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31 de maio de 2013

Quem era Martin Lutero?

Uma das figuras mais polêmicas do cristianismo e responsável maior pela reforma protestante, Martinho Lutero nasceu em 10 de Novembro de 1483, na cidade de Eisleben, filho de Hans e Margareth Luther.

Na manhã seguinte, festa de Martim de Tours, foi batizado com o nome do santo do dia, na igreja de São Pedro e Paulo.

Hans Luther, seu pai, foi fazendeiro, mineiro, dono de mina, e posteriormente fez parte do conselho da cidade de Mansfeld, para onde eles se mudaram quando Lutero tinha um ano de vida. O luterano Martin Marty1 descreve a mãe de Lutero como sendo uma grande trabalhadora da classe comerciante, enquanto nota que os inimigos de Lutero a descreviam como prostituta ou atendente de banheiros. Seus pais assinavam alternativamente os sobrenomes de Lüder, Luder, Loder, Ludher, Lotter, Lutter ou Lauther. A forma conhecida hoje como Luther foi escolhida pelo próprio Lutero por volta de 1512. Ele derivou seu nome ou do duque Leuthari ou da palavra grega ελεύθερος (livre), de onde ele tira a palavra flexionada Eleutherios (o livre)2.

Lutero frequentou a escola da cidade de Mansfeld de 1488 até 1497. Depois disto ele frequentou a Magdeburger Domschule. Ali ele estudou com os Irmãos da Vida Comum, comunidade religiosa católica que enfatizava uma vida de simples devoção a Jesus. Estes haviam estabelecido na Alemanha e Holanda escolas onde o ensino era oferecido “para o amor de Deus apenas”. Depois disto, em 1498, Lutero é enviado para os franciscanos em Eisenach, onde ele recebeu educação em música e poesia, se destacando como cantor. Desde cedo então, o jovem Lutero recebia influência religiosa.

De 1501 até 1505, Lutero vai estudar na faculdade de Erfurt, recebendo o título de “Magister Artium” da faculdade de Filosofia. Ali ele recebe educação básica em latim nas matérias de Gramática, Retórica, Dialética, Aritmética, Geometria, Música e Astronomia.

Seguindo o desejo de seu pai, Lutero então inicia seus estudos de direito, na mesma faculdade, no ano de 1505. No entanto, abandona os estudos não muito tempo depois. Em 2 de julho daquele ano, depois de uma visita aos seus pais em Mansfeld, retornando para Erfurt durante uma tempestade, Lutero teve medo de morrer quando um raio cai perto dele, e chama Santa Ana, dizendo “Me ajude, santa Ana, e eu me tornarei um monge!”. Sua promessa pode ser explicada tanto pelo medo da morte e do julgamento divino, que posteriormente ele confessa a seu pai, como também pela educação religiosa que recebeu até então. Assim, em 17 de julho, contra a vontade de seu pai (que via aquilo como um desperdício de toda a educação que Lutero recebeu), ele entra em um monastério agostiniano em Erfurt.

Ali ele se dedica com tando afinco à vida monástica, se devotando a jejuar, passar horas orando, em peregrinação e em frequente confissão. Posteriormente ele diria que “Se alguém pudesse ganhar o céu como monge, eu certamente estaria entre eles”3. Foram anos de desespero espiritual que ele posteriormente descreveria: “Eu perdi contato com Cristo o Salvador e Confortador e fiz dele o carcereiro e carrasco da minha pobre alma”4. Tanta dedicação o faz diácono já em 27 de fevereiro de 1507, e padre em 4 de abril do mesmo ano.

O motivo de tanto desespero espiritual se encontrava no sacramento da penitência. Os pré-requisitos deste sacramento eram arrependimento sincero, falta de medo diante da punição divina e a confissão de todos os pecados, inclusive os pecados secretos, mesmo os desconhecidos pela pessoa. Estes pré-requisitos Lutero levava bastante a sério, chegando posteriormente a duvidar da sua capacidade de cumpri-los, o que o levou a duvidar ainda do perdão de Deus.

Assim Johann von Staupitz, seu confessor e vicário geral da congregação, concluiu que Lutero precisava de mais trabalho para distraí-lo de excessiva introspecção, ordenando ele a buscar uma carreira acadêmica em Wittemberg, em 1508, onde entra em contato com a teologia de Guilherme de Ockham. Em março de 1509 recebe o grau de bacharelado em Estudos Bíblicos, que o permitiu ler alguns trechos bíblicos com os acadêmicos. Poucos meses depois recebe outro grau de bacharelado nas Sentenças de Pedro Lombardo, que o permitiu expô-las. Pouco depois disto retorna para Erfurt.

Em 1510, Lutero viaja para Roma, em uma missão em nome de seu convento. A casa de Erfurt e seu prior, Johann Nathin, pertenciam a um movimento de reforma dentro da ordem Agostiniana que buscava expandir uma observância mais estrita da Regra. Em setembro de 1510, uma união entre as ordens foi anunciada, o que para estes monastérios reformados como o de Erfurt, significava uma perda do que já havia sido obtido. Por este motivo, estas congregações decidiram apelar para o vicário geral, Giles (Egidio) de Viterbo, em Roma. Assim, Lutero foi escolhido para levar a apelação ao vicário geral. Viagens assim não poderiam ser feitas sozinho, pois isto era proibido pela ordem. Provavelmente foi acompanhado por Anton Kresz da casa de Nuremberg, que estava encarregado da missão.

Foi em Roma que Lutero teve grande decepção. Segundo relatos de seu filho Paulo, que ouviu isto de seu pai em 1541, Lutero ali subiu a famosa Scala Santa de joelhos, pedindo penitência por ele e seus parentes. Arrependido de seus atos, volta a Alemanha.

Em setembro de 1511, retorna a Wittenberg. Em 19 outubro de 1512 ele recebe o título de Doutorado em Teologia, e em 21 de outubro de 1512 recebeu o convite para ocupar a posição de Doutor na Bíblia na mesma faculdade, título que manteve até o fim de sua vida.

CONTRA A VENDA DE INDULGÊNCIAS

Um ano antes da elaboração das 95 teses, Lutero já pregava abertamente contra as indulgências. No verão de 1517, ele recebe uma carta do cardeal Albrecht, intitulada Instructio Summarium, permitindo a venda de indulgências no país. Parte das rendas serviria para pagar as dívidas dele com a família Fugger, que financiaram seu príncipe eleitor. Para esta tarefa, ele envia Johann Tetzel.

No dia 4 de setembro de 1517, Lutero distribui 97 teses entre seus discípulos e colegas sobre uma disputa com a teologia escolástica. Depois disto Lutero elabora suas 95 teses a respeito das indulgências, que, segundo Filipe Melanchthon, teriam sido fixadas na porta principal da Igreja de Todos os Santos, em Wittenberg, no dia 31 de outubro de 1517, evento que ficou mais tarde conhecido como o estopim para a reforma protestante.

Tal fato é hoje muito questionado. Alega-se por um lado que Filipe Melanchthon não poderia ser testemunha ocular do evento, pois chegou à universidade como professor apenas em 1518. Além disto se alega também que tal ato seria interpretado como uma provocação aos seus superiores. Havia sim o costume de se fixar teses nas portas da Igreja, mas isto acontecia apenas depois de se verificar as reações de bispos ao trabalho fixado. Lutero não desejava confrontar seus superiores, mas sim, esclarecer alguns pontos sobre as indulgências.

Por outro lado, Filipe Melanchthon era amigo muito próximo de Lutero. Mesmo não sendo testemunha ocular, ele poderia muito bem ter ouvido o relato do próprio Lutero. Além disto, ele nunca fez disto um fato extraordinário, ficando difícil entender por que Melanchthon poderia mentir ou até mesmo se enganar sobre este ponto.

Sabe-se no entanto que Lutero escreveu uma carta ao arcebispo Albrecht de Mainz e Magdeburg em 31 de outubro de 1517, onde ele denunciava a venda de indulgências e exigia o esclarecimento de mal-entendidos. Com a carta ele enviou 95 teses, as quais serviram de base para uma discussão sobre o assunto. Mas Albrecht não respondeu esta carta, enviando-a para Roma. Johann Tetzel reagiu escrevendo contra-teses, com a ajuda do teólogo Johannes Eck, professor da cidade de Ingolstadt.

A resposta do papa foi colocar a questão debaixo da jurisdição dos agostinianos, cuja próxima reunião capitular seria em 26 de abril de 1518, conhecida hoje como a Disputa de Heidelberg, cidade onde aconteceu. Para lá foi Lutero, temendo por sua vida, mas encontrando amplo apoio por parte dos monges ali. Nesta disputa, Lutero pôde elucidar sua teologia, onde pregava a graça de Deus. A questão é que Lutero via seu entendimento sobre esta graça como o alicerce para seu ataque às indulgências. Foi em Heidelberg que Lutero convenceu muitos futuros reformadores, entre eles Martin Bucer, sobre a veracidade de sua teologia.

Assim, o papa Leão X teve que tomar outro caminho. Se reuniria em Augsburgo, em outubro de 1518, a dieta do império, ou seja, a assembléia de todos os potentados alemães, sob presidência do imperador Maximiliano. O legado papal para esta dieta era o cardeal Cajetano, cuja grande missão era convencer os príncipes alemães da necessidade de empreender uma cruzada contra os turcos, que ameaçavam a Europa, e de promulgar um novo imposto para este fim. O papa então comissionou Cajetano a se entrevistar com Lutero e o obrigar a se retratar. Se o monge negasse, deveria ser levado prisioneiro a Roma.

No entanto, o príncipe eleitor Frederico, o Sábio da Saxônia, em cuja jurisdição vivia Lutero, obteve um salvo conduto do imperador Maximiliano para Lutero, a quem se dispôs a ajudar em Augsburgo, mesmo sabendo que pouco mais de cem anos antes, e em circunstâncias muito parecidas, Jan Huss tinha sido queimado em violação a um salvo-conduto imperial.

A entrevista, que ocorreu entre 12 e 14 de outubro, não rendeu o resultado desejado. O cardeal se recusava a discutir com o monge e exigia sua renúncia. Por outro lado, Lutero não estava disposto a se retratar antes de ser convencido de seu erro. Quando descobriu que Cajetano poderia levá-lo a Roma como prisioneiro, abandonou a cidade às escondidas na noite do dia 20 para o dia 21.

Frederico ajudava Lutero não por que estava convencido por suas doutrinas, mas sim por que ele desejava que fosse dado um tratamento justo a Lutero. Ele desejava evitar o que havia acontecido com Jan Huss anos antes. Assim estavam as coisas, quando em janeiro de 1519, morre o imperador Maximiliano. A escolha de sucessores ao trono alemão não era feita por sucessão, e sim por eleição. Logo começou-se a discutir quem seria o sucessor de Maximiliano. Os dois candidatos mais poderosos eram Carlos I da Espanha e Francisco I, da França. Para o papa, nenhum dos dois candidatos convinha ser eleito, já que o império alemão fortaleceria qualquer um dos dois de forma desproporcional. Roma precisava de um candidato cujos atrativos residiam não no poder, mas sim, na sabedoria e justiça. E por isto não havia candidato melhor que Frederico.

Desta forma, como Frederico defendia Lutero até que este tivesse um julgamento justo pelo menos, Leão X prorrogou a condenação de Lutero, enquanto se aproximava do eleitor que o protegia. Por fim, Karl von Miltitz, parente de Frederico, foi enviado pelo papa à Alemanha, para obter uma solução amigável. Em entrevista com Lutero, conseguiu deste a promessa de não continuar a controvérsia desde que seus inimigos fizessem o mesmo. Isto trouxe uma breve trégua.

Isto durou até que Johannes Eck desafiasse, não Lutero, mas sim Karlstadt, colega de Lutero na universidade de Wittenberg, a um debate em Leipzig a cerca das doutrinas do livre-arbítrio e da graça, que ocorreu em Junho de 1519. Karlstadt havia se convencido das doutrinas de Lutero, porém era muito mais impetuoso e exagerado que Lutero. Como suas doutrinas seriam discutidas em Leipzig, Lutero declarou que participaria também do debate.

