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28 de novembro de 2011

Os Anjos falam?

Discorrer sobre anjos pareceria extravagante e pueril até alguns anos atrás. Não obstante, o tema está de volta com toda a força, em plena era do materialismo.

Junto com o renovado interesse pelas criaturas angélicas, muitas fantasias e erros se acrescentam àquilo que a Igreja ensina a respeito delas. Não é nossa intenção analisá-los aqui. Propomo-nos apenas investigar um tema que move em extremo nossa curiosidade, na tentativa de rasgar um pouco o véu que nos oculta o mundo dos puros espíritos: como eles se comunicam?

Seres imateriais, mas compostos

Que os anjos são seres imateriais é algo hoje aceito pacificamente, embora não seja fácil de compreender. Temos tendência a “antropomorfizar” sua vida, transpondo para o plano celeste as circunstâncias de nossa existência terrena. Entretanto, nada há de mais distante da realidade.

Por isso mesmo, nos primeiros séculos da Igreja, o debate sobre a existência de um “corpo angélico” causou controvérsias entre os entendidos, e mesmo entre santos. Uma corrente teológica muito numerosa — na qual se inclui São Boaventura — defendia a tese de que os entes angélicos têm, em sua composição, alguma “matéria espiritual”, um corpo etéreo, extremamente sutil. Pois, argumentavam os defensores dessa corrente, como explicar sua individuação, contingência, o fato de serem criaturas compostas e estarem delimitados?[1] Mais ainda: se os anjos são puros espíritos, não seriam totalmente simples?[2] Como distingui-los de Deus?

A questão veio a ser esclarecida por um dos maiores luminares do pensamento: São Tomás de Aquino. Com singeleza e objetividade, ele clarificou ideias abstrusas e precisou conceitos ambíguos — às vezes, quase diríamos, infantis.

Notemos de passagem que ele foi apropriadamente cognominado de Doutor Angélico, título utilizado pela primeira vez por Santo Antonino de Florença (1389-1459)[3] e depois consagrado por São Pio V na bula Mirabilis Deus, de 1567, “talvez pelas suas virtudes, de modo particular pela sublimidade do pensamento e pureza da vida”, como observa o Papa Bento XVI[4].

Na Suma Teológica, São Tomás dedica todo um tratado ao tema dos anjos, discorre sobre eles também no tratado De Substantiis Separatis, no II Livro das Sentenças e em De Veritate, além de fazer esclarecedoras menções em várias outras obras.

De início, discordou da necessidade de haver um corpo angélico, assinalando que o conceito de “matéria espiritual” é de si contraditório e insustentável. Tal afirmação foi uma das que mais causaram polêmica no seu tempo e quase levou o Bispo de Paris, Étienne Tempier, a condená-lo como herege.

De outro lado, assinalou que todos os seres criados são necessariamente contingentes e compostos.

No caso dos entes corporais, há uma composição de matéria e forma. Mas existe uma composição anterior, inerente a toda criatura, a de essência e ato de ser (ou existência). Uma está para o outro numa relação de potência e ato[5]. Dessa maneira, embora nos anjos não haja matéria, são eles também compostos: sua essência se distingue realmente de seu ato de ser.

Ora, Deus é ato puro; n’Ele há identidade de essência e existência. Ele, explica o padre Bandera, “é absolutamente simples, e n’Ele não há nenhum tipo de composição. As criaturas não alcançam nunca a simplicidade própria de Deus e, consequentemente, implicam alguma composição. Mas para explicar esta composição não é necessário recorrer à matéria; a composição original, aquela inerente à criatura enquanto tal, é a de essência e existência”.[6]

Os anjos têm o ser por participação no Ser divino. Não existiam desde sempre, mas receberam em determinado momento o dom da existência, criados do nada. Isso, segundo a doutrina inovadora de São Tomás, já é suficiente para distinguir a criatura do Criador[7].

Ficava assim resolvido por São Tomás o problema referente à natureza angélica: uma criatura, por mais excelente que seja, é composta pelo menos de essência e existência; no Criador, a existência é idêntica à essência.

Como os anjos chegam ao conhecimento das coisas?

Ensina a Escolástica que todo conhecimento nos vem através dos sentidos. Assim, antes de nosso intelecto formar uma ideia sobre um objeto, intermedeiam os sentidos internos — senso comum, imaginação, memória, cogitativa —, organizando e preparando os dados brutos percebidos pelos sentidos externos, em representações imaginárias. Por fim o intelecto abstrai as características individuais do objeto particular, apreendendo sua essência, com a qual trabalhará para chegar a conceitos, raciocínios e juízos universais.

No processo de conhecimento humano há, pois, uma passagem do objeto particular conhecido para as ideias universais. Assim, se alguém, caminhando por uma rua, encontra de repente um animal, mesmo sem conhecer detalhes sobre ele (por exemplo, quando nasceu e quem é seu dono), saberá de imediato que se trata de um cão ou de um gato, por exemplo.

Depois de havermos conhecido vários cães, a essência canina está bem determinada em nossa mente por certas características as quais, sendo universais, aplicam-se a todos os entes daquela espécie. Por isso, a menos que haja alguma interferência (por exemplo, falta de boa iluminação no local), vendo um cão, saberemos que é um cão, quer se trate de um dálmata, um pastor alemão, um labrador ou um simples vira-latas, não importa seu tamanho, idade, cor ou outros traços individuais.

Nosso raciocínio trabalha, pois, com ideias universais. Por isso, entendemos perfeitamente uma notícia que diga: “Por determinação do Serviço Sanitário Estadual, todos os cães devem ser vacinados contra a raiva”. “Cães”, referindo-se à essência, designa todos os indivíduos da espécie canina.

No entanto, com o anjo o processo de conhecimento não pode dar-se da mesma maneira, uma vez que ele não tem corpo e, assim, não possui sentidos que captem os particulares.

Como, então, chega ele ao conhecimento das coisas?

Resumindo a doutrina de São Tomás a respeito, o professor Peter Kreeft afirma que “é próprio ao homem progredir na verdade por estágios, por meio de conceitos e de raciocínios até o conhecimento da verdade de um juízo”, enquanto que aos anjos é próprio conhecer “intuitiva e imediatamente, de uma vez, não por meio desse processo temporal”.[8]

Vejamos mais detidamente esses pontos.

As espécies (ideias) pelas quais os anjos conhecem as coisas não lhes vêm destas últimas. Assim, por exemplo, um anjo não precisa conhecer vários gatos para, abstraindo as características particulares de cada um, concluir na ideia de “gato”. O espírito angélico não está sujeito a um desenvolvimento gradual, mas começou a existir na plenitude de seu conhecimento. Nunca teve de aprender, no sentido próprio da palavra.

Em outros termos, no momento em que criou os anjos, Deus infundiu-lhes as ideias ou conceitos abstratos de todas as coisas, sem os quais eles não seriam capazes de conhecer as coisas particulares ou individuais. Quando um anjo “vê”, ou seja, aplica sua inteligência a algo novo, não adquire alguma ideia; apenas confere com o conceito universal presente já em seu intelecto.

Hierarquia piramidal e vertical

Entre os homens existe uma hierarquia que poderíamos chamar de piramidal, em que muitos dependem de um ou de alguns. Assim se dá numa família, na qual os filhos estão sujeitos aos pais; ou num país, onde os súditos dependem do monarca ou do Chefe de Estado. Na hierarquia familiar, os filhos têm uma igualdade relativa, não dependendo uns dos outros para fazer chegar aos pais seus desejos e questões. Evidentemente, a igualdade absoluta não é sustentável, pois um filho será mais inteligente ou mais forte — e, nesse aspecto, superior — que os outros. Em um nível mais elevado, tal desigualdade é que torna possível a constituição de uma sociedade.

Entre os anjos isso se passa de maneira diferente. Como cada um constitui uma espécie única, quanto mais elevado é o anjo, mais ricas são as ideias ou conceitos que lhe foram infundidos por Deus, ao criá-lo[9].

Poderíamos, talvez, imaginar que essa desigualdade fosse motivo de tristeza para os anjos inferiores. Entretanto, isso não se dá, pois as apetências, capacidades e glória de cada um são plenamente satisfeitas pelo próprio Criador, a partir do momento em que eles entraram na Visão Beatífica[10]. Não têm, portanto, possibilidade de sentimento de infelicidade. Pelo contrário, as qualidades dos anjos que lhes são superiores, constituem para eles motivo de admiração.

Como falam os anjos?

Postos estes esclarecimentos, podemos nos perguntar como se dá a “fala” dos anjos, e é São Tomás quem novamente nos responde: dá-se por iluminação e por locução.

Denomina-se iluminação o ato pelo qual um anjo superior dá a conhecer a um inferior alguma verdade sobrenatural de que teve conhecimento, graças à imediata revelação de Deus.
Por exemplo, Deus manifestou diretamente a todos os seres angélicos a futura Encarnação do Verbo, mas não de modo igual: a uns comunicou mais, a outros menos, deixando aos anjos superiores o encargo de iluminar os inferiores, de modo que estes progredissem no conhecimento desse mistério até o dia de sua realização[11].

Conforme São Tomás, a iluminação é feita da seguinte maneira: em primeiro lugar, o anjo superior fortalece a capacidade de entender do anjo inferior; em segundo lugar, o superior propõe ao inferior aspectos particulares de verdades sobrenaturais que ele, anjo superior, “concebe de modo universal”.[12]

São Tomás ilustra esta doutrina dando o exemplo de um professor que, para ensinar uma matéria, divide-a em partes coerentes e ordenadas, acomodando-a à capacidade dos alunos. Evidentemente, estes terão um conhecimento fracionado, muito inferior ao do professor. Assim se passa com os anjos:
“O anjo superior toma conhecimento da verdade segundo uma concepção universal, para cuja compreensão o intelecto do anjo inferior não seria suficiente”.[13] Para iluminar o inferior, o superior fragmenta e multiplica a verdade que ele próprio conhece de modo universal, tornando-a mais particular.

Esta forma de comunicação, por iluminação, só procede dos anjos superiores para os inferiores. Todavia, na locução, também os anjos inferiores falam aos superiores. Segundo o Doutor Angélico, a locução tem por finalidade manifestar algo interior àquele com quem se fala ou pedir-lhe alguma coisa: “Falar nada mais é do que manifestar a outro o próprio pensamento”.[14] Não se trata aqui de apresentar uma verdade sobrenatural, pois neste caso, teríamos a iluminação. Em outras palavras, toda iluminação é locução, mas nem toda locução é iluminação.

Evidentemente, a comunicação dos anjos entre si não se expressa com sons, gestos ou outro elemento material, pois sua natureza é só espiritual. Essa comunicação se dá por um ato de vontade, pelo qual um anjo dirige o pensamento ao outro, dando a conhecer conceitos que possui. Pode, inclusive, dar a conhecer algo a uns e não a outros, conforme queira.

Os anjos se comunicam também com Deus, nunca porém como o agente se dirige ao paciente ou, segundo a terminologia humana, o mestre ao discípulo. “O anjo fala a Deus — explica São Tomás —, seja consultando a divina vontade a respeito do que deve ser feito, seja admirando a excelência divina que ele nunca compreende a fundo”.[15]

O tema das conversas angélicas

Claro que o principal objeto de conversa dos anjos é Deus, pois toda criatura tende naturalmente a voltar-se para o Criador, sobretudo em se tratando de seres tão perfeitos como eles[16]. Além do mais, estando na Visão Beatífica, estarão sempre contemplando novos aspectos d’Ele durante toda a eternidade. Sendo Deus infinito, por mais que os anjos do Céu O vejam no seu todo, não O veem totalmente, o que é impossível a qualquer criatura.

