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26 de março de 2013

O Sentido da Cruz e da Morte em Cristo


Este é para nós um tempo de oração, de contemplação e silêncio. Vislumbramos um cenário de dor, de sofrimento e de morte. Contudo, olhando para o Cristo crucificado e morto, podemos contemplar e compreender melhor a realidade da nossa humanidade, do cotidiano da nossa vida que também é marcada pela dor, pelo sofrimento e pela morte. A Paixão do Senhor nos faz compreender esta realidade por outro ponto de vista, pois, com sua morte na Cruz, Jesus deu um novo significado à morte e à cruz. Assim, portanto, podemos ver a dor e o sofrimento com os olhos da fé, com os olhos de Deus.

Devemos considerar a cruz e a morte, antes e depois de Cristo.

Com origem no oriente, a cruz era um instrumento de castigo, suplício, tortura e de morte. Entre os romanos, era uma punição cruel e temida. Só podia ser aplicada a escravos e pessoas de pior qualidade, como assassinos, ladrões, conspiradores e perturbadores da ordem pública. Tanto que um cidadão romano, ainda que criminoso, por causa da sua dignidade, jamais poderia ser suspenso na cruz, mas, quando condenado, era então decapitado, como aconteceu com São Paulo. Os condenados a crucificação passavam por muitas humilhações e eram obrigados a carregar o madeiro para fora da cidade. Pregados nus no madeiro, os condenados permaneciam lá até morrerem de fome, sede ou, sobretudo, pela asfixia. Depois de mortos, seus corpos ainda permaneciam na cruz até apodrecer. Este era o terrível suplício da cruz.

A morte, realidade enraizada em nossa limitação humana, mas que é cercada de grande mistério. Normalmente é vista como perda, dor, separação, desgraça, tragédia, infelicidade, castigo, como o fim de tudo. A morte marca o final da existência, o cessar das atividades, o término dos sonhos e projetos. É como a luz de um dia que se acabou e não voltará a nascer.

Essas duas realidades foram experimentadas por Cristo em sua humanidade. E nossa grande alegria é que, Àquele que tem o poder criar do nada aquilo que existe, tem também o poder de transformar o significado da própria realidade, inclusive da cruz e da morte. Desta forma, a Cruz, antes considerada como um instrumento de castigo, suplício, tortura e de morte, se torna em Cristo expressão máxima do Amor, não um amor qualquer, mas de um Amor extremo que é fiel até o fim; um amor caracterizado pela compaixão e pela misericórdia que abraçou a miséria da humanidade; A cruz se tornou sinal de um Amor apaixonado, pois “ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos” (Jo 15,13). Assim, o cristianismo que em sua essência é a religião do amor e da caridade, tem como principal sinal a Cruz de Cristo.

Na Cruz, com sua morte, Cristo destruiu e venceu a morte, e ao ressuscitar Ele renovou a vida. Assim a morte, vista como perda, castigo, separação, recebe novo sentido e nova dignidade, porque o Filho de Deus também morreu e, ao olhar para sua morte, podemos compreendê-la como etapa natural e necessária da vida humana, como um caminho que nos conduz a vida em plenitude, a vida eterna, como cantou São Francisco: “é morrendo que se vive para a vida eterna”. A Igreja ensina que a obediência de Jesus transformou a maldição da morte em benção, pois, é pela morte que Deus chama o homem a si (cf. CIC 1010-1011).

Assim, gostaria de fazer-lhes dois fortes apelos. Primeiramente, por favor, não abandonem a Cruz de Cristo, não deixem esmorecer a vossa fé, não desistam nem fraquejem no caminho, mesmo diante da realidade da dor, do sofrimento e da morte. Hoje, vivendo em um mundo que supervaloriza o prazer egoísta, em uma sociedade moderna que tenta nos privar de tudo que custa esforço e dedicação, o ser humano, perdendo a dimensão do valor do sacrifício, está se afastando a cada dia do Cristo crucificado em busca de uma vida cômoda.

Lembremo-nos do nosso amado Beato Joao Paulo II que em sua última Semana Santa, quando aconselhado por alguns Cardeais de não celebrar devido á fragilidade de sua saúde, disse: “Cristo não desceu da cruz, eu também não vou descer”.

Que também nós possamos viver a realidade da dor e do sofrimento, unindo nosso sacrifício ao santo sacrifício de Cristo, completando em nossa carne o que faltou em Sua paixão (cf. Cl 1,24), a fim de que seu amor se transfigure sobre a terra gerando vida àqueles que permanecem na morte.

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