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30 de setembro de 2012

Mateus 6,1-34

 
Superar a justiça dos hipócritas 1 Prestem atenção! Não pratiquem a justiça de vocês diante dos homens, só para serem elogiados por eles. Fazendo assim, vocês não terão a recompensa do Pai de vocês que está no céu.
Relação com o próximo  2 Por isso, quando você der esmola, não mande tocar trombeta na frente, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens. Eu garanto a vocês: eles já receberam a recompensa. 3 Ao contrário, quando você der esmola, que a sua esquerda não saiba o que a sua direita faz, 4 para que a sua esmola fique escondida; e seu Pai, que vê o escondido, recompensará você.»
Relação com Deus 5 Quando vocês rezarem, não sejam como os hipócritas, que gostam de rezar em pé nas sinagogas e nas esquinas, para serem vistos pelos homens. Eu garanto a vocês: eles já receberam a recompensa. 6 Ao contrário, quando você rezar, entre no seu quarto, feche a porta, e reze ao seu Pai ocultamente; e o seu Pai, que vê o escondido, recompensará você.
 O Pai nosso 7 Quando vocês rezarem, não usem muitas palavras, como fazem os pagãos. Eles pensam que serão ouvidos por causa do seu palavreado. 8 Não sejam como eles, pois o Pai de vocês sabe do que é que vocês precisam, ainda antes que vocês façam o pedido. 9 Vocês devem rezar assim: Pai nosso, que estás no céu, santificado seja o teu nome; 10 venha o teu reino; seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu. 11 Dá-nos hoje o pão nosso de cada dia. 12 Perdoa as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. 13 E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal. 14 De fato, se vocês perdoarem aos homens os males que eles fizeram, o Pai de vocês que está no céu também perdoará a vocês. 15 Mas, se vocês não perdoarem aos homens, o Pai de vocês também não perdoará os males que vocês tiverem feito.
Relação consigo mesmo 16 Quando vocês jejuarem, não fiquem de rosto triste, como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto para que os homens vejam que estão jejuando. Eu garanto a vocês: eles já receberam a recompensa. 17 Quando você jejuar, perfume a cabeça e lave o rosto, 18 para que os homens não vejam que você está jejuando, mas somente seu Pai, que vê o escondido; e seu Pai, que vê o escondido, recompensará você.
A escolha fundamental 19 Não ajuntem riquezas aqui na terra, onde a traça e a ferrugem corroem, e onde os ladrões assaltam e roubam. 20 Ajuntem riquezas no céu, onde nem a traça nem a ferrugem corroem, e onde os ladrões não assaltam nem roubam. 21 De fato, onde está o seu tesouro, aí estará também o seu coração. 22 A lâmpada do corpo é o olho. Se o olho é sadio, o corpo inteiro fica iluminado. 23 Se o olho está doente, o corpo inteiro fica na escuridão. Assim, se a luz que existe em você é escuridão, como será grande a escuridão! 24 Ninguém pode servir a dois senhores. Porque, ou odiará a um e amará o outro, ou será fiel a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e às riquezas.
A busca fundamental - 25 Por isso é que eu lhes digo: não fiquem preocupados com a vida, com o que comer; nem com o corpo, com o que vestir. Afinal, a vida não vale mais do que a comida? E o corpo não vale mais do que a roupa? 26 Olhem os pássaros do céu: eles não semeiam, não colhem, nem ajuntam em armazéns. No entanto, o Pai que está no céu os alimenta. Será que vocês não valem mais do que os pássaros? 27 Quem de vocês pode crescer um só centímetro, à custa de se preocupar com isso? 28 E por que vocês ficam preocupados com a roupa? Olhem como crescem os lírios do campo: eles não trabalham nem fiam. 29 Eu, porém, lhes digo: nem o rei Salomão, em toda a sua glória, jamais se vestiu como um deles. 30 Ora, se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe e amanhã é queimada no forno, muito mais ele fará por vocês, gente de pouca fé! 31 Portanto, não fiquem preocupados, dizendo: O que vamos comer? O que vamos beber? O que vamos vestir? 32 Os pagãos é que ficam procurando essas coisas. O Pai de vocês, que está no céu, sabe que vocês precisam de tudo isso. 33 Pelo contrário, em primeiro lugar busquem o Reino de Deus e a sua justiça, e Deus dará a vocês, em acréscimo, todas essas coisas. 34 Portanto, não se preocupem com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã terá suas preocupações. Basta a cada dia a própria dificuldade.

EXPLICANDO.... 


O termo justiça se refere, aqui, a atitudes práticas em relação ao próximo (esmola), a Deus (oração), e a si mesmo (jejum). Jesus não nega o valor dessas práticas. Ele mostra como devem ser feitas para que se tornem autênticas.

 A esmola é um gesto de partilha, e deve ser o sinal da compaixão que busca a justiça, relativizando o egoísmo da posse. Dar esmola para ser elogiado é servir a si mesmo e, portanto, falsificá-la.


 Na oração, o homem se volta para Deus, reconhecendo-o como único absoluto, e reconhecendo a si mesmo como criatura, relativizando a auto-suficiência. Por isso, rezar para ser elogiado é colocar-se como centro, falsificando a oração.


 Mateus aproveita o tema da oração para inserir aqui o Pai-nosso (cf. Lc 11,1-4), contrapondo a oração cristã à oração dos fariseus e dos pagãos. O Pai-nosso mostra a simplicidade e intimidade do homem com Deus. Na primeira parte, pede-se que Deus manifeste o seu projeto de salvação; na segunda, pede-se o essencial para que o homem possa viver segundo o projeto de Deus: pão para o sustento, bom relacionamento com os irmãos e perseverança até o fim.


 Jejuar é privar-se de algo imediato e necessário, a fim de ver perspectivas novas e mais amplas para a realização da vida. Trata-se de deixar o egocentrismo, para crescer e dispor-se a realizar novo projeto de justiça. Jejuar para aparecer é perder de uma vez o sentido do jejum.


Todo homem, consciente ou inconscientemente, tem na vida um valor fundamental, um absoluto que determina toda a sua forma de ser e viver. Qual é o absoluto: Deus ou as riquezas? Deus leva o homem à liberdade e à vida, através da justiça que gera a partilha e a fraternidade. As riquezas são resultado da opressão e da exploração, levando o homem à escravidão e à morte. É preciso escolher a qual dos dois queremos servir.


 A aquisição de bens necessários para viver se torna ansiedade contínua e pesada, se não for precedida pela busca da justiça do Reino, isto é, a promoção de relações de partilha e fraternidade. O necessário para a vida virá junto com essa justiça, como fruto natural de árvore boa.

Fonte: Bíblia Sagrada - Edição Pastoral

29 de setembro de 2012

O Brasil perde sua Maior apresentadora de Televisão e Devota de Nossa Senhora

"Tenho muita fé em Nossa Senhora de Fátima e em Nossa Senhora da Aparecida. Se não falar nela também, pode dar probleminha (risos). Falo nas duas para não dar confusão, pois são minhas amigas íntimas". palavras de Hebe Camargo em homenagem recebida. 
“Toda vez que vejo a Nossa Senhora na minha frente é como se fosse a primeira vez. Na frente dela fico até sem ar. É impossível não me emocionar, meu coração dispara”, disse Hebe em meio ao tumulto de fãs". palavras de Hebe Camargo.

“Que gracinha!”– este é o bordão nacional criado por Hebe Camargo, a apresentadora que mais tempo está no ar desde que a TV brasileira existe (desde 1966). Ela integrava o grupo que foi ao porto de Santos buscar o equipamento para formar a primeira emissora brasileira, a TV Tupi, canal 4, inaugurada em 1950. Seu fundador, o empresário Assis Chateaubriand, a convidou para cantar o “Hino da Televisão”, na primeira transmissão ao vivo.
Ela faltou e foi substituída por Lolita Rodrigues.
As duas são amigas até hoje. A garota originalmente morena com grossas sobrancelhas – tipo Malu Mader – nasceu em Taubaté, mas mudou-se para São Paulo nos anos 1940, quando seus pais, dona Ester e o senhor Sigesfredo Monteiro de Camargo (apelidado de “seu Feguinho”) foram para a metrópole. A mãe era dona de casa e o pai foi violinista de cinema mudo. Hebe queria ser cantora, mas trabalhou como doméstica e sempre ia a emissoras de rádio imitar Carmem Miranda. Assim foi ficando conhecida no meio, até que resolveu arriscar de vez e formou uma dupla com sua irmã: eram Rosalinda e Florisbela. O arranjo durou pouco tempo. Depois, veio um quarteto, ela, a irmã e duas primas. Todas foram casando e o quarteto foi por água abaixo.
Hebe continuou firme na tentativa de se tornar cantora e se envolveu com a turma que engendrou a primeira emissora de TV no Brasil. No rádio já era a Estrelinha do Samba, a Estrela de São Paulo, e na TV Tupi, canal 4, apresentou-se num dueto com Ivon Curi, no programa “Rancho Alegre” (1950). Ela aparece sentada em um balanço e as imagens estão gravadas. É uma relíquia da TV brasileira. Fez participações esporádicas até conseguir seu próprio programa, em 1958, chamado “O Mundo É das Mulheres”, apresentado no canal 5, TV Paulista (hoje, Globo). Já se colocava como entrevistadora em um programa de variedades. Foi um sucesso. Hebe ficou no ar até 1964, quando abandonou a TV para se casar com o empresário Décio Capuano.
Desta união nasceu seu filho Marcello (20.09.1965). Mas a distância da TV não durou muito. Em 1966, Hebe estreou o programa dominical que levava seu nome, “Hebe Camargo”, na TV Record, canal 7. Foi sua consagração como apresentadora e o formato, entrevistas feitas em seu sofá, como uma sala em casa, ficou consolidado para sempre.
A trilha sonora ficava por conta de Caçulinha e seu Regional. Ela entrevistava todo mundo: pelo seu sofá passaram Martinha, Erasmo Carlos, Tony Tornado, Danuza Leão, Elis Regina, Roberto Carlos e astros internacionais, como Jonathan Harris (o doutor Smith, de Perdidos no Espaço), Sammy Davis, Jr, Julio Iglesias, Enrique Iglesias, Shakira, Gloria Estefan. Até em Pe Lanza, da banda Restart , ela recentemente deu um selinho. Além das entrevistas, Hebe promoveu em seus primeiros tempos na TV debates sobre temas como desquite, erotismo, fofoca, macumba. Seu programa teve nomes variados e frequentou todas as emissoras do país, da extinta TV Tupi, canal 4, à TV Bandeirantes, canal 13. Atualmente, é exibido semanalmente no SBT, onde está desde 1986. Em 22 de abril de 2006, comemorou seu milésimo programa na TV brasileira.

