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3 de março de 2011

Deus está ao lado dos ricos?


Quando se leem algumas páginas do Primeiro Testamento bíblico tem-se a impressão que Deus era aliado dos ricos.
Ter tudo do bom e do melhor era sinal da sua benção. 
Vemos esta mentalidade bem definida no livro do Deuteronômio (28, 1-14). Daí ter-se a constatação de que o ideal de todo israelita era a riqueza. 
A pobreza era sinal de afastamento de Deus. 
A pregação dos profetas vai mostrando que a coisa não é bem assim. 
Estamos a alguns anos da destruição de Jerusalém. A corrupção gera todo tipo de problema. A única solução e converter-se ao Senhor. 
Aqui, conversão, indica ser como os humildes, como os pobres.
 Pobre, em Sofonias, não quer indicar o despossuído e sim uma atitude interior de desapego. Estamos diante de um “convite” complicado. 
Como utilizar os bens sem ser apegados a eles?
 Como ter bens sem que sejam frutos da injustiça, do engano, da apropriação? 
Uma questão que permanece.
 Todos os leitores, de alguma maneira, têm conhecimento da chamada 
“Teologia da Prosperidade”. 
De modo simples pode-se repetir o que escrevi acima: se você tem bens é porque é abençoado. Se não tem é porque não é abençoado. 
Este modo de pensar influenciou a ética protestante (creio que muitos conhecem o livro de Max Webber – “A ética protestante e o espírito do capitalismo”). 
Partindo do principio que a riqueza é sinal de benção aliou-se a sua busca e, ao mesmo tempo, a entrega da décima parte – dizimo – como sinal de benção e retribuição. 
A riqueza que se multiplica e o correspondente dízimo criaram o visual da benção concretizada.
 Em nossos dias essa teologia retributiva alcançou nova força nas igrejas pentecostais onde o desafio a dar a Deus está na exata retribuição mais que generosa de Deus. 
Quanto mais você dá mais Deus te dá! Chama a atenção o estímulo a dar desafiadoramente. 
O manifestar da benção está nos bens pessoais e, também, na grandiosidade dos templos, nas somas gastas nos meios de comunicação, etc. 
Por outro lado a má compreensão do sentido da pobreza levou a certa acomodação. Pobreza nunca significou não desejar e não utilizar-se dos bens. 
Há pessoas que querem se privar de tudo. Isso é vocação pessoal.
Os bens existem para tornar a vida uma experiência feliz. É, todavia, importante que não tenham supremacia diante da vida humana e da vida da natureza. 
No texto das bem-aventuranças, (Mateus 5, 1-12) que autores chamam como que uma constituição do cristianismo, colocam-se fundamentos para o bom uso do dinheiro, das coisas, etc. 
As bem-aventuranças abrem o leque para que se entenda a presença de Deus na vida e como nós, filhos e filhas, devemos responder a Ele. 
A atitude fraterna e solidária, totalmente disponível e livre, é a chave para saber lidar com o que se tem e com aquilo que se deseja ter. Vale lembrar sempre que ter ou desejar ter não constitui pecado. A não ser que a vida seja colocada só nisso.
De vez em quando alguém fala que pecou porque teve inveja. Gostaria de ter uma coisa que alguém conseguiu. Essa tal inveja só é ruim se faz sofrer. 
Se for um estímulo para melhorar não é falha. O mal está quando eu fico triste porque alguém conseguiu algo e eu não... É certo que saber o limite da manipulação dos bens não é coisa fácil. 
Se fosse, quem tem muito viveria feliz com o muito que já tem. Mas parece que a sede de ter mais é insaciável. E para quem tem pouco ou nada parece que o ter resolverá a questão. E se verá que não é verdade. No fundo parece que quem é pobre quer ficar rico e aí a coisa se repetirá. Será sempre desafiador sermos bons administradores dos bens que o Senhor nos deixou. Será sempre complicado partilhar. Porque a tentação é reter... Mesmo que a gente tenha certeza que caixão não tem gavetas.


Fonte: Mons. Giovanni Barrese

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