Eles conversam também sobre os desígnios divinos a respeito do universo material, no qual o elemento mais importante é o homem. Não podem, pois, deixar de interessar-se enormemente pela ação divina na História; assim, os anjos superiores comunicam aos inferiores o que “veem” em Deus a tal propósito.

Poderíamos, pois, imaginar um diálogo no qual nosso anjo da guarda pergunta a um anjo mais elevado como compreender melhor nossa psicologia. Por exemplo, por que procedi de tal modo, por que deixei de agir em tal ou qual ocasião, etc. O anjo superior, além de dar ao anjo da guarda as explicações, acrescentaria uma orientação sobre como guiar nossa alma da maneira mais conforme ao plano de Deus.

Uma coisa é certa: nossos anjos da guarda estão constantemente conversando sobre nós com os anjos que lhes são superiores, de maneira que existe uma “cascata”, ou “cadeia”, de anjos interessados na santificação e salvação de cada um de nós.

Que tal pensamento contribua para aumentar nossa devoção aos santos anjos, esses gloriosos intercessores celestes, dos quais muitas vezes nos esquecemos!?

[2] Sobre a simplicidade divina, lembremo-nos que no plano espiritual, ao contrário do que ocorre no plano material, quanto mais simples é algo, mais é perfeito. Cf. CREAN, Thomas. A Catholic replies to professor Dawkins. Oxford: Family Publications, 2008, p.29-32.

[4] Audiência Geral, 2/6/2010. Diversos autores assinalam que tal título é devido à acuidade de seu pensamento, como que angélico. CLÉMENT, op. cit., p.171; HEUSER, Herman Joseph. In: The American ecclesiastical review. 1923, v.LXVIII, p.92:

“Mais propriamente por causa de seu extraordinário poder intelectual, que lhe permitia falar com a língua dos anjos”.

[10] Tudo o que temos referido a propósito da natureza angélica aplica-se, evidentemente, tanto aos anjos do Céu, confirmados em graça, quanto aos anjos decaídos.
 Claro está que, ao contrário destes últimos, os santos anjos, mesmo quando no estado de prova, nunca cederam a movimentos de inveja, seja em relação a Deus, seja em relação aos outros anjos.

[16] É evidente que os santos anjos conversam sobre Deus transidos de amor, admiração, desejo de crescer no conhecimento d’Ele e servi-Lo, ao passo que os demônios são movidos por ódio e revolta: seu non serviam ecoa por toda a eternidade.

Fonte: Pe. Louis Goyard,

Advento: significado e origem

Todos os grandes eventos exigem uma preparação. Por isso, a Igreja instituiu, na Liturgia, um período que antecede o Natal: o Advento. Mas, ao longo da história da Igreja, tomou diversas formas.

Receber uma visita é uma arte que uma dona de casa exercita com freqüência. E quando o visitante é ilustre, os preparativos são mais exigentes. Imagine o leitor que numa Missa de domingo seu pároco anunciasse a visita pastoral do bispo diocesano, acrescida de uma particularidade: um dos paroquianos seria escolhido à sorte para receber o prelado em sua casa, para almoçar, após a Missa.

Certamente, durante alguns dias, tudo no lar da família eleita se voltaria para a preparação de tão honrosa visita. A seleção do menu, para o almoço, o que melhorar na decoração do lar, que roupas usar nessa ocasião única. Na véspera, uma arrumação geral na casa seria de praxe, de modo a ficar tudo eximiamente ordenado, na expectativa do grande dia.

Essa preparação que normalmente se faz, na vida social, para receber um visitante de importância, também é conveniente fazer-se no campo sobrenatural. É o que ocorre, no ciclo litúrgico, em relação às grandes festividades, como por exemplo o Natal. A Santa Igreja, em sua sabedoria multissecular, instituiu um período de preparação, com a finalidade de compenetrar todas as almas cristãs da importância desse acontecimento e proporcionar-lhes os meios de se purificarem para celebrar essa solenidade dignamente.

Esse período é chamado de Advento.

Significado do termo

Advento — adventus, em latim — significa vinda, chegada. É uma palavra de origem profana que designava a vinda anual da divindade pagã, ao templo, para visitar seus adoradores. Acreditava-se que o deus cuja estátua era ali cultuada permanecia em meio a eles durante a solenidade. Na linguagem corrente, significava também a primeira visita oficial de um personagem importante, ao assumir um alto cargo. Assim, umas moedas de Corinto perpetuam a lembrança do adventus augusti, e um cronista da época qualifica de adventus divi o dia da chegada do Imperador Constantino. Nas obras cristãs dos primeiros tempos da Igreja, especialmente na Vulgata, adventus se transformou no termo clássico para designar a vinda de Cristo à terra, ou seja, a Encarnação, inaugurando a era messiânica e, depois, sua vinda gloriosa no fim dos tempos.

Surgimento do Advento cristão

Os primeiros traços da existência de um período de preparação para o Natal aparecem no século V, quando São Perpétuo, Bispo de Tours, estabeleceu um jejum de três dias, antes do nascimento do Senhor. É também do final desse século a “Quaresma de São Martinho”, que consistia num jejum de 40 dias, começando no dia seguinte à festa de São Martinho.

São Gregório Magno (590-604) foi o primeiro papa a redigir um ofício para o Advento, e o Sacramentário Gregoriano é o mais antigo em prover missas próprias para os domingos desse tempo litúrgico.

No século IX, a duração do Advento reduziu-se a quatro semanas, como se lê numa carta do Papa São Nicolau I (858-867) aos búlgaros. E no século XII o jejum havia sido já substituído por uma simples abstinência.

Apesar do caráter penitencial do jejum ou abstinência, a intenção dos papas, na alta Idade Média, era produzir nos fiéis uma grande expectativa pela vinda do Salvador, orientando-os para o seu retorno glorioso no fim dos tempos. Daí o fato de tantos mosaicos representarem vazio o trono do Cristo Pantocrator. O velho vocábulo pagão adventus se entende também no sentido bíblico e escatológico de “parusia”.

O Advento nas Igrejas do Oriente

Nos diversos ritos orientais, o ciclo de preparação para o grande dia do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo formou-se com uma característica acentuadamente ascética, sem abranger toda a amplitude de espera messiânica que caracteriza o Advento na liturgia romana.

Na liturgia bizantina destaca-se, no domingo anterior ao Natal, a comemoração de todos os patriarcas, desde Adão até José, esposo da Santíssima Virgem Maria. No rito siríaco, as semanas que precedem o Natal chamam-se “semanas das anunciações”. Elas evocam o anúncio feito a Zacarias, a Anunciação do Anjo a Maria, seguida da Visitação, o nascimento de João Batista e o anúncio a José.

O Advento na Igreja Latina

É na liturgia romana que o Advento toma o seu sentido mais amplo.

Muito diferente do menino pobre e indefeso da gruta de Belém, nos aparece Cristo, no primeiro domingo, cheio de glória e esplendor, poder e majestade, rodeado de seus Anjos, para julgar os vivos e os mortos e proclamar o seu Reino eterno, após os acontecimentos que antecederão esse triunfo:
“Haverá sinais no Sol, na Lua e nas estrelas; e, na Terra, angústia entre as nações aterradas com o bramido e a agitação do mar” (Lc 21, 25).

“Vigiai, pois, em todo o tempo e orai, a fim de que vos torneis dignos de escapar a todos estes males que hão de acontecer, e de vos apresentar de pé diante do Filho do Homem” (Lc 21, 36).
É a recomendação do Salvador.

Como ficar de pé diante do Filho do Homem? A nós cabe corar de vergonha, como diz a Escritura.
A Igreja assim nos convida à penitência e à conversão e nos coloca, no segundo domingo, diante da grandiosa figura de São João Batista, cuja mensagem ajuda a ressaltar o caráter penitencial do Advento.

Com a alegria de quem se sente perdoado, o terceiro domingo se inicia com a seguinte proclamação:

“Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto”. É o domingo Gaudete. Estando já próxima a chegada do Homem-Deus, a Igreja pede que “a bondade do Senhor seja conhecida de todos os homens”. Os paramentos são cor-de-rosa.

No quarto domingo, Maria, a estrela da manhã, anuncia a chegada do verdadeiro Sol de Justiça, para iluminar todos os homens.
Quem, melhor do que Ela, para nos conduzir a Jesus?

A Santíssima Virgem, nossa doce advogada, reconcilia os pecadores com Deus, ameniza nossas dores e santifica nossas alegrias. É Maria a mais sublime preparação para o Natal.

Com esse tempo de preparação, quer a Igreja ensinar-nos que a vida neste vale de lágrimas é um imenso advento e, se vivermos bem, isto é, de acordo com a Lei de Deus, Jesus Cristo será nossa recompensa e nos reservará no Céu um belo lugar, como está escrito:

“Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que O amam” (1Cor 2, 9).

Fonte: Pe. Mauro Sérgio da Silva Izabel, 

Cristo está realmente presente na Eucaristia?

Como falar de um mistério, daquilo que a nossa razão não consegue penetrar? Somente fazendo curvar a razão e dando vazão à Fé.
Assim, podemos destilar da doutrina Católica o princípio de que, para estudar teologia, devemos sempre partir da Fé, para depois aplicar o nosso intelecto e concluir sempre com um novo ato de Fé, pois, melhor parece ser amar aquilo que nos excede e compreender o que nos é inferior.

Sendo o mistério algo insondável para o nosso intelecto devemos crer, celebrá-lo, e dele viver considerando-o com os olhos da fé; fazendo dela e da razão, uma unidade. Ao longo do estudo, a Fé auxiliar-nos-á naquilo que a razão não alcança, no entanto, sem excluí-la.

Entre os mistérios que a Igreja Católica prega, um dos mais augustos e admiráveis é o da Transubstanciação, pois nele "está contido o Cristo inteiro sob cada espécie e sob cada parte de cada espécie".
[1] Mas como? Somente é explicável por um milagre: toda a substância do pão se converte na substância do Corpo de Nosso Senhor e toda a substância do vinho na substância do Seu Preciosíssimo Sangue.

Pronunciadas as palavras da consagração - Isto é o meu Corpo; Este é o cálice do meu sangue - Nosso Senhor Jesus Cristo passa a estar presente instantaneamente[2] em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, sob as espécies do pão e do vinho. 
O que quer dizer "sob as espécies"? Nada mais, nada menos, opera-se o milagre da transubstanciação, a substância do pão e do vinho deixam de estar presentes dando lugar à substância do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, mas mantendo os acidentes do pão e do vinho, o que naturalmente é impossível, pois o que sustenta os acidentes é a substância.
Uma vez que a substância do pão ou do vinho deixam de estar presentes os acidentes também deveriam desaparecer, mas na Eucaristia não se dá isso; os acidentes permanecem (cor, odor, etc.) e a substância muda,[3] "porque a Deus tudo é possível" (Mt 19,26).