No SBT, seu programa é exibido às segundas, 21h. Em 1995, a gravadora EMI lançou um CD com os sucessos de Hebe como cantora. Recentemente, após submeter-se a tratamento quimioterápico para recuperação de câncer, ela anunciou a gravação de um DVD com participação de Fábio Jr., Leonardo, Daniel, Chitãozinho e Xororó, Bruno e Marrone, Maria Rita e Gilberto Gil. Além das imagens do show, será lançado um CD com participação de personalidades como Roberto Carlos e Ivan Lins.
Hebe Camargo já foi alvo de muitas críticas feitas pela intelligentzia guardiã da cultura nacional nos tempos do regime militar. Afinal, em meio à polarização que existia no país entre partidários das chamadas “direita” e “esquerda”, só se falava naquela loira estabanada e considerada inculta, diante da qual se sentaram grandes personalidades nacionais e internacionais para debater temas controversos: além das entrevistas, Hebe promovia debates sobre erotismo, fofoca, macumba, entre outros tantos assuntos considerados sem pé nem cabeça. Mas hoje, em tempos menos radicais, Hebe tornou-se unanimidade nacional.
Provocou comoção na população quando foi internada, em janeiro de 2010, para tratar um câncer na região abdominal, Hebe saiu dias depois do Hospital Albert Einstein direto para os braços da multidão que a esperava do lado de fora. Deu entrevista exclusiva sobre o assunto para o “Fantástico”, da TV Globo, rival do SBT. Afinal, Hebe Camargo representa a TV brasileira, e é personalidade maior que qualquer disputa entre emissoras.


Grande madrinha do evento TELETON, Hebe Camargo , participava da maratona televisiva em PROL da ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA À CRIANÇA DEFICIENTE (AACD), que é realizado no SBT.

A campanha foi criada na emissora em 1998, a pedido da própria Hebe Camargo, que participou ativamente do Teleton por todo esse tempo, sem nunca faltar.


27 de setembro de 2012

Primeira Carta Aos Coríntios 5,1-13 - entendendo melhor o texto

 1 Todos dizem que entre vocês existe imoralidade, e tal imoralidade que não se encontra nem mesmo entre os pagãos, a ponto de uma pessoa conviver com a mulher do seu pai.
2 E vocês se enchem de orgulho, ao invés de ficarem tristes, para que o autor desse mal seja eliminado do meio de vocês.
3 Pois bem! Ausente de corpo, mas presente de espírito, como se estivesse presente, eu já fiz o julgamento daquele que fez isso.
4 Em nome de nosso Senhor Jesus, vocês e o meu espírito reunidos em assembléia com o poder de nosso Senhor Jesus,
5 vamos entregar esse homem a Satanás; humanamente ele ficará arrasado, mas o seu espírito será salvo no dia do Senhor.
6 O motivo do orgulho que vocês têm não é coisa digna! Vocês não sabem que um pouco de fermento leveda a massa toda?
7 Purifiquem-se do velho fermento, para serem massa nova, já que vocês são sem fermento. De fato, Cristo, nossa páscoa, foi imolado.
8 Portanto, celebremos a festa, não com o velho fermento, nem com fermento de malícia e perversidade, mas com pães sem fermento, isto é, na sinceridade e na verdade.
9 Em minha carta, escrevi para vocês não se relacionarem com gente imoral.
10 Não quis dizer que vocês devem separar-se dos imorais deste mundo, ou dos avarentos, ladrões e idólatras; se assim fosse vocês teriam que sair deste mundo!
11 Não! Escrevi que vocês não devem associar-se com alguém que traz o nome de irmão, e no entanto é imoral, avarento, idólatra, caluniador, beberrão ou ladrão. Com pessoas assim, vocês não devem nem sentar-se à mesa.
12 Por acaso, compete a mim julgar aqueles que estão fora? Não são os de dentro que vocês devem julgar? 13 Deus é quem vai julgar os que estão fora. Afastem do meio de vocês o homem mau.

- Explicando o Texto 

 Paulo recrimina um comportamento que nem mesmo a lei judaica e o direito romano tolerariam.
" Entregar a Satanás " significa expulsar da comunidade. 
Desse modo, o imoral tomará consciência de sua culpa e poderá arrepender-se; assim a comunidade se livrará do mau exemplo que provocaria contágios. Paulo usa a imagem do fermento em sentido oposto ao dos Evangelhos (cf. Mt13,33). Ele não deseja que a comunidade seja uma espécie de gueto no mundo; trata-se de viver no mundo sem estar comprometido com o mundo (cf. Jo 17,14-15)

O que é Coríntios?


Corinto era uma rica cidade comercial, com mais de 500.000 habitantes, na maioria escravos. 

Nesse porto marítimo se acotovelava gente de todas as raças e religiões à procura de vida fácil e luxuosa, criando ambiente de imoralidade e ganância. 
A riqueza escandalosa de uma minoria estava ao lado da miséria de muitos. 
Surgiu, inclusive, uma expressão: «Viver à moda de Corinto», que significava viver no luxo e na orgia.
Paulo, entre os anos 50 e 52, permaneceu aí durante dezoito meses (At 18,1-18) e fundou uma comunidade cristã formada por pessoas da camada mais modesta da população (1Cor 1,26-28).
A primeira carta aos Coríntios foi escrita em Éfeso, provavelmente no ano 56. 
A comunidade já estava reproduzindo, de certa maneira, o ambiente vivido na cidade toda. Ela também estava dividida: os grupos brigavam entre si, cada um se apoiando na autoridade de algum pregador do Evangelho. Por isso, o primeiro objetivo de Paulo na carta é restabelecer a unidade, advertindo que o único líder é Cristo, e este não está dividido. Paulo aproveita da situação para traçar um retrato do verdadeiro agente de pastoral (1Cor 1-4). 
Depois, passa a denunciar os escândalos que pervadem a comunidade: incesto, julgamento em tribunais pagãos e a imoralidade, e vai elaborando uma teologia do corpo: este é o templo do Espírito Santo (1Cor 5-6).
Em seguida, responde a diversas perguntas formuladas pelos coríntios. 
Na primeira série, procura orientar os cristãos sobre os estados de vida (1Cor 7): matrimônio ou celibato? divórcio ou indissolubilidade? 
o que pensar da virgindade? como devem comportar-se os noivos? 
as viúvas podem se casar de novo? 
Em tudo isso, onde está a originalidade cristã? 
Ao responder sobre a questão da carne sacrificada aos ídolos (1Cor 8-10), ele coloca o fundamento da verdadeira liberdade cristã: o respeito aos outros.
A carta também apresenta normas para que haja ordem e autêntico culto cristão nas assembléias litúrgicas (1Cor 11-14): entra na debatida questão do véu das mulheres; denuncia as diferenças de classe nas celebrações eucarísticas, e aí é taxativo: Eucaristia sem amor fraterno é impossível. 
Salienta igualmente que os carismas que fervilham na comunidade só têm sentido quando estão a serviço dos irmãos e se estão subordinados ao dom maior, que é o amor.
Por fim (1Cor 15), citando exemplos da natureza e da próxima ressurreição de Cristo, demonstra que a ressurreição dos corpos é inquestionável: o cerne da fé é a certeza de que a vida vence a morte.




Extraído da  Biblía Sagrada  edição pastoral

Como Ler a Bíblia

No mês passado apresentei as diversas traduções bíblicas que atualmente se encontram na praça. Mas não basta comprar uma Bíblia, importa saber lê-la. Existe o que se poderia chamar uma leitura "inocente". O leitor leva a sério o que está escrito, não duvida da fidelidade substancial do texto, compreende vagamente que nem tudo deve ser tomado ao pé da letra, sabe que tanto os grandes personagens bíblicos como os autores usam de figuras, de expressões orientais etc.; em uma palavra, é uma leitura baseada no bom senso. De acordo com essa prática desenvolveu-se o costume de distinguir entre o sentido literal (a história ou a palavra como tal, entendida conforme a intenção do autor) e o sentido pleno ou espiritual (um novo significado que o Espírito inspira aos leitores, em relação aos problemas do momento ou à vida espiritual pessoal).

Nessa leitura espiritual, nem sempre respeitou-se a intenção do autor. Ou, então, isolava-se uma palavra ou frase e atribuía-se a ela um sentido que nada tinha a ver com o que o autor quis dizer. Enfim, a leitura de bom senso ficou também abalada porque, com o decorrer do tempo, houve quem abusasse da Escritura para fá-la afirmar o que não pretendia dizer, por exemplo, para defender certos privilégios ou atacar os adversários. Ainda hoje se inventa todo tipo de explicações para dizer que o 666 do Apocalipse refere-se ao Papa.

 Por isso surgiu, no fim da Idade Média, início da modernidade, uma reação que foi denominada "leitura crítica" da Bíblia. Examinava com métodos adequados, em primeiro lugar, qual era mesmo o texto da Bíblia, pois antigamente transcrevia-se a Bíblia à mão e, apesar da vigilância, algumas cópias ficavam menos confiáveis. Este primeiro passo é chamado "crítica textual".

Em segundo lugar, procurava-se saber um pouco mais sobre os fatos mencionados na Bíblia, para ver o que era "histórico" no sentido moderno (comprovado pelos critérios da probabilidade histórica). Isso se chama "crítica histórica". Ora, nem tudo o que é real pode ser comprovado por esses critérios da ciência histórica moderna. Um dos critérios de probabilidade é a analogia ou semelhança com outros fatos. Esse critério não se aplica à ressurreição de Jesus, por exemplo. Portanto, quando hoje se fala em realidade histórica, deve-se ter claro que é um conceito filtrado pelos métodos modernos.

Enfim, procurava-se saber qual tinha sido a intenção do autor, a natureza de seu escrito e de suas diversas partes, a quem ele se dirigia, em que circunstâncias havia escrito, com que finalidade... É a "crítica literária". 

A leitura crítica levou, sobretudo no meio protestante, à tentação de questionar tudo. Aos poucos, colocavam-se em dúvida todos os fatos extraordinários, os milagres, a ressurreição e, enfim, até as palavras de Jesus. Diante desse exagero "liberal" surgiu - nas Igrejas protestantes - a tendência de assegurar pelo menos alguns dogmas fundamentais, bem fundados no texto literal da Bíblia (a existência de Deus, a divindade de Jesus, a Trindade etc.). A essa maneira de ler deu-se o nome de "fundamentalismo". Hoje, porém, esse termo significa a mentalidade de tomar ao pé da letra ou como verdade imutável uma frase qualquer da Bíblia, o que pode levar aos piores absurdos.