Quando chegou o momento de Eck e Lutero debaterem, ficou claro que Lutero conhecia mais sobre as Escrituras, enquanto Eck estava mais à vontade nas matérias de Direito Canônico e Teologia Medieval. O assunto do debate foi expandido, e Eck foi mais hábil em levar a discussão para as áreas que dominava. Assim, Eck obrigou Lutero a declarar que o Concílio de Constança havia se enganado ao condenar Huss, e que um cristão com a Bíblia, no seu entender, tem mais autoridade que todos os papas e os concílios contra ela. Isto foi o suficiente para Eck acusar Lutero de herege, por apoiar um herege condenado (Huss) por um concílio ecumênico.

Neste tempo, Carlos I da Espanha já havia sido eleito imperador alemão, por isto o papa não precisaria mais adiar nenhuma condenação de Lutero. Por outro lado, os defensores da causa de Lutero souberam aproveitar bem as condições políticas em seu favor. Além do número sempre crescente de seus seguidores, Lutero tinha as simpatias dos humanistas, que viam nele um defensor da reforma que eles mesmos propunham, e dos nacionalistas, para quem o monge era o porta-voz do protesto alemão diante dos abusos de Roma.

EXCOMUNHÃO

Assim, o papa tardiamente agiu, enviando a bula Exsurge domine, em 15 de junho de 1520, onde ordenava que os livros de Lutero fossem queimados, dando ainda sessenta dias para se submeter à autoridade romana, sob pena de excomunhão e anátema. As obras do Reformador foram queimadas em muitos lugares onde foi recebida. No entanto, quando Lutero a recebeu, a queimou juntamente com outros livros com as doutrinas dos papistas. Este era o rompimento definitivo.

                                                               DIETA DE WORMS


Embora o imperador Carlos V fosse católico fervoroso, não hesitou em usar o caso de Lutero para obter o apoio papal. Em todo caso, decidiu-se que Lutero deveria comparecer à dieta de Worms, que ocorreu de 28 de janeiro até 25 de maio de 1521. Esta dieta reunia vários súditos do império, e o príncipe eleitor Frederico obteve salvo-conduto para que Lutero pudesse comparecer à dieta, o que ocorreu no dia 18 de abril.

No interrogatório, Lutero foi apresentado a vários livros de sua autoria, para ser questionado se eles eram realmente seus livros, o que ele confirmou. Sendo confirmada a autoria dos livros, o interlocutor perguntou a ele se ele continuava sustentando as doutrinas ensinadas naqueles livros.

Este era um momento muito difícil para Lutero, que temia não o imperador ou o papa, mas sim a Deus, que os ordenara. Assim, pediu um dia para refletir sobre sua resposta.

No dia seguinte, a pergunta foi refeita. Em sua resposta, Lutero dividiu seus escritos em três categorias: a primeira não era mais que a doutrina cristã que tanto ele como seus inimigos sustentavam, e portanto ninguém deveria pedir-lhe que se retratasse daquilo. A segunda parte tratava sobre a tirania e as injustiças a que estavam submetidos os alemães, e também disto não se retrataria, pois tal não era o propósito da dieta, e tal negação somente contribuiria para aumentar a injustiça que se cometia. A terceira parte, que consistia em ataques a certos indivíduos e em pontos de doutrina que seus oponentes refutavam, certamente não havia sido escrita com demasiada aspereza. E assim tão pouco dela se retrataria, a não ser que lhe convencessem de que estava enganado.

Seu interlocutor insistiu: “Retratas-te, ou não”? E Lutero lhe respondeu em alemão mesmo “Não posso nem quero retratar-me de coisa alguma, pois ir contra a consciência não é justo nem seguro. Deus me ajude. Amém”. Alguns ainda dizem que ele acrescentou as palavras: “Aqui estou e não posso fazer diferente”. Mas atualmente se acredita que tais palavras foram adicionadas posteriormente.

Nos próximos 5 dias conferências foram mantidas para se decidir o destino de Lutero. Temendo pela própria vida, Lutero fugiu de Worms, antes que sua condenação fosse declarada. Durante a fuga, Lutero foi sequestrado por um grupo de homens armados, a mando de Frederico, o sábio, e foi levado ao castelo de Wartburg, em segredo. Ali Lutero passaria um bom tempo escondido.

                                                         TRADUÇÃO DA BÍBLIA


Lutero ficaria no castelo de Wartburg até 1 de março de 1522, sob o pseudônimo de Junker Jörg. Dedicaria seu tempo a escrever, e entre as obras mais importantes de Lutero, está o início da tradução do Novo Testamento para o alemão, obra que ele terminaria 2 anos depois (o Velho Testamento levaria mais de 10 anos). Esta importante obra deu forma ao idioma alemão, além de permitir o povo a ler as Escrituras.

Enquanto Lutero estava no exílio, vários de seus colaboradores continuaram seu trabalho em Wittenberg, entre eles Karlstadt e Phillip Melanchthon. Lutero era tão temente a Deus que tinha vacilado em dar os passos concretos que seguiam sua doutrina. Em sua ausência, estes passos foram dados de forma mais rápida. Muitos monges e freiras deixaram seus conventos e se casaram, o culto foi simplificado, usava-se o alemão no culto, abandonou-se as missas pelos mortos, cancelaram-se os dias de abstinência e jejum. Melanchthon começou a oferecer a comunhão de ambos os modos, dando o cálice para os leigos também.

Isto era bem visto para Lutero no começo, mas quando Karlstadt começou a se dedicar a derrubar imagens, Lutero lhes aconselhou moderação. O clima instável em Wittenberg facilitou a entrada de três leigos conhecidos por Profetas de Zwickau, que diziam que Deus lhes falava diretamente, e não tinham necessidade das Escrituras. Melanchthon não sabia responder a estas pretensões, então pediu conselhos a Lutero em Wartburg. Este percebeu que o que estava em jogo era nada mais nada menos que o Evangelho, e retornou a Wittemberg, em 6 de março de 1522.

O retorno a Wittenberg pôde ser feito em segurança, por causa das condições políticas. Pouco tempo depois da dieta de Worms, o papa Leão X morria. Carlos V, embora quisesse acabar com o protestantismo luterano, tinha problemas com Francisco I, da França, e não podia molestar seus súditos alemães.

Por oito dias ele pregou 8 sermões conhecidos por Sermões Invocavit, onde ele se concentrou nos valores cristãos do amor, paciência, caridade e liberdade, lembrando os cidadãos para que confiem em Deus e não na violência para que eles consigam as mudanças necessárias. O efeito da intervenção de Lutero foi imediato.

CASAMENTO E FAMÍLIA

Em abril de 1523, Katharina von Bora e outras 8 freiras fogem do convento cisterciense de Nimbschen, na Saxônia. Desde então, elas vivem em Wittenberg. Posteriormente, em 13 de junho de 1525, Katharina e Lutero se casam, adiando as festividades para o dia 27.

Nesta época, alguns pastores já haviam se casado, como Andreas Karlstadt e Justus Jonas, mas o casamento de Lutero deu o selo de aprovação ao casamento clerical. Lutero já havia condenado o celibato usando bases bíblicas, mas mesmo assim a decisão de se casar pegou todos de surpresa.

Katharina passa então a ser de grande ajuda aos problemas pessoais de Lutero. Através do abrigo de estudantes e da anotação de vários discursos de Lutero, ela preveniu várias dificuldades econômicas. Juntos tiveram 6 filhos:

Johannes, nascido em 7 de junho de 1526 em Wittenberg, falecido em 27 de Outubro de 1575 em Königsberg (Preußen),
Elisabeth, nascida em 10 de dezembro de 1527 em Wittenberg, falecida em 3 de agosto de 1528 em Wittenberg,
Magdalena, nascida em 4 de maio de 1529 em Wittenberg, falecida em 20 de setembro de 1542 em Wittenberg,
Martin, nascido em 7 de novembro de 1531 em Wittenberg, falecido em 4 de Março de 1565 em Wittenberg,
Paul, nascido em 28 de janeiro de 1533 em Wittenberg, falecido em 8 de Março de 1593 em Leipzig,
Margarethe, nascida em 17 de dezembro de 1534 em Wittenberg, falecida em 1570 em Mühlhausen/Ostpreußen.
REBELIÃO DOS CAMPONESES

Em 1525, estoura a rebelião dos camponeses. Estes tinham sofrido por várias décadas uma opressão sempre crescente e já haviam ocorrido rebeliões em 1476, 1491, 1498, 1503 e 1514. Porém nenhuma delas teve a magnitude da de 1525. Além disto, a baixa nobreza acabara de perder suas poucas terras para a alta nobreza.

A esta nova rebelião, um novo fator se somou: a pregação dos reformadores. Embora Lutero não cria que sua pregação devesse ser aplicada em termos políticos, houve muitos que não estiveram de acordo com ele nesse ponto. Entre eles estava Tomás Muntzer, natural de Zwickau, tendo doutrinas que se pareciam muito com as dos profetas de Zwickau.

À parte de Muntzer, a revolta também possuía um caráter religioso. Quando elaboraram seus “doze artigos”, os camponeses apresentaram várias demandas econômicas, mas outras eram religiosas. Porém tratavam de baseá-las todas nas Escrituras, e seu último artigo declarava que, caso fosse provado que algum de seus pedidos era contrário às Escrituras, ele seria retirado.

Em todo caso, Lutero não sabia como responder a essa nova situação. Possivelmente sua doutrina dos dois reinos era mais difícil de entender do que praticar. Quando primeiramente leu os “doze artigos”, ele se dirigiu aos príncipes, dizendo-lhes que o que se pedia era justo. Mas quando a rebelião tomou forma, e os camponeses se armaram, Lutero tratou de dissuadi-los e posteriormente instou aos príncipes que tomassem medidas repressivas. No entanto, quando a rebelião foi sufocada com violência, o Reformador exigiu misericórdia para com os vencidos.

As consequências de tudo isto foram funestas para a causa da Reforma. Os príncipes católicos culparam o luteranismo pela rebeldia e, a partir de então, proibiram todo intento de pregar-se a reforma em seus territórios. E quanto aos camponeses, muitos deles abandonaram o luteranismo, e regressaram à velha fé ou se tornaram anabatistas.

ORGANIZAÇÃO ECLESIÁSTICA

Os problemas políticos continuavam impedir que Carlos V aplicasse as resoluções da dieta de Worms. Isto deu a Lutero tempo suficiente para organizar o culto.

Assim, de 1525 a 1529, Lutero estabeleceu um corpo eclesiástico supervisório, estabeleceu uma nova forma de adoração, e elaborou dois catecismos.

Para não confundir muito o povo, Lutero não fez mudanças muito drásticas no culto. Isto não foi bem visto por outros reformadores, que viam no culto de Lutero um culto muito papista. Por outro lado, Lutero escreveu vários hinos, se destacando como escritor de hinos.

COLÓQUIO DE MARBURGO

Em outubro de 1529, Filipe I de Hesse, adepto do protestantismo, convoca uma reunião de teólogos alemães e suíços no Colóquio de Marburgo, a fim de estabelecer a unidade dos Estados protestantes emergentes. Após discussões, 14 dos 15 pontos discutidos tiveram concordância por parte de todos. A única exceção seria sobre a natureza da Eucaristia, onde Lutero e Zuínglio discordavam, e se relacionava estritamente com o restante de suas teologias.

Além de Lutero e Zuínglio, o Colóquio contou com a participação de Johannes Agricola, Johannes Brenz, Martin Bucer, Caspar Hedio, Justus Jonas, Filipe Melanchthon, Johannes Oecolampadius, e Andreas Osiander.

Sobre a questão Eucarística, os teólogos alemães e suíços nunca chegaram a um consenso. No entanto, o colóquio de Marburgo foi importante para a formulação da confissão de Augsburgo.