Na Eucaristia, essa presença se dá de duas formas. Em primeiro lugar por força do sacramento, por outras palavras, na consagração da espécie do pão é dito: "Isto é o meu Corpo;" por virtude do sacramento ali está exclusivamente presente a substância do Corpo de Cristo. 
Da mesma forma em relação à espécie do vinho, é dito: "Este é o cálice do meu sangue..." sob essa espécie está presente exclusivamente a substância do Sangue de Cristo. Por outro lado, por razão de concomitância, ou seja, onde está presente um, está presente o outro, sob a espécie do pão está presente a substância do Corpo, como foi mostrado, mas também o Sangue a Alma e a Divindade, uma vez que não é possível separá-los.[4]

Portanto, quando recebemos a Eucaristia, é a Ele próprio que recebemos. 
Aquele mesmo que nas ruas da Galiléia curava os doentes, os coxos, os paralíticos... Aquele mesmo que Se deixou crucificar, "o Justo pelos injustos" (1Pedro 3, 18) a fim de salvar-nos; "Só" isso? Não! O próprio Deus Uno e Trino vem habitar-nos, mas este, será tema para um nova artigo.[5]

Tão grandioso mistério, não podemos compreender, mas nossa Fé nos assegura. "Quod non cápis, quod non vídes, animósa fírmat fídes, praetes rérum órdinem".[6]

Fonte: José Luís de Melo Aquino

21 de novembro de 2011

A culpa


O Senhor quer renovar agora nosso ânimo, nossas forças para levantar, para recomeçar, para olhar os fatos que nos acontecem com uma visão sobrenatural.

Você precisa saber que ânimo vem de alma e quando nos entregamos ao desânimo por isso sofremos muito, a vida começa a perder o sentido, porque a nossa alma está em estado grave, precisando ser cuidada.

Nossa alma é o centro onde habita Deus. Esse lugar deve ser só dele e o inimigo não quer isso, você sabe. Então, tendo essa consciência de que se nos entregarmos ao desânimo, damos brechas a Satanás.

Por isso, que todos os dias consagro minha alma a Deus e peço ao Senhor que a liberte. Abandono as situações difíceis que vivo nas mãos dele.

Porque se eu não tenho o poder de mudar e ao mesmo tempo não deixo Deus fazer o que cabe a Ele, as coisas se complicam.

Ou eu assumo a direção da minha vida, correndo o risco de quebrar a cara ou abandono a direção dela completamente nas mãos de Deus para que Ele faça o que o for melhor, mesmo que eu não entenda e venha a sofrer.

E outra coisa que procuro viver intensamente: oferecer todos os meus sofrimentos pela conversão e purificação das almas do purgatório, pela conversão dos pecadores, me incluindo como o primeiro da lista.

Não desperdiço os sofrimentos, situações que me humilham! Na hora até sofro e muito, mas procuro acolher e não deixar aquilo me desanimar. Tenho uma tendência, por isso vigio constantemente e peço o tempo todo o auxílio do alto. São esses os meus segredos para não me entregar ao desânimo.

Acredite que para Deus tudo é possível e dê o primeiro passo agora. Decida a buscar ajuda através de oração, de confissão e tudo mais o que for necessário para que você se liberte do desânimo.

Deus quer que sejamos nesse momento REANIMADOS.

Que nossa alma esteja cheia dele e não de coisas ruins.

Estou unido a você nesta oração!

Meu Deus, a ti eu clamo: dentro de mim há trevas, mas em ti encontro a luz.
Sinto-me sozinho , mas tu não me abandonas.
Estou desanimado , mas em ti encontro auxílio.
Estou inquieto , mas em ti encontro a paz.
Dentro de mim há amargura, mas em ti encontro paciência.
Não compreendo teus planos, mas tu conheces o meu caminho.
Vinde, Senhor em meu auxílio.
Retira minha alma do abismo da morte.
Cura e liberta meu coração de todas as amarras.
Preciso de ti, Senhor.
Socorre-me em minhas angústias, ansiedade e todas as minhas preocupações.
Muda tudo o que eu não posso mudar Senhor.

Amém !

Vitória, Misericórdia e Paz,

Fonte: William de Oliveira

A Carne é Fraca, mas o Espírito é forte!

Quando ouvimos falar em castidade, devemos nos lembrar da importância de ver o nosso corpo como o verdadeiro templo de Deus.
A própria Bíblia condena a fornicação (Copular; Ter Cópula; Acasalar) em diversos trechos ela mostra o quanto são essenciais a fidelidade no relacionamento e o respeito ao nosso corpo.

É importante não deixar-se levar pelas “campanhas mundiais” a favor do sexo inconsequente e imoral, principalmente entre os jovens.

Nos seguintes trechos: (I Coríntios 6,18) “Fugi da fornicação. Qualquer outro pecado que o homem comete é fora do corpo, mas o impuro peca contra o seu próprio corpo” e (I coríntios 7,9)
“Mas, se não poderem conter-se, casem-se.
Porque é melhor casar do que abrasar-se” podemos observar que Deus é a favor do casamento e não abrasar-se pelo mundo afora.

Pensando nisso, é normal vermos propagandas incentivando o uso de preservativos como a camisinha. A Igreja se opõe a essa ideia devido às escrituras Bíblicas serem bem claras quanto o relacionamento conjugal. Se permitisse o uso da camisinha a Igreja Católica estaria sendo contra aquilo que ela prega que é estar aberto à vida sempre. Liberando então a fornicação entre todas as pessoas.

Quando vivemos na fé e ouvimos aquilo que o mandamento diz “Não pecar contra a castidade” Estamos realizando a vontade de Deus e nos tornando exemplo para iniciarmos uma família aberta à vida e se utilizando do relacionamento sexual como algo sublime e santo.

Como afirmei no início o nosso corpo é o templo de Deus, A Igreja é clara devemos nos prevenir de forma moral e de acordo com as leis de Deus;

Conforme a bíblia diz em (Eclesiástico 41,21):

“Envergonhai-vos da fornicação, diante de vosso pai e de vossa mãe; e da mentira, diante do que governa e do poderoso”.

 Como queremos que nosso pai nos veja? Além de prestar contas a Deus, também prestamos contas aos nossos pais. Devemos ter vergonha de atos que não favorecem o laço familiar.
Hoje somos filhos, amanhã seremos os pais, o que queremos ver de nossas próximas gerações?

Podemos observar também o outro mandamento “Honrar Pai e Mãe”.

Sejam dignos de olhar nos olhos de seus pais, se sua vida for impura envergonhe-se de seus pais e de Deus.
Pense nisso!

Fonte: Juliana Nascimento

A Bíblia condena o Espiritismo?

O chamado espiritismo é a doutrina supostamente psicografada pelo médium Allan Kardec, por decisão consensual dos espíritos superiores, na forma de uma nova revelação à humanidade; seus princípios encontram-se reunidos nas obras:
O Livro dos Espíritos publicada em 1857,
O Livro dos Médiuns, O Evangelho segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese.

Cabe registrar a existência de correntes espíritas que não partilham as idéias de Allan Kardec. Portanto, o kardecismo não é sinônimo de espiritismo na sua expressão completa.

A Bíblia condena a reencarnação, a incorporação de espíritos e a comunicação com os mortos, a chamada necromancia, portanto condena o espiritismo em geral e o kardecismo em particular.

Nada há de novo no espiritismo kardecista, que impeça a sua condenação, seja com base no Antigo Testamento seja no Novo Testamento.

Não tem, rigorosamente, nenhuma importância se a palavra original da bíblia que expressa a condenação à doutrina espírita, foi traduzida para um termo novo, posterior ao tempo bíblico, pois o conceito que a palavra espiritismo encerra, na máxima amplitude da sua acepção, está condenado amplamente no Antigo Testamento.

O que os espíritas querem afirmar é que a doutrina supostamente codificada pelo médium Allan Kardec, após decisão consensual dos espíritos, era algo desconhecido dos homens dos tempos bíblicos, e ,consequentemente, o termo espiritismo não poderia ser empregado em relação ao fenômeno mediúnico do passado, porque até a obra de Kardec, não havia uma decisão consensual dos espíritos sobre o que deveria ser informado aos homens, não desencarnados; e aquilo que aconteceu no passado poderia ser informação falsa transmitida por espíritos enganadores, menos desenvolvidos em termos morais.

Nós, católicos, como não aceitamos a doutrina espírita, consideramos os fenômenos relacionados à mediunidade, como a necromancia e a reencarnação, impossibilidades espirituais estabelecidas por Deus.

Ou, talvez, obra dos demônios, conforme o próprio Kardec alertara !

Não há rigorosamente nada na doutrina de Kardec que a torne compatível com o cristianismo como eles gostam de afirmar, desmerecendo a verdade evangélica, e construindo um outro evangelho, segundo os princípios espíritas, no qual, Cristo não é Deus, no qual, não há céu, nem inferno, nem sacramentos, nem, tampouco, a redenção!

Sobre a divindade de Cristo lemos em João 10,30 : "Eu e o Pai somos um" e também em João 14, 9 e 10 "Então não crês que eu estou no Pai e que o Pai está em mim?".

Jesus Cristo afirma ser Deus e não um espírito superior; segundo o kardecismo, os espíritos superiores não mentem, logo, Cristo é, verdadeiramente, Deus encarnado, pois, como Espírito superior, não pode mentir.

Os espíritas alegam que os evangelhos não são documentos verdadeiros sobre o Cristo e sua missão na terra, esta é, para eles, a única via de solução do paradoxo criado; ocorre que, com essa negação, todas as tentativas de encontrar fatos ligados ao espiritismo no NT, também são invalidadas.

Sobre a vida eterna, lemos na Bíblia:
"Mas a todos aqueles que o receberam aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus? (Jo 1,12).

Somos participantes da natureza divina (2 Pe 1,4), diz São Pedro, logo, somos herdeiros do céu."]

"Se somos filhos, também somos herdeiros." (Rom 8,17).

Na Bíblia fica proibido interrogar os mortos, interrogar os espíritos adivinhos, médiuns, simples espíritos e fantasmas sobre a verdade e sobre o futuro.

Citações Bíblicas condenando a comunicação com os mortos e a reencarnação:

"Não se ache entre vós quem purifique seu filho ou sua filha pelo fogo, nem quem consulte adivinhos ou observe sonhos ou agouros, nem quem use malefícios, nem quem seja encantador, nem quem consulte nigromantes, ou adivinhos, ou indague dos mortos a verdade. Porque o Senhor abomina todas estas coisas, e por tais maldades exterminará estes povos à tua entrada" (Dt 18, 9-14)

"Se uma pessoa recorrer aos espíritos, adivinhos, para andar atrás deles, voltarei minha face contra essa pessoa e a exterminarei do meio do meu povo". "Qualquer mulher ou homem que evocar espíritos, será punido de morte" (Lev 20, 6 - 27).

Em Isaias, cap. 8, 19, lemos a queixa de Deus "Acaso não consultará o povo o seu Deus? Há de ir falar com os mortos acerca dos vivos"?

Em Jeremias: "Não vos seduzam os vossos profetas, nem os vossos adivinhos... eu não os enviei" (19, 8,9).

No Levítico (20, 27), Deus ordena a pena de morte de lapidação contra os pitões e adivinhos , também em Isaías 47, 13.

No Deuteronômio (13, 1 a 5) Deus torna-se irado contra os que instituem religiões falsas:

"Quando profeta ou sonhador de sonhos se levantar no meio de ti e te der um sinal ou prodígio e suceder tal sinal ou prodígio... não ouvirás as palavras de tal profeta e sonhador, porquanto o Senhor vosso Deus vos prova se amais o Senhor vosso Deus... E aquele profeta sonhador de sonhos morrerá, pois falou rebeldia contra o Senhor vosso Deus."

“ Se alguém se dirigir àqueles que evocam os espíritos e aos adivinhos para se prostituir com eles, eu me voltarei contra essa pessoa e a eliminarei do meio de seu povo". Leviticos 20 6,7

Reencarnação

Sobre a reencarnação lemos : "Como está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o Juízo" (Heb 9,27).

Somos salvos pelo Sangue do Senhor, pela graça justificadora, e não por sucessivas reencarnações purificadoras.