Assim, existem nos Estados Unidos grupos querendo que na escola se ensine que a criação ocorreu em seis dias, como está na primeira página da Bíblia; nega-se toda a conquista da ciência da natureza; mas as mesmas pessoas andam pacificamente em carros ou aviões e usam computadores sofisticados baseados exatamente na ciência que eles rejeitam. É muita coragem! Nós próprios conhecemos a atitude fundamentalista de quem recusa transfusões de sangue, porque está escrito na Bíblia que não se pode comer ou tomar sangue. Mas é evidente que uma transfusão de sangue ou uma vacina nada têm a ver com os costumes idolátricos que a Bíblia quis refrear, lá nos tempos antigos, muito antes de Jesus Cristo.

Os fundamentalistas dizem que eles "não interpretam" a Bíblia, não lhe dão novo sentido. Mas isso é impossível. Qualquer coisa que a gente lê deve ser interpretada para ter sentido. Quem não interpreta é a traça ou o caruncho: simplesmente vão roendo...

Cabe aqui uma palavra sobre a leitura "ao acaso". Abre-se a Bíblia numa página qualquer e a primeira frase que cai sob a vista é tida como uma mensagem para aquele momento. Pode até ser. A Bíblia está cheia de frases úteis (embora haja outras...). Mas, muitas vezes, a pessoa terá de interpretar bastante para aplicar a frase a seu caso. Certamente não é uma palavra direta de Deus escrita especialmente para esse caso. Vale como uma "inspiração", mas não como uma "inspiração, mas não como leitura bíblica sistemática. Basta observar que, com esse método, as primeiras e as últimas páginas geralmente ficam esquecidas...

Mais valiosa é a leitura da Bíblia que ocorre na liturgia. Só na missa ou culto dominical, organizado num ciclo de três anos (A, B e C), é lido, Domingo após Domingo, todo o Novo Testamento, como também os trechos do Antigo Testamento que mais ajudam a compreender o Novo (que é mais importante, pois contém a palavra e a vida de Jesus). Portanto, quem vai todo Domingo à missa ou ao culto e tem a sorte de ouvir um bom sermão ou homilia baseados nas leituras bíblicas está fazendo o melhor curso bíblico que se pode imaginar. Se os padres e os agentes pastorais tivessem mais consciência disso, cuidariam melhor das leituras bíblicas e das reflexões que se seguem. Essa leitura que acompanha a liturgia é a melhor maneira de "ler a Bíblia na Igreja", ou seja, em comunhão com a comunidade que a concebeu desde o início e nela reconheceu sempre o espírito que a anima. Pois é possível também ler a Bíblia com um espírito contrário, "espírito de porco". Se compararmos a Bíblia com o álbum de fotografias de nossa família, no qual reconhecemos os momentos mais ricos, como fica esse álbum nas mãos de alguém que nos detesta e odeia?! Pois bem, atualmente há muitos que falam e escrevem sobre a Bíblia com um espírito contrário ao que a Igreja quer. Por isso, importa "ler a Bíblia na Igreja", e o melhor para tanto é a liturgia.

Ler a Bíblia na Igreja significa "ler em comunidade", não cada um por si, preocupado apenas consigo mesmo. Significa ler a Bíblia ao lado dos pobres e excluídos, de quem Jesus e Deus mesmo sempre tomaram partido, desde que Deus libertou o povo da escravidão do Egito até o momento em que Jesus decidiu não fugir, mas enfrentar os poderosos que levavam a mal o fato de ele ensinar a liberdade dos filhos de Deus aos pescadores e lavradores da Galiléia. Importa restituir à comunidade seu "álbum de fotografias". Já não podemos nos contentar com algumas explicações parciais de eruditos que não sentem o que o povo está sentindo. A Bíblia fala da vida do povo, que somos todos nós. Fazer ver isso é a verdadeira leitura da Bíblia


Fonte: (*)Johan Konings Revista "MENSAGEIRO DO CORAÇÃO DE JESUS", Vol 103, Nº 1.154, pág. 14-16, outubro de 1997, "Que Bíblia Comprar?" Vol 103, Nº 1.155, pág. 16-18, novembro de 1997, "Como Ler a Bíblia" Edições Loyola, Fone: (011) 6914-1922 A reprodução destes artigos em nosso website foi gentilmente autorizada pelo autor

26 de setembro de 2012

Jesus fundou uma só Igreja


Quando alguém tenta colocar em dúvida a Igreja católica, com amor, sem espírito de contenda, basta fazer uma pergunta simples:

Quem fundou sua Igreja?

Os luteranos foram fundados por Martinho Lutero em 1524.

Os anglicanos pelo rei Henrique IV em 1534 porque o papa não havia permitido seu divórcio para se casar com Ana Bolena.

Os presbiterianos por John Knox em 1560.

Os batistas por John Smith em 1609. Os metodistas por John Wesley em 1739 quando decidiu separar-se dos anglicanos.

Os adventistas do sétimo dia começaram com Guilherme Milier e Helen White no século passado.

A congregação cristã no Brasil foi fundada por Luigi Francescom em 1910.

As Assembléias de Deus têm a sua origem no despertar pentecostal de 1900 nos EUA
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Muitas pessoas saíram de diferentes igrejas evangélicas para formar novas congregações pentecostais.
Em 1914 mais de cem destas novas igrejas reuniram-se para formar esta nova organização religiosa.

A igreja do Evangelho Quadrangular foi fundada na década de 20 pela missionária canadense Aimée Semple McPhersom, que passou da igreja batista para a pentecostal.

A igreja Deus é Amor, fundada em 1962, tem como seu fundador Davi Miranda.

A igreja Renascer em Cristo surgiu há alguns anos, fundada por Estevan Hernandez.

A Igreja Universal do Reino de Deus por Edir Macedo em 1977, depois de não ter sido aceito como pastor em uma igreja evangélica do Rio de Janeiro.

Além de cada uma destas igrejas ter na sua origem homens como seus fundadores, também existem entre elas algumas diferenças: em questões doutrinais, governo da igreja, modo de celebrar o culto.

A pergunta é simples: como o Espírito Santo poderia animar uma igreja constituída por tantas diferenças de opinião, se Ele é a fonte da unidade?

E a Igreja Católica?

Uma pesquisa simples de história comprova que a primeira igreja cristã foi a Igreja católica. Ela foi fundada quando Jesus Cristo disse a Pedro. "Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja...." (Mt 16,l8a); e na continuação destas palavras deu uma garantia para todos os séculos: "...as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mt 16,l8b).
Durante os três anos do seu ministério, pela pregação da Palavra e por meio de "milagres, prodígios e sinais" (Atos 2,22), preparou os seus seguidores para darem continuidade a sua obra.De um modo mais especial, entre os seus discípulos "...escolheu doze entre eles, que chamou de apóstolos. "(Lc 6,13).

Entre as principais orientações de Jesus dadas aos apóstolos destacam-se:

continuar a obra iniciada por Ele:
"Por onde andardes anunciai que o reino dos céus está próximo.
Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. Recebestes de graça, de graça dai" (Mt 10,7-8).

insistiu na necessidade de um gesto visível para dar credibilidade à pregação:
"ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor." (Jo 10,16). "...sejam perfeitos na unidade, e o mundo reconheça que me enviaste e os amastes, como amaste a mim". (10 17,23).

indicou o meio para evitar as divisões:
"Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros." (Jo 13,35).

pediu um tipo determinado de encontro para continuar junto dos seus e testemunhai a unidade da Sua Igreja: a Eucaristia.

"Tomou em seguida o pão, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim." (Lc 22,19).

"Uma vez que há um único pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos comungamos do mesmo pão." (1Cor 10,17).

E antes de voltar para junto do Pai, o Cristo ressuscitado deixou o programa final para a Sua Igreja:

"Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, pois ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo." (Mt 28,48-20). 

Qual o significado destas palavras finais do Senhor para a sua Igreja cm todos os tempos?

Primeiro: Revela a autoridade da Igreja "Toda autoridade me foi dada no céu e na terra".Trata-se do mesmo poder e mesma autoridade dados pelo Pai ao seu Filho:
"Como o Pai me enviou assim também eu vos envio a vos (10 20,21b).

Segundo: Diz a quem foi dado poder para falar em seu nome: os onze. São Mateus fez questão de deixar registrado este fato: "Os onze discípulos foram para a Galiléia, para a montanha que Jesus lhes tinha designado"(Mt 28,16). Os onze formavam o primeiro grupo de dirigentes da Igreja.
E a força destes homens estava na garantia de falarem em nome do próprio Jesus:
"Quem vos ouve, a mim ouve; e quem vos rejeita, a mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou."(Lc 10,16)

Terceiro: fala do objetivo da missão: fazer discípulos. A finalidade da pregação da palavra é despertar aqueles que estão longe a entrarem para o rebanho do Senhor: a Igreja.
Não existe cristianismo sem união à Igreja, a união a ela é o sinal visível da conversão interior. Esta é a forma como viviam a fé os primeiros cristãos:
"Perseveravam eles na doutrina dos apóstolos, nas reuniões em comum, na fração do pão e nas orações." (Atos 2,42).

Quarto: Indica a porta de entrada para a Igreja:"batizai-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo". Neste momento a pessoa tornava-se crista, e um membro ativo do Corpo de Cristo.

Quinto: Mostra o conteúdo da pregação:
"Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi". Boa parte do ministério de Jesus na terra foi empregado para ensinar, deste modo a sua Igreja tem de dar ênfase à pregação da Palavra.
A Igreja não é uma reunião de pessoas para um simples entretenimento; ela existe para despertar e alimentar a fé. E isto se dá pela pregação da Palavra.

Sexto: Termina com uma promessa para todos os tempos: "Eis que estou convosco todos os dias até o fim do mundo."
Diante destes fatos surge uma pergunta:

Teria Jesus errado em suas promessas?
Todos hão de concordar com as palavras de (Jo 14,6): "Eu sou o caminho, a verdade e a vida...". Não existem várias verdades, mas uma única verdade chamada Jesus Cristo. Suas palavras são para sempre, e nelas não existe nenhum engano.

Em nenhum tempo da história os homens receberam autoridade para alterar a obra fundada, planejada e inaugurada por Jesus Cristo.
São Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, em seus escritos tem dois versículos importantes para ajudar os cristãos a não caírem no engano das divisões criadas pelos homens:

"Mas, ainda que alguém, - nós ou um anjo baixado do céu, - vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema." (Gl 1,8)
"O homem que assim fomenta divisões, depois de advertido uma primeira e uma segunda vez, evita-o"
(Tt 3,10).

