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29 de junho de 2013

A vida de São Paulo apóstolo

Paulo nasceu entre o ano 5 e 10 da era cristã, em Tarso, capital da Cilícia, na Ásia Menor, cidade aberta às influências culturais e às trocas comerciais entre o Oriente e o Ocidente. Descende de uma família de judeus da diáspora, pertencente à tribo de Benjamim, que observava rigorosamente a religião dos seus pais, sem recusar os contatos com a vida e a cultura do Império Romano.

Os pais deram-lhe o nome de Saul (nome do primeiro rei dos judeus) e o apelido Paulo. O nome Saul passou para Saulo porque assim era este nome em grego. Mais tarde, a partir da sua primeira viagem missionária no mundo greco-romano, Paulo usa exclusivamente o sobrenome latino Paulus.
Recebeu a sua primeira educação religiosa em Tarso tendo por base o Pentateuco e a lei de Moisés. A partir do ano 25 d.C. vai para Jerusalém onde frequenta as aulas de Gamaliel, mestre de grande prestígio, aprofundando com ele o conhecimento do Pentateuco escrito e oral.

Aprende a falar e a escrever aramaico, hebraico, grego e latim. Pode falar publicamente em grego ao tribuno romano, em hebraico à multidão em Jerusalém (Act 21,37.40) e catequizar hebreus, gregos e romanos.

Paulo é chamado “o Apóstolo” por ter sido o maior anunciador do cristianismo depois de Cristo. Entre as grandes figuras do cristianismo nascente, a seguir a Cristo, Paulo é de facto a personalidade mais importante que conhecemos. É uma das pessoas mais interessantes e modernas de toda a literatura grega, e a sua Carta aos Coríntios é das obras mais significativas da humanidade.

Escreveu 13 cartas às igrejas por ele fundadas: cartas grandes: duas aos tessalonicenses; duas aos coríntios; aos gálatas; aos romanos. Da prisão: aos filipenses; bilhete a Filémon; aos colossenses; aos efésios. Pastorais: duas a Timóteo e uma a Tito.

Quando estava preso em Cesareia, Pau-lo apela para César e o governador Festo envia-o para Roma, aonde chegou na Primavera do ano 61. Viveu dois anos em Roma em prisão domiciliária. Sofreu o martírio no ano 67, no final do reinado de Nero, na Via Ostiense, a 5 quilómetros dos muros de Roma.

A CONVERSÃO

Ainda adolescente, sem idade para poder apedrejar, assistiu ao martírio do diácono Estêvão, o primeiro mártir da Igreja. (Act 8,1).

Paulo, hebreu convicto, perseguia os cristãos porque os considerava como hereges, como uma seita contrária à verdadeira fé, que ameaçava a autoridade religiosa do judaísmo.

No ano 35, quando Saulo tinha cerca de 30 anos, na sua luta contra os cristãos chefia um grupo que vai galopando para Damasco, com autorização dos sumos sacerdotes, para eliminar um grupo de cristãos e levar os seus chefes algemados para Jerusalém.

Paulo diz que no caminho, já próximo de Damasco, se viu subitamente envolvido por uma intensa luz vinda do Céu e lhe apareceu Cristo Ressuscitado, que lhe disse: «Saulo, Saulo, porque Me persegues?» Saulo perguntou: «Quem és Tu, Senhor?» A voz respondeu: «Eu sou Jesus a quem tu persegues. Agora levanta-te, entra na cidade e e aí te dirão o que deves fazer» (Act 9,1-7). Perseguindo os membros da Igreja, Paulo estava a perseguir Cristo que é a sua Cabeça.

Após o diálogo com Cristo Ressuscitado, Paulo, de perseguidor dos cristãos torna-se um homem novo, o mais ardente missionário do Evangelho, que irá dedicar o resto da sua vida a Cristo, numa contínua identificação com Ele ao ponto de poder dizer: «Para mim viver é Cristo» (Fl 1-21); «Já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim.» (Gl 2,20)

Desde aquele momento começa para Paulo uma nova etapa da vida, uma grande aventura que o levará por montes, desertos, mares, aldeias e cidades do Mediterrâneo Oriental, e que terminará em Roma com o martírio.

CHAMADO POR DEUS

Ananias, sacerdote hebreu-cristão, faz a iniciação cristã de Paulo e administra-lhe o Baptismo (Act 9,18). Jesus, falando de Paulo, disse a Ananias: «Esse homem é um instrumento que escolhi para anunciar o meu Nome aos pagãos, os reis e ao povo de Israel. Eu vou mostrar a Saulo quanto ele deve sofrer por causa do meu Nome.» (Act 9,15-17)

Paulo, sempre atento à voz de Deus, é conquistado por Cristo. Reconhece que está no caminho errado e decide pronta e corajosamente mudar de rumo.

Depois de catequizado por Ananias, Paulo fez algumas tentativas missionárias entre os judeus que viviam em Damasco, mas passado pouco tempo teve de fugir e retirar-se durante algum tempo para o deserto da Arábia, situado entre o rio Jordão e o Eufrates. Paulo terá dedicado este tempo à sua formação, a interpretar em sentido cristão a leitura rabínica da Bíblia e as tradições religiosas de Israel.

Depois encontramo-lo novamente em Damasco «durante muitos dias» (Act 9,23) a pregar aos hebreus; mas as hostilidades, que vão aumentando contra ele, obrigam-no a fugir de noite, às escondidas.

Paulo decide então ir a Jerusalém para se encontrar com Pedro (Gl 1,19) e segundo esta mesma carta este primeiro tempo de actividade cristã de Paulo durará 3 anos, ou seja, até ao ano 38 d. C.

Em Jerusalém, não obstante a amizade de Pedro e de Barnabé, Paulo sofre a contínua hostilidade dos hebreus gregos e é aconselhado a regressar a Tarso, sua cidade natal (Act 9,29s; Gl 1,21). Uma apari-
ção de Jesus no Templo de Jerusalém fez-lhe compreender claramente, naqueles dias, que deveria ser o Apóstolo das gentes. (cf. Act 22,17s)

No Concílio de Jerusalém recebe a missão de anunciar Jesus Cristo ao mundo pagão, a todos os povos (cf. Gl 2,7-9). É a esta missão que ele vai dedicar toda a sua vida, animado por um apaixonado amor a Cristo. Vai anunciar o Evangelho nas grandes cidades do Mediterrâneo, e fundar Igrejas, comunidades de homens e mulheres, livres ou escravos, judeus, gregos ou gentios que crêem em Cristo, que O amam e observam os seus mandamentos.
A sua missão não é fácil. O seu passado de perseguidor da Igreja não lhe permite eliminar todas as suspeitas sobre a sua sinceridade e idoneidade. A sua vontade de procurar sempre o essencial da fé, choca com aqueles que querem misturar todas as religiões e criar novas exigências da Lei.

Perseguido pelos seus antigos colegas, tem de fugir para o deserto da Arábia para se encontrar com Deus e amadurecer a sua vocação.

O PENTATEUCO - LEI DE DEUS

Para todo o israelita e para Paulo, a Lei era Luz, sabedoria, justificação e salvação, o seu orgulho e sustentáculo. Para Paulo a Lei foi apenas um mestre que formava e educava com os seus preceitos. Inicialmente esculpida por Moisés em pedras, era exterior ao homem, que depois a interiorizava através do estudo e observância rigorosa.

Na Nova Aliança estabelecida por Cristo, com a sua morte e ressurreição, é o próprio Deus que infunde uma «lei nova» no coração do homem, dando-lhe o seu Espírito. (Jr 31-33; Ez 36,26)

A Lei Nova, que substitui a Lei Antiga, é um dom de Deus que o homem deve acolher através da fé. É a ação de Deus no homem que O acolhe e a Ele se abre.

A SALVAÇÃO VEM DE DEUS

Anuncia Jesus Cristo, partindo de Abraão, e mostra os desígnios de Deus através de Moisés e dos Profetas. Parte da contemplação das maravilhas do cosmo para chegar a Deus, seu princípio e inteligência ordenadora.

Paulo afirma que a salvação não é conquistada pelo esforço e empenho do homem, mas é dom gratuito de Deus. O Espírito de Deus e de Cristo é que se apodera do homem e se torna o seu guia interior e inspirador, no caminho indicado por Jesus. No concílio dos Apóstolos, em Jerusalém, reconhece-se que a salvação só vem de Jesus e do seu Espírito, e que não é necessário impor aos convertidos do paganismo a circuncisão e a observância de outras práticas hebraicas da lei de Moisés. (Gl 2,7-9)

Para Paulo a salvação vem de Deus, através de Jesus Cristo, e não através da lei de Moisés.

JESUS CRISTO PARA PAULO

Para Paulo Jesus Cristo veio ocupar o lugar que o Pentateuco (Lei) ocupava na sua mente e coração dos judeus. A Lei Nova substitui a Lei Antiga.

Jesus é para ele o fim da Lei, é a Nova Aliança, a nova criação, é o único mediador da justificação e salvação do homem.

Em 2Cor 5,18-19, Paulo escreve: «Tudo isto vem de Deus, que nos reconciliou consigo por meio de Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação.»

Em Rm 1,4 Paulo afirma: «A promessa a Abraão concretizou-se em Cristo, consti-tuído Filho de Deus com o poder do Espírito de santificação, através da ressurreição dos mortos». Jesus Cristo é a sua vida, a sua esperança, o seu apoio, o seu modelo de vida, o seu Senhor e meta. (cf. Gl 2, 19-20)

Jesus Cristo é o seu ponto de referência; é com Ele que relaciona todo o seu ser.

Tudo sacrificou por Cristo. Para ele o viver é imitar Cristo, cristificar-se, anunciá-l’O e servi-l’O. Em Ef 1,10 Paulo escreve: «Deus estabeleceu reunir todas as coisas em Cristo, uni-las a Ele como Cabeça da qual recebem orientação e força».

Jesus Cristo aparece como a razão profunda da história e do futuro do homem: «Cristo, a glória esperada, está em vós.» (Cl 1,27)

Jesus Cristo é o fundamento em que se apoia, é o sangue que o faz viver, o modelo que ele procura imitar, é a meta que procura alcançar.

Jesus faz nascer nele o ser novo, a «nova criatura» e o «homem interior». (2Cor 4,16)

O CENTRO DE PREGAÇÃO DE PAULO

Jesus Cristo estava sempre diante dos seus olhos e no seu coração. Aplica a Jesus Cristo tudo o que São João, no início do seu Evangelho, aplica ao Logos. Transfere para Cristo todas as qualificações fundamentais do Pentateuco. Assim, para Paulo, Jesus Cristo é vida, luz, sabedoria, salvação, norma de vida, água viva, fonte de graça e de justificação, Criador do Universo, Filho de Deus, que encarnou por obra do Espírito Santo.

Passou a ter com Cristo a relação que tinha com o Pentateuco.

O credo de Paulo é estar com Cristo, viver com Cristo, entrar em comunhão com Cristo, participar no mistério da sua morte e ressurreição, receber o Espírito Santo, conformar-se a Jesus (cristificar-se), unir-se a Jesus e seguir os seus passos até ao ponto de dar a vida, crer na sua Ressurreição.

Nas suas cartas, Paulo afirma que Jesus Cristo está vivo e reconcilia os homens através do Espírito Santo. Cristo traz a salvação ao mundo. A reconciliação dos homens com Deus e entre si é possível e já começou. É através da Igreja que se realiza esta reconciliação.



Fonte: Pe. João Gomes Filipe, ssp

Solenidade de São Pedro e São Paulo

A Solenidade de São Pedro e São Paulo, celebrada desde tempos remotíssimos, ensina-nos que a Igreja, na qual cremos, está alicerçada sobre o fundamento dos apóstolos, consoante as palavras do próprio Cristo: 

“Quem vos ouve, a mim ouve”. Sim, a fé que hoje professamos, depois de dois mil anos, é a mesma professada pelos apóstolos escolhidos e enviados por Cristo. 
O Espírito atua na Igreja de modo a torná-la, sob a proteção dos mesmos apóstolos colocados à sua frente e conduzida pelos seus legítimos sucessores, depositária e fiel mensageira do Evangelho da Vida.