Jesus disse a São Dimas , o bom ladrão: "Hoje estarás comigo no paraíso" (Lc 23,43). Jesus eliminou nitidamente, nessa expressão, a chance de qualquer reencarnação. Dimas não reencarnaria muitas vezes para ser salvo.

Toda a pregação da Igreja é baseada na esperança da ressurreição.

O Apóstolo afirma : "Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a nossa fé" (1 Cor 15,14).

Por outro lado, se a nossa esperança do Céu é pequena, a nossa vida cristã terrena perde todo o sentido e se esvazia. São Paulo fala sobre isso:

"Se é só para essa vida que temos colocado a nossa esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de lástima? (1 Cor 15,19).

Orar e não mediunidade

Nós, cristãos, não necessitamos interrogar ninguém sobre a verdade, porque a verdade já nos foi revelada.

Nós não estamos em busca da verdade, já a encontramos em Cristo Jesus e na Sua Igreja, sob a guia do Espírito Santo - o Espírito de Verdade.

O Espírito Santo ilumina, guia, e defende a Sua Igreja; derramando Seus dons sobre os fiéis.

Os dons proféticos, por seu turno, são de todos os batizados, que sabem e por isso anunciam o Reino de Deus, a Sua glória e o Seu poder na terra e no céu.

Quando Deus deseja transmitir alguma revelação particular, essa verdade deve ser comunicada a todos; e, até a Segunda Vinda do Cristo, não há nenhuma nova revelação a ser feita!

As revelações particulares servem para reforçar a mensagem original revelada pelo Cristo, elas nada acrescentam, nem aperfeiçoam o conteúdo da doutrina que constitui o depósito da fé. Destinam-se a mostrar o caminho para vivermos melhor como cristãos.

Tampouco há controle sobre o modo como uma revelação privada se dará - o caso de Lourdes, Fátima e outros.

Os adivinhos fazem revelações de interesse exclusivamente pessoal e de forma regular, sistemática; deixando claro que a soberania sobre o fenômeno não é divina, mas sim, do médium em questão.

O modo cristão de comunicação com os mortos, com as almas santas, é sempre através da oração, na comunhão do Espírito Santo.

No espiritismo, as culpas são pagas em sucessivos processos de encarnação. Não há céu, nem inferno, apenas orbes mais elevadas nas quais habitam os espíritos mais evoluídos. Pagamos penas pretéritas que ignoramos.

Voltam a viver os bons e os maus! Os que sofrem pagam culpas de vidas pretéritas.

Nossas culpas são perdoadas, verdadeiramente, pela misericórdia divina no batismo e no sacramento da confissão para quem volta a pecar.

No espiritismo não há sacramentos, nem redenção, nem juízo, nem o Cristo é o Filho de Deus, apenas um espírito mais evoluído.

Os espíritos são feitos ignorantes por Deus, e, por isso, aprendem e evoluem moralmente, nas sucessivas encarnações.

Além desses aspectos referidos existem outros, que alinho abaixo.

Um indivíduo que tenha encarnado na Índia, e um outro que tenha encarnado na China, muito provavelmente seguirão o bramanismo e o budismo, consequentemente , não conhecerão as leis de Deus , transmitidas a Moisés, e, portanto, não poderão ser julgados por seus atos , pelo Deus cristão.

A rigor, não há, no espiritismo, uma lei geral que possa definir o que é certo e o que é errado para cada um dos contextos religiosos.

Observa-se também a total perda da identidade individual mediante as sucessivas encarnações nas quais podemos ser até filhos dos nossos filhos.

A unidade corpo e alma é insuperável no cristianismo, o corpo não é uma roupa que pode ser substituída por outras infinitas vezes.

O corpo é o templo do Espírito Santo e deve ser reverenciado pelos homens, porque é vontade de Deus.

Se é tão frequente a chamada encarnação, por que as pessoas apresentam tanta dificuldade para lembrar as vidas pretéritas?

O espiritismo na verdade é uma gnose, muito mal elaborada, que tenta restabelecer o princípio da auto-iluminação e da salvação pelo esforço pessoal sem a intervenção da graça justificadora.

Além disso, o livre-arbítrio é totalmente desrespeitado tendo em vista o fato dos homens serem obrigados a encarnar para expiar culpas de outras vidas que eles próprios ignoram.

Deus no espiritismo é extremamente mau e injusto, ele cria seres ignorantes condenados a sofrer para aprender, sem o auxilio de uma mensagem revelada, e condena os bons e os maus a voltarem a viver infinitas vezes.

Curas espirituais

Por que os chamados espíritos iluminados não trazem as respostas científicas para as doenças, ao invés de operarem supostas curas espirituais?

Alguém conhece o nome de um grande cientista que tenha feito uma descoberta importante em qualquer campo do conhecimento, e atribuído essa descoberta ao espiritismo?

Eu conheço, muito ao contrário, um grande cientista católico Louis Pasteur que descobriu a vacina contra a hidrofobia e o modo de enfrentar as doenças bacterianas, algo que era por completo ignorado entre os cientistas de seu tempo.

Fonte: Prof Everton Jobim

O Inferno existe?

A reflexão teológica nos dias de hoje não é negar a existência do Inferno - porque enquanto existe a liberdade, existe a possibilidade de rejeição total de Deus - mas sim, afirmar e enfatizar que, mesmo que o inferno exista, não deve se tornar uma realidade para ninguém.

Nesse sentido, o Inferno é a completa e eterna rejeição da presença de Deus, do seu amor. Agora, como pensar que alguém, diante da Verdade, do Amor, da Misericórdia de Deus, possa conscientemente fazer essa escolha é quase impossível, porque diante de Deus, todos os “pseudos-valores de uma personalidade agarrada ao egoísmo e à arrogância, parecem como palhas...”.

Com isso, ao invés de enfatizar o Inferno, a Igreja sempre deseja falar do Céu! Se o inferno é a ausência eterna e plena de Deus, o Céu então é a plenitude da vida em Deus, diante Dele, com Ele, Nele.



Fonte: Diácono Leandro Rasera

Humildade e Orgulho

A virtude da humildade é, sem sombra de dúvida, a principal virtude cristã, pois só o homem humilde está aberto a aprender e conquistar todas as outras virtudes.

O orgulhoso julga-se possuidor das qualidades que insinuamos precisar crescer e, portanto, torna-se refratário a qualquer crítica positiva.

O humilde, por outro lado, sabe que seu modelo é Jesus Cristo e que está muito longe de atingir esta perfeição. Por isto encara como positiva qualquer crítica que lhe façam. Como dizia uma vez um amigo, “o homem humilde tem a ousadia de mendigar críticas e sugestões”.

Veja só: “mendigar críticas e sugestões”! Será que eu sou uma pessoa capaz de mendigar às pessoas boas que vivem à minha volta críticas e sugestões?

Como distinguir a pessoa humilde da pessoa orgulhosa? Eis aí algumas sugestões:

O homem humilde é um homem que:
- reconhece sinceramente suas qualidades e seus defeitos;
- não exagera suas qualidades;
- sabe que possui qualidades, mas reconhece que o maior mérito de “tê-las” não se deve a si mesmo, mas a Deus. Como dizia S. Paulo: “que tens tu que não tenhas recebido; e se o recebeste, porque te glorias?”
- sabe que se Deus lhe deu talentos, não é para vangloriar-se, mas sim para servir o próximo, etc.

Por outro lado, o homem orgulhoso é um homem que:
- pensa que o que faz ou diz está mais bem feito ou dito do que aquilo que os outros fazem ou dizem;
- quer sempre ter razão;
- discute sem razão ou - quando a tem - insiste com teimosia e de maus modos; é teimoso;
- dá o seu parecer sem que lhe peçam;
- despreza o ponto de vista dos outros;
- cita-se a si mesmo como exemplo nas conversas;
- fala mal de si mesmo, para que lhe contradigam;
- sofre quando os outros são mais estimados do que ele;
- é impaciente (não tem paciência com o defeito dos outros), etc, etc.

Quanto maior é o orgulho, maior é o “ego”.

Muitas vezes ouvimos dizer de alguma pessoa que tem o ego maior do que o mundo. Eu diria que, de fato, na minha experiência pessoal orientando milhares e milhares de pessoas, há pessoas que realmente são assim.

E qual é o problema de ter um ego muito grande? O problema é que o ego é altamente destruidor. É o ego muito grande que:
- destrói o casamento (quem tem o ego grande, quem é orgulhoso, só quer subir e acabará usando o outro cônjuge como pedestal);
- destrói o amor (o amor é pensar no outro e quem tem o ego grande só pensa em si mesmo);
- destrói a paz (a paz vem da harmonia, do esforço de ceder nas opiniões, e quem tem o ego grande nunca cede nas suas opiniões); etc.

Se o orgulho destrói, a humildade constrói. Busquemos sempre a virtude da humildade e assim serão muitas as “construções de amor” da nossa vida.

Pe. Paulo M. Ramalho - Aliança da Misericórdia

A Resposta Católica: "As riquezas do Vaticano"

Parresía: "Pudor e Modéstia"

17 de novembro de 2011

'Nossos dons, doados por Deus, precisam produzir frutos e solidificar a palavra divina'


O Evangelista São Lucas (19,11-28) nos mostra nesta quarta-feira (16) que Deus relaciona-se conosco com seu amor misericordioso. Por isso, somos responsáveis pelos dons que Ele nos concedeu.
 Podemos afirmar que a parábola das moedas, ou dos talentos, está relacionada com a responsabilidade que nos mostra um pedido de Deus.
 Ele procura frutos , bons trabalhos, a partir das qualidades que ele mesmo deu a cada um de nós. Jesus queria corrigir a ideia falsa dos discípulos, que esperavam para logo a manifestação do poder de Deus. Além de outros possíveis sentidos, a parábola deixa entrever que antes dessa chegada ao final do Reino haverá um intervalo, como uma longa viagem do patrão.
E até que ele volte, os servos devem cumprir suas tarefas, esperando que ele volte para lhes recompensar a fidelidade.
 Cristo quis mostrar com essa história que o reino do Messias não seria implantado num passe de mágica como se fosse assunto só dele. Pelo contrário, ele nos pede empenho pessoal para entrar nesse Reino, construindo-o, cada um de acordo com sua capacidade e qualidades.
Ninguém pode enterrar seus talentos, mas desenvolvê-los para o bem dos outros, da família, da comunidade.
 “Recebes o que não deste e colhes o que semeaste”.

Fonte: Revista Aparecida

7 de novembro de 2011

Escândalos na Igreja


Qual deve ser a nossa resposta aos terríveis escândalos na Igreja?

Muitas pessoas vieram-me falar deste assunto.
Muitas outras também gostariam, mas evitaram, creio que por respeito e para não chamar a atenção para um fato desagradável.
Mas para mim era óbvio que tinham isso presente.
Por isso, hoje, quero enfrentar este assunto de frente. Vocês têm direito.
Não podemos fingir como se não houvesse acontecido.
E eu quero debater qual deve ser a nossa resposta como fiéis católicos a este terrível escândalo.


Primeiramente, é preciso entender o acontecimento à luz da nossa fé no Senhor.
Antes de escolher seus primeiros discípulos, Jesus subiu a montanha para orar durante toda a noite. Nesse tempo tinha muitos seguidores.
Falou com seu Pai na oração sobre quais escolheria para que fossem seus doze apóstolos, os doze que Ele formaria intimamente, os doze que enviaria a pregar a Boa Nova em Seu nome.
Deu-lhes poder de expulsar os demônios.
Deu-lhes poder para curar os doentes.
Eles viram como Jesus operou muitos milagres. Eles mesmos fizeram, em Seu nome, numerosos milagres.