Se a salvação se encontra na verdade que é Jesus, então Ele não se enganou quanto às promessas feitas em relação a sua Igreja. Ele fundou uma Igreja, e ela encontra a plenitude de sua expressão por meio da Igreja católica.


Fonte: Pe. Alberto Luiz Gambarini trechos extraídos do livro: Quem fundou sua Igreja?

19 de setembro de 2012

A Participação na Santa Missa

Infelizmente hoje em dia é comum que haja uma compreensão incorreta do que seja a participação na liturgia, e isto leva a enganos e abusos que muito têm contribuído para afastar a muitos da Igreja.

A noção de "participação" (pedida pelo Concílio Vaticano II e, antes disso, por vários Sumos Pontífices) está, ao contrário do que sempre foi a sua compreensão na Igreja, sendo vista como não mais uma real participação do cristão m uma ação da Igreja, mas como uma participação meramente acidental, que não leva em consideração a necessária ordenação hierárquica dos modos de participação.

A participação deve ser ordenada hierarquicamente por ordem de importância, não por ordem de visibilidade (que frequentemente aliás vem a ser o seu exato oposto). Assim, a participação do corpo deve ser subordinada à participação da alma, e a participação da vontade à participação do intelecto. Infelizmente muitos consideram ser mais importante que tenhamos uma assembléia reunida a responder em alta voz as partes que lhes competem da liturgia que uma assembléia que esteja compreendendo o que está se passando (e, evidentemente, o que está ou não a dizer), e que esteja, em sua alma, participando.

Participa mais da Santa Missa a velha senhora que percebe estar diante do mais belo e profundo Mistério e, enlevada pelo Sublime e fisicamente ocupada com suas devoções particulares (que podem não ser correspondentes ao texto litúrgico mas indubitavelmente o são em relação à ação litúrgica e sacramental cuja existência e majestade elas a ajudam a compreender), não responde em alta voz que a jovem senhora que responde aos brados, senta-se e levanta-se como se propelida por mecanismo de mola, abraça a força todos os que estão perto dela no "abraço da paz" e joga beijinhos para os amigos em outras fileiras... mas não percebe o que está acontecendo no altar.

Sua Santidade o Papa Pio XII já nos lembrou que não há como apelar igualmente aos sentimentos e à espiritualidade de cada um na liturgia. Não há comportamento que seja igualmente expressivo para todos. É evidente que os gestos litúrgicos tradicionais, como o ajoelhar-se, levantar-se, etc., têm um significado que é o mesmo para todos, mas não se pode esperar que a liturgia seja tão emocionante ou tocante, ou que atinja emocionalmente a todos da mesma exata maneira.

Daí ocorre em muitas paróquias um triste fenômeno: busca-se levar as pessoas a uma participação exterior, sem que lhes seja dada sequer a oportunidade de participação interior. Sacerdotes dizem o que diziam em minha infância os palhaços de circo ("mais alto!" "não ouvi!" "vamos lá, bem forte!"), músicas totalmente alheias ao espírito da liturgia são usadas para que seus ritmos acelerados levem as pessoas a um estado de excitação em que a vontade age sem o acordo do intelecto e o corpo se move sem cuidar da alma...

Assim, aparentemente, vemos uma assembléia a participar. Mas será que realmente haveria alguma participação?

Temos corpos que se movem, mas a alma fica como que morta.
Temos a vontade que age, mas o intelecto não tem domínio algum sobre ela neste momento.

Os corpos movem-se ao compasso da música, mas o Mistério que lá ocorre, exatamente devido a tantos fatores de distração (música ritmada, coreografias!!!, etc.) passa desapercebido da alma. A grandeza do Sacrifício de Cristo na Cruz tornado novamente presente de forma incruenta porém real - tão real quanto a existência de teu coração ou fígado - é obnubilada e diminuída acidentalmente pelo ambiente nada propenso à devoção. O movimento das cadeiras da "Heloísa" da fileira à frente passa a ter mais importância para muitos jovens - que mal esperam chegar a hora do abraço da paz para abraçá-la - que a Real Presença de Nosso Senhor Jesus Cristo, abandonado no altar enquanto os fiéis(?) dançam, cantam e se abraçam. Não é de se espantar que tão poucos sigam os Mandamentos, tão poucos tenham uma vida espiritual mais rica que cantar músicas do padre roqueiro mais em voga em sua região... :(

A vontade age movida pelos sentidos, pelo ritmo da música, pela amizade aos que estão em torno, pelo carinho que se tenha para com fulano ou beltrano... Não pelo intelecto. Não é por perceberem pela Razão iluminada pela Fé a grandeza do Mistério que ora é celebrado que as pessoas se colocam de joelhos, mas por ouvirem a pavloviana sineta que anuncia a "hora de ajoelhar", assim como o "Oremos" anuncia a hora de se levantar. Não é para fazer as pazes com os inimigos que as pessoas se aproximam no "abraço da paz", mas para abraçar os amigos ou as moças bonitas...

Mas "a comunidade está participando", dizem alegremente os que percebem apenas este aspecto externo, enquanto ficam com a boca cheia d'água ao ver uma cesta cheia de frutas de cera.

Eles não percebem que a esta participação meramente acidental conquanto ruidosa seria infinitamente maior e melhor uma participação real, em alma e em vontade, de uma assembléia silente e imersa em seus devocionários ou terços bem rezados.

Eles não percebem, ai de nós, que esta "participação" é tão real quanto o catolicismo de tantos jovens que estão na Missa da noite todos os domingos porque aos sábados à noite vão para a boate e "ficam" uns com os outros - "sem problemas, eles usam camisinha..." - ou o de tantos casais que se fecham para a vida com pílulas, DIUs, castrações... e depois entram na fila da comunhão alegremente conversando com o colega do lado - isto quando não são eles mesmos a, habitual logo ilicitamente, distribuir o Santíssimo...

Rezemos por uma real participação, e procuremos fazer com que nossos irmãos e, sobretudo, nossos pastores compreendam o que realmente significa "participar".

Aproveito para contar algo que aconteceu comigo no domingo passado, a meu ver uma perfeita ilustração do que abordei naquele texto.

Fui passar uma tarde no parque com meus filhos e minha esposa, e deixei para ir à Missa na Catedral, no fim da tarde. Resolvemos, eu e minha esposa, aproveitarmos a visita à Catedral para nos confessarmos.

Chegamos um pouco antes da hora da Missa, e enquanto ela ficava com as crianças na frente da igreja entrei para ver se havia padre disponível para ouvir minha Confissão. Havia um grupo de jovens - um tecladista, uma cantora de belíssima voz e um casal assistindo - ensaiando as (horrendas) músicas da "Campanha da Materialidade", digo, "da Fraternidade" deste ano. Evidentemente eles não estavam no coro, lugar onde os músicos deveriam estar, mas em lugar onde ficassem plenamente visíveis para todos...

Comentei com a moça, que assistia, que era uma pena ver voz tão bela cantando músicas tão pouco inspiradas. Ela me respondeu que gostava das músicas, e perguntou por quê eu não as apreciava. Respondi que, além das rimas pobres, da melodia fraca e do fato da música raramente acompanhar a melodia, as músicas expressavam uma mentalidade bastante acatólica, a da famigerada "teologia da libertação". Em tempo de Quaresma, disse, elas ignoram a conversão e a contrição para pregar bobagens materialistas que não se levam depois da morte.

Daí veio a pobre moça a me falar de como a CF era importante, do quanto era necessário que percebêssemos as desigualdades sociais e injustiças, etc. Respondi que pelos frutos podemos ver o mérito de uma obra. Os frutos do comunismo, sabemo-lo todos, são milhões de mortos e a destruição da Fé em larga escala nos lugares por onde passou. Os da TL... basta ver o que houve com seu principal porta-voz, Boff, apóstata e amasiado. Respondeu-me ela que lera seus livros e muito o apreciava, e que certamente ele era mais "santo" que muita gente que está na Igreja.

Perceba-se aí o duplo engano: achar que a participação/"presença-cantante" é "estar na Igreja" e achar que fora da Igreja há Salvação e Santidade.

Enquanto isso o rapaz ia atrás de padre para ouvir minha confissão, e eu esperava.

Daí veio a pobre moça a me dizer que sua irmã, 'tadinha, vivia amasiada ("casada" no civil) com um rapaz casado e "divorciado", e que sua vida era santa e ela não estava a cometer pecado algum, que isso era delírio da Igreja, etc.

Em um determinado momento ela parou de arrotar absurdos e saiu, dizendo que sentia muito mas tinha que ir distribuir folhetos da Missa (claro, sem folhetos não há "participação" cantante e sacolejante...).

Chegou então o padre para ouvir minha confissão. Pedi a ele que fosse no confessionário, ao lado do qual estávamos. "Precisa mesmo?", perguntou-me ele, evidentemente desacorçoado pela idéia. Respondi-lhe que pelo Código de Direito Canônico, cânone 964 parágrafos 2 e 3 era meu direito (anotem esses números!!! ;) ). Creio que não preciso descrever a cara que fez, enquanto resmungava que era a primeira vez que entrava em um confessionário(!)...

Então percebi que havia genuflexórios colocados de tal maneira que a parte onde a pessoa ajoelha trancava a porta dos confessionários, para impedir que lá fossem ouvidas confissões. Eles estavam em tal posição que era impossível usá-los para ajoelhar-se.

Ajudado por um seminarista, arredei um genuflexório para que o padre pudesse entrar.

Ele ouviu minha confissão e, parecendo desapontado com meus pecados(!), fez-me um discurso dizendo que a Confissão não era necessária, que Deus perdoa aqueles que pedem perdão diretamente a Ele, etc. Note-se que ele não disse que ***eu*** estava sendo escrupuloso (mesmo pq evidentemente não era o caso, não entro em detalhes para não escandalizá-los), mas que a Confissão, qualquer Confissão, era desnecessária.

Deu-me como penitência rezar uma dezena do terço pelos alcoólatras (que, com problemas de coordenação motora causados pela bebida, certamente têm dificuldades em balançar as mãos ritmicamente na liturgia).

Enquanto eu me levantava, surgiram várias pessoas que haviam visto o padre no Confessionário e queriam se confessar ali, mas o padre saiu dizendo que não ouviria suas confissões no confessionário de modo algum, e que iria para junto da porta da igreja para ouvir as confissões sentado em um banco ao lado dos que se confessavam. Ouvi vários suspiros e protestos, que de nada serviram. Ele estava inarredável em seu abuso de autoridade.

Fui então buscar minha esposa, que quando soube o que se passara decidiu esperar para se confessar com outro padre que poderia dar-lhe tbm direção de consciência correta.

