O que significa a palavra confessar?


A palavra “confessar” significa “anunciar”, “proclamar”, “professar”. 
Anunciar que o amor de Deus é mais forte do que o mal que se cometeu. Aquele que se confessa está fazendo sua profissão de fé no perdão de Deus. 
Portanto, confessar-se não é tanto aborrecer-se com o mal praticado, mas sentir a alegria de receber de novo o abraço do Pai que perdoa e salva.


A importância da posição de joelhos - A Eucaristia: o dom recebido

É de fundamental relevância o momento da recepção do sacramento eucarístico. Este exige do fiel comungante uma atitude receptiva, pois a Eucaristia foi, é e será o dom recebido. É o dom, e não apenas um dom.
A Eucaristia encerra todos os dons, pois condensa sacramentalmente a presença real de Nosso Senhor, isto é, o próprio autor de todo dom, de toda graça.
A Eucaristia é sempre recebida, oferecida, transmitida e isso acontece ao Pai, pelo Filho, no Espírito Santo.

A posição de joelhos como um gesto cristológico

A tradição multissecular da Igreja sempre compreendeu que a forma de comungar é de joelhos e na boca. O então cardeal Joseph Ratzinger, em seu livro introdução ao espírito da liturgia diz:

“A posição de joelhos não é apenas um gesto cristão, mas também um gesto cristológico”. Nos ajoelhamos para receber a eucaristia porque é um gesto cristológico, isto é, não é algo exterior somente, mas algo profundamente cristológico, que nos aproxima do Cristo vivo.
Quem se ajoelha diante da eucaristia rompe com o orgulho e humildemente reconhece que ali está quem é maior.

Muitos questionam o gesto de ajoelhar, como se pervertesse o sentido de que Deus se fez simples, como uma exacerbação, um exagero. Ora, o que fazemos diante dos pequenos? não nos rebaixamos a eles? Quando conversamos ou abraçamos as crianças, nos rebaixamos para que elas sejam elevadas, para que elas sejam dignificadas e não rebaixadas pela nossa maior estatura.

O Deus que se rebaixou, que se despojou de sua glória nos dignificou. Qual o nosso gesto diante da grandeza que recebemos? Nos ajoelhamos diante da Eucaristia, porque Deus se fez um de nós, justamente porque ele se rebaixou.

A atitude diante da kénosis de Deus é também a kénosis do humano. Se Deus deixou a sua glória para nos elevar, nós também fazemos como Ele, nos rebaixamos porque reconhecemos que é dele que provém toda glória.

A dimensão pascal do gesto de ajoelhar-se

Se pensarmos que a glória foi-nos dada por meio do mistério pascal, e por isso devemos permanecer de pé, pois estamos ressuscitados, esvaziamos o sentido de elevação pela humilhação que a própria páscoa é. Cristo se humilhou para nos elevar, sem o sentido de rebaixamento não podemos viver como ressuscitados, não há ressurreição sem morte.

Na liturgia vivemos o mistério pascal que consiste em morte e ressurreição; quando nos colocamos em pé é evidenciado o sentido de ressurreição, quando nos colocamos de joelhos é evidenciado o sentido de morte, de despojamento, de humildade. Não há dicotomia entre morte e ressurreição.

É um verdadeiro absurdo não se ajoelhar em uma celebração eucarística; contradiz o real significado da páscoa que é atualizada por meio do sacramento eucarístico.

A atitude obediente de se ajoelhar nos momentos específicos, que a piedade eucarística ao longo dos séculos desenvolveu, é profundamente consonante com a riqueza litúrgica e espiritual da fé católica (Lex orandi, Lex credendi: a lei da oração é a lei da fé). Por isso todos os fiéis são chamados a se ajoelharem diante da Eucaristia, seja no momento da consagração, seja na recepção das sagradas espécies ou da exposição do Santíssimo Sacramento, ao passar diante do sacrário, etc. Todos são chamados, e não obrigados.