Mas, apesar de tudo, um deles foi um traidor.
O traidor tinha seguido o Senhor, tivera os pés lavados pelo Senhor, O viu caminhar pelas águas, ressuscitar pessoas e perdoar os pecadores.
O Evangelho diz que ele permitiu que satanás entrasse nele e logo vendeu o Senhor por 30 moedas, e entregou-o no Horto de Getsêmani, simulando um ato de amor, um beijo. “Judas!”, disse o Senhor no horto do Getsemani, “com um beijo entregas o Filho do Homem”.
Jesus não o escolheu para que o traísse. Ele o escolheu para que fosse como os demais.
Mas Judas foi sempre livre e usou sua liberdade para permitir que satanás entrasse nele e, por sua traição, terminou fazendo com que Jesus fosse crucificado e morto. Portanto, entre os primeiros doze que o próprio Jesus escolheu, um deles foi um terrível traidor. ÀS VEZES, OS ESCOLHIDOS DE DEUS TRAEM. Este é um fato que devemos assumir.
É um fato que a Igreja primitiva assumiu. Se o escândalo de Judas tivesse sido a única coisa com que os membros da Igreja primitiva tivessem se preocupado, a Igreja teria acabado antes de começar. Em vez disso, a Igreja reconheceu que não se deve julgar algo (religioso) a partir daqueles que não o praticam, mas olhando para os que praticam.

Em vez de ficarem paralisados em torno daquele que traiu Jesus, concentraram-se nos outros onze.
Graças ao trabalho, pregação, milagres e amor por Cristo desses homens, aqui estamos hoje.
É graças aos onze - todos os quais, exceto São João, foram martirizados por Cristo e pelo Evangelho, pelo qual estiveram dispostos a dar suas vidas para proclamá-lo - que nós chegamos a escutar a palavra salvífica de Deus e recebemos os sacramentos da vida eterna.

Somos hoje confrontados pela mesma realidade. Podemos concentrar-nos naqueles que traíram o Senhor, naqueles que abusaram, em vez de amar a quem estavam chamados a servir.
Ou podemos como a Igreja nascente, concentrarmo-nos nos demais, naqueles que permaneceram fiéis, nesses sacerdotes que continuam oferecendo suas vidas para servir a Cristo e para servir a todos por amor.
Os meios de comunicação quase nunca prestam atenção aos “onze” bons, aqueles a quem Jesus escolheu e que permaneceram fiéis, que viveram uma vida de santidade silenciosa.
Mas nós, a Igreja, devemos ver o terrível escândalo que estamos testemunhando a partir de uma perspectiva autêntica e completa.

O escândalo, infelizmente, não é algo novo para a Igreja. Houve muitas épocas em sua história em que esteve pior do que agora.
A história da Igreja é como a definição matemática do cosseno, ou seja, uma curva oscilatória com movimento pendular, com altos e baixos ao longo dos séculos. Em cada uma dessas épocas em que a Igreja chegou ao ponto mais baixo, Deus suscitou grandes santos que levaram a Igreja de volta a sua verdadeira missão. Como se naqueles momentos de escuridão, a Luz de Cristo brilhasse mais intensamente.
Eu gostaria de destacar um par de santos que Deus suscitou nesses tempos tão difíceis, porque sua sabedoria pode realmente nos guiar durante este tempo difícil.

São Francisco de Sales foi um santo que Deus fez surgir justamente depois da reforma protestante.
A reforma protestante não brotou fundamentalmente por aspectos teológicos ou por problemas de fé - ainda que as diferenças teológicas apareceram depois - mas, por questões morais.

Houve um sacerdote agostiniano, Martinho Lutero, que foi a Roma durante o papado mais notório da história, o do Papa Alexandre VI.
Este Papa jamais ensinou nada que fosse contra a fé, o Espírito Santo não permitiu , mas, foi simplesmente, um homem mau.
Teve nove filhos de seis diferentes concubinas.
Promoveu ações contra aqueles que considerava seus inimigos. Martinho Lutero visitou Roma durante seu papado e se perguntava como Deus podia permitir que um homem tão mau fosse a cabeça visível da Sua Igreja . Regressou a Alemanha e observou todo tipo de problemas morais.
Os padres tinham, publicamente, casos com mulheres. Alguns tratavam de obter dinheiro vendendo bens espirituais. Grassava uma imoralidade terrível entre os leigos.
Ele se escandalizou com esses abusos desenfreados, como teri a ocorrido com qualquer que ame a Deus, reagiu precipitadamente e com fúria, e fundou a sua própria igreja.
Naqueles mesmos tempos, Deus suscitou muitos santos que combateram essa situação equivocada e trouxeram de volta as pessoas para a Igreja fundada por Cristo.
São Francisco de Sales foi um deles. Colocando em risco a própria vida, entrou na Suíça, onde os calvinistas dominavam e eram muito populares, pregando o Evangelho com verdade e amor. Foi espancado várias vezes nas estradas e abandonado como morto.
Um dia perguntaram-lhe qual era a sua posição em relação ao escândalo que causavam tantos dos seus irmãos sacerdotes.
O que disse é tão importante para nós como o foi para os que o escutaram.
Ele não ficou enrolando.
“Aqueles que cometem esse tipo de escândalos são culpáveis do equivalente espiritual a um assassinato, destruind o com seu mau exemplo a fé das outras pessoas em Deus”. Mas, ao mesmo tempo advertiu aos seus ouvintes:
“Mas eu estou aqui hoje entre vocês para evitar-lhes um mal ainda pior.
Enquanto que aqueles que causam o escândalo são culpados de assassinato espiritual, os que acolhem o escândalo
 - aqueles que permitem que os escândalos destruam sua fé
- são culpados de suicídio espiritual. São culpáveis de cortar pela raiz sua vida com Cristo, abandonando a fonte da vida nos Sacramentos, especialmente a Eucaristia.”
São Francisco de Sales andou entre os suíços e os habitantes da Savóia tratando de prevenir que cometessem um suicídio espiritual por causa dos escândalos.
E eu estou aqui hoje para pregar o mesmo para vocês.

Qual deve ser a nossa reação?
Outro grande santo que viveu antes, em tempos particularmente difíceis, também pode nos ajudar.
O grande São Francisco de Assis viveu ao redor do ano 1200, que foi uma época de imoralidade terrível na Itália central.
Os padres davam exemplos espantosos. A imoralidade dos leigos era ainda pior.
O próprio São Francisco, sendo jovem, tinha escandalizado outras pessoas com sua maneira despreocupada de viver.
Converteu-se, fundou a ordem franciscana e ajudou a Deus a reconstruir a Sua Igreja e chegou a ser um dos maiores santos de todos os tempos.

Certa vez, um dos irmãos franciscanos lhe fez uma pergunta. Esse frei era muito suscetível aos escândalos.
“Irmão Francisco, que farias se soubesses que o sacerdote que está celebrando a Missa tem três concubinas ao seu lado?”
Francisco, sem duvidar um instante, respondeu bem devagar:
“Quando chegar a hora da Santa Comunhão, iria receber o Sagrado Corpo do meu Senhor das mãos ungidas do sacerdote.”

Onde queria chegar Francisco?
Queria deixar clara uma verdade formidável da fé e um dom extraordinário do Senhor.
Não importa quão pecador seja um padre, sempre e quando tenha a intenção de fazer o que faz a Igreja
- na Missa, por exemplo, converter o pão e vinho na carne e sangue de Cristo, ou na confissão, não importa quão pecador seja, perdoar os pecados do penitente
- o próprio Cristo atua nos sacramentos através desse ministro.

Seja o Papa João Paulo II que celebre a Missa, ou um sacerdote condenado a morte por um crime, em ambos os casos é o próprio Cristo quem atua e nos dá Seu Corpo e Seu Sangue.
Dessa forma, o que Francisco estava dizendo, ao responder a pergunta do seu irmão religioso, que receberia o Sagrado Corpo do Seu Senhor das mãos ungidas do sacerdote, é que não ia permitir que a maldade ou imoralidade do padre o levasse a cometer suicídio espiritual.

Cristo pode continuar atuando, e de fato atua, inclusive através do mais pecador dos sacerdotes.
E graças a Deus que assim o faz! Se sempre tivéssemos que depender da santidade pessoal do sacerdote, teríamos um grave problema.
Os sacerdotes são escolhidos por Deus entre os homens e são tentados como qualquer ser humano e caem em pecado como qualquer ser humano.
Mas Deus já sabia disso desde o princípio. Onze dos primeiros doze apóstolos se dispersaram quando Cristo foi preso, mas regressaram; um dos doze traiu o Senhor e infelizmente nunca regressou.
Deus fez os sacramentos “à prova de sacerdote”, ou seja, independente da su a santidade pessoal. Não importa quão santos ou maus sejam, sempre que tenham a intenção de fazer o que a Igreja faz, o próprio Cristo atua, tal como atuou através de Judas quando Judas expulsou os demônios e curou os doentes.

Por isso, pergunto-vos novamente: Qual deve ser a resposta da Igreja a esses atos?
Falaram muito a respeito na mídia. A Igreja precisa trabalhar melhor, assegurando que ninguém com inclinação para a pedofilia seja ordenado? Com certeza.
Mas isto não seria suficiente. A Igreja deve atuar melhor ao tratar desses casos quando sejam notificados?
A Igreja mudou a sua maneira de abordar esses casos e hoje a situação é muito melhor do que era nos anos oitenta, mas sempre pode ser aperfeiçoada. Mas ainda isso não seria suficiente.
Temos que fazer mais para apoiar as vítimas desses abusos? Sim, temos que fazê-lo, por justiça e por amor! Mas tampouco isso é o adequado.
A única resposta adequada a este terrível escândalo, a única resposta autenticamente católica a este escânda lo - com o São Francisco de Assis reconheceu em 1200, como São Francisco de Sales reconheceu em 1600 e incontáveis outros santos reconheceram em cada século - é a SANTIDADE! Toda crise que enfrenta a Igreja, toda crise que o mundo enfrenta, é uma crise de santidade” A santidade é crucial, porque é o rosto autêntico da Igreja.

Sempre há pessoas - um sacerdote encontra-se com elas regularmente e vocês devem conhecer várias delas também - que usam desculpas para justificar porque não praticam sua fé, porque lentamente estão cometendo suicídio espiritual. Pode ser porque uma freira se portou mal com eles quando tinham 9 anos.
Porque não entendem os ensinamentos da Igreja sobre algum tema particular. Indubitavelmente haverá muitas pessoas atualmente - e vocês se encontram com elas - que dirão:
 “Para que praticar a fé, para que ir a Igreja, se a Igreja não pode ser verdadeira, quando os assim chamados escolhidos, são capazes de fazer esse tipo de coisa que estamos lendo?”
Este escândalo é como um cabide enorme onde alguns procuram pendurar sua justificativa para não praticar a fé.
Por isso é que a santi dade é tão importante.

Essas pessoas necessitam encontrar em todos nós uma razão para ter fé, uma razão para ter esperança, uma razão para responder com amor ao amor do Senhor. As bem-aventuranças que lemos no Evangelho são uma receita para a santidade. Todos precisamos vivê-las melhor.
Os padres precisam ser mais santos? Certamente.
Precisam os frades e freiras serem mais santos e darem um melhor testemunho de Deus e do Céu?
Sem a menor dúvida. Mas todas as pessoas na Igreja precisam fazer o mesmo, inclusive os leigos!
Todos temos vocação para ser santos e esta crise é um chamado para que despertemos.