Pedro e Paulo, cada qual a seu modo, contribuíram eficazmente para edificar a Casa de Deus neste mundo como sinal da Morada Eterna que nos é prometida em Cristo. Pedro, escolhido por Jesus para ser o chefe dos apóstolos e de toda a Igreja, soube apascentar as ovelhas e os cordeiros que lhe foram confiados, confirmando-lhes a fé com o derramamento do próprio sangue. Paulo, agraciado com o dom da verdadeira conversão ao Evangelho, tornou-se, por disposição mesma do Senhor, o grande apóstolo dos gentios e o incomparável defensor da gratuidade da salvação, vindo, à semelhança de Pedro, a derramar o seu sangue como supremo testemunho da fé que tão zelosamente anunciava com muitas renúncias e provações.

Ao celebrarmos os dois insignes apóstolos, lembramo-nos naturalmente do Papa, a quem cabe, em primeiro lugar, guardar, defender, anunciar e testemunhar a fé que herdamos de Pedro e Paulo. Francisco é hoje o grande apóstolo do Evangelho que nos dá a Vida verdadeira. Como sucessor de Pedro e herdeiro de seu carisma-ministério, preside hoje à caridade, apascentando com zelo os fiéis que lhe são confiados. Mas é também chamado, a exemplo de Paulo, a desgastar-se de todos os modos, a fim de que a Palavra de Deus atinja os corações e, assim, o mundo se renove na esperança que vem da firmeza de Deus.

O Papa Francisco tem desempenhado muito bem seu ofício de propagador da fé e da beleza da salvação. Notáveis são suas palavras e ensinamentos, carregados de profundo significado e sabedoria, dirigidos para um mundo aparentemente mais distante de Cristo e da sua Igreja.
Os ensinamentos do Papa são capazes de interpelar as consciências e fazê-las pensar, e a Igreja, sem dúvida, tem sido levada, com Francisco, a aprofundar-se no conhecimento de suas raízes.

Que São Pedro e São Paulo intercedam sempre pela Igreja que lhes custou o sangue, proteja o Santo Padre Bento XVI e alcancem para todos nós a graça de sermos discípulos missionários de Jesus Cristo na aurora do século XXI!

28 de junho de 2013

Morte e Inferno

Não podemos estar unidos a Deus se não fizermos livremente a opção de amá-lo. Mas não podemos amar a Deus se pecamos gravemente contra Ele, contra nosso próximo ou contra nós mesmos:

"Aquele que não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia seu irmão é homicida; e sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele" (1 Jo 3,14-15). Nosso Senhor adverte-nos de que seremos separados dele se deixarmos de ir ao encontro das necessidades graves dos pobres e dos pequenos que são seus irmãos morrer em pecado mortal sem ter-se arrependido dele e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa ficar separado do Todo-Poderoso para sempre, por nossa própria opção livre. E é este estado de auto-exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa com a palavra "inferno".

Jesus fala muitas vezes da "Geena", do "fogo que não se apaga", reservado aos que recusam até o fim de sua vida crer e converter-se, e no qual se pode perder ao mesmo tempo a alma e o corpo. Jesus anuncia em termos graves que "enviar seus anjos, e eles erradicarão de seu Reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade, e os lançarão na fornalha ardente" (Mt 13,41-42), e que pronunciar a condenação: "Afastai-vos de mim malditos, para o fogo eterno!" (Mt 25,41).

O ensinamento da Igreja afirma a existência e a eternidade do inferno. As almas dos que morrem em estado de pecado mortal descem imediatamente após a morte aos infernos, onde sofrem as penas do Inferno, "o fogo eterno". A pena principal do Inferno consiste na separação eterna de Deus, o Único em quem o homem pode ter a vida e a felicidade para as quais foi criado e às quais aspira.

As afirmações da Sagrada Escritura e os ensinamentos da Igreja acerca do Inferno são um chamado à responsabilidade com a qual o homem deve usar de sua liberdade em vista de seu destino eterno. Constituem também um apelo insistente à conversão: "Entrai pela porta estreita, porque largo e espaçoso é o caminho que conduz à perdição. E muitos são os que entram por ele. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho que conduz à vida. E poucos são os que o encontram" (Mt 7,13-14): Como desconhecemos o dia e a hora, conforme a advertência do Senhor, vigiemos constantemente para que, terminado o único curso de nossa vida terrestre, possamos entrar com ele para as bodas e mereçamos ser contados entre os benditos, e não sejamos, como servos maus e preguiçosos, obrigados a ir para o fogo eterno, para as trevas exteriores, onde haverá choro e ranger de dentes.

Deus não predestina ninguém para o Inferno; para isso é preciso uma aversão voluntária a Deus (um pecado mortal) e persistir nela até o fim. Na Liturgia Eucarística e nas orações cotidianas de seus fiéis, a Igreja implora a misericórdia de Deus, que quer "que ninguém se perca, mas que todos venham a converter-se" (2Pd 3,9): Recebei, ó Pai, com bondade, a oferenda de vossos servos e de toda a vossa família; dai-nos sempre a vossa paz, livrai-nos da condenação e acolhei-nos entre os vossos eleitos.

A ressurreição de todos os mortos, "dos justos e dos injustos" (At 24,15), antecederá o Juízo Final. Este será "a hora em que todos os que repousam nos sepulcros ouvirão sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para uma ressurreição de vida; os que tiverem praticado o mal, para uma ressurreição de julgamento" (Jo 5,28-29). Então Cristo "virá em sua glória, e todos os anjos com Ele. (...) E serão reunidas em sua presença todas as nações, e Ele há de separar os homens uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos, e por as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. (...) E irão estes para o castigo eterno, e os justos irão para a Vida Eterna" (Mt 25,31-33.46).

É diante de Cristo - que é a Verdade - que será definitivamente desvendada a verdade sobre a relação de cada homem com Deus. O Juízo Final há de revelar até as últimas conseqüências o que um tiver feito de bem ou deixado de fazer durante sua vida terrestre:

Todo o mal que os maus praticam é registrado sem que o saibam. No dia em que "Deus não se calará" (Sl 50,3), voltar-se-á para os maus: "Eu havia", dir-lhes-á, "colocado na terra meus pobrezinhos para vós. Eu, seu Chefe, reinava no céu à direita do meu Pai, mas na terra os meus membros passavam fome. Se tivésseis dado aos meus membros, vosso dom teria chegado até a Cabeça. Quando coloquei meus pobrezinhos na terra, os constituí meus tesoureiros para recolher vossas boas obras em meu tesouro; vós, porém, nada depositastes em suas mãos, razão por que nada possuís junto a mim"

O Juízo Final acontecerá por ocasião da volta gloriosa de Cristo. Só o Pai conhece a hora e o dia desse Juízo, só Ele decide de seu advento. Por meio de seu Filho, Jesus Cristo, Ele pronunciará então sua palavra definitiva sobre toda a história. Conheceremos então o sentido último de toda a obra da criação e de toda a economia da salvação, e compreenderemos os caminhos admiráveis pelos quais sua providência terá conduzido tudo para seu fim último. O Juízo Final revelará que a justiça de Deus triunfa de todas as injustiças cometidas por suas criaturas e que seu amor é mais forte que a morte.

A mensagem do Juízo Final é apelo à conversão enquanto Deus ainda dá aos homens "o tempo favorável, o tempo da salvação" (2Cor 6,2). O Juízo Final inspira o santo temor de Deus. Compromete com a justiça do Reino de Deus. Anuncia a "bem-aventurada esperança" (Tt 2,13) da volta do Senhor, que "virá para ser glorificado na pessoa de seus santos e para ser admirado na pessoa de todos aqueles que creram (2Ts 1,10).

23 de junho de 2013

A celebração da benção

Estrutura típica

A celebração típica da bênção consta de duas partes: a primeira é a proclamação da palavra de Deus, a segunda é o louvor da bondade divina e a petição do auxílio celeste.

Normalmente a celebração começa e conclui com alguns ritos breves.
A primeira parte tem o objectivo de fazer com que a celebração seja verdadeiramente um sinal sagrado, que toma o seu pleno sentido e efi cácia da proclamação da palavra de Deus
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Portanto, o centro desta primeira parte é a proclamação da palavra de Deus, à qual se referem tanto a admonição introdutória co mo a breve explicação ou exortação ou homilia que, conforme as cir cunstâncias, se podem acrescentar.

Para estimular a fé dos participantes, pode intercalar-se um salmo ou um cântico ou um tempo de silêncio sagrado, sobretudo se se fazem várias leituras.

A segunda parte tem por objectivo, mediante ritos e preces, louvar a Deus e obter o seu auxílio por Cristo no Espírito Santo. O centro desta parte é constituído pela fórmula de bênção, ou oração da Igreja, acompanhada geralmente de um sinal ou gesto pe culiar.
Para fomentar a oração dos presentes, pode acrescentar-se a oração comum, que normalmente precede a oração de bênção, mas por vezes diz-se depois dela.

Nas celebrações propostas, os elementos principais, isto é, a proclamação da palavra de Deus e a oração da Igreja, que nunca podem ser omitidos, mesmo nas celebrações mais breves, devem distinguir-se cuidadosamente dos outros elementos, ao or denar a celebração.

Além disso, ao ordenar a celebração, deve ter-se em conta sobretudo o seguinte:

a) geralmente deve preferir-se a forma comunitária, de tal modo que exerçam nela as suas funções próprias o diácono, o leitor, o salmista e o coro;
b) atenda-se à norma fundamental sobre a consciente, ativa e apropriada participação dos fiéis;
c) tenham-se em conta oportunamente as circunstâncias do momento e das pessoas presentes, observando os princípios que inspiram a reforma destes ritos e as normas dadas pela autoridade competente.

Os sinais a utilizar

Os sinais visíveis que frequentemente acompanham as orações têm a finalidade principal de evocar as acções salvífi cas do Senhor, mostrar uma certa relação com os principais sacramen tos da Igreja e, deste modo, alimentar a fé das pessoas presentes e despertar a sua atenção para que participem na celebração
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Os sinais que mais frequentemente se utilizam são os seguintes: braços abertos, braços erguidos, mãos juntas, imposição das mãos, o sinal da cruz, a aspersão com água benta e a incensação.

a) Dado que a fórmula de bênção é antes de mais «oração», o ministro, conforme se indica em cada uma das celebrações, re cita-a de braços abertos, ou erguidos, ou estendidos sobre as pessoas, ou de mãos juntas
b) Entre os sinais de bênção tem lugar destacado a impo sição das mãos, como costumava fazer o próprio Cristo, que, re ferindo-Se aos discípulos, disse:
«Imporão as mãos sobre os doentes e serão curados» (Mc 16, 18). Este sinal continua a realizar-se na Igreja e pela Igreja.
c) Com frequência, segundo a antiga tradição da Igreja, propõe-se o sinal
da cruz.
d) Em algumas celebrações da bênção propõe-se a aspersão com água benta. Nesse caso, os ministros devem exortar os fiéis para que recordem o Mistério Pascal e renovem a fé do seu Baptismo.
e) Em algumas celebrações da bênção utiliza-se a incensa ção, que é um sinal de veneração e honra e simboliza por vezes a oração da Igreja.

Embora os sinais utilizados nas bênçãos, sobretudo o si nal da cruz, exprimam uma certa evangelização e comunica ção da fé, para tornar mais activa a participação e evitar o pe rigo de superstição, normalmente não é permitido abençoar coisas e lugares só com um sinal externo, sem nenhum recurso à palavra de Deus ou a alguma prece.

Modo de articular a celebração da bênção com outras celebrações ou com outras bênçãos

Algumas bênçãos têm uma relação especial com os sacramentos e, por isso, podem por vezes unir-se à celebração da Missa.
 No Ritual das Bênçãos indica-se quais são estas bênçãos e com que parte ou rito devem unir-se; e para cada caso dão-se normas rituais que não é licito negligenciar. Outras bênçãos, porém, de nenhum modo podem unir-se à celebração da Missa.

Algumas bênçãos podem unir-se a outras celebrações, como se indica em
cada rito correspondente.

Por vezes pode ser oportuno efectuar várias bênçãos numa única celebração. Ao ordenar a celebração, tenha-se em conta o seguinte: utiliza-se o rito que se refere à bênção principal, acrescentando na admonição e nas preces as palavras e si nais que manifestam a intenção de realizar também as outras bênçãos.