A Igreja não ensina a estrita obrigação, mas chama à obediência livre e consciente de suas normas litúrgicas. Além de ser uma norma litúrgica, a posição de joelhos é uma manifestação da fé no Cristo presente na Eucaristia. Quando se reconhece essa presença real, a posição de joelhos flui naturalmente pela razão e sobrenaturalmente pela graça.

Ajoelhar-se não é somente um ato de fé, mas a união entre fé e razão. Se ajoelha quem reconhece pela fé e a razão Deus, sua presença, sua divindade, sua santidade e também, sua humanidade em Jesus Cristo.

A Liturgia Cósmica: de joelhos aos pés do Senhor

O papa nos diz em sua introdução ao espírito da liturgia que: “a liturgia cristã é liturgia cósmica, precisamente porque se ajoelha perante o Senhor crucificado e elevado”. Estar de joelhos é um gesto cósmico, isto é, quem se ajoelha aos pés do Senhor, se une com todo o cosmos, pois é Ele o criador. Diz ainda:

“O gesto humilde com que caímos aos pés de Jesus, insere-nos na verdadeira órbita do Universo”. Sem dúvida, quando se ajoelha acontece uma verdadeira inserção na órbita do universo, ou seja, no movimento da criação. Hoje, muitos cristãos buscam essa inserção por meio de outras espiritualidades provindas de religiões orientais que focalizam a união com o cosmos; por meio da tradição cristã, se entra perfeitamente na ordem da criação, na comunhão com o criador, dispensando qualquer elemento não cristão. A liturgia católica não carece em nada de aspectos cósmicos, pois ela mesma é liturgia cósmica.

A tradição litúrgica da recepção da comunhão na boca e de joelhos

Ao longo de dois mil anos, a Igreja encontrou uma expressão ritual para testemunhar sua fé e seu amor ao sacramento eucarístico.
A partir do século VI a Igreja começou a distribuir a comunhão diretamente na boca dos fiéis de joelhos. Isso ocorreu devido ao desenvolvimento orgânico da liturgia ao longo dos séculos, não como uma deturpação como dizem alguns liturgistas.
A comunhão na boca e de joelhos é atestada pelos Santos Padres da Igreja dos primeiros séculos.

Portanto, a posição de joelhos é um gesto tradicional na liturgia católica, profundamente cristológico, que insere o ser humano na ordem divina, na comunhão com Deus.



Pe. Leandro Luis Bernardes




Evangelho São Mateus 5,13-16


 Vós sois a luz do mundo.

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se tornar insosso, com que salgaremos?
Ele não servirá para mais nada, senão para ser jogado fora e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não pode ficar escondida uma cidade construída sobre um monte. Ninguém acende uma lâmpada, e a coloca debaixo de uma vasilha, mas sim, num candeeiro, onde brilha para todos que estão na casa.
Assim também brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e louvem o vosso Pai que está nos céus. Palavra da Salvação.

Reflexão

“Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos. Quando encontrardes um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne. Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá.”

Compreendemos desse texto do Profeta Isaías que o jejum é solidariedade com os famintos, é partilhar o próprio pão e o próprio teto. Não existe culto a Deus separado da justiça social. Experimentamos Deus a partir dos sofrimentos humanos. Deus não nos pede que provoquemos dor e desconforto em nosso corpo. Ele nos pede misericórdia, compaixão com aquele que sofre, solidariedade, partilha de dons.

A privação que Deus nos pede não é um gesto de ascese, de autodisciplina, mas de acolhida do outro na situação em que se encontra, é compaixão. O crescimento espiritual não pode ser voltado para si mesmo, seria estéril, mas quando me privo para ir em socorro do outro, por causa do outro, por causa de Deus e não de mim mesmo, aí cresço. Não podemos confundir o jejum cristão, os exercícios de abnegação com mera privação em que eu saio melhor porque dominei meu corpo, dominei meus desejos. Para isso não precisamos amar o próximo e nem a Deus.