Estes são tempos duros para o sacerdote. São tempos duros para o católico. Mas também são tempos magníficos para ser um sacerdote e para ser um católico. Jesus disse nas bem-aventuranças:
“Bem-aventurados serão quando os injuriarem, vos perseguirem e disserem falsamente todo tipo de maldades contra vocês por minha causa.
Alegrem-se e regozijem-se porque será grande a sua recompensa nos céus, pois da mesma forma perseguiram aos profetas antes de vocês.”

Eu experimentei essa bem-aventurança, da mesma forma que outros sacerdotes que conheço.
No começo desta semana, quando terminei de fazer ginástica numa academia local, eu saía do vestiário com meu clergyman (camisa clerical) e uma mãe, mal me viu, afastou rapidamente seus filhos do caminho e os protegeu enquanto eu passava.
Ficou me olhando quando passei e, quando já havia me afastado o suficiente, respirou aliviada e soltou os seus filhos.
Como se eu fosse atacá-los no meio da tarde em plena academia!
Mas enquanto todos nós talvez tenhamos que padecer tais insultos e falsidades por causa de Cristo, de fato, devemos regozijar-nos.
É um tempo fantástico para ser cristão atualmente, porque é um tempo em que Deus realmente necessita de nós para mostrar Seu verdadeiro rost o. Em tempos passados nos EUA, a Igreja era respeitada.
Os sacerdotes eram respeitados. A Igreja tinha reputação de santidade e bondade. Mas hoje já não é assim.

Um dos maiores pregadores na história norte-americana, o bispo Fulton J. Sheen, costumava dizer que preferia viver nos tempos em que a Igreja sofre em vez de florescer tranquilamente, nos tempos em que a Igreja tem que lutar, quando a Igreja tem que ir contra a cultura.
São épocas para que os verdadeiros homens e mulheres dêem um passo à frente.
“Até os cadáveres podem ir a favor da corrente”, costumava dizer o bispo, indicando que muitas pessoas dão testemunho quando a Igreja é respeitada,
“mas são necessários verdadeiros homens e mulheres para nadar contra a corrente.”

Como isso é verdadeiro! É preciso ser um verdadeiro homem e uma verdadeira mulher para manter-se flutuando e nadar contra a corrente que se move em oposição à Igreja.
É preciso ser um verdadeiro homem e uma verdadeira mulher para reconhecer que quando se nada contra a corrente das críticas, estamos mais seguros que quando apenas permanecemos grudados por inércia na rocha sobre a qual Cristo fundou sua Igreja.
Estamos num desses tempos difíceis.
É um dos grandes momentos para ser cristão.

Algumas pessoas prevêem que nesta região a Igreja passará por tempos difíceis e talvez seja assim, mas a Igreja sobreviverá, por que o Senhor assegurou a sua sobrevivência.
Uma das maiores réplicas na história aconteceu há justamente 200 anos.
O imperador Napoleão engolia os países da Europa com seus exércitos, com a intenção final de dominar totalmente o mundo.
Naquela ocasião disse uma vez ao cardeal Consalvi:
 “Vou destruir sua Igreja”.
O cardeal respondeu:
“Não, não poderá”. Napoleão, com seus 1,50 m de altura, disse outra vez: “Eu destruirei vossa Igreja.”
O cardeal disse confiante:
“Não, não poderá. Nem nós fomos capazes de fazê-lo!”.

Se os papas ruins, os sacerdotes infiéis e os milhares de pecadores na Igreja não tiveram êxito em destruí-la a partir de dentro
- como dizia implicitamente o cardeal ao general
- como crê que poderá fazê-lo?
O cardeal referia-se a uma verdade cruel. Mas Cristo nunca permitirá que sua Igreja fracasse.
Ele prometeu que as portas do inferno não prevaleceriam sobre a sua Igreja, que a barca de Pedro, a Igreja que navega no tempo rumo ao seu porto eterno no céu, nunca naufragará, não porque aqueles que vão nela não cometam todos os pecados possíveis para afundá-la, mas porque Cristo, que também está na barca, nunca per mitirá que isso aconteça. Cristo continua na barca e ele nunca a abandonará.

A magnitude deste escândalo poderia ser tal que de agora em diante [talvez] vocês tenham dificuldade em confiar nos sacerdotes tanto como o faziam no passado. Isto pode acontecer e talvez não seja tão ruim. Mas nunca percam a confiança no Senhor! É a sua Igreja! Mesmo quando alguns dos seus eleitos O tenham traído, ele chamará outros que serão fiéis, que servirão vocês com o amor com que vocês merecem ser servidos, tal como ocorreu depois da morte de Judas, quando os onze apóstolos ficaram de acordo e permitiram que o Senhor escolhesse alguém para tomar o lugar de Judas, e escolheram o homem que terminou sendo São Matias, que proclamou fielmente o Evangelho até ser martirizado.

Este é um tempo em que todos nós precisamos esforçar-nos ainda mais para ser santos! Estamos [sendo] chamados a ser santos, e como necessitamos ver esse rosto bonito e radiante da Igreja! Vocês são parte da solução, uma parte crucial da solução.
Quando caminharem para receber o Sagrado Corpo do Senhor das mãos ungidas deste sacerdote, peçam a Ele que os encha de um real desejo de santidade, um real desejo de mostrar Seu autêntico rosto.

Uma das razões pelas quais estou aqui como sacerdote é porque sendo jovem, impressionaram-me negativamente alguns sacerdotes que conheci.
Via-os celebrar a Missa e quase sem reverência deixavam cair o Corpo do Senhor na patena, como se tivessem nas mãos algo de pouco valor em vez do Criador e Salvador de todos, em vez do meu Criador e Salvador. Lembro de ter dito ao Senhor, reiterando meu desejo de ser sacerdote:
“Senhor, deixa-me ser sacerdote para que possa tratar-Te como Tu o mereces!”. Isso me deu um desejo ardente de servir o Senhor. Talvez este escândalo permita que vocês façam o mesmo. Este escândalo pode ser algo que os conduza pelo caminho do suicídio espiritual ou algo que os inspire a dizer, finalmente, “Quero ser santo, para que eu e a Igreja possamos glorificar Teu nome como Tu o mereces, para que outros possam en contrar-Te no amor e na salvação que eu Te encontrei”. Jesus está conosco, como prometeu, até o final dos tempos. Ele continua na barca.

Tal como a partir da traição de Judas, Ele alcançou a maior vitória na história do mundo, a nossa salvação por meio da sua Paixão, morte e Ressurreição, também através deste episódio Ele pode trazer, e quer trazer, um novo renascimento da santidade, para lançar uns novos Atos dos Apóstolos do século XXI, com cada um de nós - e isso inclui você - assumindo um papel de protagonista.
Agora é o tempo para que os verdadeiros homens e mulheres da Igreja se ponham em pé.
Agora é o tempo dos santos. Como você irá responder?


Fonte: Pe. Roger J. Landry

Escritos gnósticos x Ensinamento apostólico

Outra característica que aparece em destaque nos escritos gnósticos é a oposição que os apóstolos demonstram em relação a Mariam, especialmente Simão Pedro. Isso reflete a consideração negativa que alguns gnósticos tinham do feminino, ao mesmo tempo que admitem a condição de discípula de Mariam.
No final do “Evangelho de Maria, é narrado que Pedro e André recriminam Maria dizendo que ela inventou a revelação que acaba de contar a eles; mas Levi acusa Pedro de agir assim por ciúmes.
Estes dados podem ser interpretados como reflexo de uma polêmica da Igreja contra a liderança espiritual da mulher que defendiam alguns grupos que produziram estas obras.
Mas também podem ser entendidas como uma forma de ressaltar, dentro destes grupos, que a doutrina apostólica transmitida em nome de Pedro ou de outros apóstolos, estava em contradição com a que eles expunham em nome de Mariam.
Mariam também aparece como modelo de gnóstico, especialmente no “Evangelho de Felipe”.
Este escrito contém uma série bastante desordenada de ensinamentos do Senhor em forma de reflexões espirituais de certa extensão. Apesar da dificuldade de ver neste escrito um sistema coerente, o seu ponto de partida parece ser a doutrina de que o gnóstico alcança sua perfeição pela união de sua parte feminina, ou seja, sua alma, e a parte masculina, ou seja, seu anjo, proveniente do Pleroma ou mundo celeste.

Lendas que exaltam sua figura

Nestas representações, Mariam é o modelo do gnóstico precisamente por ser figura feminina. Em uma ocasião em que Madalena é mencionada com este nome, é para fzer notar que é “Mariam”, assim como a mãe de Jesus e sua irmã. Dá a impressão que o nome Mariam se transforma em símbolo de seguimento de Cristo e união com ele. Nesse sentido se fala de Mariam como a que alcançou a perfeição gnóstica.

Para expressá-la, é dito em outro lugar que o Senhor a beijou (se esta é a tradução correta de um verbo “aspazein”, que por si significa “saudar”) muitas vezes. Antes se falou do “beijo” como “meio pelo qual o perfeito concebe e dá à luz”, quer dizer, engendra a si mesmo como gnóstico dentro do grupo; por isso, é dito, “beijamo-nos uns aos outros”. Parece que este “beijo”- transposição, sem dúvida, do “beijo santo”
de que fala São Paulo (ROM 16, 16; 1Cor 16, 20;etc.) – poderia formar parte de um sacramento mais elevado do que o batismo e até mesmo da Eucaristia, chamado nesse evangelho, por analogia à união matrimonial, “a câmara nupcial”.  

Por tudo isso, entender essa passagem como um testemunho histórico de uma relação sexual entre Jesus e Maria Madalena, como foi feito, seria uma leitura simplista deste evangelho, ao que parece, do início do século III e cujo tom geral é precisamente o distanciamento da relação sexual. De fato, nenhum estudioso sério entende os fatos desta forma.    

Bem distante das correntes gnósticas, desaparecidas no século IV, entre os fiéis católicos foram criadas lendas dirigidas a exaltar a figura de Madalena. Na Igreja grega, contava-se que, após a ressurreição, foi para Éfeso com a Santíssima Virgem e São João e que morreu ali, sendo depois levadas suas relíquias para Constantinopla. Na França, em meados do século XI surgiu a lenda, enriquecida com muitos detalhes, de que Madalena, Lázaro e alguns outros foram à Marseille e evangelizaram a Provença, e que ela teria morrido em Aix e que suas relíquias foram finalmente levadas a Vézelay.  

Fonte: Gonzalo Aranda Pérez -
Professor de Antigo Testamento da Universidade de Navarra.
       

Quem foi Maria Madalena?


Para ler melhor o texto

Gnosticismo designa o movimento histórico e religioso cristão que floresceu durante os séculos II e III, cujas bases filosóficas eram as da antiga Gnose (palavra grega que significa conhecimento), com influências do neoplatonismo e dos pitagóricos.
Este movimento revindicava a posse de conhecimentos secretos (a "gnose apócrifa", em grego) que, segundo eles, os tornava diferentes dos cristãos alheios a este conhecimento.
Originou-se provavelmente na Ásia menor, e tem como base as filosofias pagãs, que floresciam na Babilônia, Egito, Síria e Grécia.
O gnosticismo combinava alguns elementos da Astrologia e mistérios das religiões gregas, como os mistérios de Elêusis, com as doutrinas do Cristianismo. Em seu sentido mais abrangente, o Gnosticismo significa "a crença na Salvação pelo Conhecimento".