Função do ministro na preparação e ordenamento da celebração

O ministro deve lembrar-se que as bênçãos se dirigem primariamente aos fiéis, mas podem também celebrar-se para os catecúmenos e, tendo em conta as normas do cânone 1170, também para os não católicos, a não ser que obste alguma proibição da Igreja.Nas bênçãos a celebrar comunitariamente com os irmãos se parados, devem observar-se em cada caso as normas dadas pelo Ordinário do lugar.

O celebrante ou ministro, ponderando todas as circunstâncias e tendo escutado também as sugestões dos fiéis, usará as faculdades concedidas nos diversos ritos de bênção, observando contudo a sua estrutura e sem alterar de modo algum a ordem das suas partes principais.

Na celebração comunitária, procure-se que todos, ministros e fiéis, ao exercerem as funções próprias de cada um, rea lizem com decoro, ordem e piedade tudo o que lhes corresponde.

Atenda-se também à indole peculiar do tempo litúrgico, de modo que as admonições e as preces dos fiéis exprimam a relação com o ciclo anual do mistério de Cristo.

As vestes litúrgicas

O Bispo, quando preside às celebrações mais importantes, usa as vestes
que são indicadas no Cerimonial dos Bispos.

O presbítero e o diácono, quando presidem às bênçãos de for ma comunitária, sobretudo se são celebradas na igreja ou com alguma solenidade externa, usam alva e estola. A alva pode ser substituída pela sobrepeliz, quando se usa hábito talar. Nas celebrações mais solenes, pode usar-se o pluvial.

Os paramentos são branco ou da cor que estiver mais em consonância com o tempo ou festa litúrgica.

Os ministros devidamente instituídos, quando presidem às celebrações da comunidade, usam as vestes prescritas pela Conferência Episcopal ou pelo Ordinário do lugar para as celebrações litúrgicas.

ADAPTAÇÕES QUE COMPETEM ÀS CONFERÊNCIAS EPISCOPAIS

Compete às Conferências Episcopais, em virtude da Constituição sobre a Sagrada Liturgia, elaborar o Ritual particular correspondente a este título do Ritual Romano, adaptando-o contudo às necessidades de cada região, de tal modo que, quando os textos estiverem aprovados pela Sé Apostólica, possam entrar em uso nas regiões a que se referem.Nesta matéria, compete à Conferência Episcopal:

a) Determinar as adaptações, segundo os princípios estabelecidos neste livro, conservando porém a estrutura própria dos ritos ou formulários.
b) Considerar com prudência e cuidado o que pode ser oportunamente admitido das tradições e índole de cada povo e, consequentemente, propôr outras adaptações que pareçam úteis ou necessárias.
c) Conservar as bênçãos próprias porventura já existentes nos Rituais particulares ou as do antigo Ritual Romano, se ainda está em uso, contanto que sigam a mentalidade da Constituição sobre a Sagrada Liturgia, com os princípios expostos no presente título e com as necessidades do tempo atual; ou adaptá -las.
d) Nos vários ritos de bênção, sobretudo quando se apresentam várias fórmulas à escolha, acrescentar outras do mesmo gênero, além daquelas que se encontram no Ritual Romano.
e) Traduzir integralmente os preliminares que estão contidos neste livro, tanto os gerais como os particulares de cada rito de bênção, mas também, se o caso o exigir, completá -los, de modo que os ministros compreendam mais plenamente o significado das celebrações e a participação dos fiéis se torne mais consciente e ativa.
f) Completar o que faz falta em algumas partes deste livro, p. ex., apresentar outras leituras que possam ser úteis; in dicar os cânticos mais apropriados.
g) Preparar as traduções dos textos, de maneira que se acomodem à índole das diversas línguas e das diversas culturas.
h) Nas edições do livro, ordenar o material do modo que parecer mais apto para o uso pastoral; editar separadamente as diversas partes do livro, fazendo-as preceder sempre das principais introduções.

As bençãos - Ofícios e ministérios

As bênçãos são ações litúrgicas da Igreja e, por isso, a celebração comunitária, que por vezes se requer, corres ponde melhor à índole da prece litúrgica, e assim, enquanto a verdade é exposta aos fiéis por meio da oração da Igreja, os que estão pre sentes são induzidos a unirem-se com o coração e com os lábios à voz da Mãe.

Para as bênçãos mais importantes, que dizem respeito à Igreja local, é conveniente que se reúna a comunidade diocesana ou paroquial, presidida pelo Bispo ou pelo Pároco.
Mas também nas outras bênçãos é recomendada a presença dos fiéis: de facto, o que se realiza para um grupo determinado, de algum modo redunda em vantagem para toda a comunidade.

Quando não está presente nenhum grupo de fiéis, tanto aquele que quer bendizer a Deus ou pedir a bênção divina como o ministro que preside à celebração devem recordar-se de que re presentam a Igreja celebrante, de tal modo que, por meio da sua oração comum e da sua petição, a bênção desce «pelo homem, mas não do homem»25, como comunicação votiva de santificação e de graças»
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 Normalmente, a celebração da bênção de coisas ou de lugares não deve fazer-se sem a participação de pelo menos algum fiel.

O ministério da bênção constitui um peculiar exercício do sacerdócio de Cristo e, segundo o lugar e o ofício de cada um no povo de Deus, exerce-se do modo seguinte:

a) Compete ao Bispo principalmente presidir às celebrações que dizem respeito a toda a comunidade diocesana e se fazem com especial solenidade e grande afluência de povo; por isso, pode reservar a si algumas celebrações principalmente quando se realizam de forma mais solene.
b) Compete aos Presbíteros, como requer a natureza do seu serviço no povo de Deus, presidir às bênçãos, principalmente àquelas que se referem à comunidade a cujo serviço estão desti nadas; por isso, podem celebrar todas as bênçãos contidas neste livro, a não ser que esteja presente algum Bispo que a elas pre sida.
c) Compete aos Diáconos, como auxiliares do Bispo e do seu presbitério na qualidade de ministros da palavra, do altar e da caridade, presidir a algumas celebrações, como se indica no lu gar correspondente.
Mas quando está presente um sacerdote, é melhor atribuir -lhe a presidência e que o diácono o auxilie na acção litúrgica exercendo as suas funções próprias.

d) Aos Acólitos e Leitores, que, pela instituição que lhes é conferida, desempenham uma função peculiar na Igreja, com ra zão se lhes concede, de preferência aos outros leigos, a faculdade de dar algumas bênçãos, a juízo do Ordinário do lugar.

Também os outros Leigos, homens e mulheres, em virtude do sacerdócio comum de que foram dotados no Batismo e na Confirmação - ou pelo próprio cargo (como os pais em relação aos fi lhos), ou porque exercem um ministério extraordinário ou outras funções peculiares na Igreja, como os religiosos ou os catequistas em alguns lugares - a juízo do ordinário do lugar, quando é reconhecida a sua devida formação pastoral e a sua prudência no exercício do próprio cargo, podem celebrar algumas bênçãos, com os ritos e fórmulas para eles previstos, como se indica em cada uma das bênçãos.
Mas quando está presente um sacerdote ou um diácono, deve ce der-se--lhes a residência.

A participação dos fiéis será tanto mais ativa quanto mais profunda for a instrução que se lhes dê sobre a importância das bênçãos. Por isso os presbíteros e os ministros, nas próprias celebrações, assim como na pregação e na catequese devem explicar aos fiéis o significado e a eficácia das bênçãos.

 É especialmente importante que o povo de Deus seja instruído acerca do verdadeiro significado dos ritos e preces que a Igreja utiliza nas bênçãos, para que na celebração sagrada não se introduza nenhum elemento de índole supersticiosa ou vã credulidade que pre judique a pureza da fé.

19 de junho de 2013

As bençãos na vida da Igreja

Fiel à recomendação do Salvador, a Igreja participa do cálice de bênção 14 dando graças a Deus pelo seu dom inefável, adqui rido pela primeira vez no Mistério Pascal e em seguida comunicado a nós na Eucaristia. Efetivamente, a Igreja recebe no mistério eucarístico a graça e a virtude pelas quais se torna ela mesma uma bênção no mundo: como sacramento universal de salvação 15 , exerce sempre entre os homens e em favor dos homens a obra da santificação e simultaneamente, unida a Cristo sua cabeça, glorifica o Pai no Espírito Santo.

A Igreja, pelo poder do Espírito Santo, exprime de diversos modos este seu ministério e por isso instituiu diversas formas de bênção; com elas convida os homens a louvar a Deus, anima-os a pedir a sua proteção, exorta-os a tornarem-se dignos da sua misericórdia pela santidade de vida, utiliza fórmulas de oração para implorar os seus benefícios, a fi m de alcançar bom êxito naquilo que suplica.
A isto se destinam as bênçãos instituídas pela Igreja, sinais sensíveis que «significam e realizam, cada um a seu modo, a santificação dos homens em Cristo»16 e a glorificação de Deus, que é o fi m para o qual se orientam todas as outras ações da Igreja 17
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As bênçãos, como sinais que se fundamentam na palavra de Deus e se celebram à luz da fé, pretendem ilustrar e devem manifestar a vida nova em Cristo, que tem a sua origem e crescimento nos sacramentos da nova aliança instituídos pelo Senhor. Além disso, as bênçãos, que foram instituídas imitando de certo modo os sacramentos, significam sempre efeitos principalmente espirituais, que se alcançam graças à súplica da Igreja 18
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Com esta convicção, a Igreja manifesta sempre a sua solicitude para que a celebração da bênção se oriente verdadeiramente para o louvor e glorificação de Deus e se ordene ao proveito espiritual do seu povo.
Para que isto apareça com mais clareza, as fórmulas de bênção, segundo a antiga tradição, têm como objectivo principal glorificar a Deus pelos seus dons, implorar os seus benefícios e afastar do mundo o poder do Maligno.

Glorificando a Deus em todas as coisas e procurando principalmente a manifestação da glória de Deus aos homens  tanto os já renascidos como os que vão renascer pela graça  a Igreja, celebrando as bênçãos, louva o Senhor por eles e com eles nas diversas circunstâncias da vida e invoca para eles a sua graça. Por vezes a Igreja abençoa também as coisas relacionadas com a atividade humana ou com a vida litúrgica e também com a piedade e o culto, mas tendo sempre em conta os homens que utilizam essas coisas e atuam nesses lugares. Na verdade, o homem, em cujo favor Deus quis todas as coisas boas, é o receptáculo da sua sabedoria, e por isso, com a celebração da bênção, o homem pretende manifestar que utiliza de tal modo as coisas criadas que, com o seu uso, busca a Deus, ama a Deus e serve fielmente o único Deus.

Os cristãos, guiados pela fé, fortalecidos pela esperança e movidos pela caridade, não só são capazes de reconhecer sabiamente os vestígios da bondade divina em todas as coisas criadas, mas também buscam implicitamente o reino de Cristo nas obras da atividade humana e, além disso, consideram todos os acontecimentos do mundo como sinais da providência paterna com que Deus dirige e ori enta todas as coisas.
Por isso, sempre e em toda a parte se nos apresenta ocasião para louvar, invocar e dar graças a Deus por Cristo no Espírito Santo, contanto que se trate de coisas, lugares e circunstâncias que não estejam em contradição com as normas e o espírito do Evangelho. Portanto, cada celebração de bênção deve submeter-se sempre ao cri tério pastoral, sobretudo se pode provocar estranheza entre os fi éis ou outras pessoas.

Este modo pastoral de considerar as bênçãos está em sintonia com as palavras do Concílio Ecumênico Vaticano II: «A liturgia dos sacramentos e dos sacramentais faz com que, para os fiéis que os celebram nas devidas disposições, quase todos os atos da vida sejam santificados pela graça divina que emana do Mistério Pascal da paixão, morte e ressurreição de Cristo, do qual todos os sacramentos e sacra mentais recebem o seu poder, e faz também com que o uso honesto de quase todas as coisas materiais possa ordenar-se à santificação do homem e ao louvor de Deus»19 Assim, com as celebrações das bênçãos, os homens dispõem-se para receber o fruto superior dos sacramentos e são santificadas as diversas circunstâncias da vida.