O atleta, a pessoa que cultiva sua elegância física, o e a modelo também se privam de alimentos, fazem bastantes exercícios físicos, vão passar fome em um spa não por amor ao próximo ou a Deus, mas por beleza, por saúde, por vaidade.
O dinheiro economizado com esse jejum, se é que economizou e não gastou mais ainda, certamente não será dado aos pobres, mas gasto em produtos que realcem o sacrifício realizado: a beleza física!
Do mesmo modo, certos caminhos espirituais que propõem uma vida ascética, difícil até, mas com o único objetivo de crescimento e auto domínio, se tornam estéreis - dentro de uma visão judaico-cristã - porque se esquecem da verdadeira dimensão espiritual que direciona o culto religioso a Deus concretizando-se no serviço ao próximo. Segundo Isaías, a partilha é a transfiguração da pessoa, quando ele diz: “Então, brilhará tua luz como a aurora”!

No Evangelho Jesus diz que os seus discípulos são sal da terra e luz do mundo. Como entender isso?

No passado, como por exemplo no livro dos Números 18,19 está escrito “aliança de sal”, uma aliança que se pereniza. Ora, o Senhor ao falar que somos “sal da terra” quer nos dizer que somos aqueles em que Ele confia para perenizar entre os homens o seu amor, sua aliança, para construir o Reino de Justiça. E o sal não perde o sabor, nos alerta o Mestre, nos dizendo da necessidade de nos mantermos fiéis à nossa missão, caso contrário, se perdermos o sabor, seremos jogados por terra para sermos pisados, desprezados, pois perdemos nossa sublime missão.

A luz brilha e Jesus nos chamou de luz do mundo. Deveremos brilhar no mundo, iluminá-lo para levá-lo ao Senhor. “A luz de vocês brilhe diante das pessoas, para que elas vejam as boas obras que vocês fazem, e louvem o Pai que está no céu”.

Concluindo a mensagem deste domingo poderemos levar a seguinte mensagem: Meu relacionamento com Deus me leva a abrir meu coração e meus bens aos pobres e ser misericordioso. Com essa atitude estarei colaborando com o Senhor na construção do Reino de Justiça. Estarei sendo sal, conservando sua aliança de Amor com o ser humano e também estarei sendo farol, luz para aqueles que são de boa vontade e desejam chegar até Deus.

Jesus nosso alimento

O que o alimento material produz em nossa vida corporal, a comunhão o realiza de maneira admirável em nossa vida espiritual.
A comunhão da Carne de Cristo ressuscitado, "vivificado pelo Espírito Santo e vivificante", conserva, aumenta e renova a vida da graça recebida no Batismo.
Este crescimento da vida cristã precisa ser alimentado pela Comunhão Eucarística, pão da nossa peregrinação, até o momento da morte, quando nos ser dado como viático.
CIC 1392



A Mensagem da Virgem em Lourdes

A Mensagem que a Santíssima Virgem deu em Lourdes, pode ser resumida nos seguintes pontos:

- É um agradecimento do céu pela definição do dogma da Imaculada Conceição, que tinha sido declarado quatro anos antes por Pio IX (1854), ao mesmo tempo que assim apresenta Ela mesma como Mãe e modelo de pureza para o mundo que está necessitado desta virtude.

- Derramou inumeráveis graças físicas e espirituais, para que nos convertamos a Cristo em sua Igreja.

- É uma exaltação às virtudes da pobreza e humildade aceitas cristãmente, ao escolher a Bernadete como instrumento de sua mensagem.

- Uma mensagem importantíssima em Lourdes é o da Cruz. A Santíssima Virgem repete que o importante é ser feliz na outra vida, embora para isso seja preciso aceitar a cruz. "Eu também te prometo fazer-te ditosa, não neste mundo, mas no outro"

- Em todas as aparições veio com seu Rosário: A importância de rezá-lo.

- Importância da oração, da penitência e humildade (beijando o solo como sinal disso); também, uma mensagem de misericórdia infinita para os pecadores e do cuidado com os doentes.

- Importância da conversão e a confiança em Deus.