CONFISSÃO DE AUGSBURGO

A dieta de Spira, em 1529, tomou um rumo muito diferente das dietas anteriores, que não tomaram nenhuma medida em relação às decisões da dieta de Worms. Naquele momento o imperador Carlos V era mais poderoso e vários príncipes que antes tinham sido moderados passaram para o lado católico. Ali se reafirmou o edito de Worms. Foi então que os príncipes luteranos protestaram formalmente e, por isso, a partir desse momento, começaram a chamá-los “protestantes”.

Finalmente, Carlos V regressou à Alemanha em 1530, para a celebração da dieta de Augsburgo. Na dieta de Worms, o Imperador não tinha desejado ouvir sobre o que se tratava o debate. Porém agora, tendo em vista o curso dos acontecimentos, pediu que lhe apresentassem uma exposição ordenada dos pontos em discussão. Esse documento, preparado primeiramente por Melanchthon, é o que se conhece como a “Confissão de Augsburgo”. No princípio representava somente os protestantes da Saxônia. Porém, pouco a pouco outros foram firmando-o e logo chegou a servir para apresentar ao Imperador uma frente quase que totalmente unida (havia outras duas confissões minoritárias que não concordavam com esta da maioria dos protestantes).

Novamente o Imperador encolerizou-se e deu aos protestantes um prazo até abril do ano seguinte para se retratar.

Diante da ameaça imperial, Lutero chegou à conclusão que era lícito pegar as armas em defesa própria contra o Imperador. Os territórios protestantes formaram então a União de Esmalcalda, cujo propósito era fornecer resistência ao edito imperial, se Carlos V decidisse impô-lo pelas armas.

No entanto, questões políticas impediram novamente de Carlos V fazer o que prometia. Sendo ameaçado pelos turcos e por Francisco I, teve que recorrer aos súditos alemães, iniciando as negociações entre protestantes e católicos, chegando-se então à paz de Nuremberg, em 1532.

Segundo o acordo, era permitido aos protestantes continuar com sua fé, sem estendê-la a outros territórios. O edito imperial de Augsburgo seria suspenso e os protestantes ofereceriam ao Imperador seu apoio contra os turcos.

O PROBLEMA DA BIGAMIA DE FILIPE DE HESSE

Filipe de Hesse, que havia de ser um forte aliado dos protestantes, tinha porém uma vida muito licenciosa. Assim que casou com a doente Christina da Saxônia, Filipe passou a cometer adultério. Já em 1526, Filipe considerava a permissividade da bigamia. Desta forma ele escreve a Lutero, alegando precedência dos patriarcas. Lutero escreve em 28 de novembro de 1526, que não era suficiente considerar os atos dos patriarcas, mas que ele deveria ter sanção divina para tal ato. Como não havia tal sanção, Lutero desencorajou tal ato, principalmente para cristãos, a menos que houvesse necessidade extrema, como por exemplo se a esposa fosse leprosa ou tivesse qualquer outra anormalidade.

Mesmo com o desencorajamento, Filipe continuou sua determinação em obter aprovação para a bigamia. Para isto, contribuiu muito os discursos de Lutero sobre o Gênesis, assim como precedentes históricos onde algo não cristão não fosse punido por Deus no caso dos patriarcas, que são chamados no Novo Testamento de modelo de fé. Assim ele propõe casamento a Margarethe von der Saale, que só concorda com isto caso seja aprovado pelos teólogos e o príncipe eleitor da Saxônia.

Filipe então ameaça o príncipe Butzer de se aliar ao Imperador, caso este não consiga convencer os teólogos a lhe ajudar. Lutero e Melanchthon são convencidos então pelos pedidos de necessidades éticas de Butzer. Assim, o “conselho secreto de um confessor” foi obtido de Lutero e Melanchthon em 10 de dezembro de 1539, sem que os dois soubessem que a esposa já tinha sido escolhida.

Butzer e Melanchthon foram chamados, sem nenhuma razão apontada, para irem a Rotenburg no Fulda, onde em 4 de março de 1540, Filipe e Margarethe se uniram.

Posteriormente este caso foi revelado pela irmã de Filipe, e se tornou um escândalo, onde a reputação de Lutero sairia manchada.

ÚLTIMOS ANOS

Lutero já vinha sofrendo de várias doenças perto do fim de sua vida. Lutero teria pregado seu último sermão em Eisleben, em 15 de fevereiro de 1546.

A viagem final de Lutero foi para Mansfeld, a fim de resolver problemas de parentes seus na mina que era de seu pai. Tudo foi resolvido de forma bem sucedida em 17 de fevereiro de 1546. Depois das 8 da noite do mesmo dia, Lutero começou a sentir fortes dores no peito. Ele morreria então no dia 18 de fevereiro de 1546.

Seu funeral foi feito pelos seus amigos Johannes Bugenhagen e Filipe Melanchthon, sendo enterrado na igreja do castelo de Wittenberg, embaixo do púlpito.



Fonte: e-cristianismo

35 - A Resposta Católica: Casamento em igreja protestante é válido?

28 de maio de 2013

A Eucaristia centro da Vida cristã

A celebração da Eucaristia é o centro de toda a vida cristã, tanto para a Igreja universal como para as comunidades locais da mesma Igreja.
Com efeito, «os outros sacramentos, como todos os ministérios eclesiásticos e as obras de apostolado, estão ligados à santíssima Eucaristia e a ela se ordenam. Efetivamente, na santíssima Eucaristia está contido todo o bem espiritual da Igreja, que é o próprio Cristo, nossa Páscoa e pão vivo, que, pela sua carne vivificada e vivificadora sob a ação do Espírito Santo, dá a vida aos homens, os quais são assim convidados e levados a oferecerem-se juntamente com Ele, a si mesmos, os seus trabalhos e toda a criação».1

Além disso, «a celebração da Eucaristia no sacrifício da Missa é verdadeiramente a origem e o fim do culto que à mesma Eucaristia se presta fora da Missa».2
 De fato, Cristo nosso Senhor, que «é imolado no sacrifício da Missa quando começa a estar presente sacramentalmente como alimento espiritual dos fiéis sob as espécies do pão e do vinho», também, «depois de oferecido o sacrifício, enquanto se conserva a Eucaristia nas igrejas ou oratórios, é verdadeiro Emanuel, isto é, «Deus connosco». Com efeito, de dia e de noite Ele está no meio de nós e habita em nós «cheio de graça e de verdade».3

A ninguém, portanto, é permitido duvidar «que todos os cristãos devem prestar com veneração a este santíssimo Sacramento o culto de latria que é devido ao verdadeiro Deus, segundo o costume desde
sempre recebido na Igreja Católica. pois não deve ser menos adorado pelo fato de o Senhor Jesus Cristo o ter instituído com o fim de ser comido».4

Para orientar e alimentar corretamente a piedade para com o santíssimo Sacramento da Eucaristia, deve considerar-se o mistério eucarístico em toda a sua plenitude, tanto na celebração da Missa como no culto das sagradas espécies, que se conservam depois da Missa para prolongar a graça do sacrifício.5

26 de maio de 2013

NOVAS MUDANÇAS NA MISSA? parte II


I. NOVIDADES

As novidades propriamente ditas são poucas. Eis as mais significativas.

Abolição do altar voltado para a parede. 

- O Missal Romano ainda permitia o altar voltado para a parede, sobretudo em igrejas antigas. Agora se exige o altar voltado para o povo. Assim o altar deverá estar separado da parede, permitindo a locomoção do celebrante e dos ministros na celebração (cf. n. 299).

A posição do tabernáculo. 

- O tabernáculo não pode mais estar sobre ou embutido no altar da celebração eucarística. É de singular importância que o Santíssimo esteja numa capela reservada, ou no sacrário separado do altar da celebração. Numa capela, esta deverá estar conectada com a igreja e acessível aos fiéis. Se, ao contrário, se utiliza o sacrário no lugar da celebração, este não deverá estar no altar onde se celebra a Missa, sendo que a decisão sobre a colocação do sacrário pertence ao juízo do bispo diocesano (cf. n. 314-315).

Se a Eucaristia se encontra no sacrário, aqui, sinônimo de presbitério, o sacerdote, o diácono e outros ministros fazem uma genuflexão, quando se aproximam ou abandonam o altar, salvo durante a celebração da missa. Mas, os que não estão envolvidos na celebração da missa, deverão fazer a genuflexão, cada vez que passam diante do altar do Santíssimo Sacramento. Aqui parece tratar-se, do altar do Santissimo Sacramento e não do tabernáculo situado atrás do altar. Portanto, o sacerdote, o diácono e todos os ministros só fazem genuflexão ao Santíssimo ao chegar ao altar no início da Celebração eucarística e no fim (cf. n. 274).


II. INSISTÊNCIAS E PROIBIÇÕES

O canto do Ordinário da Missa dialogado com a assembléia. 

- Trata-se do primeiro nível ou do primeiro grau de Missa cantada. De modo geral a Instrução expõe a importância do canto da Missa:

“Dê-se grande valor ao uso do canto na celebração da Missa, tendo em vista a índole dos povos e as possibilidades de cada assembléia litúrgica. Ainda que não seja necessário cantar sempre todos os textos de per si destinados ao canto, por exemplo nas Missas dos dias de semana, deve-se zelar para que não falte o canto dos ministros e do povo nas celebrações dos domingos e festas de preceito.

Na escolha das partes que de fato são cantadas, deve-se dar preferência às mais importantes e sobretudo àquelas que o sacerdote o diácono, o leitor cantam com respostas do povo; ou então àquelas que o sacerdote e o povo devem proferir simultaneamente” (n. 40). Estas últimas são as chamadas partes do Comum da missa. Em último lugar vem o canto das partes próprias da Missa, ou seja, o canto da entrada, das oferendas e da Comunhão.

Mais adiante, no item que trata da Oração eucarística se diz o seguinte:
“É muito conveniente que o sacerdote cante as partes da Oração eucarística, enriquecidas pela música” (n. 147b).

Nos Ritos orientais o canto do sacerdote em diálogo com a assembléia é intensamente cultivado. Não tanto no Ocidente. Mas no tempo da Missa em latim certamente o sacerdote cantava mais. Eram as missas solenes com três padres, ou três ministros, o sacerdote presidente, o diácono e o subdiácono.
Ou eram as Missas cantadas. Por que este quase abandono do canto do sacerdote?
Houve ao menos duas causas. Feita a tradução dos textos latinos do Missal faltaram as melodias em vernáculo, inclusive porque os especialistas em música religiosa quiseram fazer preceder toda uma pesquisa que servisse de base para as novas melodias. Sorte que a edição do Missal pela Vozes inseriu em encarte melodias inspiradas no Canto gregoriano que praticamente são as únicas usadas quando o sacerdote canta partes da Missa. Temos ainda um segundo motivo: a falta de formação musical nos Seminários. Já não conseguem solfejar. Hoje em dia praticamente só se canta por ouvido. Hoje, graças a Deus já existe um material musicado mais abundante.

O canto gregoriano. 

- Insiste-se que o canto gregoriano ocupe o primeiro lugar entre as demais expres-sões do canto por ser próprio da Liturgia romana. Contudo não se excluem outros gêneros de canto (cf. n. 41).

O Glória e o Cordeiro de Deus. 

- Há uma proibição explícita de se substituir o texto do hino do Glória por outro (cf. n. 41). Acontece o mesmo com o Cordeiro de Deus (cf. n. 366). Esta substituição tornou-se costume que se espalhou por alguns países.

Trata-se de um venerável hino de louvor à Santíssima Trindade, com caráter cristológico e pascal. Por isso, não pode ser substituído por um simples canto de glória. Faz parte de antiga tradição da Igreja oriental e depois também da ocidental. No Ocidente inicialmente era proclamado somente pelo Papa em Roma; depois, no dia da Páscoa e pelos presbíteros, em sua Missa primicial.

