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7 de novembro de 2011

Escritos gnósticos x Ensinamento apostólico

Outra característica que aparece em destaque nos escritos gnósticos é a oposição que os apóstolos demonstram em relação a Mariam, especialmente Simão Pedro. Isso reflete a consideração negativa que alguns gnósticos tinham do feminino, ao mesmo tempo que admitem a condição de discípula de Mariam.
No final do “Evangelho de Maria, é narrado que Pedro e André recriminam Maria dizendo que ela inventou a revelação que acaba de contar a eles; mas Levi acusa Pedro de agir assim por ciúmes.
Estes dados podem ser interpretados como reflexo de uma polêmica da Igreja contra a liderança espiritual da mulher que defendiam alguns grupos que produziram estas obras.
Mas também podem ser entendidas como uma forma de ressaltar, dentro destes grupos, que a doutrina apostólica transmitida em nome de Pedro ou de outros apóstolos, estava em contradição com a que eles expunham em nome de Mariam.
Mariam também aparece como modelo de gnóstico, especialmente no “Evangelho de Felipe”.
Este escrito contém uma série bastante desordenada de ensinamentos do Senhor em forma de reflexões espirituais de certa extensão. Apesar da dificuldade de ver neste escrito um sistema coerente, o seu ponto de partida parece ser a doutrina de que o gnóstico alcança sua perfeição pela união de sua parte feminina, ou seja, sua alma, e a parte masculina, ou seja, seu anjo, proveniente do Pleroma ou mundo celeste.

Lendas que exaltam sua figura

Nestas representações, Mariam é o modelo do gnóstico precisamente por ser figura feminina. Em uma ocasião em que Madalena é mencionada com este nome, é para fzer notar que é “Mariam”, assim como a mãe de Jesus e sua irmã. Dá a impressão que o nome Mariam se transforma em símbolo de seguimento de Cristo e união com ele. Nesse sentido se fala de Mariam como a que alcançou a perfeição gnóstica.

Para expressá-la, é dito em outro lugar que o Senhor a beijou (se esta é a tradução correta de um verbo “aspazein”, que por si significa “saudar”) muitas vezes. Antes se falou do “beijo” como “meio pelo qual o perfeito concebe e dá à luz”, quer dizer, engendra a si mesmo como gnóstico dentro do grupo; por isso, é dito, “beijamo-nos uns aos outros”. Parece que este “beijo”- transposição, sem dúvida, do “beijo santo”
de que fala São Paulo (ROM 16, 16; 1Cor 16, 20;etc.) – poderia formar parte de um sacramento mais elevado do que o batismo e até mesmo da Eucaristia, chamado nesse evangelho, por analogia à união matrimonial, “a câmara nupcial”.  

Por tudo isso, entender essa passagem como um testemunho histórico de uma relação sexual entre Jesus e Maria Madalena, como foi feito, seria uma leitura simplista deste evangelho, ao que parece, do início do século III e cujo tom geral é precisamente o distanciamento da relação sexual. De fato, nenhum estudioso sério entende os fatos desta forma.    

Bem distante das correntes gnósticas, desaparecidas no século IV, entre os fiéis católicos foram criadas lendas dirigidas a exaltar a figura de Madalena. Na Igreja grega, contava-se que, após a ressurreição, foi para Éfeso com a Santíssima Virgem e São João e que morreu ali, sendo depois levadas suas relíquias para Constantinopla. Na França, em meados do século XI surgiu a lenda, enriquecida com muitos detalhes, de que Madalena, Lázaro e alguns outros foram à Marseille e evangelizaram a Provença, e que ela teria morrido em Aix e que suas relíquias foram finalmente levadas a Vézelay.  

Fonte: Gonzalo Aranda Pérez -
Professor de Antigo Testamento da Universidade de Navarra.
       

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