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ORAÇÃO A NOSSA SENHORA DE LOURDES

Ó Virgem puríssima, Nossa Senhora de Lourdes, que vos dignastes aparecer a Bernadette, no lugar solitário de uma gruta, para nos lembrar que é no sossego e recolhimento que Deus nos fala, e nós falamos com ele, ajudai-nos a encontrar o sossego e a paz da alma que nos ajudem a conservar-nos sempre unidos a Deus. Amém.

Nossa Senhora da gruta de Lourdes, dai-me a graça que vos peço e tanto preciso (pedir a graça).



Oração

A oração é a vida do coração novo e deve nos animar a cada momento. 
Nós, porém, esquecemo-nos daquele que é nossa Vida e nosso Tudo. Por isso os Padres espirituais, na tradição do Deuteronômio e dos profetas, insistem na oração como "recordação de Deus", como um despertar freqüente da "memória do coração": 
"É preciso se lembrar de Deus com mais freqüência do que se respira".
CIC 2697




6 de fevereiro de 2014

Comemoração dos 500 anos de Reforma Protestante: Podemos comemorar um pecado?

Cardeal Koch sobre os 500 anos da Revolução Protestante:“Não podemos comemorar um pecado”.

“Os acontecimentos que dividem a Igreja não podem ser considerados como um dia de festa”.
- O responsável pelo ecumenismo no Vaticano “chutou o balde”. Em 2017, comemora-se os 500 anos da Reforma Protestante. Comemora-se? Segundo o Cardeal Kurt Koch (foto), Prefeito do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos, “não podemos comemorar um pecado”.

Em um ambiente embebido no politicamente correto das últimas décadas, surpreende ouvir um Cardeal — ainda mais o responsável pelo ecumenismo — falando assim, sem papas na língua. Ele sabe disso, e reconhece o risco de ser considerado “anti-ecumênico”. Mas vai adiante: “Os acontecimentos que dividem a Igreja não podem ser considerados como um dia de festa”.

Koch afirmou ainda que desejava assistir, em memória do acontecimento, a uma reunião das confissões reformadas seguindo o exemplo dado por João Paulo II, em 2000, isto é, pedindo desculpas e reconhecendo seus erros, condenando, ao mesmo tempo, as divisões na Cristandade.
A resposta não tardou. A comissionada do Conselho da Igreja Evangélica da Alemanha para o Jubileu de 2017 não quis diálogo nenhum.

Esbravejou: “A Reforma Protestante não é nosso pecado, mas uma reforma da Igreja urgente e necessária do ponto de vista bíblico, na qual defendemos a liberdade evangélica; não temos que nos confessar culpáveis de nada”.
Bem, as palavras da filha de Lutero demonstram o que qualquer Católico já sabe. No “caminho ecumênico” só há uma culpada, a Santa Igreja Católica, e só a Ela são feitas exigências.


Fonte: Fratesinunum



Os preparativos para a celebração ecumênica dos 500 anos da Reforma, em 2017

Em 2017, luteranos e católicos vão celebrar juntos os quinhentos anos da Reforma Protestante e recordar com alegria os cinquenta anos de diálogo ecumênico oficial conduzido a nível mundial, na esteira do Concílio Vaticano II.

A Comissão Internacional de Diálogo Luterano-católica pela Unidade, já há alguns anos organizou uma programação com vistas a uma possível declaração comum por ocasião do ano da comemoração da Reforma, em 2017. Nos últimos ciquenta anos, o diálogo ecumênico realizou grandes esforços buscando relacionar a teologia dos reformadores às decisões do Concílio de Trento e do Vaticano II, avaliando se as respectivas posições se excluem ou se completam mutuamente.

Em 2013, a Comissão de diálogo publicou o documento intitulado 'From Conflict to Communion. Lutheran Catholic Commom Commemoration of the Reformation in 2017', onde após uma detalhada introdução sobre as comemorações comuns, dedica dois capítulos à apresentação dos eventos da Reforma, resume a teologia de Martin Lutero e ilustra as resoluções do Concílio de Trento. A conclusão do documento apresenta um resumo das principais decisões comuns da Comissão de Diálogo Luterano-católico em 1967, particularmente sobre a justificação, a Eucaristia, as Escrituras e a Tradição.