E começou a Missa. Alto-falantes por toda parte distorciam o som que seria cristalino se não houvesse amplificação (posto que a Catedral tem uma acústica maravilhosa, desde que se fale do presbitério ou dos púlpitos), mas foi possível perceber que a homilia do padre (outro, aquele estava na porta da igreja, de pé, braços cruzados sobre a estola e pernas abertas) era sobre como a "amizade" é linda, e como tanta gente vinha para a igreja por causa dos amigos, vinham para o Grupo de Jovens e lá faziam amigos, que duravam para a vida toda...

E eu só pude então pensar em como realmente no Grupo de Jovens eles liam os livros do Boff e "aprendiam" que a amizade com o homem (expressa nesta "participação" puramente acidental), e não com Deus, é o que importa... :(

Chegando ao fim da Missa, foram à frente os famigerados dizimistas-modelo pregar as maravilhas do dízimo, enquanto o padre pedia palmas para eles e o grupo de jovens distribuía folhetos sobre o dízimo nas portas.

Haveria ali alguma real participação na Igreja?

Gostaria de crer que sim, mas se a há é a despeito do que se faz acidentalmente, não por causa disso.

Fonte: Carlos Ramalhete - Livre cópia e difusão do texto em sua íntegra com menção do autor

17 de setembro de 2012

A Biografia do Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer - Arcebispo Metropolitano de São Paulo

Seu lema:

IN MEAM COMMEMORATIONEM
Em minha memória

Nascimento: 21/09/1949 Local: Cerro Largo-RS / Brasil
Filiação: Edwino Scherer e Francisca Wilma Steffens Scherer

Ordenação Presbiteral: 07/12/1976 Local: Quatro Pontes, Diocese de Toledo-PR

Nomeação Episcopal: 28/11/2001

Ordenação Episcopal: 02/02/2002 Local: Toledo-PR

Arcebispo de São Paulo: 29/04/2007

Cardeal da Igreja: desde 24/11/2007

Estudos:
Filosofia : Seminário Maior Rainha dos Apóstolos, em Curitiba, e na Faculdade de Educação da Universidade de Passo Fundo-RS (1970-1975).
Teologia: Studium theologicum, Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba-PR.
Especialização: Mestrado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (1994-1996).
Doutorado: em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (1988-1991).
Outros Cursos: Metodologia do Ensino Superior, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, de Porto Alegre; aperfeiçoamento da língua alemã no Goethe-Institut de Staufen i.Br. (Alemanha), da língua francesa na Universidade de Lyon (França) e da língua inglesa, em Londres.

Atividades antes do episcopado:
Reitor e professor no Seminário Diocesano São José, em Cascavel-PR (1977-1978); Reitor e professor no Seminário Diocesano Maria Mãe da Igreja, em Toledo-PR (1979-1982 e 1993); Professor de Filosofia na Faculdade de Ciências Humanas Arnaldo Busatto, em Toledo-PR (1980-1985); na Universidade Estadual do Oeste do Paraná, em Toledo-PR (1985-1994); Professor de Teologia no Instituto Teológico Paulo VI, de Londrina-PR (1985); Vigário Paroquial e Pároco da paróquia-catedral Cristo Rei, de Toledo-PR (1985-1988); Reitor do Seminário Teológico de Cascavel-PR (1991-1992); Diretor e professor do Centro Interdiocesano de Teologia de Cascavel (1991-1993); Reitor do Seminário Maria Mãe da Igreja (1993); Membro da Comissão Nacional do Clero - CNBB (1985-1988); da Comissão Teológica do Regional Sul II da CNBB (PR., 1992-1993); Oficial da Congregação para os Bispos, na Santa Sé (1994-2001).

Atividades como bispo e cardeal:
Bispo Auxiliar de São Paulo, SP (2002-2007); Secretário-Geral da CNBB (2003-2007); Delegado da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe (2007); Secretário-Geral Adjunto da V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe (maio de 2007); Arcebispo de São Paulo (desde 29 de abril de 2007); Membro do Conselho Permanente da CNBB (desde 2007); membro da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé da CNBB (de 2007 a 2011); Cardeal da Santa Igreja Romana, do título de Santo Andrea al Quirinale, no Consistório de 24 de novembro de 2007); Grão-Chanceler da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (desde abril de 2007); Grão-Chanceler do Centro Universitário Assunção, de São Paulo (desde abril de 2007). Presidente Delegado da XII Assembléia Ordinária do Sínodo dos Bispos (outubro de 2008). Enviado especial do Papa Bento XVI para as comemorações do 30º aniversário da mediação da Santa Sé entre a Argentina e o Chile para a solução do conflito do Canal de Beagle (dezembro de 2008). Membro da Congregação para o Clero (desde 2008); Membro do Conselho do Sínodo dos Bispos (desde 2008); Membro da Comissão de Cardeais para o estudo dos problemas organizativos e econômicos da S.Sé (desde 2009); Membro do Pontifício Conselho para a Família (desde 2009); Membro da Pontifícia Comissão para a América Latina (desde 2009); Membro da Pontifícia Comissão Cardinalícia para a supervisão do Instituo para as Obras de Religião (desde 2009); Membro do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização (desde 2010). Presidente do Regional Sul 1 da CNBB – Estado de São Paulo (desde junho de 2011); Presidente da Comissão da CNBB para a comemoração dos 50 anos do Concílio Vaticano II (desde 2011).

Escritos de sua autoria:
Justo sofredor: uma interpretação do caminho de Jesus e do discípulo, Ed.Loyola, 1995

Artigos em revistas e Jornais

Lema episcopal:
“In meam commemorationem” (“fazei isto em memória de mim”).

Política, com Ofensas à Igreja, Não!

Na atual campanha eleitoral para os cargos do Poder Municipal, a Arquidiocese de São Paulo tem procurado manter uma postura coerente com as disposições canônicas da Igr
eja Católica e com suas próprias orientações pastorais. Instruções foram passadas ao clero, para que os espaços e os momentos de celebrações religiosas não sejam utilizados para a propaganda eleitoral partidária, nem para pedir votos para candidatos. Estas orientações também estão sintonizadas com as próprias normas da Justiça Eleitoral.


Entretanto, a mesma Arquidiocese, através de seu Arcebispo e dos Bispos Auxiliares, também deu orientações e critérios sobre a participação dos fiéis na campanha eleitoral e na vida política da cidade e sobre a escolha de candidatos idôneos, embora sem citar nomes ou partidos. Essas orientações estão amplamente divulgadas. Entendemos que o voto dos cidadãos é livre e não deve ser imposto aos fiéis, como por “cabresto eleitoral”, pelos ministros religiosos; nem devem nossos templos e organizações religiosas ser transformados em “currais eleitorais”, reeditando práticas de uma política viciada, que deveriam estar superadas. A manipulação política da religião não é um benefício para o convívio democrático e pluralista e pode colocar em risco a tolerância e a paz social.

Também com este propósito, enquanto organização presente de maneira capilar na cidade, a Arquidiocese de São Paulo convidou os 5 candidatos, atualmente mais bem posicionados nas pesquisas eleitorais, sem distinção de partido, para um colóquio com o clero e os religiosos, no próximo dia 20 de setembro, para que os candidatos tenham a ocasião de apresentar seus projetos e propósitos de governo e, da parte do clero e dos religiosos, possam ouvir os questionamentos sobre assuntos que interessam muito o povo de São Paulo e dizem respeito a realidades e questões, nas quais as organizações da nossa Igreja estão profundamente inseridas e envolvidas.

Consideramos que a manipulação e instrumentalização da religião, em função da busca do poder político, não prometem ser um bem para a sociedade e não são coerentes com os princípios da liberdade de consciência e do legítimo pluralismo no convívio dos cidadãos. Além de tudo, isso poderia deixar divisões e feridas dificilmente cicatrizáveis no seio das religiões e das comunidades religiosas.

Muito nos entristeceu, no contexto da propaganda eleitoral partidária, ver a Igreja Católica Apostólica Romana atacada e injuriada, de maneira injustificada e gratuita, justamente num artigo do chefe da campanha de um candidato à Prefeitura de São Paulo. Coisas ali ditas sobre a Igreja Católica são difamatórias e beiram ao absurdo, merecendo todo o repúdio. Não foram ofendidos e desprezados apenas os fiéis católicos da Arquidiocese de São Paulo, mas de toda a Igreja Católica no Brasil, uma vez que o autor do infeliz escrito também é chefe nacional do partido que representa.

Semelhantes ataques são inaceitáveis e a Arquidiocese de São Paulo não podia deixar de se manifestar, como fez com uma Nota de Repúdio, através de sua Assessoria de imprensa, durante a semana que passou. A Arquidiocese não aceita a afirmação de que o fato foi trazido à tona por ela mesma, ou por um “falso blogueiro”, uma vez que nem o próprio autor negou a autoria do escrito, que se encontra atualmente no seu blog, e também nos “sites” relacionados com o mesmo partido. Portanto, o artigo já estava sendo usado na campanha eleitoral, antes da manifestação da Arquidiocese.

Também é inaceitável que na campanha eleitoral se fomente um clima de intranqüilidade entre os cristãos das diversas comunidades e denominações, que convivem na cidade de São Paulo. Temos muito em comum na nossa fé e somos todos cidadãos desta cidade imensa, onde nossa atuação e testemunho comum de fé têm muito a contribuir para o bem da cidade, especialmente no serviço à justiça social, à verdade, à dignidade humana e na solidariedade para com os que mais sofrem e mais precisam das atenções do Poder Público municipal.

Reiteramos nossa orientação para que os fiéis católicos votem de maneira consciente, livre e responsável, e de acordo com os princípios e valores que orientam suas próprias vidas e da fé que abraçam, contribuindo para que nossa cidade seja governada por Autoridades dignas e atentas à promoção do bem da cidade, mais que aos interesses de parte, e capazes de promover a solidariedade e a paz entre todos os habitantes desta Metrópole



SÃO PAULO, 16. 09. 2012
Cardeal D.Odilo P. Scherer
Arcebispo de São Paulo



15 de setembro de 2012

POR QUE NÃO SOU PROTESTANTE


Dois grandes pesquisadores da época rompem preconceitos

São sete as razões principais pelas quais não sou protestante:

1. Somente a Bíblia...

Os protestantes afirmam que seguem a Bíblia como norma de fé. Acontece, porém, que a Bíblia utilizada por todos os protestantes é uma só; em português, vem a ser a tradução de Ferreira de Almeida.
Por que então não concordam entre si no tocante a pontos importantes (ver nº 2 adiante)? E por que não constituem uma só comunidade cristã, em vez de serem centenas e centenas de denominações separadas (e até hostis) entre si?