Para conseguir esta plena eficácia, é necessário que os fiéis participem na sagrada liturgia com recta disposição de espírito»20. Por isso, aqueles que pedem a bênção de Deus por meio da Igreja devem fortalecer a sua disposição de espírito naquela fé para a qual nada é impossível 21; apoiem-se na esperança, que não ilude 22; e sobretudo sejam vivificados na caridade, que impele a observar os mandamentos de Deus 23. Assim, os homens que buscam o beneplácito divino 24 compreenderão plenamente e alcançarão de facto a bênção do Senhor.

A benção na história da salvação

A fonte e origem de toda a bênção 1 é Deus bendito sobre todas as coisas 2 que, como único e sumo bem, tudo fez bem feito, para encher de bênçãos as suas criaturas 3 e, mesmo depois da queda do homem, continua a derramar essas bênçãos, como sinal da sua misericórdia.

Mas quando chegou a plenitude dos tempos, o Pai enviou o seu Filho e por Ele - ao assumir a condição humana - de novo abençoou os homens com
todas as bênçãos espirituais 4. E assim se converteu em bênção a antiga maldição, quando «nasceu o Sol de justiça,5 Cristo nosso Deus, que destruiu a maldição e nos trouxe a bênção».3. Cristo, a maior bênção do Pai, apareceu no Evangelho abençoando os irmãos, principalmente os mais humildes 6 , e ele vando ao Pai uma oração de bênção 7.

Finalmente, tendo sido glorificado pelo Pai e subido ao Céu, derramou sobre os irmãos, remidos com o seu Sangue, o dom do Espírito, para que, movidos pelo seu poder, pudessem louvar e glorificar em todas as coisas a Deus Pai, adorá--lo e dar-Lhe graças, e, praticando obras de caridade, merecessem ser contados entre os benditos do seu reino.

É pelo Espírito Santo que a bênção de Abraão 9  se realiza cada vez mais plenamente em Cristo, na medida em que vai passando aos fi lhos que são chamados a uma vida nova «na plenitude da bênção»10, para que, convertidos em membros de Cristo, difundam por toda a parte os frutos do mesmo Espírito para salvar o mundo pela bênção divina.

O Pai, tendo em sua mente divina a Cristo Salvador, tinha já confirmado a primeira aliança do seu amor para com os homens pela efusão de múltiplas bênçãos. Deste modo, reparava o povo eleito para receber o Redentor e tornava--o cada vez mais digno da aliança. E o povo, seguindo os caminhos da justiça, pôde honrar a Deus com os lábios e o coração, tornando-se sinal e sacramento da bênção divina no mundo.

Deus, de quem desce toda a bênção, concedeu já naquele tempo aos homens, principalmente aos patriarcas, aos reis, aos sacerdotes, aos levitas, aos pais 11 , que, louvando e bendizendo o seu nome, em seu nome abençoassem os outros homens e as coisas criadas com bênçãos divinas.
 Quando é Deus que abençoa, por Si mesmo ou por outros, promete -se sempre o auxílio do Senhor, anuncia-se a sua graça, proclama-se a sua fidelidade à aliança. Quando são os homens que abençoam, louvam a Deus, proclamando a sua bondade e misericórdia.
 Na verdade, Deus dá a sua bênção comunicando ou anunciando a sua bondade. Os homens bendizem a Deus proclamando os seus louvores, dando--Lhe graças, prestando-Lhe culto de piedade e adoração, e quando abençoam os outros homens, invocam o auxílio de Deus sobre cada um deles ou sobre as assembleias reunidas.

Como consta na Sagrada Escritura, todas as coisas que Deus criou e sustenta no mundo com a sua graça providente dão testemunho da bênção de Deus e nos convidam a bendizê-lo 12. Isto alcançou o maior sentido quando o Verbo Encarnado começou a santificar todas as coisas do mundo, graças ao mistério da encarnação.
As bênçãos referem-se primária e principalmente a Deus, cuja grandeza e bondade exaltam; mas, na medida em que comunicam os benefícios de Deus, referem-se também aos homens, que Deus governa e protege com a sua providência; mas também se dirigem às coisas criadas, por cuja abundância e variedade Deus abençoa o homem 13
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Oração do terço e seus benefícios

No dia 16 de Outubro, Sua Santidade o Papa João Paulo II ao comemorar o 24º aniversário de Pontificado, proclamou através da Carta Apóstolica Rosarium Virginis Mariae o Ano do Rosário: de Outubro de 2002 a Outubro de 2003 e anexou os " Mistérios Luminosos", as orações do Santo Terço.

Irmã Lúcia, única sobrevivente das Aparições de NOSSA SENHORA em Fátima, no livro "Apelos da Mensagem de Fátima", dedica muitas páginas ao pedido da VIRGEM SANTÍSSIMA: "Rezem o Terço todos os dias" . Esta recomendação, nossa MÃE SANTÍSSIMA a repetiu em todas as Aparições, suplicando a humanidade que rezasse o Terço, que não se preocupasse somente com o trabalho.

Qual terá sido o motivo porque NOSSA SENHORA nos mandou rezar o Terço ou Rosário todos os dias, com tanta insistência, e não nos mandou ir participar da Santa Missa todos os dias?

Sem considerarmos o valor da Santa Missa, que é incomensurável por ser a Oração mais completa, porque é o memorial da Vida, Paixão, Morte e Gloriosa Ressurreição do SENHOR JESUS, a resposta é simples e compreensível: NOSSA SENHORA nos convida a rezar o Terço ou Rosário diariamente, porque DEUS quer e ELE é um PAI amoroso, repleto de misericórdia e bondade. Se por meio de NOSSA SENHORA o SENHOR nos pedisse para participarmos todos os dias da Santa Missa, por certo haveria muitos que iam apresentar motivos, para justificar a ausência, dizendo que para eles não seria possível. Ao contrário, a oração do Terço é acessível a todos: a pobres, ricos, sábios, ignorantes, homens, mulheres, jovens, grandes e pequenos, sem exceções.

Todas as pessoas de boa vontade, podem rezar o Terço ou Rosário na Igreja, diante do Santíssimo, ou no lar, em família ou sozinho, no quarto, no trabalho, no transporte e até na rua. O horário também não importa. Ele pode ser rezado pela manhã, a tarde ou a noite. Por isso mesmo, todos, estão convidados a reza-lo, inclusive aquelas pessoas que tem a possibilidade de frequentar a Santa Missa diariamente; elas também, não devem descuidar da reza do Terço ou Rosário. Bem entendido, em outro horário apropriado ao longo do dia. Evidentemente não rezar o Terço exatamente no momento em que está participando de uma Santa Missa.

A meditação dos Mistérios do Rosário nos transporta para junto de DEUS e de nossa MÃE SANTÍSSIMA, revestindo o espírito das pessoas de uma profunda confiança e muita tranquilidade, revigorando a disposição e estimulando a vontade, além de proporcionar uma agradável alegria interior.

Aos que dizem que o Terço é uma prece antiquada e monótona, devido à repetição das orações que o compõe, seria bom que estas pessoas recordassem que na vida tudo acontece numa continua repetição dos mesmos atos. DEUS quis assim! Para vivermos, aspiramos e expiramos o ar dos pulmões sempre do mesmo modo; o coração bate continuamente no mesmo ritmo; o sol, as estrelas e todos os astros, seguem rigorosamente a sua trajetória durante os séculos; o dia sucede à noite, ano após ano, do mesmo modo; as plantas brotam na primavera, cobrem-se de flores, dão frutos; enfim, tudo na vida obedece a um ritmo, funcionando em perfeita sintonia com a Vontade de DEUS! Entretanto, nunca ninguém disse que isso é monótono! E realmente não pode dizer, porque tudo isso é parte da maravilhosa Obra Divina. Pois bem, na vida espiritual também é assim, temos a necessidade de repetir continuamente as mesmas orações, os mesmos atos de fé, de esperança e caridade, para nos sentirmos ligados a DEUS e termos vida em plenitude, visto que a nossa vida é uma continuada participação na Vida de DEUS.

Rezar e pedir sempre não significa imaginar que desconfiamos da bondade Divina, que estamos recordando ao SENHOR para que ELE não se esqueça de nosso pedido. Não! Não é assim! Ao contrário, repetir a oração é gesto de humildade, e de muita confiança. É ter a certeza de que DEUS é tão bom, que apesar de nossos muitos pecados, ELE aceita aquele insignificante sacrifício de repetir orações, como se fosse uma grandiosa e eloquente demonstração de nosso amor. Assim, os que rezam diariamente o Terço, são como filhos carinhosos que todos os dias dispõe de alguns minutos de seu tempo para visitar o PAI ETERNO, para LHE fazer companhia, manifestar-LHE gratidão por tudo o que ELE nos proporciona. E também é o momento para nos colocarmos a disposição DELE, recebermos os conselhos Paternos e a orientação necessária a nossa existência.

Alguém poderia dizer: isto é fantasia, como isto é possível se não vemos DEUS? Não vemos o CRIADOR com os olhos da carne, mas sempre podemos ouvi-LO e enxerga-LO com os ouvidos e os olhos da alma. É preciso crer e ter fé.
Quanto maior for a sua fé e sua confiança em DEUS, mais nítida e melodiosa ouvirá em seu coração os acordes da Voz do SENHOR. Assim, no momento das orações, devemos permanecer humildes e unidos ao SENHOR. E por isso, devemos pedir também a benção Divina, porque ela guardará a nossa vida e encherá o nosso espírito com graças e virtudes, a fim de destemidamente continuarmos com a missão que ELE mesmo nos confiou.
Estas providências são necessárias, porque naqueles minutos maravilhosos de oração, acontece o precioso e inefável intercâmbio de amor, que une a criatura ao CRIADOR, promovendo a união do filho ao PAI ETERNO e do PAI ETERNO a todos os seus filhos numa sobrenatural corrente de esperança e fé.
E o SENHOR sempre repleto de bondade, naquele momento especial derrama torrencialmente o seu infinito Amor no interior do coração daqueles que buscam a sua tão carinhosa e paternal proteção.

BENEFÍCIOS

Rezar o Terço ou Rosário, é uma prática que só apresenta vantagens, muito embora seja constituído por um conjunto de orações simples, repetidas quase que mecanicamente. Na verdade ele tem na sua simplicidade uma força extraordinária, demonstrada de modo impressionante no decorrer dos séculos, afugentando Satanás de modo direto e admirável.

Aconteceram muitos fatos que atestam o valor do Terço e do Rosário, como auxiliar preponderante para vencer as forças do mal, além de revelar como sendo um instrumento eficaz para alcançar do SENHOR, os objetivos na vida, uma vigorosa proteção contra as catástrofes e auxílio precioso na solução das dificuldades e dos problemas que acontecem.
Por outro lado, são muitas as indulgências concedidas pela Igreja à todas as pessoas que recitam o Terço no cotidiano:

1) É concedido Cinco anos de indulgência a cada recitação particular do Rosário ou Dez anos, se for feita por um grupo de pessoas.

2) É concedida Indulgência Plenária, no último domingo de cada mês, para aqueles que anteriormente, em grupo, tiverem recitado o Rosário três vezes, em qualquer das semanas precedentes, e também, que se Confessarem ou estiverem em "estado de graça" , receberem a Sagrada Eucaristia e fizerem visita a uma Igreja ou Oratório do Santo Padre, rezando um PAI NOSSO, uma AVE MARIA e um GLÓRIA, pelas intenções do Papa, no dia mencionado.

3) Durante o mês de Outubro, uma indulgência de sete anos é concedida, a cada dia, pela recitação de um Terço.

4) Confessando ou estando em "estado de graça", comungando e visitando uma Igreja ou Oratório Público, rezando pelo Papa as orações recomendadas acima, receberão uma indulgência plenária, se o Terço for rezado na Festa do Rosário (dia 7 de Outubro), ou se for rezado durante a oitava da Festa, ou seja, (numa data, até o oitavo dia após a Festa).

5) Diante do Santíssimo Sacramento exposto publicamente, ou mesmo encerrado no Sacrário dentro de uma Igreja, as pessoas que recitarem piedosamente o Terço, é concedido uma Indulgência Plenária, a cada vez que o fizerem.