O documento sobre os preparativos às comemorações, foi apresentado em 17 de junho de 2013 durante uma coletiva de imprensa realizada do Centro Ecumênico de Genebra, e contou com a presença, entre outros, do Presidente e Secretário da Federação Luterana Mundial (FLM), de Dom Munib Youan e do Cardeal Kurt Koch, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

Lançando uma nova luz sobre questões centrais da fé, o documento ecumênico possibilita a superação das controvérsias dos séculos passados e lança bases para uma reflexão ecumênica que se distinga do pensamento dos séculos precedentes, convidando assim os cristãos a considerar esta relação com espírito aberto, mas também crítico, para se avançar ainda mais no caminho da plena e visível unidade da Igreja.

Na primeira metade de 2014 deverá ser publicado o documento "Alegria partilhada pelo Evangelho, confissão dos pecados cometidos contra a unidade e testemunho comum para no mundo de hoje", com textos e subsídios para uma oração ecumênica comum. Os textos foram preparados por um grupo de trabalho litúrgico formado por representantes da FLM e do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade.

Em 2017, o contexto histórico em que se recordará os 500 anos da Reforma é muito diferente do período em que ela foi implementada. A comemoração será realizada, pela primeira vez, numa época ecumênica. Assim, católicos e luteranos não pretendem festejar a divisão da Igreja, mas sim, trazer à memória o pensamento teológico e os acontecimentos relacionados à Reforma, precisamente o que escreve o Documento 'Do conflito à Comunhão', publicado em 2013.

O caminhar da história, tem levado luteranos e católicos a tornarem-se sempre mais conscientes de que a origem de acusações recíprocas não subsiste mais, mesmo que ainda não exista um consenso em todas as questões teológicas. Neste sentido, o documento "Do Conflito a Comunhão" conclui propondo cinco imperativos que exortam católicos e luteranos a prosseguirem no caminho em direção a uma profunda comunhão.

Diversos encontros realizados em 2013 marcaram esforços comuns com o objetivo de estreitar o diálogo, com reuniões entre o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e a Conferência dos Bispos veterocatólicos da União de Ultrecht, realizadas em Konigswinter, em julho de 2013 e em Paderbon, em dezembro. As Comissões de ambas as partes continuam os trabalhos sobre os temas: a relação entre a Igreja universal e a Igreja local e o papel do ministério petrino; e a comunhão eucarística.

Em fevereiro do mesmo ano, realizou-se em Viena o primeiro encontro entre a Comunidade das Igrejas Protestantes na Europa e o Pontifício Conselho, o que levou a reflexões sobre o conceito de Igreja e definições do objetivo ecumênico. Encontros sucessivos realizaram-se em Heidelberg e Ludwigshafen am Rhein, com a participação sete teólogos de ambas as partes.

Em 2013, diversas delegações luteranos encontraram-se com o Papa Francisco. Em 2014, uma delegação do Conselho da Igreja Protestante da Alemanha foi recebida em 8 de abril pelo Papa Francisco, encontrando-se sucessivamente com o Cardeal Koch.
Foto: Os preparativos para a celebração ecumênica dos 500 anos da Reforma, em 2017

Em 2017, luteranos e católicos vão celebrar juntos os quinhentos anos da Reforma Protestante e recordar com alegria os cinquenta anos de diálogo ecumênico oficial conduzido a nível mundial, na esteira do Concílio Vaticano II.

A Comissão Internacional de Diálogo Luterano-católica pela Unidade, já há alguns anos organizou uma programação com vistas a uma possível declaração comum por ocasião do ano da comemoração da Reforma, em 2017. Nos últimos ciquenta anos, o diálogo ecumênico realizou grandes esforços buscando relacionar a teologia dos reformadores às decisões do Concílio de Trento e do Vaticano II, avaliando se as respectivas posições se excluem ou se completam mutuamente.