A razão disto é que, além da Bíblia, seguem outra fonte de fé e disciplina... fonte esta que explica as divergências do Protestantismo.

Tal fonte, chamamo-la Tradição oral; é esta que dá vida e atualidade à letra do texto. A tradição oral do Catolicismo começa com Cristo e os Apóstolos, ao passo que as tradições orais dos protestantes começam com Lutero (1517), Calvino (1541), Knox (1567), Wesley (1739), Joseph Smith (1830)...

Entre Cristo e os Apóstolos, de um lado, e os fundadores humanos das denominações protestantes, do outro lado, não há como hesitar: só se pode optar pelos ensinamentos de Cristo e dos Apóstolos, deixando de lado os "profetas" posteriores.

Notemos que o próprio texto da Bíblia recomenda a Tradição oral, ou seja, a Palavra de Deus que não foi consignada na Bíblia e que deve ser respeitada como norma de fé. Os autores sagrados não tiveram, em vista expor todos os ensinamentos de Jesus, como eles mesmos dizem:

"Há ainda muitas outras coisas que Jesus fez. Se elas fossem escritas, uma por uma, penso que nem o mundo inteiro poderia conter os livros que se teriam de escrever" (Jo 21,25, cf. 1 Ts 2,15).

"Muitos outros prodígios fez ainda Jesus na presença dos discípulos, os quais não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome (Jo 20,30s).

São Paulo, por sua vez, recomenda os ensinamentos que de viva voz nos foram transmitidos por Jesus e passam de geração a geração no seio da Igreja, sem estarem escritos na Bíblia: "Sei em quem acreditei.. Toma por norma as sãs palavras que ouviste de mim na fé e no amor do Cristo Jesus. Guarda o bom depósito com o auxílio do Espírito Santo que habita em nós" (2Tm 1, 12-14).

Neste texto vê-se que o depósito é a doutrina que São Paulo fez ouvir a Timóteo, e que Paulo, por sua vez, recebeu de Cristo. Tal é a linha pela qual passa o depósito: Cristo -> Paulo -> Timóteo

A linha continua... conforme 2Tm 2,2:

"O que ouviste de mim em presença de muitas testemunhas, confia-o a homens fiéis, que sejam capazes de o ensinar ainda a outros".

Temos então a seguinte sucessão de portadores e transmissores da Palavra: O Pai -> Cristo -> Paulo (Os Apóstolos) -> Timóteo (Os Discípulos imediatos dos Apóstolos) -> Os Fiéis -> Os outros Fiéis

Desta forma a Escritura mesma atesta a existência de autênticas proposições de Cristo a ser transmitidas por via meramente oral de geração a geração, sem que os cristãos tenham o direito de as menosprezar ou retocar. A Igreja é a guardiã fiel dessa Palavra de Deus oral e escrita.

Dirão: mas tudo o que é humano se deteriora e estraga. Por isto a Igreja deve ter deteriorado e deturpado a palavra de Deus; quem garante que esta ficou intacta através de vinte séculos na Igreja Católica?

Quem o garante é o próprio Cristo, que prometeu sua assistência infalível a Pedro e as luzes do Espírito Santo a todos os seus Apóstolos ou à sua Igreja; ver Mt 16, 16-18; Lc 22,31s; Jo 21,15-17; Jo 14, 26; 16,13-15.

Não teria sentido o sacrifício de Cristo na Cruz se a mensagem pregada por Jesus fosse entregue ao léu ou às opiniões subjetivas dos homens, sem garantia de fidelidade através dos séculos. Jesus não pode ter deixado de instituir o magistério da sua Igreja com garantia de inerrância.

2. Contradições

0 fato de que não seguem somente a Bíblia, explica as contradições do Protestantismo:

Algumas denominações batizam crianças; outras não as batizam;

Algumas observam o domingo; outras, o sábado;

Algumas têm bispos; outras não os têm;

Algumas têm hierarquia; outras entregam o governo da comunidade à própria congregação (congregacionalistas);

Algumas fazem cálculos precisos para definir a data do fim do mundo - o que para elas é essencial. Outras não se preocupam com isto.

Vê-se assim que a Mensagem Bíblica é relida e reinterpretada diversamente pelos diversos fundadores dos ramos protestantes, que desta maneira dão origem a tradições diferentes e decisivas.

Ademais, todos os protestantes dizem que a Bíblia contém 39 livros do Antigo Testamento e 27 do Novo Testamento, baseando-se não na Bíblia mesma (que não define o seu catálogo), mas unicamente na Tradição oral dos judeus de Jâmnia reunidos em Sínodo no ano 100 d.C.;

Todos os protestantes afirmam que tais livros são inspirados por Deus, baseando-se não na Bíblia (que não o diz), mas unicamente na Tradição oral.

Onde está, pois, a coerência dos protestantes?

Pelo seu modo de proceder, afirmam o que negam com os lábios; reconhecem que a Bíblia não basta como fonte de fé. É a Tradição oral que entrega e credencia a Bíblia.

3. Afinal a Bíblia... Sim ou Não?

Há passagens da Bíblia que os fundadores do Protestantismo no século XVI não aceitaram como tais; por isto são desviadas do seu destino original muito evidente:

1. A Eucaristia... Jesus disse claramente: "Isto é o meu corpo" (Mt 26,26) e "Isto é o meu sangue" (Mt 26,28).

Em Jo 6,51 Jesus também afirma: "O pão que eu darei, é a minha carne para o mundo". Aos judeus que zombavam, o Senhor tornou a afirmar: "Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. Quem come minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha came é verdadeiramente uma comida e o meu sangue verdadeíramente uma bebida".

Apesar disto, os protestantes não aceitam o sacramento do perdão e da reconciliação! (Jo 21,17).

Se assim é, por que é que "os seguidores da Bíblia" não aceitam a real presença de Cristo no pão e no vinho consagrados?

2. Jesus disse ao Apóstolo Pedro: "Tu és Pedro (Kepha) e sobre esta Pedra (Kepha) edificarei a minha Igreja" (Mt 16,18).

Disse mais a Pedro: "Simão, Simão... eu roguei por ti, a fim de que tua fé não desfaleça. E tu, voltando-te, confirma teus irmãos" (Lc 22,31s).

Ainda a Pedro: "Apascenta as minhas ovelhas" (Jo 21,15).

Apesar de tão explícitas palavras de Jesus, os protestantes não reconhecem o primado de Pedro! Por que será?

3. Jesus entregou aos Apóstolos a faculdade de perdoar ou não perdoar os pecados - o que supõe a confissão dos mesmos para que o ministro possa discernir e agir em nome de Jesus:

"Recebei o Espiríto Santo. Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem não os perdoardes, não serão perdoados" (Jo 20,22s).

4. Jesus disse que edificaria a sua Igreja ("a minha Igreja", Mt 16,18) sobre Pedro.

As denominações protestantes são constituídas sobre Lutero, Calvino, Knox, Wesley... Antes desses fundadores, que são dos séculos XVI e seguintes, não existia o Luteranismo, o Calvinismo (presbiterianismo), o Metodismo, o Mormonismo, o Adventismo... Entre Cristo e estas denominações há um hiato... Somente a Igreja Católica remonta até Cristo.

5. 0 Apóstolo São Paulo, referindo-se ao seu elevado entendimento da mensagem cristã, recomenda a vida una ou indivisa para homens e mulheres:
 "Dou um conselho como homem que, pela misericórdia do Senhor, é digno de confiança... 0 tempo se fez curto. Resta, pois, que aqueles que têm esposa, sejam como se não a tivessem; aqueles que choram, como se não chorassem; aqueles que se regozijam, como se não se regozijassem; aqueles que compram, como se não possuíssem; aqueles que usam deste mundo, como se não usassem plenamente. Pois passa a figura deste mundo. Eu quisera que estivésseis isentos de preocupações.
Quem não tem esposa, cuida das coisas do Senhor e do modo de agradar ao Senhor. Quem tem esposa, cuida das coisas do mundo e do modo de agradar à esposa, e fica dividido.
Da mesma forma a mulher não casada e a virgem cuidam das coisas do Senhor, a fim de serem santas de corpo e de espírito. Mas a mulher casada cuida das coisas do mundo; procura como agradar ao marido" (1Cor 7,25-34).

Ora os protestantes nunca citam tal texto quando se referem ao celibato e à virgindade consagrada a Deus.
 É estranho, dado que eles querem em tudo seguir a Bíblia.

4. Esfacelamento

Jesus prometeu à sua Igreja que estaria com ela até o fim dos tempos (cf. Mt 28,20); prometeu também aos Apóstolos o dom do Espírito Santo para que aprofundassem a mensagem do Evangelho (cf. Jo 14,26; 16,13s).

Não obstante, os protestantes se afastam da Igreja assim assistida por Cristo e pelo Espírito Santo para fundar novas "igrejas". São instituições meramente humanas, que se vão dividindo, subdividindo e esfacelando cada vez mais; empobrecem e pulverizam sempre mais a mensagem do Evangelho, reduzindo-a: Ora a sistema de curas (curandeirismo), milagre serviço ao homem (Casa da Bênção, Igreja Socorrista, Ciência Cristã...);

Ora a um retorno ao Antigo Testamento, com empalidecimento do Novo; assim os ramos adventistas...; Ora a um prelúdio de nova "revelação", que já não é cristã. Tal é o caso dos Mórmons; tal é o caso das Testemunhas de Jeová, que negam a Divindade de Cristo, a SS. Trindade e toda a concepção cristã de história.

5. Deterioração da Bíblia

0 fato de só quererem seguir a Bíblia (que na realidade é inseparável de Tradição oral, que a berçou e a acompanha), tem como consequência o subjetivismo dos intérpretes protestantes. Alguns entram pelos caminhos do racionalismo e vêm a ser os mais ousados dilapidadores ou roedores das Escrituras (tal é o caso de Bultmann, Marxsen, Harnack, Reimarus, Baur...). Outros preferem adotar cegamente o sentido literal, sem o discernimento dos expressionismos próprios dos antigos semitas, o que distorce, de outro modo, a genuína mensagem bíblica.

Isto acontece, porque faltam ao Protestantismo os critérios da Tradição ("o que sempre, em toda a parte e por todos os fiéis foi professado"), critérios estes que o magistério da Igreja, assistido pelo Espírito Santo, propõe aos fiéis e estudiosos, a fim de que não se desviem do reto entendimento do texto sagrado.

6. Mal-Entendidos

Quem lê um folheto protestante dirigido contra as práticas da Igreja Católica (veneração, não adoração das imagens, da Virgem Santíssima, celibato...), lamenta o baixo nível das argumentações: são imprecisas, vagas, ou mesmo tendenciosas; afirmam gratuitamente sem provar as suas acusações; não raro baseiam-se em premissas falsas, datas fictícias, anacronismos.