Aos poucos começou a ser cantado em dias solenes, como grande doxologia, desdobramento do Kyrie. Na reforma pós-conciliar, voltou a ser previsto somente nos domingos não roxos, nas Festas e Solenidades. Sendo um hino em prosa, é um pouco difícil de ser cantado por toda a assembléia. Temos agora uma versão opcional para o canto, em cinco estrofes.

Há muito vínhamos insistindo que não se substituísse o Glória por “glorinhas”, meras aclamações trinitárias, ou outro canto de glória como se começou a chamar este canto. O Glória, como o Cordeiro de Deus fazem parte do Ordinário da Missa. O que se diz aqui do Glória e do Cordeiro de Deus vale “a fortiori” do Santo.

O “Santo”. 

- O que vale para o Glória e o Cordeiro de Deus, vale “a fortiori” do Santo. O Sanctus faz parte integrante da Oração eucarística. Constitui grande doxologia que abre o “Santo dos Santos” da Oração eucarística. Aclamação inspirada na Bíblia ressalta dois aspectos de toda a Liturgia, mas sobretudo do Sacrifício eucarístico: seus aspectos transcendente e imanente. No Santo existem ao menos três elementos fundamentais a serem considerados: A santidade de Deus, o Deus transcendente. O aspecto numinoso do mistério. Depois, a majestade de Deus, bem como sua glória manifestada na criação:

O céu e a terra estão cheios da vossa glória. Seria esta a tradução mais autêntica do texto original latino: Pleni sunt caeli et terra gloria tua. A nossa tradução O céu e a terra proclamam a vossa gloria aceita e aprovada no convênio com Portugal, certamente enfraquece um pouco o sentido do original, onde se realça a ação de Deus e não tanto a resposta da criação.
O terceiro aspecto é a imanência de Deus. Por isso: Bendito o que vem em nome do Senhor. É a teofania, a manifestação de Deus no mistério de Encarnação do Filho, Jesus Cristo.

Acontece que o memorial das obras maravilhosas deste Deus é retomado após a aclamação do Santo, a partir de um dos elementos da própria aclamação. Por exemplo, na Segunda Oração eucarística:

Na verdade, ó Pai, vós sois santo e fonte de toda a santidade. Santificai, pois... A partir do reconhecimento do Deus Santo, passa-se à invocação do Espírito Santo na chamada epiclese. Em outras orações eucarísticas, como na Quarta, retoma-se a proclamação a partir da plenitude da glória do Deus santo que enche o céu e a terra; retoma-se a narração a partir da obra de Deus da criação. Assim, retomar a Oração eucarística após um canto onde mal ocorre a palavra santo constitui um grave empobrecimento e uma distorção da própria Oração eucarística. Não há, pois, lugar para traduções adaptadas, muito menos introduzindo o termo Javé para Deus.
A Linha 4 da Liturgia da CNBB pede que, por respeito aos judeus que não pronunciam esta palavra, não se use esse nome para Deus na Liturgia.

A Palavra de Deus. 

- As leituras e o Salmo responsorial sejam bíblicas (cf. n. 57). Portanto, não podem ser substituídos por outros textos por mais nobres que eles sejam. O Salmo responsorial faz parte da celebração da Palavra de Deus. É como que mais uma leitura em forma de salmo. É Deus falando na resposta orante da assembléia. Deve ser superada a concepção de que o Salmo responsorial é uma mera meditação da Palavra de Deus e assim o conceito de mero canto de meditação.

Proclamação da Palavra de Deus. - Tratando da Liturgia da Palavra a Instrução não usa mais os termos “ler” ou “recitar” a Palavra, mas “proclamar” as leituras, o Evangelho (cf. n. 128, 130 e 135).

Por trás desta mudança podemos perceber a insistência no caráter celebrativo da Palavra, que não é mera leitura, mas anúncio. A esta atitude deverá corresponder também o modo de os fiéis acolherem a Palavra de Deus, ou seja, pela audição. Daí podemos concluir que não convém que os féis acompanhem a proclamação através da leitura de folhetos. Os fiéis não se reúnem para uma leitura comunitária da Palavra de Deus, mas para ouvi-la. Não seria o caso de se modificarem os “folhetos litúrgicos”? Por exemplo, trazendo apenas a indicação das “leituras”?

A presidência única da Missa. - Insiste-se que um e o mesmo sacerdote exerça a presidência da Missa (cf. n. 108).
Exclui-se, portanto, uma presidência que começou a ser chamada de presidência colegiada. Isso não exclui a participação dos concelebrantes em partes que lhes são confiadas pelas próprias normas da celebração.

Aqui tem sentido uma reflexão sobre o respeito à palavra em geral e à palavra do presidente da celebração. A palavra constitui uma das principais formas de as pessoas se comunicarem. Na Liturgia ela tem valor de símbolo em si mesma e constitui o meio mais comum de se dar sentido às ações e aos sinais. Isso vale sobretudo quando alguém usa da palavra em solo. Diz a Introdução ao Missal:

“A natureza das partes “presidenciais” exige que sejam proferidas em voz alta e distinta e por todos atentamente escutadas. Por isso, enquanto o sacerdote as profere, não haja outras orações nem cantos, e calem-se o órgão ou qualquer instrumento” (cf. 32). O que se diz das partes “presidenciais” vale das leituras e preces proclamadas por outros ministros. Também no canto comunitário, importa que a melodia, o ritmo e os instrumentos não sufoquem a letra. Importa considerar o caráter dialogal da celebração litúrgica.

Vestes litúrgicas. 

- Insiste-se que os presbíteros ao concelebrarem a missa estejam revestidos das vestes sagradas (cf. n. 114). Curioso que não se fala de vestes litúrgicas, mas de vestes sagradas.

Comunhão de hóstias consagradas na missa. 

- Já tive a tentação de escrever um artigo sobre cacoetes litúrgicos. Os presidentes sofrem tremendamente de certos cacoetes, difíceis ou quase impossíveis de serem corridos, como qualquer cacoete. Há sacerdotes que continuam a traçar o sinal da cruz sobre a água que vão colocar no cálice. Ou traçam o sinal da cruz com a hóstia que vão comungar. Fazem inclinação da cabeça às palavras do início do Prefácio:

Demos graças ao Senhor, nosso Deus. Fazem inclinação às palavras introdutórias à narração da Instituição: deu graças. Ora tudo isso não mais existe. Outros cacoetes se eternizam pela lei do menor esforço. Um deles é a mania de colocar tudo quanto é coisa sobre o altar no início da celebração.

Outro é insistir na distribuição da Sagrada Comunhão com hóstias consagradas em celebrações anteriores. Ora, não só o padre, mas também os fiéis em geral são insistentemente convidados a comungarem do pão eucarístico consagrado missa que está sendo celebrada. É pela ação de graças que Cristo se torna presente na Ceia do Senhor. Diz a Introdução ao Missal:

“É muito recomendável que os fiéis recebam o Corpo do Senhor em hóstias consagradas na mesma Missa e participem do cálice nos casos previstos, para que, também através dos sinais, a comunhão se manifeste mais claramente como participação do Sacrifício celebrado” (n. 85).

Não se justifica, pois, obrigar os fiéis a comungarem somente de hóstias tomadas do sacrário. É válido, quando faltam hóstias consagradas na Missa ou para renovar a reserva do sacrário. Cuidar disso é sobretudo função dos sacristães e dos ministros extraordinários da Comunhão eucarística. Mas, o responsável último é o sacerdote celebrante.

A Sagrada Comunhão recebida só do ministro. 

- Os comungantes nunca podem receber a Comunhão, tomando-a por própria iniciativa sobre o altar e muito menos uns dos outros, senão somente do sacerdote ou ministro da Eucaristia (cf. n. 16).

O silêncio. 

- A comunicação na Liturgia é globalizante. Expressa-se não só pela palavra. A participação ativa se faz através de todos os sentidos do ser humano: ela se realiza pelos olhos, pelos ouvidos, pela boca, o gosto, o olfato, o tato, a ação, o movimento e pelo silêncio. Mas um silêncio significativo, um silêncio eloqüente. Por isso, a Instrução insiste sobre o silêncio, sobretudo após as leituras e após a homilia (cf. n. 136). E no n. 45 se diz:

“Oportunamente, como parte da celebração deve-se observar o silêncio sagrado. A sua natureza depende do momento em que ocorre em cada celebração. Assim, no ato penitencial e após o convite à oração, cada fiel se recolhe; após uma leitura ou a homilia, meditam brevemente o que ouviram; após a comunhão, enfim, louvam e rezam a Deus no íntimo do coração.
Convém que já antes da própria celebração se conserve o silêncio na igreja, na sacristia e mesmo nos lugares mais próximos, para que todos se disponham devota e devidamente para realizarem os sagrados mistérios”.

A Oração eucarística deve ser proferida somente pelo sacerdote. - Eis o que diz a Instrução:

O sacerdote inicia a Oração eucarística. Conforme as rubricas ele escolhe uma das Orações eucarísticas do Missal Romano, ou aprovadas pela Santa Sé. A Oração eucarística, por sua natureza, exige que somente o sacerdote, em virtude de sua ordenação, a profira.
O povo, por sua vez, se associe ao sacerdote na fé e em silêncio e por intervenções previstas no decurso da Oração eucarística, que são as respostas no diálogo do Prefácio, o Santo, a aclamação após a consagração, e a aclamação Amém, após a doxologia final, bem como outras aclamações aprovadas pela Conferência dos Bispos e reconhecidas pela Santa Sé. É muito conveniente que o sacerdote cante as partes da Oração eucarística, enriquecidas pela música (cf. n. 147).

A Oração eucarística é fundamentalmente um memorial, uma recordação dos benefícios de Deus, em especial, do maior de todos, a morte e a ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo. É normal que a história seja contada por uma pessoa e os presentes, ouvindo atentamente a história, interrompam de vez em quando por exclamações ou aclamações. É a maneira própria de a assembléia se manifestar.

Também no memorial do sacrifício eucarístico da morte e ressurreição de Jesus, uma pessoa foi incumbida de narrar a história da salvação, tornando-a assim novamente presente. É o Presidente da assembléia, o sacerdote. A assembléia, por sua vez, em momentos mais significativos se manifesta através das aclamações.

O “Por Cristo”, só do sacerdote. 

- “No fim da Oração eucarística, o sacerdote, tomando a patena com a hóstia e o cálice ou elevando ambos juntos profere sozinho a doxologia: Por Cristo. A término, o povo aclama: Amém. Em seguida, o sacerdote depõe a patena e o cálice sobre o corporal” (n. 151).

O “Por Cristo, com Cristo” é só do padre. Por que?

Porque a Oração eucarística é memorial, ou seja, anuncia narrando os benefícios de Deus à humanidade, particularmente o mistério pascal salvador de Cristo, desde o plano eterno de Deus até a escatologia.
No gênero literário da Oração eucarística é um que narra, que anuncia, que conta. No caso da Eucaristia, é alguém chamado e enviado por Cristo e pela Igreja: o bispo ou o presbítero. Para tanto ele recebeu o Espírito Santo pela imposição das mãos.
A doxologia final da Oração eucarística faz parte desta proclamação. O modo natural de a assembléia se manifestar e intervir na Oração eucarística é pelas aclamações, como o Santo, a Aclamação após a Consagração e o Amém final, fazendo sua a narração.
A doxologia não é aclamação e, por isso, também não é proclamada por toda a assembléia. É, sim, um resumo de toda a Oração eucarística, retomado pelo celebrante e proposto para a aclamação de toda a assembléia.

Intervenções da assembléia durante a Oração eucarística. 

- “O Presidente não intervenha durante a Oração eucarística” (n. 31). Isso vale também para toda a assembléia que poderá manifestar-se segundo o previsto, ou seja, através das diversas aclamações constantes na Oração eucarística.