Em 2013, a Comissão de diálogo publicou o documento intitulado 'From Conflict to Communion. Lutheran Catholic Commom Commemoration of the Reformation in 2017', onde após uma detalhada introdução sobre as comemorações comuns, dedica dois capítulos à apresentação dos eventos da Reforma, resume a teologia de Martin Lutero e ilustra as resoluções do Concílio de Trento. A conclusão do documento apresenta um resumo das principais decisões comuns da Comissão de Diálogo Luterano-católico em 1967, particularmente sobre a justificação, a Eucaristia, as Escrituras e a Tradição.

O documento sobre os preparativos às comemorações, foi apresentado em 17 de junho de 2013 durante uma coletiva de imprensa realizada do Centro Ecumênico de Genebra, e contou com a presença, entre outros, do Presidente e Secretário da Federação Luterana Mundial (FLM), de Dom Munib Youan e do Cardeal Kurt Koch, Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

Lançando uma nova luz sobre questões centrais da fé, o documento ecumênico possibilita a superação das controvérsias dos séculos passados e lança bases para uma reflexão ecumênica que se distinga do pensamento dos séculos precedentes, convidando assim os cristãos a considerar esta relação com espírito aberto, mas também crítico, para se avançar ainda mais no caminho da plena e visível unidade da Igreja.

Na primeira metade de 2014 deverá ser publicado o documento "Alegria partilhada pelo Evangelho, confissão dos pecados cometidos contra a unidade e testemunho comum para no mundo de hoje", com textos e subsídios para uma oração ecumênica comum. Os textos foram preparados por um grupo de trabalho litúrgico formado por representantes da FLM e do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade.

Em 2017, o contexto histórico em que se recordará os 500 anos da Reforma é muito diferente do período em que ela foi implementada. A comemoração será realizada, pela primeira vez, numa época ecumênica. Assim, católicos e luteranos não pretendem festejar a divisão da Igreja, mas sim, trazer à memória o pensamento teológico e os acontecimentos relacionados à Reforma, precisamente o que escreve o Documento 'Do conflito à Comunhão', publicado em 2013.

O caminhar da história, tem levado luteranos e católicos a tornarem-se sempre mais conscientes de que a origem de acusações recíprocas não subsiste mais, mesmo que ainda não exista um consenso em todas as questões teológicas. Neste sentido, o documento "Do Conflito a Comunhão" conclui propondo cinco imperativos que exortam católicos e luteranos a prosseguirem no caminho em direção a uma profunda comunhão.

Diversos encontros realizados em 2013 marcaram esforços comuns com o objetivo de estreitar o diálogo, com reuniões entre o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos e a Conferência dos Bispos veterocatólicos da União de Ultrecht, realizadas em Konigswinter, em julho de 2013 e em Paderbon, em dezembro. As Comissões de ambas as partes continuam os trabalhos sobre os temas: a relação entre a Igreja universal e a Igreja local e o papel do ministério petrino; e a comunhão eucarística.

Em fevereiro do mesmo ano, realizou-se em Viena o primeiro encontro entre a Comunidade das Igrejas Protestantes na Europa e o Pontifício Conselho, o que levou a reflexões sobre o conceito de Igreja e definições do objetivo ecumênico. Encontros sucessivos realizaram-se em Heidelberg e Ludwigshafen am Rhein, com a participação sete teólogos de ambas as partes.

Em 2013, diversas delegações luteranos encontraram-se com o Papa Francisco. Em 2014, uma delegação do Conselho da Igreja Protestante da Alemanha foi recebida em 8 de abril pelo Papa Francisco, encontrando-se sucessivamente com o Cardeal Koch.



O que é que a Igreja tem feito para lidar com os casos de abusos sexuais?

No plano simbólico, João Paulo II e Bento XVI pediram desculpas publicamente e encontraram-se com algumas vítimas em muitas das viagens que realizaram durante os seus pontificados.

A crise dos abusos sexuais na Igreja Católica tornou-se verdadeiramente pública quando, em 2002, o jornal "Boston Globe" lançou uma investigação aos casos de abusos de menores por parte de membros do clero e, também, a cultura de encobrimento desses casos por parte da hierarquia.

