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31 de outubro de 2009

Equipe Litúrgica um ministério eclesial a ser levado a sério

DIANTE DE DIFICULDADES


Em minhas andanças por este Brasil afora, exercendo função de missionário da divina Liturgia, percebo que há muitos párocos e vigários paroquiais preocupados com a qualidade das equipes litúrgicas em suas comunidades eclesiais.
Queixam-se do despreparo delas. Lamentam a atuação por demais improvisada de muitas equipes, que tantas vezes se limitam à distribuição de folhetos e livros de cantos, escolha de leitores na última hora, mera leitura formal dos comentários do folheto, leituras bíblicas mal feitas (sem preparo), músicos atuando meio por conta (alheios ao conjunto da equipe e com cantos deslocados do verdadeiro espírito litúrgico), ausência de inventivas para fazer uma liturgia mais viva e proveitosa.
Numa palavra, falta formação, não só de equipes litúrgicas, mas também das equipes litúrgicas. E os próprios padres (e outros agentes de pastoral), muitas vezes, reconhecem que também não sabem orientar as equipes e como trabalhar com elas. Sentem-se despreparados neste setor pastoral e pedem ajuda.


UM PROGRAMA DE ESTUDO E TRABALHO

Assim sendo, no intuito de atender aos anseios de nossos párocos e vigários paroquiais (e, eventualmente, outros), vamos ter daqui para frente, nesta revista, uma série de “encontros”, conversando sobre equipes litúrgicas:
- sua razão de ser a partir do Vaticano II, questão da ministerialidade da assembléia litúrgica, o papel da animação de uma assembléia litúrgica, o papel da equipe de animação da vida litúrgica na paróquia (ou comunidade), o papel da equipe diocesana de pastoral litúrgica e seu papel, o trabalho coletivo, como formar uma equipe litúrgica, como organizá-la e fazê-la funcionar, passos de uma reunião para preparar uma celebração, etc.
Vou me basear, sobretudo, em três preciosos livrinhos:
- CNBB. Animação da vida litúrgica no Brasil (Documentos da CNBB n.º 43), São Paulo, Paulinas, 2002; Equipe de Liturgia (Equipe de Liturgia 1), de Ione Buyst, 15a ed. atualizada, Ed. Vozes, Petrópolis, 2000; Preparando passo a passo a celebração. Um método para as equipes de celebração das comunidades (Coleção “Celebrar a fé e a vida”, 3), de Luiz Eduardo P. Baronto, Editora Paulus, 3a ed., São Paulo, 1997. Aconselho o leitor e a leitora a adquirirem estes livrinhos para aprofundamento pessoal e em grupos.

EQUIPES DE LITURGIA, UMA EXIGÊNCIA A PARTIR DO VATICANO II

Na tradição mais antiga da Igreja, a assembléia litúrgica era servida por muitos ministros:
- porteiros, cantores, salmistas, leitores, acólitos, diáconos..., além do presidente. Posteriormente, da Idade Média para cá, o padre acabou monopolizando tudo nas celebrações. Tanto que os poucos serviços leigos que ainda restaram (sacristão, coroinha, cantores...), acabaram nem sendo considerados mais como ministérios litúrgicos. Regime este que durou todo o segundo milênio! A partir do movimento litúrgico, na primeira metade do século 20, começou-se a acordar e perceber o quanto tínhamos nos afastado da genuína tradição da Igreja, no que diz respeito à participação na liturgia.
E começou-se a introduzir outras funções, exercidas por leigos, principalmente nas chamadas “Missas Comunitárias”. Enquanto o padre fazia a leitura em latim lá no altar, de costas, em voz baixa, leigos faziam a leitura em voz alta, na linguagem do povo, para todos ouvirem e entenderem. Leigos animavam o canto popular. Leigos traziam as oferendas (pão, vinho e água) para o altar. Leigos acolhiam os irmãos à porta da Igreja. E assim por diante.
A Constituição Sacrosanctum Concilium (SC) sobre a Liturgia, do Concílio Vaticano II, assumiu estas “novidades”, dando-lhes um fundamento teológico:
- “o sacerdócio de todo o povo batizado e a diversificação dos ministérios litúrgicos como expressão da Igreja-Comunhão, Igreja-Corpo-de-Cristo, onde cada membro tem a sua tarefa específica em função do bem comum” (Ione Buyst, Equipe de Liturgia, p. n.º 12). O que vemos? A SC nos alerta expressamente que ninguém deve acumular funções na celebração litúrgica, e que os leitores, comentaristas, o grupo de cantores... exercem um verdadeiro ministério litúrgico (cf. SC 28-29). Em seguida, mesmo não falando diretamente de “equipe”, no fundo está pedindo que ela seja uma realidade.
Senão, quem é que vai “incentivar as aclamações do povo, as respostas, as salmodias, as antífonas e os cânticos, as ações e os gestos e o porte do corpo”, bem como “o sagrado silêncio” (cf. SC 30)?... E hoje a própria Instrução Geral sobre o Missal Romano fala da necessidade de preparar a atuação de cada um “de comum acordo”, o que supõe que haja uma equipe que atue de maneira entrosada e que se reúna para preparar a celebração (cf. nn. 91-111 e n.º 352).
UMA EXIGÊNCIA NA IGREJA DA AMÉRICA LATINA E CARIBE