Uma das aclamações mais importantes é certamente a aclamação após a Consagração. A Instrução insiste: “Após a consagração, tendo o sacerdote dito:

“Eis o mistério da fé”, o povo profere a aclamação, usando uma das fórmulas prescritas” (cf. n. 151).
Não é propriamente uma adoração, mas o testemunho e o anúncio do mistério pascal. A assembléia aclama, professando sua fé no mistério pascal da morte e ressurreição de Cristo.
Deve usar uma das três fórmulas previstas.
Cada uma delas realça um aspecto do sacrifício eucarístico:
a Missa como ação de graças, a Missa como Ceia do Senhor, a fé na salvação pela morte e ressurreição de Jesus Cristo.

O ministro da Santa Comunhão. 

- “Não é permitido aos fiéis receber por si mesmos o pão consagrado nem o cálice consagrado e muito menos passar de mão em mão entre si” (cf. n. 160). Com isso quer-se insistir que o sacerdote não é somente ministro do memorial da morte e ressurreição do Senhor, que torna presente Jesus Cristo no Sacramento, mas é ministro também da Comunhão eucarística.
Em sua ação de servir o Corpo e Sangue do Senhor ele se manifesta como presença do próprio Cristo que distribui o Pão, seu Corpo, e o Cálice, seu Sangue: Jesus tomou o pão, partiu-o e deu a seus discípulos. Na simplicidade e na pobreza os fiéis recebem o Corpo e o Sangue do Senhor, sem deles se apossarem.

NOVAS MUDANÇAS NA MISSA? - parte I

Encíclicas - Novo Missal Romano 

O Concílio Vaticano II, através da Constituição sobre a Sarada Liturgia Sacrosanctum Concilium consagrou o princípio da renovação permanente e da necessidade de uma permanente reforma da Sagrada Liturgia, “pois a Liturgia consta de uma parte imutável, divinamente instituída, e de partes suscetíveis de mudança. Estas, com o correr dos tempos, podem ou mesmo devem variar, se nelas se introduzir algo que não corresponda bem à natureza íntima da própria Liturgia, ou se estas partes se tornarem menos aptas”[1].

Os ritos ou a expressão significativa da Liturgia devem adaptar-se às necessidades de cada tempo para que os mistérios celebrados possam ser compreendidos e vividos pela Igreja celebrante. A reforma litúrgica não foi encerrada para sempre.

Assim se compreende que, após a grande reforma promovida pelo Concílio, haja sempre a necessidade de se retocar os ritos para facilitar a participação frutuosa dos fiéis.

Aqui se trata do centro de toda a Liturgia cristã, a Celebração eucarística ou da Ceia do Senhor que chamamos Missa. O Missal Romano foi profundamente reformado pela Constituição Apostólica Missale Romanum de Paulo VI que aprovava a Institutio Generalis Missalis Romani com o Ordo Missae.

Publicou-se, em seguida, a edição típica do Missale Romanum, em 1970, cuja tradução portuguesa para o Brasil apareceu em 1973. Passados apenas cinco anos, foi publicada a segunda edição típica do Missal Romano com pequenas mudanças e alguns acréscimos. Sua tradução com algumas adaptações para o Brasil apareceu apenas em 1993, onde foram consideradas também as exigências do novo Código de Direito Canônico.

Mas, de 1975 ao ano de 2000, o Magistério central da Igreja a quem pertence em primeiro lugar a regulamentação da Sagrada Liturgia[2], decretou uma série de orientações a respeito do Missal Romano, que agora foram incorporadas na terceira edição típica da Instrução Geral sobre o Missal[3]. À luz destas normas da legislação litúrgica posterior à primeira edição típica do Missal Romano, será reeditada a terceira edição típica de todo o Missal com repercussão particularmente sobre as rubricas do Ordinário da Missa.

Esperavam-se algumas mudanças mais profundas no Ordinário da Missa, particularmente referentes ao Rito penitencial e à localização da saudação da paz. Isso não aconteceu na atual edição típica. Em geral, o novo documento mantém os princípios do anterior Missal Romano. Trata-se antes de incorporar a legislação já existente e de adições, de insistências, de pequenas mudanças e acréscimos, especificações que permitem esclarecer ou enfatizar alguns conceitos e, a meu ver, de alguns retrocessos.

Para muitos certas mudanças apresentadas na nova Instrução Geral poderão constituir até novidades.

Frei Alberto Beckhäuser, OFM - 2000



25 de maio de 2013

IMPORTÂNCIA E DIGNIDADE DO SACRAMENTO DO MATRIMONIO

A aliança matrimonial, pela qual o homem e a mulher constituem entre si uma comunhão total de vida,  recebe a sua força e vigor da própria criação, mas para os cristãos é elevada a uma dignidade ainda mais alta, visto ser enumerada entre os sacramentos da nova aliança.

O Matrimonio é constituído pela aliança conjugal, isto é, pelo consentimento irrevogável de ambos os cônjuges que livremente se entregam e se recebem. Esta singular união do homem e da mulher assim como o bem dos filhos exigem e requerem a plena fidelidade
dos esposos e a unidade indissolúvel do vínculo matrimonial.

Pela sua própria índole natural, a instituição do Matrimonio e o amor conjugal ordenam-se à procriação e educação dos filhos, que constituem como que a sua plenitude e a sua coroa;  de facto os filhos são um dom inestimável do Matrimonio e concorrem enormemente
para o bem dos próprios pais.

A íntima comunhão de vida e de amor, pela qual os esposos “já não são dois mas uma só carne”, foi instituída por Deus Criador, dotada de leis próprias e envolvida por uma bênção singular, que nem o castigo do pecado original veio a destruir.por isso este vínculo sagrado não depende da vontade do homem, mas do autor do Matrimonio, que o quis dotar de bens e fins peculiares.

Cristo senhor, constituindo uma nova criatura e fazendo novas todas as coisas,  quis reconduzir o matrimonio à sua primitiva forma e santidade, a fim de que o homem não separe o que Deus uniu; mas, para mais claramente significar a indissolubilidade da aliança
matrimonial e mais facilmente a apresentar como sinal da sua aliança nupcial com a Igreja, quis elevá-la à dignidade de sacramento.

Com a sua presença, o senhor trouxe a bênção e a alegria às bodas de Caná; mudando a água em vinho, preanunciou a hora da nova e eterna aliança: “Assim como outrora Deus veio ao encontro do seu povo com uma aliança de amor e fidelidade, assim agora o Salvador dos homens” se apresenta como esposo da Igreja, firmando uma aliança com ela no seu mistério pascal.

pelo Batismo, chamado precisamente o sacramento da fé, o homem e a mulher inserem-se, uma vez por todas e para sempre, na aliança de Cristo com a Igreja, de modo que a comunidade conjugal  que eles formam seja associada à caridade de Cristo e dotada da virtude do seu sacrifício. Esta nova condição faz com que o Matrimonio válido dos baptizados seja sempre sacramento.

Pelo sacramento do Matrimonio os esposos cristãos significam e participam no mistério da unidade e do amor fecundo entre Cristo e a Igreja;13 por isso, quer ao abraçar a vida conjugal, quer ao acolher e educar os filhos, ajudam-se mutuamente a crescer na santidade, e têm o seu lugar e o seu dom próprio no interior do povo de Deus.

Assim como Cristo amou a Igreja e se entregou a si mesmo por ela, assim, pelo sacramento do Matrimonio, o Espírito santo faz que os esposos cristãos, dotados de igual dignidade, mútua doação e indiviso amor que brota da fonte divina da caridade, se esforcem por alimentar e promover a sua união conjugal; e assim, partilhando juntamente as realidades divinas e humanas, na prosperidade e na provação, perseverem fiéis de corpo e espírito, absolutamente afastados do adultério e do divórcio.

O verdadeiro culto do amor conjugal e todo o sentido da vida familiar, sem menosprezar os outros fins do Matrimonio, tende a que os esposos cristãos se disponham, com fortaleza de ânimo, a colaborar com o amor do Criador e salvador, que por meio deles constantemente dilata e enriquece a sua família.  Assim, os esposos cristãos, confiados na divina providência e cultivando o espírito de sacrifício, dão glória ao Criador e caminham para a perfeição em Cristo, quando se desempenham do seu dever de procriar com responsabilidade generosa, humana e cristã.

Deus, que chamou os esposos ao Matrimonio, continua a chamá-los no Matrimonio. Os que casam em Cristo, procuram, em fidelidade à palavra de Deus, celebrar frutuosamente, viver retamente e testemunhar publicamente o mistério da união de Cristo e da Igreja. Este Matrimonio desejado à luz da fé, preparado, celebrado e assumido na vida quotidiana, “é unido pela Igreja, confirmado pela oblação eucarística, selado pela bênção, anunciado pelos anjos e ratificado pelo Pai... qual jugo de dois fiéis numa única esperança, numa única observância, num mesmo serviço! são irmãos que vivem juntamente, sem qualquer divisão quanto ao espírito ou quanto à carne.
Mais, são verdadeiramente dois numa só carne e onde a carne é única, único é também o espírito”.

23 de maio de 2013

Elementos da Devoção da Divina Misericórdia - Formas de Devoção


Ao longo dos séculos, o Espírito Santo tem suscitado na vida da Igreja diversos modos de responder à vocação comum da santidade (cf. LG 40).

Diversas vezes, homens e mulheres inspirados pelo Senhor se tornaram autênticos modelos de vida, e puseram em destaque um ou outro aspecto da vida e verdade cristãs, dando início a diversas escolas de espiritualidade (cf. Catecismo da Igreja Católica, nn. 2683ss).

Em outras ocasiões, o povo de Deus de uma determinada região se sentiu impelido a expressar a sua fé através de gestos, palavras e símbolos que, com o passar do tempo, se tornaram uma marca registrada de sua história religiosa, alimentando o seu amor a Deus e aos irmãos. Isto sem falar no fato de que a Sagrada Liturgia, cujo centro é a Celebração Eucarística, desde os primórdios do cristianismo também foi assumindo contornos particulares nesta ou naquela região do mundo (rito bizantino, sírio, ambrosiano etc.), mantendo um núcleo comum, mas com elementos rituais bem diversificados.

Liturgia, espiritualidade e piedade popular pretendem ser, na vida da Igreja, expressão de uma mesma fé, esperança e caridade, e, ao mesmo tempo, fomentá-las no coração das pessoas, dos grupos, das comunidades, na diversidade de formas autenticadas posteriormente pela autoridade da Igreja. Como dons do Espírito, não devem estar em conflito, mas confluir para a edificação do Corpo de Cristo, para a encarnação do Reino de Deus no “aqui e agora” (hic et nunc) da história. Abusos e desvios hão de ser discernidos e corrigidos, na certeza de que pelos frutos se conhece a árvore, e igualmente na certeza de que o Senhor deseja dos batizados muito fruto, e frutos que permaneçam.

Neste contexto é preciso resgatar o exato valor das devoções, que deverão sempre estar em processo de purificação e renovação, como de resto toda a vida eclesial, sujeita às vicissitudes dos tempos e às fraquezas humanas.
O recente Diretório sobre piedade popular e liturgia – Princípios e orientações, da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos (17/11/2001), sublinhou o “primado da liturgia” na vida cristã (n. 11), que se insere no âmbito daquilo que é “necessário” para nossa santificação.
Ao mesmo tempo, porém, observa (nn. 7-10) que na vida eclesial há espaço para os “pios exercícios” (expressões públicas ou privadas de piedade cristã calcadas no espírito e na estrutura da Liturgia), para a “piedade popular” (manifestações cultuais derivadas da índole de um povo que tem fé), bem como para as “devoções”. Como entender o conceito de “devoção”? O Diretório assim se expressa:

“No nosso âmbito, o termo vem usado para designar as diversas práticas exteriores (por exemplo: textos de oração e canto; observância de tempos e visita a lugares particulares, insígnias, medalhas, hábitos e costumes), que, animadas por uma atitude interior de fé, manifestam um acento particular da relação do fiel com as Pessoas Divinas, ou com a Beata Virgem (...), ou com os Santos (...)” (n. 8 – destaques nossos). O documento faz referência a outros textos: Concílio de Trento (DS 1821-1825); Pio XII, Encíclica Mediator Dei; SC 104; LG 50.