Dessa forma torna-se evidente, que a devoção ao Santo Terço ou Santo Rosário, é uma providência louvável e de valor inquestionável, que somente beneficia o fiel.

A Igreja pela voz de seus Pastores, atribui os seus maiores triunfos à piedosa recitação do Rosário de NOSSA SENHORA. E por isso mesmo, a gratidão da cristandade é expressada pela boca dos Sumos Pontífices:

- O Papa Urbano IV disse: "Pelo Rosário, todos os dias desce dos Céus uma chuva de bênçãos sobre o povo cristão"; o Papa Sixto IV falou: "O Rosário é a oração oportuna para honrar a DEUS e a VIRGEM MARIA, assim como afastar para bem longe os iminentes perigos do mundo." 

- O Papa Pio V disse: "Propagando-se esta devoção entre os cristãos, irá propicia-los à meditação dos mistérios inflamados por esta oração, e assim, começarão a transformar-se em outros homens, enquanto as trevas das heresias dissipar-se-ão e difundir-se-á a luz da fé católica". 

- O Papa Leão XIII disse: "... de modo que, ao recitarmos bem o Rosário, sentimos em nossa alma uma unção suavíssima, como se ouvíssemos a própria voz da MÃE celestial, que amavelmente nos ensina os Divinos Mistérios e nos indica o caminho da salvação". 

- O Papa João Paulo II disse: "Com o Rosário, o povo cristão frequenta a escola de MARIA, para deixar-se introduzir na contemplação da beleza do rosto de CRISTO e na experiência da profundidade do seu amor." 

O Papa João Paulo II ainda disse: "O Rosário é o compêndio da Bíblia. Nele meditamos, em cada mistério, todas as passagens bíblicas: 

- Os Mistérios da Alegria (ou Gozosos da Anunciação do Anjo até o encontro do Menino JESUS no Templo);
- Mistérios da Luz (ou Luminosos - do Batismo de JESUS até a Instituição da Eucaristia);
- Mistérios da Dor (ou Dolorosos - da Agonia de JESUS no horto até a sua Crucificação)
- Mistérios da Glória (ou Gloriosos - da Ressurreição de JESUS até à coroação de NOSSA SENHORA no Céu)".

18 de junho de 2013

A grande lição do Calvário

Fortis est ut mors dilectio: o que mais impressiona no amor de Jesus, quer por seu Pai, quer por nossas almas, é a união maravilhosa e muito íntima da mais profunda ternura e da força a mais heróica no sofrimento e na morte: Fortiter et suaviter.
Estas duas qualidades do amor estão, muitas vezes, separadas em nós e no entanto só podem viver intimamente unidas. A ternura sem a força torna-se langorosa e piegas, a força sem nenhuma suavidade, transforma-se em rudeza e amargura 1.

Ninguém pode exprimir o que foi a ternura de amor filial de Jesus por seu Pai; se ele amava ternamente a Virgem Maria, quanto mais ainda seu Pai, a quem rendia perpétua ação de graças e adoração! Esta ternura sobrenatural se derramava e se derrama continuamente sobre as almas, não apenas as de um certo país ou tempo ou sobre um grupo restrito de alguns amigos, mas sobre todas as almas de todas as gerações para lhes dar a vida eterna.

Este amor de Cristo tão terno é também mais forte que a morte, mais forte que o pecado e que o espírito do mal. Foi ele que levou Nosso Senhor a se oferecer como vítima para pagar em nosso lugar, para nos salvar, dando a Deus uma reparação infinita que lhe agrada mais do que todo o desgosto causado pelos pecados: Cor Jesu, fornax ardens caritatis -- eis todas as ternuras e todas as energias do amor admiravelmente fundidas. O Coração de Jesus é assim o mais puro espelho da Misericórdia e da Justiça, as duas grandes virtudes do amor incriado de Deus.

Os membros do corpo místico de Cristo devem cada vez mais participar de sua vida para se tornarem semelhantes a Ele. A santa humanidade do Salvador nos comunica progressivamente as graças que mereceu por nós na Cruz, influxo da cabeça do corpo místico sobre seus membros. Por este influxo Nosso Senhor quer nos assimilar, cada vez mais, pelo batismo, absolvição, comunhão freqüente, cruzes ou purificações necessárias a nosso avanço, até a extrema-unção e a nossa entrada no céu. Na vida de muitos santos vê-se essa assimilação progressiva no modo pelo qual neles são reproduzidos os mistérios da infância de Jesus, sua vida oculta, depois sua vida apostólica e por fim sua vida dolorosa. 2

Ora, uma das grandes marcas do espírito de Jesus em uma alma, é a reprodução nesta alma dos dois efeitos que derivam em Nosso Senhor da plenitude da graça.

Primeiro, a paz, a tranqüilidade da ordenação cada vez melhor de todos os sentimentos, de todos os quereres subordinados ao amor de Deus e das almas em Deus, amor que cresce continuamente pela influência atual de Cristo.

Em seguida, a aceitação da cruz, para seguir o Mestre, como ele disse; aceitação com paciência, do contrário a pena aumenta sem fruto; reconhecimento, pois está aí uma graça escondida, vê-se melhor quando o fardo é levado sobrenaturalmente; com amor, pois a cruz é Jesus crucificado, que vem a nós para reproduzir em nós seus próprios traços. Este amor dá o abandono e a paz. Aí se encontra a verdadeira soberania, a contemplação divina 3.

O austero Luiz de Chardon diz com profundidade a este respeito, comentando São Paulo: "Depois de termos admirado a violenta e insaciável inclinação do espírito de Jesus para a Cruz compreenderemos melhor como Ele a distribui pelas almas que lhe pertencem pelos vínculos da graça... Entendemos igualmente porque quanto maior é a elevação da alma em união com o espírito de Jesus tanto maior será sua obrigação quanto ao sofrimento... Também seria uma desordem da graça e das máximas do santo amor, se membros alimentados por confeitos estivessem ligados a uma cabeça transpassada de espinhos...

"Os membros são santificados pela mesma graça, que está em Jesus como em sua fonte universal. Ora, esta graça de Cabeça é comunicada a Jesus para a finalidade de sua missão, para que ele pague pelos pecados dos membros à justiça rigorosa de Deus. Por conseguinte, ele contrai a obrigação amorosa de sofrer provocando em seu espírito uma inclinação violenta que o transporta continuamente para a Cruz. É indispensável que esta graça incline do mesmo modo, com o mesmo rigor as almas predestinadas, a fim de que o corpo místico não pareça um todo monstruoso na ordem da graça, onde o espírito de Jesus seria contrário a si mesmo, sendo um nos membros e outro na Cabeça...

"Assim, porque a graça decorre da alma de Jesus como de sua fonte original onde ela produz um impulso dirigido para o fim pelo qual Jesus se fez homem, é uma necessidade que a graça cause esta mesma disposição naqueles que recebem a dignidade de nela participarem". 4

Este é um efeito da graça cristã como tal. A graça, por sua essência, é uma participação da natureza divina, mas, pelo fato de que nos é transmitida pelo Cristo, tem uma modalidade especial que nos configura a Ele como demonstra Santo Tomás quando pergunta se a graça sacramental, em particular a graça batismal, como tal, acrescenta alguma coisa à graça das virtudes e dos dons como a que possuía Adão antes do pecado (III, q. 62, a. 2).

Luiz de Chardon acrescenta e une assim a doutrina de um Tauler ou de um São João da Cruz à de Santo Tomás: "E porque esta espécie de graça não pode ficar ociosa em uma alma... é ávida para crescer e como só pode ter um crescimento considerável com a ajuda das cruzes... na nudez da graça, da qual suspendeu os efeitos sensíveis, Deus não abandona a alma à sua própria fraqueza. Nisto há o propósito de fazer a alma se conhecer e se desprender de si mesma... aderindo somente a Deus... A união será mais estreita e mais íntima quanto maior a separação de tudo mais.

"Daí que o mesmo amor é ao mesmo tempo princípio de vida e princípio de morte...; unindo e separando... afastando e causando adesões... A santidade de Deus comunicada a suas criaturas produz uma privação geral de tudo o que é incompatível com sua pureza imaculada. 5

"Gloriosa morte... Rica de uma fecundidade divina... Morte entretanto mais cruel do que aquela que é o dever comum da natureza... pois só deixa tristes desolações nas almas! No entanto as almas bem instruídas sobre as propriedades do Amor sagrado e do fim que a santidade de Deus pretende com todas estas provações, não quereriam trocar nem por um instante seu rigoroso martírio pelas delícias embriagadoras do Paraíso, nem a cruel espera de sua morte pela feliz vida da glória". [6]

É fácil ver a aplicação deste princípio na vida de Maria. 6 Como diz o historiador que repara o esquecimento em que caiu a obra de Chardon: "Talvez, a atividade separante, simplificante, despojadora da graça nunca tenha sido analizada com maior penetração". 7

Relendo atentamente o belo capítulo da Imitação de Cristo (1. II, cap. XI): "Do pequeno número dos que amam a Cruz de Jesus", vê-se que a marca do espírito de Cristo é a paz e o abandono no sofrimento, no acabrunhamento da Paixão, que se reproduz em diversos graus nas almas para as purificar e para fazê-las trabalhar na salvação do próximo em Nosso Senhor, com Ele e por Ele, com os meios dos quais Ele mesmo se serviu. Jesus está assim, num certo sentido, em agonia até o fim do mundo, no seu corpo místico até que este corpo místico seja plenamente purificado e glorificado, até que se realize perfeitamente a palavra do Mestre: "Venci o mundo", pela vitória definitiva sobre o pecado, sobre o demônio e sobre a morte.

Deste ponto de vista sobrenatural da fé, quando se contempla, digamos, com o olhar de Deus o que nos diz a santa liturgia, vê-se o quanto ela ultrapassa infinitamente os mais sublimes elans da poesia humana.

"Salve Crux sancta, salve mundi gloria,
Vera spes nostra, vera ferens gaudia,
Signum salutis, salus in periculis,
Vitale lignum vitam ferens omnium.

"Crux fidelis, inter omnes arbor una nobilis: nula silva talem profert fronde, flore, germine: dulce lignum, dulces clavos, dulce pondus sustinuit.

O magnum pietatis opus! Mors mortua tunc est, in ligno quanto mortua Vita fuit.

Nos autem gloriari oportet in Cruce Domini nostri Jesu Christi. Crux benedicta, nitet Dominus qua carne pependit, atque cuore suo vulnera nostra lavit".

Quando vossa alma dobrar-se sob o peso, apoiai-vos sobre vosso crucifixo.

Concluamos com São Luiz Maria Grignion de Montfort (L' Amour de la Divine Sagesse, 2a. P., cap. V):

"A Sabedoria Eterna fez da Cruz seu tesouro e em sua Encarnação esposou-a com amor inefável; durante toda sua vida, que não foi mais do que uma cruz contínua, carregou-a, pediu-a com indizível alegria... Pregada finalmente e como que colada à cruz, com alegria morreu abraçada à sua querida Cruz como num leito de honra e triunfo... E não pensem que depois de sua morte, para melhor triunfar, a Sabedoria Encarnada tenha se arrancado, tenha rejeitado a Cruz... Não querendo que honra de adoração, mesmo relativa, seja prestada a criaturas, por mais altas que sejam, como sua santíssima Mãe, reservou esta honra para sua querida Cruz e somente a ela é devida. A Sabedoria Encarnada, no grande dia do Juízo Final, acabará como o culto das relíquias dos santos, mesmo as dos mais respeitáveis; mas quanto às relíquias da Cruz, enviará os primeiros serafins e querubins pelo mundo para ajuntar os pedaços da verdadeira cruz que, por sua amorosa onipotência, serão tão bem reunidos que não farão mais que uma só e a mesma Cruz em que morreu, transportada assim pelos anjos... Precedida pela Cruz, colocada sobre uma nuvem de brilho inigualável, a Sabedoria eterna julgará o mundo com a Cruz e pela Cruz. Qual será então a alegria dos amigos da Cruz... Esperando esse dia... a divina Sabedoria quer que a Cruz seja o sinal, o caráter, a arma de todos os seus eleitos... Tendo encerrado tantos tesouros, tantas graças de vida na Cruz só dá a conhecer esses tesouros aos mais escolhidos... Como é preciso ser humilde, pequeno, mortificado, interior e menosprezado pelo mundo para conhecer o mistério da cruz! A quem carrega e suporta essa cruz, a Sabedoria Eterna dará um peso eterno de glória no céu".