Assim sendo, mãos à obra!Os desafios são muitos e o trabalho é grande!...Vale a pena, porque a Páscoa libertadora quecelebramos na sagrada liturgia merece servivida intensamente por nossas assembléias.E as equipes litúrgicas bem constituídascumprem aí um maravilhoso papelevangelizador, pois "a liturgia é o momentoprivilegiado de comunhão e participação parauma evangelização que conduz à libertaçãocristã integral, autêntica"(Documento de Puebla, n.º 895)
Os importantes documentos da Conferência Episcopal Latino-americana (CELAM) de Medellín, Puebla e Santo Domingo denotam a necessidade imprescindível de equipes litúrgicas em nossas comunidades eclesiais. O documento de Medellín (1968), pelos dois grandes desafios para a vida litúrgica que nele sobressaem, a saber, celebrar em comunidade e celebrar a partir dos acontecimentos (dos fatos da vida), evidencia que só com a constituição de boas equipes litúrgicas se poderá atingir o objetivo de uma liturgia realmente comunitária e participativa, celebrando a Páscoa no hoje de nossa história.
O documento de Puebla (1979), que traz à nossa mente o povo pobre (a maioria!) com suas práticas religiosas como um novo sujeito na liturgia, exige a constituição de equipes que possibilitem o surgimento de uma expressão litúrgica autenticamente popular. O documento de Santo Domingo (1992), que trata da inculturação da fé, deixa entrever que a adaptação da liturgia às várias culturas em nosso continente é coisa que deve ser levada a sério. Ora, só com equipes litúrgicas bem constituídas é que poderemos dar cumprimento a este importante objetivo da Igreja em nosso continente, isto é, de uma liturgia inculturada, como é o desejo do Concílio Vaticano II (cf. SC 37-40).

SENTIDO TEOLOGICO - LITURGICO DO ALTAR CRISTÃO

CRISTO É O ALTAR VERDADEIRO

Sabemos que os primeiros escritores cristãos, chamados Padres da Igreja, depois de terem lido, ouvido e meditado profundamente a Palavra de Deus, não tiveram nenhuma dúvida em afirmar que Cristo é a vítima, o sacerdote, o altar de seu sacrifício. Aliás, já a própria Palavra de Deus nos apresenta Cristo como o Cordeiro imolado (Ap 5,6), o Sacerdote supremo, o Altar vivo do Templo celeste (cf. Hb 4,14; 13,10). Portanto, Cristo, Cabeça e Mestre de todos nós, é o verdadeiro altar.