Vê-se que a Igreja admite a possibilidade de expressões devocionais dirigidas ao Senhor Deus (Pai, Filho e Espírito), focalizando um aspecto particular do Seu inesgotável mistério (ad intra e ad extra); assim, p. ex., temos a devoção ao Pai eterno, à Divina Providência, ao Sangue de Cristo, ao Senhor Bom Jesus, ao “Divino” (Espírito) etc. Se autênticas, brotam de um coração filial e eclesial, uma alma repleta de amor e gratidão, na simplicidade de quem confia não na força de suas palavras, ou na sofisticação das expressões, mas na graça divina.
É por isso que o citado Diretório admite que haja uma “devoção à divina misericórdia” (n. 154), que, como outras devoções, deve caminhar estreitamente unida às celebrações litúrgicas da Igreja, sobretudo a Páscoa do Senhor – e que há de nos conduzir a uma profunda atitude de adoração, louvor e ação de graças, súplica e reparação ao Deus Uno e Trino, rico em misericórdia, particularmente ao Coração Divino-Humano do Verbo Encarnado, fonte inesgotável da misericórdia, e a um empenho efetivo em prol dos irmãos e irmãs, particularmente os sofredores, pecadores e agonizantes, através de obras de misericórdia.

Entre os anos 1931-1938 o Senhor se dignou revelar à Santa Faustina algumas novas formas devocionais que pretendem auxiliar o cristão a se aproximar mais e mais do mistério da Divina Misericórdia – o terço, a novena, a hora, a imagem da Divina Misericórdia (esta, uma vez abençoada, torna-se um sacramental), e uma nova celebração litúrgica, a Festa da Divina Misericórdia (aprovada no ano 2000 e enriquecida com especiais indulgências). Podemos falar de “devoção” em relação ao mistério da Divina Misericórdia – que nasce do “culto” e frutifica no “apostolado”.

A vida dos santos fala por si mesma – é uma teologia encarnada. Ora, Santa Faustina alimentava a sua vida cristã sobretudo da Sagrada Liturgia (vivia intensamente cada celebração do Ano Litúrgico), mas o Espírito não deixava de suscitar nela as mais variadas expressões devocionais relacionadas a Deus e aos Santos (ao Sagrado Coração de Jesus, à Paixão de Cristo, à sua Morte, a Maria, S. José, S. Miguel Arcanjo, S. Teresinha do Menino Jesus, as “Quarenta Horas” de Adoração – cf. Diário, nn. 40; 93; 150; 667; 914; 948; 1029; 1203; 1388; 1641; 1704; 1774), e de um modo especial ao mistério da Divina Misericórdia.

À guisa de conclusão: “devoção”, em seu genuíno sentido, nada tem que ver como “devocionalismo” vazio, supersticioso, desequilibrado, intimista, sectário. Há expressões exteriores de piedade que pretendem ser uma manifestação das virtudes da fé, esperança e caridade, ao mesmo tempo em que as confirmam e fortalecem. Redento M. Valabek, carmelita, ainda faz notar outra dimensão da autêntica “devoção” cristã: ela pretende indicar “o obséquio e o empenho devido em primeiro lugar a Deus”, ou seja, é uma “atitude habitual/permanente em uma pessoa que, com fervor, prontidão e constância, oferece a Deus o seu serviço expresso em várias formas”, chegando em algumas circunstâncias ao “sacrifício da própria vida” (Dizionario di Mistica, Libr. Editr. Vaticana, 1998, p. 408). Santo Tomás de Aquino, Doutor da Igreja, sublinha que um ato de devoção inclui particularmente a pronta oferta da própria vontade a Deus (cf. S. Th. II-II, q. 82).

Oxalá se multiplique, aqui na terra, o número de devotos da Divina Misericórdia, que, no céu, é a delícia e êxtase dos santos!


Pe. Silvio R Roberto

O que significa misericórdia? Quais são as raízes bíblicas dessa prática tão falada no dia a dia da Igreja?


Podemos adentrar no significado de misericórdia por diferentes caminhos.

A etimologia da palavra, oriunda do latim, já nos aponta o seu significado: miser + cor; miser = miséria; cor = coração; interpretando esta definição de forma espiritual, misericórdia é o Coração de Deus que vem ao encontro da miséria humana.

Quando praticamos a misericórdia, significa que estamos imitando a Deus, ou seja, unindo o nosso coração ao Dele e, por amor a Ele, derramando-nos sobre quem precisa de oração, de alimento, de uma palavra amiga, etc.

Santa Faustina, a “secretária da Misericórdia Divina” (título que lhe foi dado pelo próprio Jesus), vai nos dizer várias vezes que a misericórdia é o “maior atributo de Deus”, ou seja, Deus se destaca em Sua ação para conosco pela Misericórdia. Vejamos suas palavras:

“O terceiro atributo é o Amor e a Misericórdia. E compreendi que o Amor e a Misericórdia é o maior atributo.
É ele que une a criatura ao Criador. E reconhece-se este imenso amor e o abismo da misericórdia na Encarnação do Verbo, na Sua Redenção; e foi aqui que reconheci que este é o maior atributo em Deus” (Diário, n. 180).

Por fim, a Palavra de Deus não poderia se furtar a nos falar da Misericórdia. E ela o faz em diversos momentos, levando o Povo de Deus a exclamar: “eterna é a sua misericórdia” (Sl 117).

Nosso saudoso Papa, o Bem-aventurado João Paulo II, em sua Encíclica dedicada à Misericórdia Divina (Dives in Misericórdia – Deus é rico em Misericórdia), vai citar vários textos bíblicos que falam deste atributo de Deus: Ef 2,4; II Cor 1,3; Lc 15, 11ss; Ex 34,6; Is 49,15 etc).
Vale a pena ler esta maravilhosa Encíclica!

 

Pe. Silvio R. Roberto, MIC

Santa Faustina - Secretária da Misericórdia Divina


O século XX foi um dos períodos mais contraditórios da história humana. De um lado, grandes avanços nos mais variados campos do saber (biologia, física, tecnologia etc.); a Igreja Católica, por sua vez, viveria uma nova primavera em diversos âmbitos (bíblico, litúrgico, pastoral etc.). Por outro lado, deparamo-nos com o crescimento do agnosticismo e a proliferação das seitas; com enormes atrocidades, de proporções quase universais; milhões e milhões foram brutalmente dizimados em dezenas de guerras, bem como em carestias, pestes e catástrofes, em parte frutos da ganância e arrogância de alguns poucos.

Ao mesmo tempo, é o século de cristãos de grande envergadura, como os Papas S. Pio X, o Beato João XXIII e o Servo de Deus João Paulo II, S. Gemma Galgani e Madre Teresa de Calcutá, os santos Padres Pio e Maximiliano Kolbe, ou como os pastorinhos de Fátima. É o século outrossim de uma das maiores místicas da história do cristianismo, Santa Faustina Kowalska. Mística pois deixou-se invadir pelo mistério do amor divino, no dia a dia de uma vida escondida e laboriosa. A partir dela nasce uma nova espiritualidade, centrada na Divina Misericórdia. Eis em breves linhas um pouco da sua vida.

Origens

Faustina nasceu na aldeia de Glogowiec, distrito de Turek, prefeitura de Poznan (atualmente Swinice Warckie, principado de Konin), na Polônia, no dia 25/08/1905. Naquela época a Polônia estava sob o domínio russo. Ela é a terceira de dez filhos do casal Estanislau Kowalska e Mariana Babel, que cuidam de 5 hectares de terra (e 3 vacas!). As duas primeiras gravidezes foram muito cansativas; por isso, a terceira foi esperada com preocupação, mas tudo correu bem.

Dois dias depois do nascimento a menina foi batizada, na paróquia de Swinice Warckie (dedicada a S. Casimiro), com o nome de Helena Kowalska. Deus os abençoou com outros sete filhos. “A Helena, minha filha abençoada, santificou o meu ventre”, dirá a mãe após a sua morte. Sabemos bem pouco acerca das origens desta futura santa.

As principais fontes são o seu Diário e o relato de algumas testemunhas.
Por exemplo, a sua casa, com paredes de pedra e poucos móveis, é composta por 2 divisões, separadas por um corredor. O pavimento é de terra e as paredes não são rebocadas nem caiadas. A mãe faz queijo com grande perfeição. Todas as noites rezam o terço e dão graças por tudo o que têm.
Seu pai, Estanislau, lavrador e carpinteiro, era muito piedoso. Freqüentava sempre as Missas dominicais e cantava todos os dias o ofício da Imaculada Conceição, bem como o hino matinal.

Na Quaresma, cantava as lamentações da Paixão. Era muito exigente com os filhos, e por isso Helena desde os 9 anos ajuda nos serviços da casa – debulhando o trigo, levando as vacas para o pasto e ajudando na cozinha. A mãe era uma boa mulher, muito dedicada e trabalhadora, particularmente sensível com os pobres. Assim se vai moldando o caráter de Helena (Dr. H. W.,Irmã Faustina. Apóstola da Divina Misericórdia, Loyola, S. Paulo, 1983, p. 30).

Vocação

A vida espiritual de Helena começara cedo. Em seu Diário escreve: “Quando eu tinha sete anos ouvi pela primeira vez a voz de Deus na minha alma”. Depois da preparação recebida do Pároco, Pe. Romano Pawlowski, em 1914 faz a Primeira Comunhão, momento que muito lhe marcou: “Eu estou contente porque Jesus veio ter comigo e agora posso caminhar com Ele”. A oração se torna mais assídua e fervorosa. A mãe a encontrou várias vezes ajoelhada no chão, principalmente de noite. Helena lhe explicava: “tenho certeza de que é o meu Anjo que me acorda”.

Os pais não aceitam facilmente a vocação da filha Helena. Em 1920 e 1922 a jovem lhes pede permissão para entrar no convento, mas os pais o recusam. Não possuem recursos para lhe dar o dote necessário, estão mergulhados em dívidas – e, acima de tudo, estão muito ligados à filha. Neste período recebeu o sacramento da Crisma, em Aleksandrów (1921). De modo especial a adolescente escuta com atenção as homilias dominicais, repetindo-as durante a semana, e também a leitura da Bíblia feita pelo seu pai, que mantém em casa uma pequena biblioteca.

Com dificuldades Helena iniciou os seus estudos (1917). É obrigada a interrompê-los a fim de poder trabalhar como empregada doméstica. Aos 14 anos disse à mãe: “Papai trabalha muito e eu não tenho com que me vestir aos domingos; sou a mais mal-apresentada de todas as moças. Irei trabalhar para ganhar alguma coisa”. O desejo de se consagrar totalmente a Deus lhe acompanha, mas, ante as dificuldades, por um tempo Helena desiste da idéia. Entrega-se, então, à “vaidade da vida”, aos “passatempos”, como anos depois escreveria em seu Diário.

Deus, porém, não volta atrás. Estando um dia num baile com sua irmã, uma visão de Cristo Sofredor interpela a jovem Helena: “Até quando hei de ter paciência contigo e até quando tu Me desiludirás?” (Diário, 9). Decide entrar no convento. Bateu em várias portas até ser acolhida no dia 1º/08/1925 na clausura do convento da Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Misericórdia, em Varsóvia. Foi tentada a deixar essa comunidade várias vezes, mas Jesus lhe apareceu e exortou: “Chamei-te para este e não para outro lugar e preparei muitas graças para ti” (D. 19).

Revelações

Dentro da Congregação Helena recebeu o hábito e o nome de Irmã Maria Faustina, em 1926. Dois anos depois faria a primeira profissão dos votos religiosos. Em sua vida exterior nada deixava transparecer da sua profunda vida espiritual, que haveria de incluir as graças extraordinárias da contemplação infusa, o conhecimento da misericórdia divina, visões, aspirações, estigmas escondidos, o dom da profecia e discernimento, e o raro dom dos esponsais místicos (D. 1056). Com humildade exerceu as funções de cozinheira, jardineira e até de porteira. Cumpria fielmente as regras de sua comunidade, em espírito de recolhimento mas sem nenhum desequilíbrio, deixando ao mesmo tempo transparecer serenidade e benevolência. Um sonho a movia – viver plenamente o mandamento do amor:
“Ó meu Jesus, Vós sabeis que desde os meus mais tenros anos eu desejava tornar-me uma grande santa, isto é, desejava amar-Vos com um amor tão grande com que até então nenhuma alma Vos tinha amado” (D. 1372).