(De "L' Amour de Dieu et la Croix de Jesus", Ed. du Cerf. 1o. vol., cap. VI, pág. 255. Tradução de Anna Luiza Fleichman)

A assistência à missa, fonte de santificação

A santificação de nossa alma se encontra em uma união, cada dia, mais íntima com Deus, união de fé, de confiança e de amor. Por isso um dos maiores meios de santificação é o ato mais elevado da virtude de religião e do culto cristão: a participação no sacrifício da Missa.
Para toda alma interior, a Missa deve ser, cada manhã, como a fonte eminente, de onde derivam todas as graças de que temos necessidade durante o curso do dia, fonte de luz e de calor, semelhante na ordem espiritual, ao que é o nascer do sol na ordem da natureza. Depois da noite e do sono que são como uma imagem da morte, o sol reaparecendo cada manhã, dá, de alguma maneira, vida a tudo o que acorda na superfície da terra. Se conhecêssemos profundamente o preço da missa quotidiana, veríamos que ela é como um nascer do sol espiritual, para renovar, conservar e aumentar em nós a vida da graça, que é a vida eterna começada. Mas muitas vezes o habito de assistir a missa, por falta de espírito de fé, degenera em rotina e não recebemos mais então do santo sacrifício todos os frutos que deveríamos receber.

Este então deveria ser o maior ato de nossos dias e na vida de um cristão, sobretudo de um religioso, todos os outros atos quotidianos só deveriam ser o acompanhamento daquele, ou seja, todas as outras orações e pequenos sacrifícios que devemos oferecer ao Senhor durante o dia.

Lembremos aqui: 1º. o que dá  valor ao sacrifício da missa, 2º qual é a relação de seus efeitos com nossas disposições interiores, 3º  como devemos nos unir ao sacrifício eucarístico.

A oblação sempre viva do coração do Cristo

A excelência do sacrifício da Missa vem, diz o Concilio de Trento1, do fato de ser o mesmo sacrifício em substancia que o sacrifício da Cruz, porque é o mesmo sacerdote  que continua atualmente a se oferecer por seus ministros, é a mesma vítima, realmente  presente no altar, que é realmente ofertada; só difere a maneira de oferecer: enquanto há na Cruz uma imolação cruenta, na Missa há uma imolação sacramental pela separação, não física, mas sacramental do corpo e do sangue do Salvador, em virtude da dupla consagração. Assim o sangue de Jesus sem ser fisicamente derramado é sacramentalmente derramado2.

Esta imolação sacramental é um sinal3da oblação interior de Jesus, à qual devemos nos unir; é também o memorial da imolação cruenta do Calvário. Apesar dela ser somente sacramental, esta imolação do Verbo de Deus feito carne, é mais expressiva do que a imolação cruenta do cordeiro pascal e de todas as vítimas do Antigo Testamento. Um sinal tira, com efeito, seu valor expressivo da grandeza da coisa significada; a bandeira que nos lembra a pátria, de tecido comum, tem maior preço a nossos olhos do que a flâmula de uma companhia ou do que a insígnia de um oficial.  A imolação cruenta das vitimas do Antigo Testamento, figura longínqua do sacrifício da Cruz, exprimia somente os sentimentos interiores dos sacerdotes e dos fieis da antiga Lei; enquanto que a imolação sacramental do Salvador sobre nossos altares exprime, sobretudo, a oblação interior sempre viva do coração do “Cristo que não cessa de interceder por nós” (Hebr., VII, 25).

Ora, essa oblação que é como a alma do sacrifício da Missa, tem um valor infinito, que emana da pessoa divina do Verbo feito carne, sacerdote principal e vítima, cuja imolação continua sob uma forma sacramental.

São João Crisóstomo escreveu: “Quando virem no altar o ministro sagrado elevando para o céu a santa hóstia, não creiam que este homem seja o verdadeiro padre (principal), mas, elevando o pensamento acima daquilo que atinge os sentidos, considerem a mão de Jesus Cristo invisivelmente estendida”4. O padre que vemos com nossos olhos de carne não pode penetrar em toda a profundeza desse misterio, mas acima dele está a inteligência e a vontade de Jesus sacerdote principal. Apesar do ministro não ser sempre o que deveria ser, o sacerdote principal é infinitamente santo; o ministro, mesmo quando é bom, pode estar ligeiramente distraído ou ocupado com as cerimônias exteriores do sacrifício, sem penetrar no sentido intimo, mas acima dele há alguém de um valor infinito, uma suplica e uma ação de graças sem limite de tamanho.

Esta oblação interior sempre viva no coração do Cristo é, por assim dizer, a alma do sacrifício da Missa.
É a continuação daquela pela qual Jesus se ofereceu como vítima entrando neste mundo e em todo o curso de sua existência terrestre, sobretudo na Cruz.Quando o Salvador estava sobre a terra, essa oblação era meritória; agora continua sem essa modalidade de mérito. Continua sob a forma de adoração reparadora e de súplica, para nos aplicar os méritos passados da Cruz. Mesmo quando a última Missa acabar no fim do mundo e que não houver mais sacrifício propriamente dito, mas sua consumação, a oblação interior do Cristo para seu Pai durará, não mais sob a forma de reparação e de súplica, mas sob a forma de adoração e de ação de graças. É o que nos faz prever o Sanctus, Sanctus, Sanctus, que dá uma idéia do culto dos bem-aventurados na eternidade.

Se nos fosse dado a conhecer, imediatamente, o amor que inspira esta oblação interior, que dura sem cessar no coração do Cristo, “sempre vivo para interceder por nós”, qual não seria nossa admiração!

A Bem-aventurada Ângela de Foligno nos diz5: “Não tenho um vago pensamento, mas a certeza absoluta que, se uma alma visse e contemplasse algum dos esplendores íntimos do sacramento do altar, incendiaria, pois veria o amor divino. Parece-me que aqueles que oferecem o sacrifício, ou que nele tomam parte, deveriam meditar profundamente sobre a verdade profunda do mistério três vezes santo, na contemplação do qual deveríamos permanecer imóveis e absorvidos”.

Os efeitos do sacrifício da missa e nossas disposições interiores.

A oblação interior do Cristo Jesus, que é a Alma do sacrifício eucarístico, tem os mesmos fins e os mesmos efeitos que o sacrifício da Cruz, mas importa distinguir, entre esses efeitos, aqueles que são relativos a Deus e os que nos concernem.

Os efeitos da Missa imediatamente relativos a Deus, como a adoração reparadora e a ação de graças, se produzem sempre infalivelmente e plenamente com seu valor infinito, mesmos sem nosso concurso, mesmo que a Missa seja celebrada por um ministro indigno, desde que seja válida. De cada Missa se eleva, então, para Deus uma adoração e uma ação de graças de um valor sem limites, em razão da dignidade do Sacerdote principal que oferece e do preço da vitima ofertada. Esta oblação “agrada mais a Deus do que todos os pecados reunidos lhe desgostam”; é isso que constitui a própria essência do mistério da Redenção por modo de satisfação6.

Quanto aos efeitos da Missa,  relativos a nós, só nos são dispensados na medida de nossas disposições interiores.

É assim que a Missa, como sacrifício propiciatório, obtém, ex opere operato, para os pecadores que não resistem, a graça atual que os leva a se arrependerem e que os inspira a confessar suas faltas7. As palavras do Agnus Dei, qui tollis peccata mundi, parce nobis Domine, produzem nesses pecadores que não põem obstáculos aos sentimentos de contrição, o que o sacrifício da Cruz produziu na alma do bom ladrão. Trata-se aqui, sobretudo, dos pecadores que assistem a Missa ou daqueles por quem ela é dita.

O sacrifício da Missa, como satisfatório, apaga também, infalivelmente aos pecadores arrependidos, ao menos uma parte da pena temporal devida pelo pecado e isso em proporção às disposições mais ou menos perfeitas com as quais a assistem. É por isso que o Concílio de Trento diz que o sacrifício eucarístico pode ser oferecido também pelo sufrágio das almas do purgatório8.

Enfim como sacrifício impetratório ou de Súplica, a Missa nos obtém ex opere operato todas as graças que temos necessidade para nos santificar. É a grande oração do Cristo sempre vivo que continua para nós, acompanhado da oração da Igreja, Esposa do Salvador. O efeito desta dupla oração é proporcionado ao nosso fervor e aquele que se uni o melhor que pode, está certo de obter para ele e para aqueles que lhes são caros, as mais abundantes graças.

Segundo Santo Tomas e muitos teólogos, esses efeitos da Missa relativos a nós são limitados apenas pela medida de nosso fervor9. A razão é que a influência de uma causa universal só é limitada pela capacidade dos sujeitos que a recebem. Assim o sol clareia e aquece em um só lugar tanto mil pessoas como a uma só. Ora o sacrifício da Missa, sendo substancialmente o mesmo que o da Cruz é, por modo de reparação e de oração, uma causa universal de graças, de luz, de atração e de força. Sua influência sobre nós só é, pois, limitada pelas disposições ou pelo fervor daqueles que a recebem. Assim uma única missa será tão proveitosa para um grande numero de pessoas como se fosse oferecida para uma só entre elas; assim como o sacrifício da Cruz rendeu ao bom ladrão tanto proveito quanto teria rendido se oferecido por ele só. Se o sol aquece, em um só lugar, mil pessoas como a uma, a influência desta fonte de calor espiritual que é a Missa não é menor em sua ordem. Quanto mais se assiste a Missa com fé, confiança, religião e amor, maiores serão os frutos que dela se retira.

Tudo isso nos mostra porque os santos, à luz dos dons do Espírito Santo, sempre tanto apreciaram o Sacrifício da Missa. Alguns, ainda que enfermos e doentes, queriam se arrastar até a missa, porque ela vale mais do que todos os tesouros. Santa Joana d’Arc, indo para Chinon, importunava seus companheiros de armas e obtinha deles, a força de insistência, que assistissem a missa todos os dias. Santa Germana Cousin era fortemente atraída para a Igreja quando escutava o sino anunciar o santo sacrifício, deixava suas ovelhas na guarda dos anjos e corria para assistir a missa; seu rebanho era bem guardado. O santo Cura d’Ars falava do valor da Missa com tal convicção, que tinha obtido que todos ou quase todos os seus paroquianos a assistissem.  Inúmeros outros santos derramavam lágrimas de amor ou caíam em êxtase durante o sacrifício eucarístico; alguns viram no lugar do celebrante o próprio Nosso Senhor, o Sacerdote principal. Outros, na elevação do cálice, viram o precioso sangue transbordar, escorrendo pelos braços do padre e pelo santuário e anjos virem recolhê-lo em taças de ouro como para levá-lo por toda parte onde houvesse homens para salvar. São Felipe de Néri recebeu graças desse gênero e se escondia para celebrar por causa dos arrebatamentos, que muitas vezes, era tomado no altar.

Como nos unir ao sacrifício eucarístico?

Pode-se aplicar a isso o que Santo Tomás10 diz sobre a atenção na oração vocal: “A atenção pode estar ou bem nas palavras para bem pronunciá-las, ou no sentido das palavras, ou no fim da oração, quer dizer em Deus e naquilo pelo que se reza... Esta ultima atenção, que os mais humildes, sem cultura podem ter, é algumas vezes tão grande que é como se o espírito fosse elevado para Deus e se esquecesse de todo o resto”.

Assim também para bem assistir a missa, com fé, confiança, verdadeira piedade e amor, podemos segui-la de maneiras diferentes. Podemos estar atentos às preces litúrgicas, geralmente tão belas e tão cheias de unção, de elevação e de simplicidade. Podemos lembrar a Paixão e a Morte do Salvador, cuja missa é o memorial e se considerar como estando ao pé da Cruz com Maria, João, as santas mulheres. Podemos ainda nos aplicar  a render a Deus, em união com Jesus, os quatro deveres que são os fins do Sacrifício: adoração, reparação, pedido e ação de graças11. Desde que se reze, mesmo recitando piedosamente seu terço, assistimos com frutos à missa. Podemos também com grande proveito, como santa Joana de Chantal e muitos santos, continuar com a sua oração, sobre tudo se somos levados a um puro e intenso amor, um pouco como são João na Ceia repousando sobre o Coração de Jesus.