EM CRISTO SOMOS TAMBÉM ALTAR

Isto significa que, sendo Cristo a Cabeça do seu Corpo, que é a Igreja, logicamente seus membros e discípulos, os cristãos e as cristãs, podem ser considerados também, em Cristo, como outros tantos altares. Altares espirituais, nos quais se oferece a Deus o sacrifício de uma vida santa.
Quer dizer: sobre o altar de nós mesmos, “sacrificamos” a nossa vida em favor dos nossos irmãos e irmãs, sobretudo os mais pobres. Como fez Jesus! Os próprios antigos Padres da Igreja sugerem toda essa compreensão de altar.
Santo Inácio de Antioquia († 117), ao ser levado a Roma para ser martirizado, fez o seguinte pedido:
“Não me dêem nada mais do que ser imolado a Deus, enquanto o altar ainda estiver preparado”. São Policarpo († 156), ao exortar as viúvas a levarem uma vida santa, diz que elas “são altar de Deus”. E vejam o que escreve o papa São Gregório Magno (590-604):

“Que é o altar de Deus?

Não é o espírito dos que vivem no bem?...
É muito certo, pois, que se chame de altar o coração (dos justos)”. Ou também, usando outra imagem, a partir do escritor cristão Orígenes († 254), a Igreja hoje afirma: “Os fiéis que, entregues à oração, oferecem preces a Deus e imolam vítimas de súplicas, são pedras vivas com que o Senhor Jesus constrói o altar da Igreja” (cf. Ritual da dedicação de altar, n.º 2).

O ALTAR, MESA DO SACRIFÍCIO E DO BANQUETE PASCAL

Porque Cristo é o altar verdadeiro e, em Cristo, também nós somos altar, é natural que a mesa sobre a qual oferecemos a Deus o sacrifício de Cristo (e, em Cristo, o nosso sacrifício), e em torno da qual participamos do banquete pascal que nos é dado pelo Senhor, venha a ser chamada também de altar.
Neste sentido, a Igreja hoje nos ensina:
“Cristo Senhor, pelo memorial do sacrifício que, na ara (altar) da cruz, iria oferecer ao Pai, instituindo-o sob a figura de banquete sacrificial, santificou a mesa, em torno da qual os fiéis se reuniriam, a fim de celebrar a sua Páscoa.

Por conseguinte, o altar é a mesa do sacrifício e do banquete; nela o sacerdote, tornando presente o Cristo Senhor, realiza aquilo mesmo que o Senhor fez e entregou aos discípulos para que o fizessem em sua memória; o apóstolo claramente o indica ao dizer:
O pão que partimos, não é a comunhão com o corpo de Cristo? Já que há um só pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, visto que todos participamos desse único pão’” (Cor 10,16-17) (cf. Ritual da dedicação de altar, n.º 3).

SINAL DE CRISTO

Em todo lugar, atendendo às circunstâncias, os cristãos e cristãs podem celebrar o memorial do Cristo e sentar-se à mesa do Senhor. Mas é bom que haja um altar estável para a celebração da Ceia do Senhor. Harmoniza-se com o mistério eucarístico, motivo pelo qual se trata de um costume que vem da mais remota antiguidade cristã.
No atual Ritual da dedicação de altar está escrito que, por sua natureza, o altar cristão “é a mesa própria para o sacrifício e o banquete pascal: mesa própria, onde o sacrifício da cruz se perpetua pelos séculos, até que Cristo venha; mesa onde os filhos da Igreja se congregam para dar graças a Deus e receber o Corpo e o Sangue de Cristo”.

E continua, citando a Instrução Geral sobre o Missal Romano:

“Portanto, em todas as igrejas o altar é ‘o centro da ação de graças que se realiza pela Eucaristia’, para o qual, de algum modo, convergem todos os outros ritos da Igreja”.
E diz mais: “Por realçar que no altar se celebra o memorial do Senhor e se dá aos fiéis seu Corpo e Sangue, os escritores eclesiásticos foram levados a vê-lo como sinal do próprio Cristo – e daí tornar-se comum a afirmação: ‘O altar é Cristo’” (ibid., n.º 4).