Das mulheres que aparecem nos Evangelhos, a que tem maior relevo, depois da Mãe de Jesus, é Maria madalena. Certamente porque ocupava um lugar de destaque nas memórias que se transmitiam sobre a vida de Jesus. Antes de mais nada, é apresentada como testemunha importante da morte e ressurreição do Senhor. Em Mateus, Marcos e Lucas, sempre é mencionada como a primeira de um grupo de mulheres que contemplaram de longe a crucifixão (Mc 15, 40-41), foram para onde Jesus estava sepultado (Mc 15, 47) e, segundo São Mateus, permaneceram sentadas em frente ao sepulcro (MT 27, 61). Conta-se também que no domingo de madrugada, Maria Madalena e outras mulheres voltaram novamente a ungir o corpo com aromas que haviam comprado (Mc 16, 1-7) e que lá receberam de um anjo a notícia da ressurreição e a tarefa de comunicá-la aos discípulos.

São Lucas, e somente ele, dá, além disso, a informação de que muitas mulheres que haviam sido libertas de doenças e de espíritos imundos seguiam a Jesus na Galiléia e o serviam com os seus bens, entre elas Maria, chamada Madalena, da qual haviam saído sete demônios (Lc 8, 2-3; Mc 16,9).
São João narra as coisas de outra forma. A Madalena aparece ao pé da cruz e é mencionada em último lugar, após a Mãe de Jesus, sua irmã e Maria, mulher de Cleófas (Jo 19, 25). Em seguida conta que no domingo, quando ainda era noite, foi ao sepulcro e ao ver a pedra retirada, correu para contar a Pedro e ao discípulo amado, pensando que alguém levara o corpo (Jo 20, 1-2). Em seguida, lemos que estava chorando junto ao sepulcro e, na continuação, vem a cena na qual Jesus aparece ressuscitado, encarregando-a de levar aos discípulos a mensagem de que subia para o Pai (Jo 20, 11-18). Em São João, a figura de Maria Madalena está repleta de simbolismo e representa a Igreja que busca e encontra o seu Mestre ressuscitado, e pode proclamar “vi o Senhor”.

Três mulheres

Dos relatos evangélicos, não se deduz que Maria Madalena seja a pecadora que segundo Lucas 7, 36-39 ungiu Jesus e secou seus pés que molhara com suas lágrimas. Esta identificação se propagou na Igreja latina em fins do século IV com São Gregório Magno. Foi resultado de um processo de interpretação dos Evangelhos no qual não falta lógica, mas que, certamente, não se impõe.
A partir do ano 200, alguns Santos Padres e escritores eclesiásticos, de Alexandria e do norte da África (por exemplo, Clemente de Alexandria e, mais tarde, santo Ambrósio de Milão e Santo Agostinho) identificaram como uma só mulher as três que aparecem nos Evangelhos ungindo a Jesus:
Maria Betânia, irmão de Lázaro (Jo 12, 1-8), outra cujo nome não é dito (MT 26, 6-13); Mc 14, 3-9) e a mulher pecadora de quem fala Lucas 7, 36-50. O passo seguinte foi a identificação com Maria Madalena.


Desta maneira, colocava-se em harmonia os diferentes relatos evangélicos e as coisas eram simplificadas. Com tal identificação, não se manchava sua imagem, mas inclusive a deixava exaltada: também São Pedro negara o Mestre e São Paulo fora perseguidor dos cristãos, e muitos grandes santos foram grandes pecadores antes de sua conversão.
Outros escritores, sobretudo no Oriente, mantiveram a diferenciação entre as três (por exemplo, Santo Éfren e São João Crisóstomo).

Receptora de revelações secretas

Da figura de Maria Madalena que aparece nos Evangelhos canônicos deriva a utilização que se faz dela em outros escritos mais ou menos posteriores para apresentar revelações secretas sobre Jesus. Trata-se de obras cujos ensinamentos divergem da tradição apostólica recolhida no Novo Testamento e que pertencem a algumas correntes gnósticas que surgiram nos séculos II e III. Ainda que por vezes essas obras foram transmitidas com o título de “evangelho”, na verdade não pertencem a este gênero literário, já que nem contêm relatos sobre a vida de Jesus, nem seus autores estão interessados neles. Os discípulos aparecem apenas como os que perguntam e como os destinatários de revelações feitas após a ressurreição.
Portanto, não surpreende que Maria Madalena fosse um dos personagens preferidos por tais escritos enquanto receptora da revelação secreta, já que o Senhor apareceu a ela após a Ressurreição.
Normalmente, não é chamada de Maria Madalena, como acontece nos evangelhos, mas é nomeada apenas como Mariam, Mariamne ou Mariham. Isto é um indicativo de que sua identidade pessoal não tem, de certo forma, muito relevo: o que importa é o que ela representa como gnóstica.


 Mariam é praticamente a única mulher que, ao lado dos apóstolos, ouve as revelações secretas de Jesus. Desta forma a vemos no “Evangelho de Tomás”, no “Diálogo do Salvador”, no “Pistis Sofia” e em outras obras fazendo perguntas ao Salvador, por vezes mais do que qualquer um dos apóstolos.


No “Evangelho de Maria”, no qual somente ela é a destinatária da revelação feita por Jesus ao ascender ao céu, diz-se que até mesmo Simão Pedro reconhece em dado momento que o Senhor lhe falou e dá razão a ela: porque a amou mais do que a outras mulheres.

Este recurso a Mariam era uma forma de justificar as doutrinas apelando para essas revelações.


Fonte: Por Gonzalo Aranda Pérez -
Professor de Antigo Testamento da Universidade de Navarra.


A fé que Salva

O distrito pagão de Tiro e Sidón presenciou uma das cenas mais emocionantes narradas com sumo realismo pelo evangelista Mateus: a cura operada por Jesus, atendendo a súplica da Cananéia (Mt 15, 21-18).
O território fenício tinha, pelo norte, limites com a Galiléia. Os cananeus eram inimigos tradicionais dos judeus. É de se observar que a mulher que veio implorar a cura de sua filha se dirigiu a Jesus como “Filho de Davi”, atestando sua ascendência que ia até o famoso rei judeu. É que a fama de Cristo havia ultrapassado os confins de Israel e, desesperada, aquela mãe viu nos poderes daquele Taumaturgo uma cura que, por certo, havia buscado, até então, com afinco para sua filha e não conseguira. Jesus, inicialmente, não deu atenção àqueles clamores maternos, certamente para experimentar sua persistência.
Os discípulos pediram ao Mestre para afastar aquela mulher que a todos atormentava com seus gritos. Jesus que veio para salvar o mundo inteiro, pregava inicialmente apenas para os Judeus, dado que a evangelização dos pagãos seria realizada mais tarde pelos Apóstolos. A Cananéia, contudo, era inflexível e se prostrou diante dele e clamou: “Senhor, valei-me”. Estava desesperada, pois o demônio atormentava seu ente querido. Aí vem uma das expressões de Cristo as quais têm suscitado tantas reflexões. Ele afirmou à pobre mãe: “Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-los aos cachorrinhos”. Ela, porém, replicou: “Assim é, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus donos”. Diante de tanta fé e humildade Jesus a atende e “desde aquela hora ficou sã a sua filha”. Note-se que as palavras de Cristo que, aparentemente, foram duras devem ser entendidas no contexto social em que foram proferidas. Jesus ao realçar a prioridade dos judeus não incluiu nenhuma idéia de menoscabo com aquele modo de falar. Tanto que a Cananéia, mui sabiamente, se serve da imagem empregada por Ele em seu próprio favor e arrebata a misericórdia de Cristo.
O ser humano precisa sempre de ponto de apoio diante de suas limitações. O Coração do Redentor se torna então um refúgio no qual se pode abrigar tranqüilamente para que sejam afastadas a angústia, a doença e tantos outros males que afligem a criatura neste vale de lágrimas. No Salvador se pode inteiramente confiar. Depositar confiança nos homens é sempre correr o risco de se envolver na mentira, na falsidade (Sl 115,11; Rm 3,4). Abraão porque confiou unicamente em Deus foi por isto exaltado (Gn 22,8-14; Hb 11,17). O erro tantas vezes cometido pelo povo no Antigo Testamento foi esperar nos ídolos, o que era uma impostura (Jr 13,25). A Bíblia é contundente: “Desgraçado o homem que põe a sua confiança no homem [...] Feliz aquele que confia em Javé” (Jr 17, 5.7). Jesus confirmou esta sentença e lembrou a necessidade da opção inicial que recusa qualquer outro Senhor que não aquele, cujo poder, sabedoria e amor paternal merece total e intrépida confiança (Mt 6,24-34). Radicada na fé, a confiança é tanto mais inquebrantável quanto mais humilde, como a da Cananéia que deixou um exemplo inolvidável. Trata-se de reconhecer a onipotência divina, dado que o Ser Supremo está sempre disposto a atender súplicas revestidas de fidúcia e submissão. Esta atitude conduz a uma alegre segurança interior.
O discípulo confiante e humilde se torna testemunha fiel do poder do Onipotente. Confia sempre que a graça celeste há de completar a sua obra e isto, sobretudo, quando o epígono de Jesus atravessa alguma crise existencial. A confiança inquebrantável é, realmente, condição basilar para se alcançar os favores do Todo-Poderoso. É preciso se sentir envolvido na misericórdia divina, através de uma fé profunda. Imersão total na Sua ternura. Isto é possível com a inteligência do coração, como fez a Cananéia. Permanecer centrado em Deus é o segredo para tudo dele obter.

Fonte: Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Professor no Seminário de Mariana - MG

Como fazer seu Grupo de Oração crescer

O grupo de oração é um grupo de pessoas que, por um desígnio de Deus, um dia (o dia em que foram pela primeira vez ao grupo) tiveram suas vidas tocadas pela bondade infinita do Senhor e foram chamadas a viver uma vida nova, a vida no Espírito. Existe uma passagem na carta de São Paulo a Tito, capítulo 3, versículos de 4 a 7, que descreve bem o que acontece com cada um de nós quando começamos a frequentar um Grupo de Oração:
 “Mas um dia apareceu a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com os homens. E, não por causa de obras de justiça que tivéssemos praticado, mas unicamente em virtude de sua misericórdia, Ele nos salvou mediante o batismo da regeneração e renovação, pelo Espírito Santo, que nos foi concedido em profusão, por meio de Cristo, nosso Salvador, para que a justificação obtida por sua graça nos torne, em esperança, herdeiros da vida eterna.”
 É essa a missão do Grupo de Oração: fazer com que as pessoas recebam o Batismo no Espírito Santo e tenham suas vidas renovadas, resgatadas, e guardem, para sempre, no coração, a esperança da vida eterna, a alegria da salvação. Pessoas batizadas no Espírito Santo são as que deixam transparecer entusiasmo em evangelizar, a fim de que outros também possam ter acesso a essa fonte de vida nova. São pessoas que com a sua vida testemunham que Jesus Cristo é o Senhor.
 Se isso não está acontecendo nos nossos grupos de oração, se as pessoas que vão ao Grupo não estão sendo transformadas, então o coordenador do Grupo, juntamente com a sua equipe de servos, deve parar diante do Senhor e perguntar a Ele o que está acontecendo, o quê está impedindo o Grupo de Oração de cumprir com sua missão de mudar vidas. Além de nos colocarmos em oração, talvez fosse interessante rever alguns pontos-chave da nossa vida carismática: conversão de vida, louvor, perdão, oração pessoal, leitura diária da Palavra e frequência aos sacramentos.