Mas de qualquer maneira que se siga a Missa, é preciso insistir em uma coisa importante. É preciso sobretudo nos unirmos profundamente à oblação do Salvador, o sacerdote principal: com ele, é preciso oferecê-lo a seu Pai,  nos lembrando que esta oblação agrada mais a Deus do que todos os pecados lhe desagradam. É preciso nos oferecer, cada dia, mais profundamente, oferecer particularmente as penas e contrariedades que costumamos ter e aquelas que se apresentarão durante o dia.

É assim que no ofertório o padre diz: “In spiritu humilitatis et in animo contrito suscipiamur a te, Domine: É com espírito de humildade e coração contrito que vos pedimos, Senhor, de nos receber”.

O autor da Imitação, I. IV, cap. VIII, insiste com razão sobre este ponto: O Senhor diz: “ Como me ofereci voluntariamente a meu Pai por vossos pecados, na cruz..., assim deveis todos os dias, no sacrifício da Missa, vos oferecer a mim, como uma hóstia pura e santa, do mais profundo do vosso coração... É a vos que eu quero e não vossos dons... Se permanecerdes em vós mesmos, se não vos abandonardes  sem reserva a minha vontade, vossa oblação não será completa e não estaremos unidos perfeitamente”.

No capitulo seguinte, o fiel responde: “Na simplicidade de meu coração, eu me ofereço a vós meu Deus, para vos servir para sempre... Recebei-me com a oblação santa de vosso precioso Corpo... Ofereço-vos também tudo o que há de bom em mim, por mais imperfeito que seja, para que vós a torne mais digna de vós. Ofereço-vos ainda todos os piedosos desejos das almas fieis, a oração por aqueles que me são queridos... A súplica por aqueles que me ofenderam ou entristeceram, por aqueles também que eu mesmo afligi, feri, escandalizei, sabendo ou não, afim de que nos perdoeis todas nossas ofensas mútuas... e fazei que sejamos dignos de gozar aqui na terra dos vossos dons e alcançar a vida eterna.”

A missa assim compreendida é uma fonte fecunda de santificação, de graças sempre renovadas; por ela pode-se realizar cada vez melhor para nós a oração do Salvador: Dei-lhes a luz que vós me destes, para que sejam um como nós somos um, Eu neles e vós em mim, afim de que eles sejam perfeitamente um e que o mundo saiba que vós me enviastes e que vós os amastes como vós me amais” (João, XVII, 23).

A visita ao Santíssimo Sacramento deve nos recordar a missa da manhã e devemos pensar que no Tabernáculo, se não há sacrifício propriamente dito, que cessa com a missa, no entanto Jesus realmente presente continua a adorar, orar e render graças. Deveríamos nos unir a essa oblação do Salvador a qualquer hora do dia. Como diz a oração do Coração Eucarístico: “Ele é paciente a nos esperar, apressado em nos atender; é a sede de todas as graças sempre renovadas, o refúgio da vida escondida, o mestre dos segredos da união divina”. Devemos junto ao Tabernáculo, “calar-nos para escutar, e abandonar-nos para nele nos perder”12.




Fonte de pesquisa: Roma, Angélico; (Tradução: Permanência. Originalmente publicado em “La Vie Spirituel” n º 187, 1º - 04 – 1935); Traduzido a partir de www.salve-regina.com


13 de junho de 2013

Santo Antônio de Pádua - Conheça um pouco de sua história

Pádua está situada na Região Veneto, rica pelas belezas naturais, obras de arte e arquitetura. Antiga cidade universitária que possui uma ilustre história acadêmica. Mesmo sendo uma atraente cidade, o que leva tantas pessoas a ela é a bela história de Santo Antônio.

"Fernando de Bulhões e Taveira nasceu em Lisboa. Ordenado sacerdote entre os cônegos regulares de Santo Agostinho, deixou-se fascinar pelo ideal franciscano, por ter visto os corpos dos cinco primeiros mártires franciscanos de Marrocos. Entrou no convento de Santo Antônio de Coimbra, onde recebeu o nome de Antônio(...).

Em 1221 participou do capítulo geral da ordem franciscana e viu São Francisco. Pregou com eficácia contra os hereges dirigindo-se de preferência ao povo. A Quaresma de 1231 assinalou o vértice de sua pregação em que predomina as solicitações sociais(...)."

Sua Basílica é o principal monumento de Pádua e uma das principais obras-primas de arte do mundo. Foi iniciada em 1232, possui 115 de metros de comprimento, 38 metros de altura chegando a 68 com a torres, é rodeada por 8 cúpulas e o seu interior é construído em forma de cruz latina.

À esquerda está a capela onde encontra-se o altar-túmulo de Santo Antônio. Ao seu redor estão dispostos nove relevos em mármore que retratam cenas da vida e milagres do Santo.


A Capela das relíquias foi construída no século XVII em estilo barroco. Nos três nichos estão expostos dezenas de relicários.

Em 1981, com a autorização de João Paulo II, foi efetuado um reconhecimento do corpo de Santo Antônio, após 750 anos de sua morte.

O primeiro reconhecimento, em 1263, revelou seus restos mortais em excelentes condições, recolhidos numa pequena urna. As análises científicas possibilitaram reconstruir as características físicas do Santo: ele tinha 1,70m de altura, estrutura não muito robusta, perfil nobre, rosto comprido e estreito.

Foi encontrado também o aparelho vocal intacto: a língua e as pregas vocais, assim como, os restos da túnica que estavam ao lado dos ossos e as duas caixas antigas com panos da época.


São famosos seus milagres acontecidos ainda em vida, como o da Eucaristia e o da pregação aos peixes:

A cidade de Rimini, na Itália, estava nas mãos de hereges. À chegada do missionário, os chefes deram ordem para isolá-lo através de um ambiente de silêncio manifestando indiferença. Antônio não encontra ninguém a quem dirigir a palavra: igrejas vazias e praças desertas. Anda pelas ruas da cidade rezando e meditando. Coloca-se diante do mar Adriático e chama o seu auditório: “venham vocês, peixes, ouvir a palavra de Deus, já que os homens petulantes não se dignam ouvi-la”.

Logo apareceram centenas de peixes. A curiosidade do povo foi mais forte, foram ver o que estava acontecendo e ficaram maravilhados, aconteceu o entusiasmo, o arrependimento e o regresso à Igreja.

Durante uma pregação, cujo tema era a Eucaristia, levantou-se um homem dizendo: “Eu acreditarei que Cristo está realmente presente na Hóstia Consagrada quando vir o meu jumento ajoelhar-se diante da custódia com o SS. Sacramento”. O Santo aceitou o desafio. Deixaram o pobre jumento três dias sem comer. No momento e lugar pré-estabelecido, apresentou-se Antônio com a custódia e o herege com o seu jumento que já não agüentava manter-se em pé devido ao forçado jejum. Mesmo meio-morto de fome, deixou de lado a apetitosa pastagem que lhe era oferecida pelo seu dono, para se ajoelhar diante do Santíssimo Sacramento.

Milhares de pessoas acorriam de toda parte para ouvir os sermões de Antônio. O seu cristianismo não era monótono mas tendia a austeridade, mesmo assim, não desencorajava os penitentes. Conta-se que em uma quaresma, o povo de Pádua não ia trabalhar antes de ouvir Antônio falar sobre a palavra de Deus. E ele já muito debilitado falava ao povo de cima de uma nogueira em Camposampiero.

Numa tarde, um conde dirigiu-se à cela de Antônio. Ao chegar, viu sair de uma brecha um intenso esplendor. Empurrou delicadamente a porta e ficou imóvel diante de uma cena prodigiosa: Antônio segurava nos seus braços o menino Jesus! Quando despertou do êxtase pediu ao conde que não revelasse a ninguém a aparição celeste.

Destruído pela fadiga e pela doença da hidropisia, sentiu que a hora do seu encontro com o Senhor estava se aproximando. Desejou ir para a igreja de Santa Maria, mas estando muito debilitado, parou em Arcella, que encontra-se às portas de Pádua. Ali morreu aos trinta e seis anos após pronunciar as palavras: “Video Dominum Meum” (vejo o meu Senhor).

É honrado com o título de “Doutor Evangélico”. Seu culto é um dos mais populares da história e apressou sua canonização, ocorrida um ano após sua morte.

11 de junho de 2013

Requisitos para a celebração da missa

O pão e o vinho para a celebração da eucaristia

Seguindo o exemplo de Cristo, a Igreja sempre utilizou pão e vinho com água para celebrar o banquete do Senhor.

O pão para a celebração da Eucaristia deve ser de trigo sem mistura, recém-feito e ázimo conforme antiga tradição da Igreja latina.

A verdade do sinal exige que a matéria da celebração eucarística pareça realmente um alimento. Convém, portanto, que, embora ázimo e com a forma tradicional, seja o pão eucarístico de tal modo preparado que o sacerdote, na Missa com povo, possa de fato partir a hóstia em diversas partes e distribuí-las ao menos a alguns dos fiéis. Não se excluem, porém, as hóstia pequenas, quando assim o exigirem o número dos comungantes e outras razões pastorais. O gesto, porém, da fração do pão, que por si só designava a Eucaristia nos tempos apostólicos, manifestará mais claramente o valor e a importância do sinal da unidade de todos num só pão, e da caridade fraterna pelo fato de um único pão ser repartido entre os irmãos.

O vinho para a celebração eucarística deve ser de uva (cf. Lc 22, 18), natural e puro, isto é, sem mistura de substâncias estranhas.

Cuide-se atentamente que o pão e o vinho destinados à Eucaristia sejam conservados em perfeito estado, isto é: que o vinho não azede, nem o pão se corrompa ou se torne demasiado duro, difícil de partir.

Se depois da consagração ou quando vai comungar, o sacerdote percebe que no cálice não foi colocado vinho, mas água, derrame a água em algum recipiente, coloque vinho com água no cálice, consagrando-o com a parte da narração da instituição correspondente à consagração do cálice, sem ser obrigado a consagrar novamente o pão.

AS SAGRADAS ALFAIAS EM GERAL

Como na construção de igrejas, também em relação a todas as alfaias, a Igreja admite a expressão artística de cada região, aceitando adaptações que concordem com a índole e as tradições de cada povo, contanto que tudo corresponda devidamente ao uso a que se destinam as alfaias135.

Também neste ponto cuide-se atentamente de obter a nobre simplicidade que se coadune perfeitamente com a verdadeira arte.

Na escolha dos materiais para as alfaias, admitem-se igualmente, além dos tradicionais, aqueles que são considerados nobres pela mentalidade atual, são duráveis e se prestam bem para o uso sagrado. Compete à Conferência dos Bispos de cada região decidir a esse respeito (cf. n. 390).

OS VASOS SAGRADOS

Entre as coisas necessárias para a celebração da Missa, honram-se especialmente os vasos sagrados e, entre eles, o cálice e a patena, onde se oferecem, consagram e consomem o vinho e o pão.

Os vasos sagrados sejam feitos de metal nobre. Se forem de metal oxidável ou menos nobres do que o ouro sejam normalmente dourados por dentro.

A juízo da Conferência dos Bispos, com aprovação da Sé Apostólica, os vasos sagrados podem ser feitos também de outros materiais sólidos e considerados nobres em cada região, por exemplo, o ébano ou outras madeiras mais duras, contanto que convenham ao uso sagrado. Neste caso, prefiram-se sempre materiais que não se quebrem nem se alterem facilmente. Isso vale para todos os vasos destinados a receber as hóstias como patena, cibório, teca, ostensório e outros do gênero.

Os cálices e outros vasos destinados a receber o Sangue do Senhor, tenham a copa feita de matéria que não absorva líquidos. O pé pode ser feito de outro material sólido e digno.

Para consagrar as hóstias, é conveniente usar uma patena de maior dimensão, onde se coloca tanto o pão para o sacerdote e o diácono, bem como para os demais ministros e fiéis.