Ao longo da década seguinte, o escândalo chegou a outros países ocidentais, sobretudo Reino Unido, Irlanda, Alemanha, Holanda, Austrália e mais recentemente Portugal (com um caso pontual, envolvendo um sacerdote do Fundão). Vários padres foram suspensos pela Igreja, muitos foram presos pelas autoridades civis e, nos Estados Unidos, até um bispo foi condenado não por abusar, mas por ter encoberto casos que se passaram na sua diocese.

A resposta do Vaticano tardou, em parte dificultada pela dimensão global e descentralizada da instituição, mas chegou. Ao longo dos últimos anos, Roma tomou medidas mais concretas e, no plano do simbólico, foram muito importantes os pedidos oficiais de desculpas por parte de João Paulo II e Bento XVI, que inclusive se encontraram pessoalmente com vítimas de abusos em muitas das viagens que realizaram durante os seus pontificados.

Logo em 2003, o Papa João Paulo II afirmou que "não há espaço no sacerdócio ou na vida religiosa para aqueles que fariam mal aos mais novos". No mesmo ano, o Vaticano organizou uma conferência sobre o assunto: na altura, um painel de oito especialistas, incluindo não-católicos, mostrou-se contra a política de "tolerância zero" que tinha sido adotada pelos Estados Unidos, refletindo o medo de, numa tentativa de se fazer justiça, poderem surgir casos de padres falsamente acusados, por exemplo.

Em 2011, o Vaticano decidiu ainda responder à comissão das Nações Unidas para os direitos da criança, enviando um relatório sobre a prestação da Santa Sé neste campo - o relatório tinha sido pedido 14 anos antes. Em Julho de 2012, as Nações Unidas enviaram uma novo questionário para Roma, estabelecendo como prazo para resposta 1 de Novembro de 2013. Questionado pela Renascença, o padre Federico Lombardi, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, revelou que o prazo era indicativo e não rígido.

No início de Dezembro, a Santa Sé enviou as respostas para a ONU, mas recusou dar quaisquer detalhes sobre casos particulares, reservando-se o direito à confidencialidade por respeito às partes envolvidas, incluindo as vítimas. O Vaticano disse que apenas cederia esta informação a pedido de Estados e para para colaboração com casos judiciais.

Critérios mais apertados
A Santa Sé recordou que ao longo dos últimos anos apertou os critérios de admissão aos seminários, atualizado o direito canônico para lidar com estas situações. O Vaticano ordenou todas as conferências episcopais a elaborar diretrizes para seguir em caso de denúncias ou suspeitas de abusos por parte de ministros da Igreja ou em instituições católicas.

Entre as recomendações inclui-se o contacto imediato e a colaboração estreita com as autoridades civis, pelo menos nos países em que tal é possível. Os bispos portugueses aprovaram as diretrizes em Abril de 2012.

Antes, em Fevereiro de 2012, realizou-se novo simpósio internacional no Vaticano sobre proteção de crianças, que concluiu pela criação de um Centro de Proteção de Crianças.

Em países como Reino Unido e Estados Unidos, onde a questão foi devastadora para a credibilidade e até para as finanças da Igreja, as alterações e novas políticas implementadas fizeram diminuir radicalmente o número de novos casos. A opinião generalizada é que as instituições católicas nestes países são atualmente dos lugares mais seguros para crianças. Mesmo no início da crise, a esmagadora maioria dos casos dizia respeito a abusos cometidos há décadas, com muito menos nos anos mais recentes.

É de realçar que este escândalo não afetou só a Igreja Católica. Outras confissões cristãs e até outras religiões foram também marcadas pela divulgação de muitos casos de abusos sobre menores. Contudo, só na Igreja Católica, das poucas religiões com uma hierarquia centralizada e global, é que as respostas têm sido de natureza transversal.

Esta quinta-feira, foi anunciado que o Papa Francisco aceitou a proposta de criar uma comissão para combater os abusos sexuais de menores, conforme lhe tinha sido sugerido pelos oito cardeais que o aconselham na reforma da cúria.



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