 Conversão de vida

 Este é um ponto que tem sido negligenciado. Não podemos esquecer nunca que vivemos a nossa vida sob o olhar de Deus que tudo sonda e tudo perscruta. O salmo 138 diz: “Senhor, vós me perscrutais e me conheceis, sabeis tudo de mim, quando me sento ou me levanto. De longe penetrais meus pensamentos, quando ando e quando repouso, vós me vedes, observais todos os meus passos.
A palavra ainda não me chegou à língua, e já, Senhor, a conheceis toda. Vós me cercais por trás e pela frente, e estendeis sobre mim a vossa mão” ( Sl 138, 1-5). E o salmo 50 nos lembra: “Eu reconheço a minha iniqüidade; diante de mim está sempre o meu pecado. Só contra vós pequei: o que é mau fiz diante de vós” (Sl 50, 5-6).
O livro da Sabedoria, no capítulo 1, nos diz claramente que, se estivermos no pecado, o Espírito Santo se afastará de nós: “Tende para com o Senhor sentimentos perfeitos e procurai-o na simplicidade de coração, porque ele é encontrado pelos que não o tentam, e se revela aos que não lhe recusam sua confiança; com efeito, os pensamentos tortuosos se afastam de Deus. A sabedoria não entrará na alma perversa, nem habitará o corpo sujeito ao pecado; o Espírito Santo educador (das almas) fugirá da perfídia, afastar-se-á dos pensamentos insensatos, e a iniqüidade que sobrevém o repelirá” (Sb 1, 1b-5).

 Louvor

 Resgatemos o louvor no Grupo de Oração e na nossa vida diária, ao invés de murmurarmos e nos queixarmos da vida. Quando louvamos ao Senhor e entoamos ações de graças, a nossa voz se une à voz dos anjos e santos de que fala o livro do Apocalipse, no capítulo cinco, e que bradam:

 “ Digno é o Cordeiro imolado de receber o poder, a riqueza, a sabedoria, a força, a glória, a honra e o louvor. Àquele que se assenta no trono e ao Cordeiro, louvor, honra, glória e poder pelos séculos dos séculos” (Ap 5,12.13b).

 Vamos acreditar que, quando louvamos ao Senhor no meio das dificuldades, todos os anjos e santos do céu e também Nossa Senhora unem-se a nós em adoração, louvor e ação de graças. E nossos problemas são confrontados com o poder e a majestade de Deus e a vitória que Jesus Cristo já conquistou.

 Perdão

 O Conselho Nacional esteve reunido em Brasília/DF, em janeiro de 2007, e o Senhor falou em profecia: “Se dentro do seu coração existe um conflito, um litígio contra seu irmão, Eu, Jesus, estou aqui, no Trono, como um justo juiz e pergunto: Existe possibilidade de conciliação entre vocês? Se não existe conciliação, então Eu preciso julgar”. Os litígios, os conflitos, as mágoas, os ressentimentos nos desajustam, fazem sofrer a nós e aos outros e não auxiliam em nada o estado de graça e de comunhão com Deus.
Pensemos nisso e retomemos o exercício do perdão em nossas vidas.
Podemos, por exemplo, determinarmo-nos todos os dias, durante um mês, a nos colocar em oração e perguntar ao Espírito Santo a quem precisamos perdoar e a quem precisamos pedir perdão.
Vamos ficar espantados de ver como ainda temos que caminhar nesta área.
Toda semana podemos envolver nosso grupo de oração nessa prática e, assim, colher testemunhos sobre o perdão.

Oração pessoal

 É a humilde vigilância na presença de Deus, como diz o salmista:

“Só em Deus repousa a minha alma, é dele que me vem o que espero. Só Ele é o meu rochedo e minha salvação, minha fortaleza: jamais vacilarei. Só em Deus encontrarei glória e salvação. Ele é meu rochedo protetor, meu refúgio está Nele, ó povo, confia Nele de uma vez por todas; expandi, em Sua presença, os vossos corações. Nosso refúgio está em Deus”.

 Quando nos colocamos na presença de Deus em oração, Ele abençoa o que está em nosso coração: alegrias, tristezas, preocupações, tudo! As nossas fraquezas, nossas limitações, nossos erros, nossas tentações e pecados que nos humilham, nossas dificuldades no dia-a-dia e na família, nossas dúvidas e inquietações. Sobre tudo isso, o Senhor derrama o seu amor curador, consolador, libertador.
Além disso, na oração, passamos do nosso coração sensível, que é o lugar da tentação, para o nosso coração mais profundo, onde está a presença de Deus na pessoa do Espírito Santo. E a ação do Espírito Santo, que é o amor que habita o nosso coração mais profundo, pacifica, purifica, ilumina e constrói. É como diz aquele cântico:

 “Preciosas são as horas na presença de Jesus, comunhão deliciosa de minha alma com a luz.”.

 Leitura diária da Palavra

 Procurar trazer a Palavra para dentro das situações que vivemos; isso é parte da nossa identidade carismática. Se não lemos a Bíblia diariamente e se não a vivemos, ficamos desfigurados, ou seja, perdemos a nossa feição, o nosso rosto de Pentecostes.
A Palavra de Deus é matéria espiritual sobre a qual o Senhor cria novas realidades na nossa vida. “Pela fé reconhecemos que o mundo foi formado pela palavra de Deus e que as coisas visíveis se originaram do invisível” (Hb 11, 3). No capítulo 15 do livro do profeta Jeremias, nós lemos:

 “Quando encontrei Tuas palavras alimentei-me, elas se tornaram para mim uma delícia e a alegria do coração, o modo como invocar Teu nome sobre mim, Senhor dos exércitos”.
 Quando nos debruçamos sobre a Palavra, estamos erguendo sobre nossa vida o próprio Senhor dos exércitos, das potências, o Senhor de toda glória e de toda majestade.
Nossa vida recebe esta força incrível que é a Palavra, com todo o seu poder de transformar as realidades. 

Frequência aos sacramentos

 Precisamos também fortalecer nossa vida com a frequência aos sacramentos, principalmente os da Reconciliação e da Eucaristia.
O Catecismo da Igreja Católica, na parte II, que fala sobre os sacramentos, mostra um afresco da catacumba de São Pedro e São Marcelino, representando o encontro de Jesus com a mulher hemorroíssa. Essa mulher, enferma há muitos anos, é curada ao tocar o manto de Jesus, pela “força que dele saíra”.
Os sacramentos da Igreja, diz o Catecismo, continuam hoje as obras que Cristo cumprira durante sua vida terrestre.
 Os sacramentos são como essas “forças que saem” do Corpo de Cristo para curar as feridas do pecado e para nos dar a vida nova do Cristo.
Através da vida sacramental, o poder divino e salvador do Filho de Deus salva o homem todo, alma e corpo.
Se voltarmos a ser o que somos, povo de oração, de conversão de vida, de louvor, de perdão e de freqüência aos sacramentos, e se em nossos grupos de oração tivermos a prática dos carismas para que as pessoas possam ver os sinais da presença viva de Deus no meio de nós, então grupos de oração vão crescer, porque muitos homens e mulheres vão querer fazer parte dessa “raça escolhida, sacerdócio régio, nação santa, povo adquirido para Deus” (cf. I Pd 1, 9).

 Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo!

 Fonte: Por Maria Beatriz Spier Vargas
Secretária-Geral do Conselho Nacional da RCC do Brasil

4 de novembro de 2011

Entrar pela porta estreita

A porta estreita que dá entrada ao céu supõe o carregar a cruz de cada hora. 
Tal o conselho de Jesus: “Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita” (Lc 13,24).
Alguns intérpretes da Bíblia, numa hermenêutica alegórica, vêem nesta porta aquela que dá passagem para a união com Deus dentro de cada coração, lá onde mora a Trindade Santa pela graça santificante. 
Entretanto, para se chegar ao limiar desta porta interior e por ela passar há duas etapas. 
A primeira é tudo realizar cônscio da presença divina, empregando a todo instante possível preces curtas. Estas, segundo Santo Agostinho, são como flechas de amor dirigidas ao Hóspede divino. 
São antídotos que afastam pensamentos perturbadores e mantêm a vigilância. 
O resultado é uma transformação terapêutica perante tudo que possa desviar a atenção do Ùnico necessário que é o Senhor de tudo. Reveste-se então o cristão de uma armadura espiritual que o faz apto para a diversidade e complexidade das lutas interiores.
Segundo João Cassiano, são preces de fogo que apagam qualquer desânimo, alimentando a alma, protegendo-a contra as invectivas exteriores do Maligno. Com isto, se evita também a digressão da imaginação nos momentos das demais orações. 
Oferece a paz interior, a apatheia que sempre tiveram os grandes santos e que é viável para todos os discípulos de Jesus. A segunda etapa para se chegar à porta que se abre para a união com Deus é viver com intensidade o momento presente, colocando entre parêntesis o passado e o futuro. 
Toda ação fica então sumamente meritória e se torna meio eficiente de purificação. 
Isto impede que a imaginação trace uma teia de idéias vãs que impedem a reta intenção de em tudo agradar ao Ser Supremo. Deste modo os pensamentos negativos, depressivos, inúteis e até sem sentido, aparecem, mas logo desaparecem. 
Completadas estas etapas, diante da porta estreita que leva à comunhão com Deus dentro do próprio coração, cumpre estar envolto no silêncio interior, sem qualquer preocupação externa, para o encontro inefável com a Santíssima Trindade. 
A quietude do espírito é a chave que abre para degustar a presença sublime da divindade que é abismo de luz.
A consciência inteira se imerge no Senhor num olhar silencioso longe de toda agitação, para além do caos, da confusão, da ansiedade. 
Dá-se o contato com a obscuridade luminosa de que falam os santos e, por um instante, o cristão percebe e como que toca o Infinito, momentos que podem se repetir na vida do seguidor de Cristo, desde que se ponha em condições de se unir a seu Criador lá no íntimo de si mesmo. 
Trata-se de uma liturgia pessoal que é um reflexo da liturgia celeste, ou seja, o degustar da eternidade no tempo. 
A alma consegue ir além das palavras para simplesmente estar com Deus. Este articulista que morou com o Arcebispo Dom Oscar de Oliveira durante seu episcopado de vinte e oito anos em Mariana escutou várias vezes dele ao voltar o sábio Antístite de suas Visitas Pastorais que muitos eram os fiéis que, embora sem grande cultura, viviam uma vida intensa de oração. 
Possuíam uma acendrada espiritualidade. É que o importante é não colocar óbices a ação do Divino Espírito Santo e deixar que Ele fale. Saber escutar. 
Como ocorreu com o Profeta Elias, Deus não está na rajada do vento, nem num terremoto, nem no fogo, mas sim num leve sussurro do silêncio (1Reis 19,11), numa suave brisa. 
A presença de Deus é quase imperceptível, mas percebida pelos que penetram no país do silêncio interior pela porta estreita que leva à união com Ele que amadurece os seus desígnios no sossego de uma prece tranqüila. Para isto o fiel deve estar despojado de si mesmo para captar a eternidade no tempo numa intuição que ultrapassa as emoções, as tensões na descoberta daquele no qual se vive.
O ser do cristão fica escondido com Cristo em Deus, como falou São Paulo aos Colossenses.
Para isto, aconselha este Apóstolo, cumpre se interessar pelas coisas celestes e não pelas coisas terrenas (Cl 3, 2-4). 
Tal atitude supõe constância dia a dia, uma prática cotidiana é a chave que abre para a vastidão da imensidade do Todo-poderoso. 
Isto é a graça maravilhosa de quem sabe orar através da prece da quietude, pérola de grande preço. 
Sem intermitências não se esquece de seu Senhor. 
Feliz, porém, aquele que procura perseverantemente passar sempre pela porta estreita que conduz assim a um contato profundo com Deus, pois pode já na terra degustar um pouco das delícias eternas! 


 Fonte: Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho 
Professor no Seminário de Mariana durante 40 anos.

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