As dificuldades assim levantadas pelos protestantes dissipam-se desde que se estudem com mais precisão a Bíblia e as antigas tradições do Cristianismo. Vê-se então que as expressões da fé e do culto da Igreja Católica não são senão o desabrochamento homogêneo das virtualidades do Evangelho; sob a ação do Espírito Santo, o grão de mostarda trazido por Cristo à terra tornou-se grande árvore, sem perder a sua identidade (cf. Mt 13,31 s); vida é desdobramento de potencialidades homogêneo. Seria falso querer fazer disso um argumento contra a autenticidade do Catolicismo. Está claro que houve e pode haver aberrações; estas, porém, não são padrão para se julgar a índole própria do Catolicismo.

A dificuldade básica no diálogo entre católicos e protestantes está nos critérios da fé. Donde deve o cristão haurir as proposições da fé: da Bíblia só ou da Bíblia e da Tradição oral?

Se alguém aceita a Bíblia dentro da Tradição oral, que lhe é anterior, a berçou e a acompanha, não tem problema para aceitar tudo que a Palavra de Deus ensina na Igreja Católica, à qual Cristo prometeu sua assistência infalível.

Mas, se o cristão não aceita a Palavra de Deus na sua totalidade oral e escrita, ficando apenas com a escrita (Bíblia), já não tem critérios objetivos para interpretar a Bíblia; cada qual dá à Escritura o sentido que ele julga dever dar, e assim se vai diluindo e pervertendo cada vez mais a Mensagem Revelada. A letra como tal é morta; é a Palavra viva que dá o sentido adequado a um texto escrito.

7. Menosprezo da Igreja

Jesus fundou sua Igreja e a entregou a Pedro e seus sucessores. Sim, Ele disse ao Apóstolo: "Tu és Pedro e sobre essa pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela. Eu te darei as chaves do Reino dos céus, e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus" (Mt 16,18s).

Notemos: Jesus se refere à sua Igreja (Ele só tem uma Igreja) e Ele a entregou a Pedro... A Pedro e a seus sucessores, pois Pedro é o fundamento visível ("sobre essa pedra edificarei..."); ora, se o edifício deve ser para sempre inabalável, o fundamento há de ser para sempre duradouro; esse fundamento sólido não desapareceu com a morte de Pedro, mas se prolonga nos sucessores de Pedro, os Papas.

Ora, Lutero e seus discípulos desprezaram a Igreja fundada por Jesus, e fundaram (como até hoje ainda fundam) suas "igrejas". Em consequência, cada "igreja" protestante é uma sociedade meramente humana, que já não tem a garantia da assistência infalívei de Jesus e do Espírito Santo, porque se separou do tronco original.

A experiência mostra como essas "igrejas" se contradizem e ramificam em virtude de discórdias e interpretações bíblicas pessoais dos seus fundadores; predomina aí o "eu acho" dos homens ou de cada "profeta" de denominação protestante.

Mas... as falhas humanas da Igreja não são empecilho para crer?

Em resposta devemos dizer que o mistério básico do Cristianismo é o da Encarnação; Deus assumiu a natureza humana, deixou-se desfigurar por açoites, escarros e crucificação, mas desta maneira quis salvar os homens. Este mistério se prolonga na Igreja, que São Paulo chama "o Corpo de Cristo" (Cl 1,24; 1Cor 12,27). A Igreja é humana; por isto traz as marcas da fragilidade humana de seus filhos, mas é também divina; é o Cristo prolongado; por isto os erros dos homens da Igreja não conseguem destrui-la; são, antes, o sinal de que é Deus quem vive na Igreja e a sustenta.

Numa palavra, o cristão há de dizer com São Paulo: "A Igreja é minha mãe" (cf. Gl 4,26). Ao que São Cipriano de Cartago (+258) fazia eco, dizendo: "Não pode ter Deus por Pai quem não tem a Igreja por Mãe" ("Sobre a Unidade de Igreja", cap. 4).

Conclusão

A grande razão pela qual o Protestantismo se torna inaceitável ao cristão que reflete, é o subjetivismo que o impregna visceralmente. A falta de referenciais objetivos e seguros, garantidos pelo próprio Espírito Santo (cf. Jo 14,26; 16,13s), é o principal ponto fraco ou o calcanhar de Aquiles do Protestantismo. Disto se segue a divisão do mesmo em centenas de denominações diversas, cada qual com suas doutrinas e práticas, às vezes contraditórias ou mesmo hostis entre si.

0 Protestantismo assim se afasta cada vez mais da Bíblia e das raízes do Cristianismo (paradoxo!), levado pelo fervor subjetivo dos seus "profetas", que apresentam um curandeirismo barato (por vezes, caro!) ou um profetismo fantasioso ou ainda um retorno ao Antigo Testamento com menosprezo do Novo.

Esta diluição do Protestantismo e a perda dos valores típicos do Cristianismo estão na lógica do principal fundador, Martinho Lutero, que apregoava o livre exame de Bíblia ou a leitura da Bíblia sob as luzes exclusivas da inspiração subjetiva de cada crente; cada qual tira das Escrituras "o que bem lhe parece ou lhe apraz"!


Fonte: Pe. Crhystian  Shankar

O Primado de São Pedro - segunda parte


Infalibilidade do colégio apostólico e do corpo episcopal.

A infalibilidade do colégio apostólico provém:

Da missão confiada a todos os apóstolos de “ensinar todas as nações” (Mat. XXVIII, 20);

Da promessa de estar com eles “até a consumação dos séculos” (Mat. XXVIII, 20) e de lhes “enviar o consolador, o Espírito Santo que lhes há de ensinar toda a verdade” (João XIV, 26). Estas passagens mostram com evidência que o privilégio da infalibilidade foi concedido ao corpo docente tomado coletivamente.

Do colégio apostólico o privilégio passou para à classe episcopal. Não sendo limitada no tempo e no espaço, segue-se que a missão de ensinar deve passar aos sucessores dos Apóstolos com o privilégio que lhe é inerente. Devemos, contudo, fazer uma distinção entre os Apóstolos e os Bispos.
Os Apóstolos tinham como campo de ação todo o universo, visto que as palavras de Nosso Senhor “ide e ensinai todas as gentes” foram dirigidas a todos coletivamente. Portanto, eram missionários universais da fé e podiam pregar por toda a parte o Evangelho como doutores infalíveis.
Os Bispos, porém, só se podem considerar como sucessores dos Apóstolos tomados coletivamente; cada Bispo não é o sucessor de cada  Apóstolo. 
Têm apenas jurisdição numa determinada região, cuja extensão e limites são fixados pelo Papa. Não herdaram, por conseguinte, individualmente a infalibilidade pessoal dos Apóstolos. Só o conjunto dos Bispos goza da infalibilidade.

Infalibilidade de São Pedro e de seus sucessores. O privilégio da infalibilidade foi conferido duma maneira especial a S. Pedro e aos seus sucessores. A tese prova-se com um argumento tirado dos textos evangélicos e outro baseado na história.

Argumento escriturístico. A infalibilidade de Pedro e de seus sucessores demonstram-se com os mesmos textos que provam o primado.

Em primeiro lugar, com o “Tu es Petrus” “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”. É incontestável que a estabilidade de um edifício lhe vem dos alicerces. Se Pedro, que deve sustentar o edifício cristão, pudesse ensinar o erro, a Igreja estaria construída sobre um fundamento ruinoso e já não se poderia dizer: “as portas do inferno não prevalecerão contra ela”.

Depois com o “confirma fratres”, “confirma os teus irmãos”, Jesus assegurou a Pedro que pedira dum modo especial por ele, “para que a sua fé não desfaleça” (Luc. XXII, 32). É evidente que esta prece feita em circunstâncias tão solenes e tão graves não pode ser frustrada.

Finalmente, com o “Pasce oves” “apascenta as minhas ovelhas”. Foi confiada a Pedro a guarda de todo o rebanho. Ora, não se pode supor que Jesus Cristo tenha entregado o seu rebanho aos cuidados de um mau pastor que o desencaminhe por pastos venenosos.

Não é necessário insistir em provar que a infalibilidade de Pedro se transmitiu aos seus sucessores, porque estes deverão ser para a Igreja, na longa série dos séculos, o que Pedro foi para a Igreja nascente. A Igreja, em qualquer momento da sua história, só poderá alcançar a vitória contra os ataques de Satanás, se o fundamento, sobre o qual se apóia, conservar a mesma solidez e estabilidade.

Argumento histórico. Para provar pela história que os Papas gozaram sempre do privilégio da infalibilidade, basta mostrar que foi essa em todos os tempos a crença da Igreja e que de fato os papas nunca erraram em questões de fé e de moral.

Crença da Igreja. A crença da Igreja não se manifestou da mesma forma em todos os séculos. Houve, na verdade, certo desenvolvimento na exposição do dogma a até no uso da infalibilidade pontifícia; mas nem por isso o dogma deixa de remontar aos primeiros tempos, e de fato já o encontramos em germe na Tradição mais afastada, como se demonstra pelo sentir dos Padres da Igreja e dos concílios, e pelos fatos:

Sentir dos Padres da Igreja. No século II, S. Ireneu afirmava que todas as Igrejas se devem conformas com a de Roma, pois só ela possui a verdade integral. S. Cipriano dizia que os Romanos "estão garantidos na sua fé pela pregação do Apóstolo e são inacessíveis à perfídia e ao erro”. S. Jerônimo, para pôr termo às controvérsias que afligiam o Oriente, escreveu ao Papa Damaso nos seguintes termos: “Julguei que devia consultar e esta respeito a cadeira de Pedro e a fé Apostólica, pois só em vós está ap abrigo da corrupção o legado de nossos pais”. S. Agostinho diz a propósito do pelagianismo: “Os decretos dos dois concílios relativos ao assunto foram submetidos à Sé apostólica; já chegou a resposta, a causa está julgada”, “Roma locuta est, causa finita est”. O testemunho de S. Pedro Crisólogo não é menos explícito: “Exortamo-vos, veneráveis irmão, a receber com docilidade os escritos do Santo Papa da cidade de Roma, porque S. Pedro, sempre presente na sua sede, oferece a fé verdadeira aos que a procuram”.

Sentir dos concílios. O que fica dito anteriormente acerca do primado do Bispo de Roma, aplica-se com a mesma propriedade ao reconhecimento de sua infalibilidade.