O Senhor a escolhe para uma missão especial. Depois de atravessar pela “noite escura” das provações físicas, morais e espirituais, a partir de 22/02/1931, em Plock,o próprio Senhor Jesus Cristo começa a se manifestar à Irmã Faustina de um modo particular, revelando de um modo extraordinário a centralidade do mistério da misericórdia divina para o mundo e a história– presente em todo o agir divino, particularmente na Cruz Redentora de Cristo – e novas formas de culto e apostolado em prol desta sua divina misericórdia. Descreve esta primeira visão:
“Da túnica entreaberta sobre o peito saíam dois grandes raios, um vermelho e outro pálido. (...) Logo depois, Jesus me disse: Pinta uma Imagem de acordo com o modelo que estás vendo, com a inscrição: Jesus, eu confio em Vós” (D. 47).

Jesus insistirá particularmente no seu desejo de instituir uma Festa em honra da Divina Misericórdia para toda a Igreja, o que haveria de se cumprir somente a partir do ano 2000. Todas estas vivências se encontram relatadas em seu famoso Diário, escrito entre 1934-1938 sob a orientação dos Padres Miguel Sopocko e Andrasz SJ, o primeiro deles beatificado a 28/09/2008.
Segundo um dos mais famosos estudiosos do mesmo, Pe. Ignacy Rózycki, no Diário – e numa das Cartas de Santa Faustina – encontramos, dentre outros, 83 revelações particulares especiais sobre o mistério e o culto da Divina Misericórdia. Ao longo do Diário descobrimos que Jesus a escolhe como secretária, apóstola, testemunha e dispensadora da divina misericórdia(nn. 965; 1142; 400; 570). Já pode ser considerado como um dos clássicos da espiritualidade católica, ao lado de História de uma alma, A prática do amor a Jesus Cristo, Filotéia e outros.

Páscoa

Assim como na vida de Santa Teresinha, Jesus pede também à Santa Faustina que se ofereça como vítima pelos pecadores. É a graça de poder viver aquilo que diz o Apóstolo: Completo em minha carne o que falta das tribulações de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja(Cl 1,24; cf. Flp 1,20; 2Cor 12,10). Na Quinta-feira Santa de 1934, Jesus lhe revela o seu desejo que se entregue pela conversão dos pecadores. A este desejo Irmã Faustina respondeu prontamente com um ato de consagração no qual se oferece voluntariamente pelos pecadores. Desde essa ocasião, os sofrimentos que oprimiriam a religiosa polonesa foram a prova de que sua oferta fora aceita pelo Senhor.

Irmã Faustina levava uma vida muito austera, já antes de entrar no convento. Não perdia nenhuma oportunidade em oferecer suas penas pela conversão dos pecadores. Nos últimos anos de sua breve vida aumentaram os seus tormentos interiores e os padecimentos do organismo. Desenvolve-se uma tuberculose que lhe atacou os pulmões e os intestinos. Muito fraca, é levada ao convento Jósefów. Segundo um costume da comunidade, pede perdão às coirmãs pelas faltas cometidas – e afirma que morreria treze dias depois. Ao Pe. Sopocko diz (26/09): “Perdoe-me, padre, agora estou ocupada no colóquio com o Pai Celeste. Aquilo que tinha para dizer, já disse”.

No dia da sua morte ela recebe o viático do Pe. Andrasz. Pede mas logo recusa uma injeção, dizendo: “Deus exige sacrifício”. Plenamente unida a Deus, na presença da irmã Ligoria, erguendo os olhos para o céu, Irmã Faustina falece com fama de santidade às 22h45min do dia 5/10/1938, com apenas 33 anos de vida.
O seu corpo foi depositado no cemitério do convento em Cracóvia-Lagiewniki.
A situação na Europa se agravava. Hitler havia invadido a Áustria (11/03/1938). A Polônia entra num período tempestuoso quando Berlim e Moscou dividiram o seu território (22/09/1939). Irmã Faustina rezava pela Polônia. Em setembro de 1938, a jardineira irmã Klemensa foi visitá-la no hospital. Faustina estava reduzida a pele e ossos. Klemensa lhe perguntou:
 “O senhor Jesus te disse se haverá guerra?”. – “Haverá guerra”, respondeu ela. E depois acrescentou: “...A guerra durará muito tempo, haverá muitas desgraças. Sofrimentos terríveis cairão sobre as pessoas” (in Bergadano, Elena, Faustina Kowalska. Mensageira da Divina Misericórdia, Paulinas, S. Paulo, 2006,p. 81).
Há inúmeros relatos de graças alcançadas por sua intercessão a partir da morte da Ir. Faustina. Um deles se refere a um fato ocorrido durante a II Guerra, assinado por Miquelina Niewiadomska em Varsóvia, ano de 1946:

“Como mensageira do exército clandestino da Polônia, levava um dia um maço de jornais e documentos importantes da imprensa subterrânea, num cesto vulgar, aberto, de modo a não chamar a atenção.
Numa paragem, o tranvia [transporte] foi abordado pela polícia da Gestapo, que começou a inspecionar os passageiros. Antes que eu desse conta, estava a meu lado. Apanhada de improviso, sabia que não tinha maneira de escapar e deitei o cesto no chão.
O que estava dentro caiu, com o livrinho intitulado ‘Jesus, eu confio em Vós’ por cima de tudo. Um dos policiais baixou-se para o apanhar e em voz baixa segredou-me: ‘E eu também confio n’Ele’, e, voltando-se, permitiu que eu apanhasse os papéis” (in Andrasz-Sopocko, A misericórdia de Deus. A única esperança da humanidade, 2ª ed., Tipografia Porto Médico L.da, Porto, 1956, pp. 88s).

O processo informativo para a canonização da Irmã Faustina se iniciou em 1965. O Cardeal Karol Wojtyla o encerra com uma sessão solene no dia 20/09/1967. Anos depois (1978) Karol Wojtyla se tornaria o Papa João Paulo II, e por suas mãos Irmã Faustina seria beatificada (1993) e canonizada (2000), tornado-se assim a primeira santa canonizada no III Milênio cristão. O milagre que permitiu a sua canonização foi a cura do Pe. Romualdo P. Pytel que sofria de “estenose aórtica predominante, calcificada e localizada na bicúspide, com insuficiência aórtica associada, e descompensação cardíaca esquerda” (in Laria, Raffaele, Santa Faustina e a Divina Misericórdia, Paulus, Apelação, 2004, p. 84). A data de sua celebração litúrgica é o dia 5 de outubro, que marca seu nascimento para o céu.

20 de maio de 2013

Comunhão na mão: recusada pelos bispos em 1969 e imposta a (quase) toda a Igreja - parte II


 Memoriale Domini
Instrução sobre a maneira de distribuir a  Santa Comunhão
Sagrada Congregação para o Culto Divino
Emitido  em 29 de maio de 1969

Quando a Igreja celebra o memorial do Senhor Ela afirma através do próprio rito sua fé em Cristo e sua adoração a Ele, de Cristo presente no sacrifício e dado como alimento para aqueles que compartilham a mesa eucarística.

Por essa razão, é uma questão de grande preocupação para a Igreja que a Eucaristia seja celebrada e compartilhada com a maior dignidade e fecundidade. Ela preserva intacta a tradição previamente desenvolvida que chegou até nós, tendo suas riquezas sido transmitidas aos costumes e à vida da Igreja.

As páginas da história mostram que a celebração e a recepção da Eucaristia tomaram várias formas. Em nossos dias os ritos para a celebração da Eucaristia mudaram de muitas e importantes maneiras, trazendo-os mais para a direção das necessidades espirituais e psicológicas do homem moderno. Além disso, uma mudança ocorreu na disciplina que governa a participação dos leigos no sacramento.

A Santa Comunhão sob as duas espécies, pão e vinho, foi reintroduzida. Ela tinha sido comum na Igreja Latina também, mas posteriormente foi sendo progressivamente abandonada. Esse estado de coisas tinha se tornado geral à época do Concílio de Trento, que o sancionou e o defendeu através do magistério dogmático como adequado às condições da época. [1]Essas mudanças fizeram do banquete eucarístico e do fiel cumprimento da ordem de Cristo um símbolo mais claro e mais vital.

Ao mesmo tempo, nos últimos anos, uma maior participação na celebração eucarística através da comunhão sacramental fez surgir, em um lugar ou outro, o desejo de se retornar ao antigo uso de se depositar o pão eucarístico nas mãos do comungante, ele próprio então comungando, colocando-o em sua boca.De fato, em certas comunidades e em certos lugares essa prática foi introduzida sem que uma aprovação prévia tivesse sido solicitada à Santa Sé, e, às vezes, sem qualquer tentativa de preparar adequadamente os fiéis.

É certamente verdade que o uso antigo já permitiu aos fiéis tomar esse divino alimento em suas mãos e colocá-lo em suas bocas eles próprios.Também é verdade que, em tempos muito antigos eles foram autorizados a levar o Santíssimo Sacramento consigo, desde o lugar onde o Santo Sacrifício foi celebrado. Isto foi, principalmente, de forma a serem capazes de dar a si próprios o Viático, caso tivessem que enfrentar a morte por sua fé.No entanto, as prescrições da Igreja e as evidências dos Padres deixam bem claro que se demonstrava a maior reverência ao Santíssimo Sacramento, e que as pessoas agiam com a maior prudência.

Assim, “que ninguém … coma desta Carne sem primeiro adorá-la” [2]. Ao mesmo tempo em que quando alguém toma (o Santíssimo Sacramento) ele é advertido: “… recebe-o: tenhas cuidado para que não se perca nada dele” [3] “Pois é o Corpo de Cristo”.

[4]Além disso, o cuidado e o ministério do Corpo e Sangue de Cristo foi especialmente confiado a ministros sagrados ou a homens especialmente designados para esse propósito: “Depois que o presidente recitou as orações e todo o povo proferiu uma aclamação, aqueles a quem chamamos diáconos distribuem a todos os presentes o pão e o vinho para o qual se havia dado graças, e eles os levam para aqueles que estão ausentes “.

[5]Logo a tarefa de levar a Eucaristia aos ausentes foi confiada somente aos ministros sagrados, como o melhor para garantir o respeito devido ao sacramento e para atender às necessidades dos fiéis. Mais tarde, com uma compreensão mais profunda da verdade do mistério eucarístico, do seu poder e da presença de Cristo nele, sobreveio um maior sentimento de reverência para com esse sacramento e sentiu-se que uma profunda humildade deveria ser exigida quando recebê-lo.

Assim foi criado o costume do ministro colocar uma partícula de pão consagrado sobre a língua do comungante.Este método de distribuição da Santa Comunhão deve ser conservado, tendo em conta a situação atual da Igreja no mundo inteiro, não apenas porque tem muitos séculos de tradição por trás dele, mas especialmente porque expressa a reverência dos fiéis para a Eucaristia. O costume não prejudica de forma alguma a dignidade pessoal daqueles que se aproximam deste grande sacramento: é parte da preparação que é necessária para a recepção mais frutuosa do Corpo do Senhor [6].

Essa reverência mostra que não é uma partilha de um “pão e vinho ordinários” [7] que está envolvido, mas do Corpo e do Sangue do Senhor, através da qual “o povo de Deus toma parte no Sacrifício Pascal, renova a nova Aliança que Deus fez com o homem de uma vez por todas com o Sangue de Cristo, e na fé e na esperança prefigura e antecipa o banquete escatológico no Reino do Pai “. [8]Além disso, a prática que deve ser considerada a tradicional assegura, mais efetivamente, que a Santa Comunhão seja distribuída com o devido respeito, decoro e dignidade.