Quanto à forma dos vasos sagrados, o artista tem a liberdade de confeccioná-los de acordo com os costumes de cada região, contanto que coadunem com o uso litúrgico a que são destinados e se distingam claramente daqueles destinados ao uso cotidiano.

Quanto à bênção dos vasos sagrados, observem-se os ritos prescritos nos livros litúrgicos136.

Conserve-se o costume de construir na sacristia uma piscina, em que se lance a água da purificação dos vasos sagrados e da lavagem das toalhas de linho (cf. n. 280).

AS VESTES SAGRADAS

Na Igreja, que é o Corpo de Cristo, nem todos os membros desempenham a mesma função. Esta diversidade de funções na celebração da Eucaristia manifesta-se exteriormente pela diversidade das vestes sagradas, que por isso devem ser um sinal da função de cada ministro. Importa que as próprias vestes sagradas contribuam também para a beleza da ação sagrada. As vestes usadas pelos sacerdotes, os diáconos, bem como pelos ministros leigos são oportunamente abençoados antes que sejam destinados ao uso litúrgico, conforme o rito descrito no Ritual Romano137.

A alva é a veste sagrada comum a todos os ministros ordenados e instituídos de qualquer grau; ela será cingida à cintura pelo cíngulo, a não ser que o seu feitio o dispense. Antes de vestir a alva, põe-se o amito, caso ela não encubra completamente as vestes comuns que circundam o pescoço. A alva não poderá ser substituída pela sobrepeliz, nem sobre a veste talar, quando se deve usar casula ou dalmática, ou quando, de acordo com as normas, se usa apenas a estola sem a casula ou dalmática.

A não ser que se disponha de outro modo, a veste própria do sacerdote celebrante, tanto na Missa como em outras ações sagradas em conexão direta com ela, é a casula ou planeta sobre a alva e a estola.

A veste própria do diácono é a dalmática sobre a alva e a estola; contudo, por necessidade ou em celebrações menos solenes a dalmática pode ser dispensada.

Os acólitos, os leitores e os outros ministros leigos podem trajar alva ou outra veste legitimamente aprovadas pela Conferência dos Bispos em cada região (cf. n. 390).

A estola é colocada pelo sacerdote em torno do pescoço, pendendo diante do peito; o diácono usa a estola a tiracolo sobre o ombro esquerdo, prendendo-a do lado direito.

A capa ou pluvial é usada pelo sacerdote nas procissões e outras ações sagradas, conforme as rubricas de cada rito.

Quanto à forma das vestes sagradas, as Conferências dos Bispos podem definir e propor à Sé Apostólica as adaptações que correspondam às necessidades e costumes da região138*.

Na confecção das vestes sagradas, podem-se usar, além dos tecidos tradicionais, os materiais próprios de cada região e mesmo algumas fibras artificiais que se coadunem com a dignidade da ação sagrada e da pessoa, a juízo da Conferência dos Bispos139.

Convém que a beleza e nobreza de cada vestimenta decorram não tanto da multiplicidade de ornatos, mas do material usado e da forma. Os ornatos apresentem figuras ou imagens ou então símbolos que indiquem o uso sagrado, excluindo-se os que não se prestam bem a esse uso.

As diferentes cores das vestes sagradas visam manifestar externamente o caráter dos mistérios celebrados, e também a consciência de uma vida cristã que progride com o desenrolar do ano litúrgico.

Com relação à cor das vestes sagradas, seja observado o uso tradicional, a saber:

            a) O branco é usado nos Ofícios e Missas do Tempo pascal e do Natal do Senhor; além disso, nas celebrações do Senhor, exceto as de sua Paixão, da Bem-aventurada Virgem Maria, dos Santos Anjos, dos Santos não Mártires, nas solenidades de Todos os Santos (1º de novembro), de São João Batista (24 de junho), nas festas de São João Evangelista (27 de dezembro), da Cátedra de São Pedro (22 de fevereiro) e da Conversão de São Paulo (25 de janeiro).

            b) O vermelho é usado no domingo da Paixão e na Sexta-feira da Semana Santa, no domingo de Pentecostes, nas celebrações da Paixão do Senhor, nas festas natalícias dos Apóstolos e Evangelistas e nas celebrações dos Santos Mártires.

            c) O verde se usa nos Ofícios e Missas do Tempo comum.

            d) O roxo é usado no tempo do Advento e da Quaresma. Pode também ser usado nos Ofícios e Missas dos Fiéis defuntos.

            e) O preto pode ser usado, onde for costume, nas Missas dos Fiéis defuntos.

            f) O rosa pode ser usado, onde for costume, nos domingos Gaudete (III do Advento) e Laetare (IV na Quaresma).

            g) Em dias mais solenes podem ser usadas vestes sagradas festivas ou mais nobres, mesmo que não sejam da cor do dia.

            No que se refere às cores litúrgicas, as Conferências dos Bispos podem determinar e propor à Sé Apostólica adaptações que correspondam à necessidades e ao caráter de cada povo.

As Missas rituais são celebradas com a cor própria, a branca ou a festiva; as Missas por diversas necessidades, com a cor própria do dia ou do Tempo, ou com a cor roxa, se tiverem cunho penitencial, por exemplo, n. 31, 33 e 38; as Missas votivas, com a cor que convém à Missa a ser celebrada, ou também com a cor própria do dia ou do tempo.


Fonte: Missal Romano

10 de junho de 2013

Disposição do Presbitério para a assembléia sagrada

O presbitério é o lugar, onde se encontra localizado o altar, é proclamada a palavra de Deus, e o sacerdote, o diácono e os demais ministros exercem o seu ministério. Convém que se distinga do todo da igreja por alguma elevação, ou por especial estrutura e ornato. Seja bastante amplo para que a celebração da Eucaristia se desenrole comodamente e possa ser vista por todos 115.

O altar e sua ornamentação

O altar, onde se torna presente o sacrifício da cruz sob os sinais sacramentais, é também a mesa do Senhor na qual o povo de Deus é convidado a participar por meio da Missa; é ainda o centro da ação de graças que se realiza pela Eucaristia.

A celebração da Eucaristia, em lugar destinado ao culto, deve ser feita num altar; fora do lugar sagrado, pode se realizar sobre uma mesa apropriada, sempre, porém, com toalha e corporal, cruz e castiçais.

Convém que em toda igreja exista um altar fixo, que significa de modo mais claro e permanente Jesus Cristo, Pedra vida (1Pd 2,4; cf. Ef 2, 20); nos demais lugares dedicados às sagradas celebrações, o altar pode ser móvel.

Chama-se altar fixo quando é construído de tal forma que esteja unido ao pavimento, e não possa ser removido; móvel, quando pode ser removido.

O altar seja construído afastado da parede, a fim de ser facilmente circundado e nele se possa celebrar de frente para o povo, o que convém fazer em toda parte onde for possível. O altar ocupe um lugar que seja de fato o centro para onde espontaneamente se volte a atenção de toda a assembléia dos fiéis116. Normalmente seja fixo e dedicado.

Tanto o altar fixo como o móvel seja dedicado conforme o rito apresentado no Pontifical Romano; contudo, o altar móvel pode também ser apenas abençoado.

Segundo tradicional e significativo costume da Igreja, a mesa do altar fixo seja de pedra, e mesmo de pedra natural. Contudo, pode-se também usar outro material digno, sólido e esmeradamente trabalhado, a juízo da Conferência dos Bispos. Os pés ou a base de sustentação da mesa, podem ser feitos de qualquer material, contanto que digno e sólido.

O altar móvel pode ser construído de qualquer material nobre e sólido, condizente com o uso litúrgico e de acordo com as tradições e costumes das diversas regiões.

Se for oportuno, mantenha-se o uso de depositar sob o altar a ser dedicado relíquias de Santos, ainda que não sejam mártires. Cuide-se, porém, de verificar a autenticidade de tais relíquias.

Nas novas igrejas a serem construídas, convém erigir um só altar, que na assembléia dos fiéis signifique um só Cristo e uma só Eucaristia da Igreja.

Contudo, nas igrejas já construídas, quando o altar antigo estiver colocado de tal maneira que torne difícil a participação do povo, nem puder ser transferido sem detrimento de seu valor artístico, construa-se outro altar fixo com valor artístico e a ser devidamente dedicado; e somente nele se realizem as sagradas celebrações. Para não distrair a atenção dos fiéis, do novo altar, o altar antigo não seja ornado de modo especial.

Em reverência para com a celebração do memorial do Senhor e o banquete em que se comungam o seu Corpo e Sangue, ponha-se sobre o altar onde se celebra ao menos uma toalha de cor branca, que combine, por seu formato, tamanho e decoração, com a forma do mesmo altar.

Na ornamentação do altar observe-se moderação.

No Tempo do Advento se ornamente o altar com flores com moderação tal que convenha à índole desse tempo, sem contudo, antecipar aquela plena alegria do Natal do Senhor. No Tempo da Quaresma é proibido ornamentar com flores o altar. Excetuam-se, porém, o domingo "Laetare" (IV na Quaresma), solenidades e festas.

A ornamentação com flores seja sempre moderada e, ao invés de se dispor o ornamento sobre o altar, de preferência seja colocado junto a ele.

Sobre a mesa do altar podem ser colocadas somente aquelas coisas que se requerem para a celebração da Missa, ou seja: o Evangeliário, do início da celebração até a proclamação do Evangelho; desde a apresentação das oferendas até a purificação dos vasos sagrados, o cálice com a patena, o cibório, se necessário, e, finalmente, o corporal, o purificatório, a pala e o missal.

Além disso, se disponham de modo discreto os aparelhos que possam ajudar a amplificar a voz do sacerdote.

Os castiçais requeridos pelas ações litúrgicas para manifestarem a reverência e o caráter festivo da celebração (cf. n. 117), sejam colocados, como parecer melhor, sobre o altar ou junto dele, levando em conta as proporções do altar e do presbitério, de modo a formarem um conjunto harmonioso e que não impeça os fiéis de verem aquilo que se realiza ou se coloca sobre o altar.

308.     Haja também sobre o altar ou perto dele uma cruz com a imagem do Cristo crucificado que seja bem visível para o povo reunido. Convém que tal cruz que serve para recordar aos fiéis a paixão salutar do Senhor, permaneça junto ao altar também fora das celebrações litúrgicas.

O ambão

A dignidade da palavra de Deus requer na igreja um lugar condigno de onde possa ser anunciada e para onde se volte espontaneamente a atenção dos fiéis no momento da liturgia da Palavra117.

De modo geral, convém que esse lugar seja uma estrutura estável e não uma simples estante móvel. O ambão seja disposto de tal modo em relação à forma da igreja que os ministros ordenados e os leitores possam ser vistos e ouvidos facilmente pelos fiéis.

Do ambão são proferidas somente as leituras, o salmo responsorial e o precônio pascal; também se podem proferir a homilia e as intenções da oração universal ou oração dos fiéis. A dignidade do ambão exige que a ele suba somente o ministro da palavra.

Convém que o novo ambão seja abençoado antes de ser destinado ao uso litúrgico conforme o rito proposto no Ritual Romano 118.

A cadeira para o sacerdote celebrante e outras cadeiras

A cadeira do sacerdote celebrante deve manifestar a sua função de presidir a assembléia e dirigir a oração. Por isso, o seu lugar mais apropriado é de frente para o povo no fundo do presbitério, a não ser que a estrutura do edifício sagrado ou outras circunstâncias o impeçam, por exemplo, se a demasiada distância torna difícil a comunicação entre o sacerdote e a assembléia, ou se o tabernáculo ocupar o centro do presbitério atrás do altar. Evite-se toda espécie de trono119. Antes de ser destinada ao uso litúrgico, convém que se faça a bênção da cadeira da presidência segundo o rito descrito no Ritual Romano 120.

Disponham-se também no presbitério cadeiras para os sacerdotes concelebrantes, bem como para presbíteros que, revestidos de veste coral, participem da concelebração, sem que concelebrem.

A cadeira para o diácono esteja junto da cadeira do celebrante. Para os demais ministros, as cadeiras sejam dispostas de modo que se distingam claramente das cadeiras do clero e eles possam exercer com facilidade a função que lhes é confiada 121.


Fonte: Missal Romano



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