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10 de maio de 2011

Josué

Embora nem sempre com a coerência que tanto agrada à nossa mentalidade actual, por efeito das diferentes tradições que lhe serviram de fonte, é possível apresentar resumidamente a figura de Josué. Inicialmente surge como um jovem ajudante de Moisés, com o nome de Oseias; depois, é um dos exploradores do Négueb, quando manifesta, com Caleb, a sua disponibilidade para executar o plano libertador de Javé. Então é-lhe mudado o nome de Oseias para “Yehoshua” ou Josué, prenúncio da nova missão em que Moisés o vai investir: será o seu sucessor.
É a esta personalidade que a tradição atribui a autoria do livro de JOSUÉ, com as habituais limitações que tal designação comporta quando se trata dos autores sagrados ou hagiógrafos.


DIVISÃO E CONTEÚDO


Há quem considere o livro de JOSUÉ como um complemento do Pentateuco, constituindo a parte em que se cumpre a promessa da doação da Terra Prometida: no Génesis, Deus promete; em JOSUÉ, entrega e cumpre a promessa. Nesta hipótese, JOSUÉ seria constituído a partir da teoria clássica das quatro tradições: Javista, Eloísta, Deuteronomista e Sacerdotal. Não é esta, porém, a hipótese aplaudida por muitos críticos modernos, a quem agrada mais integrar o livro em plena História Deuteronomista, sem prejuízo de considerarem nele, de facto, a promessa do Génesis, plenamente cumprida.


É comum distribuir o conteúdo de JOSUÉ por três partes distintas:
I. Conquista de Canaã (1,1-12,24): texto, predominantemente narrativo, conta os vários episódios da conquista de Jericó; a batalha de Guibeon; a leitura da Lei perante a multidão, que renova a sua promessa de fidelidade à aliança (8,29-35); a derrota das várias coligações contra Josué, com a consequente submissão de todo o Sul ao sucessor de Moisés.
II. Distribuição do território pelas tribos (13,1-21,45). Após a atribuição dos territórios às tribos da Transjordânia e da Cisjordânia, conclui-se com uma lista das cidades sacerdotais e de refúgio.
III. Apêndice e conclusão (22,1-24,33). Nesta parte merecem especial atenção o discurso de despedida de Josué e a assembleia magna de Siquém, no final do livro.


GÉNERO LITERÁRIO E VALOR HISTÓRICO


Em JOSUÉ, não temos História no sentido rigoroso deste conceito, uma vez que a aglutinação das diversas tradições foi feita em época muito posterior aos factos. O rigor histórico das narrações é que seria, precisamente, de admirar. Comparando JOSUÉ com Jz 1, aquilo que em JOSUÉ se nos apresenta como campanha militar organizada, uma espécie de coligação de todo o Israel, na verdade, parece ter sido uma iniciativa particular de cada tribo. Trata-se, pois, de apresentações esquematizadas. Do mesmo modo, não é de excluir a hipótese de algumas tribos terem penetrado em Canaã pelo Sul e não por Jericó (Nm 21,1-3).
Tribos houve, como as da região central, que nem sequer terão estado no Egipto, mas permaneceram em Canaã. Outra hipótese admitida é que teria havido vários êxodos de natureza diferente: êxodo-expulsão e êxodo-libertação; assim no-lo deixam supor as várias formas de texto, quando se fala da saída do Egipto. Nesse caso, a campanha de Josué, na reconquista épica de Canaã, revestiria a forma de síntese narrativa como reelaboração posterior das diversas tradições.
Os acontecimentos posteriores, até à época de David, mostram igualmente que a campanha da reconquista protagonizada por Josué não acabou com a posse total do território: muitos grupos de várias etnias não judaicas mantiveram-se autónomos por muitos anos, só mais tarde acabando por ser integrados em Israel.
De quanto ficou dito, pode-se legitimamente concluir que, em JOSUÉ, se encontram misturados vários tipos de textos literários: a narração, a descrição, a lenda popular, a epopeia, etc.. Sacrificou-se o rigor da História ao interesse da doutrinação teológica, realçando esta última.


TEOLOGIA


Como já foi dito, JOSUÉ pretende mostrar que Javé é fiel à sua palavra: se prometeu, cumpre (Gn 12,1-3; 13,14-17; 15,7-21; 17,1-8). Como prometeu dar uma terra ao povo, tudo fará, mesmo milagres, para os opositores de Israel serem derrotados e as suas terras entregues ao “povo de Javé”. Daí a frequência da acção miraculosa da intervenção directa de Deus e dos seus anjos no decorrer das várias acções militares, bem como a idealização do herói, qual novo Moisés: tudo lhe é atribuído, participa em todas as batalhas e sobre ele se estende incessantemente a mão poderosa e protectora do Senhor.
Para isso concorre enormemente a importância do factor ‘Terra’ na trama da aliança: Javé faz um pacto com um povo nómada, a quem promete entregar uma terra que vai ser o cenário dos factos dessa aliança. Sem uma terra sua, o povo carece de raízes para a sua subsistência real. Foi assim que todo o israelita aprendeu a considerar a ‘Terra Prometida’ como um dom do Senhor. Neste quadro, a guerra santa e a crueldade para com o vencido são um louvor a Javé, em cujo nome são praticadas. O empolamento das acções, até se fazer delas milagres assombrosos, está plenamente justificado, uma vez que interessa, acima de tudo, exaltar Javé e engrandecer Josué, figura central da presente epopeia.




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