Remove o perigo de profanação das sagradas espécies, em que “de uma maneira única, Cristo, Deus e homem, está presente todo inteiro, substancialmente e continuamente”.[9]  Finalmente, ela garante aquele diligente cuidado com os fragmentos do pão consagrado que a Igreja sempre recomendou: “. o que permitistes  cair, penses nisso como se tivesses perdido um de teus próprios membros” [10]Quando, pois, um pequeno número de Conferências Episcopais e alguns bispos particulares solicitaram que a prática de colocar as hóstias consagradas nas mãos das pessoas fosse permitida em seus territórios, o Santo Padre decidiu que todos os bispos da Igreja latina deveriam ser questionados se eles achavam oportuno introduzir esse rito.

Uma mudança em uma matéria de tal importância, com base em uma tradição mais antiga e venerável, não afeta somente a disciplina.
Carrega certos perigos consigo que podem surgir de uma nova maneira de administrar a Santa Comunhão: o perigo de uma perda de reverência para com o augusto sacramento do altar, de profanação, de adulteração da verdadeira doutrina.Três perguntas foram feitas aos bispos, e as respostas recebidas até 12 de março de 1969 foram as seguintes:

1. Você acha que deve ser dado atenção ao desejo de que, além da forma tradicional, o rito de receber a sagrada comunhão nas mãos deve ser admitido?

Sim: 597

Não: 1.233

Sim, mas com reservas:

315Votos nulos: 202.

É o seu desejo que esse novo ritual seja primeiramente Experimentado em pequenas comunidades, com o consentimento do bispo?

Sim: 751

Não: 1.215

Votos nulos, 703.

Você acha que os fiéis vão receber bem esse novo ritual, após uma adequada preparação catequética?

Sim: 835

Não: 1.185Votos nulos: 128

A partir das respostas, fica claro que a grande maioria dos Bispos crê que a disciplina atual não deve ser alterada, e que, se fosse a mudança seria ofensiva aos sentimentos e à cultura espiritual desses bispos e de muitos fiéis.

Portanto, levando em conta as observações e os conselhos daqueles que “o Espírito Santo colocou para governar” as Igrejas [11], tendo em vista a gravidade da matéria e da força dos argumentos apresentados, o Santo Padre decidiu não mudar a forma existente de administrar a Sagrada Comunhão aos fiéis.

A Sé Apostólica, portanto, enfaticamente exorta bispos, sacerdotes e leigos que obedeçam cuidadosamente à lei que ainda é válida e que foi novamente confirmada.

Ela exorta-os a ter em conta a decisão proferida pela maioria dos bispos católicos, do rito agora em uso na liturgia, do bem comum da Igreja.

Onde um uso contrário, o de colocar a Sagrada Comunhão nas mãos, prevalece, a Santa Sé-querendo ajudá-los a cumprir a sua missão, muitas vezes, difícil como é hoje em dia, estabelece às Conferências a tarefa de avaliar cuidadosamente qualquer circunstância especial que possa existir, tendo o cuidado de evitar qualquer risco de falta de respeito ou de opiniões falsas em relação à Santíssima Eucaristia, e de evitar outros efeitos adversos que possam se seguir.

Em tais casos, as Conferências Episcopais devem examinar cuidadosamente a matéria e devem tomar quaisquer decisões, por meio de voto secreto e com maioria de dois terços, que sejam necessárias para regular as situações. Suas decisões devem ser enviadas a Roma para receber a necessária confirmação, [12], acompanhadas com uma descrição detalhada das razões que as levaram a tomar essas decisões.

A Santa Sé examinará cada caso com cuidado, tendo em conta as relações entre as diferentes igrejas locais e entre cada uma delas e a Igreja Universal, a fim de promover o bem comum e a edificação de todos, e que o bom exemplo mútuo possa aumentar a fé e a piedade.

Nota: na Acta Apostolicae Sedis (pp. 546-547) a Instrução foi acompanhada de uma cópia da carta (em francês), que foi enviada às hierarquias que solicitaram e receberam permissão para introduzir a prática da Sagrada Comunhão nas mãos.
A carta apresentava as seguintes normas:

1. O novo método de administrar a comunhão não deve ser imposto de maneira que venha a excluir o uso tradicional.

2. O rito da comunhão nas mãos deve ser introduzido com discernimento.

Com efeito, uma vez que as atitudes humanas estão em causa, isso está ligado à sensibilidade da pessoa que recebe a comunhão. Deve, portanto, ser introduzida gradualmente, começando com grupos mais instruídos e mais bem preparados.

É, acima de tudo, necessário que uma adequada catequese prepare o caminho para que os fiéis entendam o significado da ação e o realizem com o devido respeito ao sacramento.

O resultado desta catequese deve ser remover qualquer sugestão de dubiedade da parte da Igreja em sua fé na presença eucarística, e também para eliminar qualquer perigo ou mesmo a sugestão de profanação.

3. O fato de que o leigo é agora capaz de receber a Sagrada Comunhão nas mãos não deve sugerir a ele que isso é pão comum, ou apenas algum objeto sagrado.
Ao contrário deve fortalecer o senso de sua dignidade como membro do Corpo Místico de Cristo, da qual o batismo e a graça da Eucaristia o tornam parte.
Ele vai, assim, ter um aumento da fé na grande realidade do Corpo e do Sangue do Senhor, que ele toca com as mãos. Sua atitude respeitosa deve ser proporcional ao que ele está fazendo.

4. No que diz respeito à forma de administrar o sacramento, pode-se seguir o método tradicional, que enfatiza a função ministerial do sacerdote ou diácono, colocando eles próprios a hóstia nas mãos do comungante. Pode-se também adotar um método mais simples, permitindo o próprio comungante tomar a hóstia do cibório. Em qualquer caso, o comungante deve consumir a hóstia antes de voltar para o seu lugar, e o papel do ministro será enfatizado pela sua fala, “O Corpo de Cristo”, ao que o comungante responde: “Amém”.

5. Não importa qual método seja utilizado, deve-se ter cuidado para não permitir qualquer fragmento da hóstia cair…

6. Quando a comunhão é distribuída sob as duas espécies, nunca é permitido colocar nas mãos dos comungantes hóstias que tenham sido previamente molhadas no Sangue do Senhor.

7. Os Bispos que tenham sido autorizados a introduzir o novo rito de comunhão são solicitados a enviar um relatório à Congregação, daqui a seis meses, sobre o resultado.

Traduzido do Latim para o Inglês por Rev. Austin Flannery, OP da AAS 61 (1969), pp 541-547. Publicado em Communion in the handTradução do inglês: site Montfort.

Comunhão na mão: recusada pelos bispos em 1969 e imposta a (quase) toda a Igreja - parte I

Uma das práticas que acompanharam a Missa Nova mais destruidoras para a Fé: a comunhão na mão.
Em tradução Montfort, publicamos hoje o documento Memoriale Domini, sobre a sobre a maneira de distribuir a Santa Comunhão, publicado pela Sagrada Congregação para o Culto Divino, em 29 de maio de 1969. O texto é curto e merece ser lido integralmente.
O documento relata a consulta feita aos bispos do mundo inteiro sobre a conveniência de se adotar a comunhão nas mãos, conforme o pedido que fora feito por “algumas conferências episcopais”.

A esmagadora maioria dos bispos responde pela recusa em aceitar tal uso. A conclusão do documento parece atender à opinião dos bispos, rechaçando a nova “moda” sacramental, apesar de toda uma alegação  em favor do suposto costume antigo dessa forma de recepção da comunhão (dado histórico que foi duramente contestado mais recentemente).

Porém…  em uma tática que foi usada inúmeras vezes, na implantação das “novidades” modernistas,  uma aparentemente pequena brecha é deixada: a comunhão na mão “prevalece” nos locais em que já está implantada, pedindo-se todos os cuidados e um relatório a respeito para as Conferências Episcopais!
Em outras palavras, quem primeiro fez e depois foi perguntar, fica premiado com a aprovação.
O resultado não se fez esperar. Poucos anos depois, a comunhão na mão era tão generalizada no mundo católico que, no Brasil, por exemplo, muitos católicos jamais viram fazer de outra forma.

E muitos, ao terem conhecimento do problema, tentando pedir o que deveria ser a regra – a comunhão na boca – sentem o peso da tirania da falsa norma:
a negativa absoluta dos sacerdotes – ou dos (irregulares) “ministros da eucaristia” – temperada frequentemente com reprimendas e injúrias contra a tentativa de “retrocesso”!O que pode desejar quem proíbe autorizando?

Conhecer a forma distorcida e ardilosa  como se fizeram as coisas permite-nos ver melhor de que lado está o bem e a sã doutrina. Pois foi Nosso Senhor que nos ensinou: “Seja o vosso falar sim sim, não não. Tudo o mais provém do maligno” (São Mateus 5, 37).

Regozijarmo-nos com Bento XVI que, conforme foi anunciado, a partir da Festa de Corpus Christi de 2008, não dará mais a comunhão na mão a nenhum fiel, durante suas missas.

Que seu exemplo seja seguido!


Fonte: Montfort Associação Cultural

Publicado em Communion in the handTradução do inglês: site Montfort;

Comentário:Lucia Zucch

"Casamento gay” está imposto (discretamente) no Brasil


Na França apenas 4% da população são católicos de missa mensal e as manifestações contra o “casamento gay” – majoritariamente católicas – têm levado às ruas mais de um milhão e meio de pessoas. Nos Estados Unidos, a batalha pela imposição das “núpcias anti-naturais” se arrasta de Estado em Estado, pontuada de rasteiras e golpes políticos, sem uma vitória decisiva.

No Brasil, os juízes, atuais plenipotenciários do Direito, nos poupam dessa desgastante polêmica e decidem a questão por uma simples “resolução”, à qual não se poderão furtar os cartórios, sob pena de sofrerem as “providências cabíveis”. Senhores, lembrem-se do catecismo que, em grande maioria, frequentaram em sua infância… O “pecado impuro contra a natureza” era – e ainda é – classificado entre aqueles que, por sua gravidade, “bradam aos céus, clamando por vingança”. Quando Deus decidir punir o mundo por tantos atentados a Sua Lei, o Brasil talvez não possa fugir a Seu castigo!

Comentário Lucia Zucchi

CNJ obriga cartórios a celebrar casamento entre homossexuaisFelipe Recondo – O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA – Os cartórios de todo o Brasil serão obrigados a celebrar casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. Por decisão do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), os cartórios terão de converter as uniões estáveis homoafetivas em casamento civil, mesmo que ainda não haja previsão legal para isso.A proposta foi apresentada pelo presidente do CNJ, Joaquim Barbosa, que também preside o Supremo Tribunal Federal (STF), e aprovada por 14 a 1.
A conselheira Maria Cristina Peduzzi foi a única a votar contra a aprovação da resolução, sob o argumento de que, para permitir o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, o Congresso teria de aprovar um projeto de lei. Há projetos em tramitação no Congresso sobre o casamento civil de pessoas do mesmo sexo.

A resolução aprovada pelo CNJ diz que: “É vedada às autoridades competentes a recusa de habilitação, celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em casamento entre pessoas de mesmo sexo”. E acrescenta que, se houver recusa dos cartórios, será comunicado o juiz corregedor para “providências cabíveis”.

O presidente do CNJ afirmou que a resolução remove “obstáculos administrativos à efetivação” da decisão do Supremo. “Vamos exigir aprovação de nova lei pelo Congresso Nacional para dar eficácia à decisão que se tomou no Supremo? É um contrassenso.
”O subprocurador da República, Francisco de Assis Sanseverino, manifestou-se contra a aprovação da resolução e citou os votos dos ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski, que foram favoráveis ao reconhecimento da união homoafetiva, mas deixaram claro que a decisão não legalizava o casamento.



Fonte: Montfort Associação Cultural

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