Os fatos. No século II, o papa Vitor excomungou Teodósio que negava a divindade de Cristo , com uma sentença dita por todos como definitiva. Zeferino condenou os montanistas, Calisto os sabelianos e, a partir destas condenações, foram considerados como herejes. Em 417, o papa Inocêncio proscreveu o pelagianismo, e a Igreja reconheceu o decreto como definitivo. Em 430, o papa Celestino condenou a doutrina de Nestório, e os Padres do Concílio de Éfeso seguiram a sua opinião. O Concílio de Calcedônia (451) recebeu solenemente a célebre carta dogmática do papa Leão I a Flaviano, que condenou a heresia de Eutiques, proclamando unanimemente: “Pedro falou pela boca de Leão”. Do mesmo modo, os Padres do III Concílio de Constantinopla (680) aclamaram o decreto do papa Agatão que condenava o monotelismo, dizendo: “Pedro falou pela boca de Agatão”.

Como se vê, já desde os primeiros séculos, a Igreja romana é reconhecida como o centro da fé e como a norma segura da ortodoxia. Quanto mais avançamos, tanto mais explícitos são os termos que nos manifestam a universalidade desta crença até chegarmos à definição do dogma pelo concílio Vaticano I.

Os papas nunca erraram nas questões de fé e de moral. É este o ponto mais importante do argumento histórico. Com efeito, se alguns dos nossos adversários pudessem demonstrar que alguns papas ensinaram e definiram o erro, a infalibilidade de direito ficaria comprometida. Ora, os historiadores racionalistas e protestantes julgam encontrar provas desta falibilidade. Os casos principais a que aduzem são o papa Libério que, segundo eles, caiu no arianismo e o de Honório, que teria ensinado o monotelismo.

Objeções

O caso do papa Libério (352-366). Os historiadores racionalistas acusam o papa Libério de ter assinado uma proposição de fé ariana ou semi-ariana, para alcançar do imperador Constâncio o favor de voltar a Roma.

Resposta

A. Exposição dos fatos. Recordemos brevemente os fatos. Em 355, o imperador Constâncio, favorável ao arianismo, ordenara ao papa Libério que assinasse a condenação de Atanásio, bispo de Alexandria, o grande campeão da fé ortodoxa. Como se recusasse a fazê-lo, foi exilado para Bereia na Trácia, e o arcediago Félix foi encarregado da Igreja de Roma. Depois de um exílio de três anos aproximadamente, Libério foi restituído à sua sé (358).

B. Solução da dificuldade. Toda a questão se resume em saber que motivos levaram o imperador a levantar-lhe a pena de exílio. Há duas opiniões. Uns, seguindo Rufino, Sócrates, Teodoreto e Cassiodoro, afirmam que o imperador Constâncio pôs termo ao exílio do papa por temor de insurreições do povo romano e do clero, por causa da grande popularidade do pontífice. Outros, pelo contrário, julgam que o papa obteve o levantamento da pana, mediante condescendências culpáveis e concessões feitas em matéria de fé.. Respondamos a esta segunda opinião.

Os seus partidários, para fundamentar a sua pretensão, apóiam-se em dois gêneros de testemunhos:

Nos depoimentos dos contemporâneos: S. Atanásio, S. Hilário de Poitiers, S. Jerônimo;

Nas declarações do próprio Libério.

Entre os fragmentos do Opus historicum de S. Hilário, chegaram até nós nove cartas do papa Libério, quatro das quais datadas do exílio, parecem ser comprometedoras. Com efeito, nestas cartas o papa, para alcançar o favor declara que condena Atanásio, faz profissão da fé católica formulada em Sirmium e pede aos seus correspondentes Orientais, em especial a Fortunaciano de Aquileia, que intercedam perante o imperador para lhe abreviar o exílio.

A estas duas espécies de testemunhos aduzidos pelos adversários, responderam alguns apologistas negando a autenticidade dos depoimentos dos contemporâneos e rejeitando as cartas do papa Libério como apócrifas. Mas como não é possível provar que os testemunhos dos contemporâneos e os do próprio papa Libério não sejam autênticos, devemos aceitar a discussão na hipótese de sua autenticidade. Tudo se reduz a conhecer qual foi a falta do papa e que fórmula subscreveu; porque quando Libério terminou o exílio havia três fórmulas ditas de Sirmium. Dentre eles, só a segunda, que declara que a palavra consubstancial deve ser rejeitada como “estranha à Escritura e ininteligível”, é tida por herética. Ora, comumente se admite que não foi esta a fórmula que o papa assinou, mas provavelmente a terceira.

Quer se trate, porém, da primeira quer da terceira, os teólogos são unânimes em dizer que essas fórmulas não são absolutamente heréticas, apesar de terem o grande inconveniente de favorecer o semi-arianismo, suprimindo a palavra consubstancial da profissão de fé do concílio de Nicéia.

Conclusão. Portanto, ainda na hipótese mais desfavorável, podemos concluir:

Que o papa Libério cometeu apenas um ato de fraqueza condenando, num momento angustioso o grande Atanásio: fraqueza que Atanásio é o primeiro a desculpar: “Libério, diz este grande doutor, vencido pelos sofrimentos de um exílio de três anos e pela ameaça do suplício, assinou por fim o que lhe pediam; mas tudo se deve à violência”.

Além disso, o papa Libério nada definiu; se cometeu algum erro, quando muito podemos dizer que errou como doutor particular e não como doutor universal, quando fala “ex-cathedra”. E, mesmo que tivesse falado “ex-cathedra” - o que não admitimos - não tinha a liberdade de se requerer para o exercício da infalibilidade. Logo, em qualquer hipótese, a infalibilidade está fora de questão.

O caso do papa Honório (625-638). A dar crédito aos adversários da infalibilidade pontifícia, o papa Honório ensinou o monotelismo em duas cartas escritas a Sérgio, patriarca de Constantinopla, e por isso foi condenado como hereje pelo VI Concílio ecumênico e pelo papa Leão II.

Resposta

Exposição dos fatos. Em 451, o concílio de Calcedônia definira contra Eutiques que em Jesus Cristo havia duas naturezas completas e distintas: a humana e a divina. Se há duas naturezas, há também duas vontades: o concílio não o disse expressamente, mas é evidente, pois uma natureza inteligente não pode ser completa sem a vontade.

Não foi esse, porém, o parecer de alguns teólogos orientais que ensinaram haver em Cristo uma só vontade, a divina, ficando a vontade humana como que absorvida pela divina. Essa doutrina era falsa, mas os seus partidários julgavam encontrar nela um meio de conciliação entre os eutiquianos ou monofisistas, isto é, os partidários de uma só natureza, e os católicos. Os primeiros deviam admitir duas naturezas em Cristo e os segundos deviam conceder a unidade de vontade. Essa tática foi adotada por Sérgio, que escreveu nesse sentido ao papa Honório.

Numa carta repleta de equívocos e onde a questão era ardilosamente apresentada, dizia que tinha reconduzido muitos monofisistas à verdadeira fé e pedia-lhe que proibisse falar de uma ou duas energias, de uma ou duas vontades. Honório deixou-se enganar e escreveu a Sérgio duas cartas em que o felicitava pelo bom resultado obtido, e outra a S. Sofrónio, patriarca de Jerusalém e defensor da ortodoxia, na qual lhe aconselhava que não empregasse as palavras novas de “uma ou duas operações”. Operação, na linguagem da época, era sinônima de vontade. Não obstante a intenção conciliadora que ditou estas cartas, as disputas foram aumentando até ao VI concílio ecumênico, terceiro de Constantinopla, que anatematizou os monotelitas e, entre outros, o papa Honório.

Solução da dificuldade. A dificuldade que devemos resolver é a seguinte. Honório, nas duas cartas a Sérgio, ensinou o erro? Terá sido condenado por esse motivo pelo VI concílio ecumênico? São duas as soluções apresentadas pelos apologistas. Uns afirmam que as cartas a Sérgio são apócrifas e deste modo a questão fica cortada pela raiz. Outros admitem a sua autenticidade e é neste campo que nos colocamos, para responder aos adversários. Devemos pois inquirir se estas cartas contêm alguma heresia.

Ninguém pode negar que Honório ladeia a dificuldade com o máximo cuidado e recusa pronunciar-se acerca das duas vontades. No entanto - note-se bem esta particularidade - começa por lembrar as decisões do concílio de Calcedônia e afirma claramente que em Jesus Cristo há duas naturezas distintas, operativas. Em seguida, aprovando a tática de reconciliação adotada por Sérgio, recomenda que não se avance mais no assunto e não se torne a falar de uma ou duas operações. Acrescenta, é verdade, que em Cristo há uma só vontade, mas pelo contexto se depreende que não quer com isso negar a existência da vontade divina em Jesus; o seu fim é simplesmente excluir as duas vontades a que insidiosamente Sérgio aludia: as duas vontades que lutam em nós, a do espírito e a da carne. Honório, portanto, não nega que haja em Cristo uma vontade divina e outra humana, mas somente afirma que a vontade humana de Jesus não é, como a nossa, arrastada por duas correntes que se contrariam.

Todavia, objeta-se, Honório foi condenado pelo VI concílio ecumênico e pelo papa Leão II. Advirta-se, em primeiro lugar, que nem todas as palavras contidas nas Atas dos Concílios são infalíveis e que as decisões de um concílio só gozam do privilégio da infalibilidade, depois de serem examinadas pelo papa. Ora, as atas do VI Concílio, onde estava exarado o anátema contra Honório e contra os principais monotelistas como Sérgio, não foram confirmadas pelo papa. O Sumo Pontífice limitou-se censurar o modo de proceder de Honório, sem o anatematizar, como fez aos outros, e não lhe infringiu a nota de hereje.Conclusão. Podemos portanto concluir:

Que Honório não ensinou nem definiu o monotelismo. Quando muito pode dizer-se que não foi clarividente e que em certo modo favoreceu a heresia, abstendo-se de definir e recomendando o silêncio quando devia falar, proporcionando assim aos monotelistas um pretexto para sustentarem sua doutrina.

Ainda que houvesse erros nas suas cartas e, por esse motivo, fosse condenado pelo VI concílio, o erro e a condenação só o atingiriam como doutor particular, e não como doutor universal. Portanto, nem o caso de Honório nem o de Libério, são argumentos contra a infalibilidade pontifícia.


Fonte: Fonte: Bibliografia: Tratados de filosofia; em particular o Manual de Filosofia de C. Lahr (Porto, Apostolado da Imprensa), e os de Fonsegrive, Jolivet e G. Sortais. - S. Tomás, Summa Teológica, De veritate. - Kleutgen, La philosophie scholastique (Gaume). - De Pascal, Le Christianisme, I. Part. La verité da la Religion (Lethielleux). - P. Julien Werquin, L´Évidence et la Science.

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