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11 de agosto de 2011

Sete Razões para Perdoar- Parte I

O que é odiar? O que é perdoar?
Interessante que antes de fixar a mente na idéia de perdoar, surge a palavra odiar.
Considero um dos temas mais comuns e, ao mesmo tempo, mais fundamentais para qualquer projeto de vida cristã, bem como para qualquer sonho de humanização do ser humano em geral e de suas relações com o outro. O individuo pode ser cristão, seguir outra religião, ser ateu, ou simplesmente declarar-se agnóstico se ele considera impossível chegar-se a verdades que estejam além das ciências.

Infelizmente, uma religião, por mais sublime que sejam seus fundamentos e os ideais por ela propostos, por si mesma não parece contribuir muito para superar ódios e promover boa convivência. Muitas das piores guerras e genocídios que sempre têm atormentado a humanidade foram conflitos religiosos, tinham motivações religiosas entre outras a atiçá-los e torná-los mais cruéis e destrutivos. Parece que para alguém conseguir tornar-se um ser verdadeiramente pacífico necessita avaliar um conjunto de valores e convicções pessoais meditados e treinados exaustivamente por longos anos. Na formação deste patrimônio pessoal de convicções e valores a religião bem vivida tem um papel extraordinário.

2. Definições e conceituação – O que é ódio?

Importante é não confundi-lo com outras emoções como a ira, o ressentimento e, menos ainda, a mágoa.

Ira é a pura emoção, caracterizada por forte descarga de hormônios que mobilizam o corpo para a luta, em geral visando eliminar a fonte da real ou da suposta agressão. O povo fala em sangue quente. Em principio, nenhum ser vivo gosta de ser contrariado, frustrado em suas expectativas, perder ou ser agredido. Quanto tempo passa entre o registro da suposta violência sofrida e o tal do ferver do sangue? Claro que isso depende da gravidade da agressão e do grau de resistência, ou tolerância que o individuo já desenvolveu às frustrações em geral. Mas a imagem que me vem à mente é da fileira de bolas de bilhar, todas encostadas, umas às outras. Quando uma bola é jogada contra a extremidade da fileira, quanto tempo leva para a última bola da extremidade oposta reagir ao impacto? A reação é instantânea. O povo fala em pavio curto.

A mágoa é uma emoção secundária, no sentido que depende de elementos que ocorrem depois da agressão. A pessoa faz avaliações e considerações sobre a situação e pode imaginar-se injustiçada, traída, preterida, abandonada, desprezada... Um misto de tristeza, raiva e revolta instala-se firmemente em seu coração. Ira e mágoa são emoções e como tais fazem parte da natureza humana, tal como a criou Deus.

Já o ódio é um estado de alma e mente muito mais complexo e cambiante em seus elementos constitutivos. O ódio tem um objetivo e supõe planejamento. Visa à aniquilação do inimigo real ou imaginário, ou, pelo menos, a aplicação de algum castigo, causar-lhe sofrimento ou humilhação. A ação do portador do ódio pode ocorrer em verdadeiras explosões de ira mortífera, como também pode ser executada com cálculo, requinte e frieza inacreditáveis. Não é à toa que o provérbio cínico diz que “a vingança é um prato que se come frio”. Sem emoções, a crueldade e a perversidade são maiores e mais eficientes, o cálculo é mais exato e a margem de erro resulta muito menor.

Normalmente a ira, o ressentimento e a mágoa estão num terreno moral ainda indiferenciado. Podem levar a ações e atitudes moralmente condenáveis, mas podem também levar a manifestações de virtude, como aconteceu com aquela piedosa anciã que confessou ter sentido imensa raiva de fulano. Perguntei-lhe o que havia feito com tanta ira. Confidenciou que havia rezado por ele.

Por sua vez, o ódio é algo duradouro que gera um estado de alma que encarna elementos essenciais do pecado, tais como a perversidade, o julgamento e condenação. O ódio coloca-nos em algum ponto antípoda de Deus, em termos de sua natureza. Ele nos põe em sintonia com satanás.

Mas, vamos ao perdão, o elemento mais importante deste artigo. O perdão situa-nos naquele terreno familiar de Deus, pois é da natureza divina perdoar sempre. Perdoar envolve uma gama muito grande de emoções e elaborações da mente que podem requerer tempo mais ou menos longo em decorrência da capacidade tão variada de cada um perceber a realidade da situação, analisá-la e compreendê-la. Não podemos esquecer também que essas coisas não dependem só da inteligência e sabedoria. Elas têm muito a ver com nosso temperamento, educação emocional e emoções predominantes.

O perdão pode concretizar-se em etapas. O primeiro passo essencial para o perdão é a eliminação do desejo de vingança. Descartada a vingança, a bomba de ódio está desativada. A segunda etapa é mais árdua: assumir a firme determinação de ajudar a quem se está perdoando em suas necessidades, no que puder, como faria com qualquer outra pessoa. Quando o evangelho fala da ordem de amar o inimigo, é exatamente disso que está falando. O cristão não tem outra opção! É comum pessoas dizerem que perdoam, não desejam o mal ao desafeto, mas fazem questão de esquecê-lo, como se ele simplesmente não existisse. Isso representa meio caminho andado para o perdão. A bomba do ódio está desativada, mas o dínamo energético do amor não foi ainda religado.

A terceira etapa exige fazer sua parte no que for necessário para restabelecer laços de relacionamento anterior. Isso refere-se usualmente aos casos de ruptura em famílias, fraternidades religiosas, comunidades de igreja e até equipes de trabalho. Em geral nestes agrupamentos de pessoas não basta conseguir apenas o amor-serviço essencial do Evangelho que devo até ao meu inimigo. Sim, mesmo que eu não odeie, alguém pode odiar-me e tenho um inimigo. Aí é necessário que prospere o amor fraterno, o que supõe troca de gentileza, cortesia e manifestações de real afeto, principalmente em família.

Ainda aqui cabe uma nota. São freqüentes os casos de pessoas que dizem perdoar, mas não esquecem. Quem assim fala pode pertencer a um de dois grupos: aos que cultivam ressentimentos e assim procuram justificação por não reconstruir laços anteriores e ainda estão em falta em termos de suas responsabilidades no cultivo do amor cristão; ou fazem parte do grupo dos que pelo simples fato de recordar os acontecimentos sentem-se culpados. Querem esquecer, mas não conseguem. Em geral essas pessoas ainda sentem nas reminiscências algum desconforto como mágoa e tristeza. A rigor, o simples lembrar não constitui erro, não envolve culpa. Até porque ao me colocar o fardo da obrigação de esquecer algum acontecimento perturbador, torno o esquecimento menos provável. Isso acontece porque obrigações geram perigo de falhar e perigos não podem ser esquecidos.
 O ideal é você poder lembra qualquer acontecimento sem vivenciar coisas desagradáveis. Voltarei ao assunto.

Fonte:Hipolito

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