HONRA DOS MÁRTIRES

O altar é a mesa do Senhor. Esta é a sua maior dignidade. Na antiguidade era costume dos cristãos erigir o altar sobre os restos mortais dos Mártires. E tinham consciência de que não são os corpos dos Mártires que honram o altar, mas o altar é que torna nobre o sepulcro dos Mártires. Por isso, para honrar seus corpos e dos outros Santos, e também para
A cena de Emaús, de Trento Longaretti
significar que o sacrifício da Cabeça se perpetua no sacrifício dos membros, hoje se recomenda erigir os altares sobre os sepulcros destes ou encerrar suas relíquias sob os mesmos.

Deste modo, como escreve Santo Ambrósio de Milão († 397), “entrem as vítimas vitoriosas no lugar em que Cristo é a Vítima. Mas, sobre o altar, aquele que morreu por todos; e, sob ele, os resgatados pela paixão de Cristo”.
Faz lembrar a visão do evangelista João, exilado na ilha de Patmos, registrada no livro do Apocalipse:
“Vi debaixo do altar, com vida, os que tinham sido degolados por causa da palavra de Deus e do testemunho que guardavam” (Ap 6,9).
E o atual Ritual da dedicação de altar explicita: “Na verdade, todos os Santos podem, com justiça, ser chamados testemunhas de Cristo. Contudo, o testemunho dado pelo sangue possui força espiritual, que somente as relíquias dos Mártires, colocadas sob o altar, expressam de modo total e íntegro” (ibid., n.º 5).

O CUIDADO DO ALTAR, UM DESAFIO...

O altar cristão é importante “memória” do verdadeiro altar, que é Cristo. Nele, todo cristão e cristã são também altares espirituais. Ele é, ao mesmo tempo, a mesa do sacrifício e do banquete pascal, sinal de Cristo e honra dos Mártires.

O CULTO EUCARISTICO

Eucaristia, que desde a origem está no centro do culto cristão, é também o centro da vida interior de cada fiel. As formas devocionais que dele surgiram foram se desenvolvendo com o correr dos tempos.
A Igreja e o seu Magistério, por sua vez, introduziram-nas na liturgia, ou autorizaram sua prática privada. O resumo que segue pretende oferecer uma visão histórica desta devoção.

SÍNTESE HISTÓRICA

A devoção eucarística, assim como existe hoje, aparece somente após o século X. No entanto, desde os santos Padres (séculos IV-V), e sobretudo na alta Idade Média (século XIII), certas manifestações devocionais prenunciam outras formas de culto e vivência eucarística.
A celebração da eucaristia, inicialmente, era restrita à liturgia dominical. Ao redor desta celebração semanal, muito cedo tida como de fundamental importância, surge, no tempo de Tertuliano († 220), uma celebração – mais freqüente e até mesmo diária.

A obrigatoriedade da participação da missa dominical aparece somente em 529, por determinação do Concílio de Orange. Nos séculos III e IV, a missa e a comunhão cotidianas passam a ser generalizadas.
A fim de possibilitar a comunhão dos doentes, se estabelece, desde o início, o costume de conservar as santas espécies após a comunhão dos fiéis (Reserva Eucarística). Durante os primeiros séculos, por causa das poucas igrejas e da utilização das casas de família, esta prática necessariamente assume caráter privado.
Justino (†165), na sua Apologia dirigida ao imperador Antoniano, diz que os diáconos são encarregados de levar a eucaristia aos ausentes.

A Reserva Eucarística, uma vez terminadas as perseguições, é cercada sempre mais de respeito e solenemente conservada. O Sínodo de Verdum (século VI) determina que se conserve a eucaristia em lugar eminente e honroso e haja uma lâmpada acesa.
Leão IV († 855) indica expressamente que se conserve o santo sacramento sobre o altar. Às vezes, se conserva também o vinho consagrado. Uma carta de são João Crisóstomo a Inocêncio I faz alusão, por exemplo, ao precioso sangue profanado no lugar em que estavam conservadas as santas espécies.
A devoção à presença do Cristo, como tal, se desenvolve mais tarde.
Santo Agostinho († 430) nos dá testemunho disso: “Ninguém coma daquela carne sem primeiro tê-la adorado...”

O Sacramentário Leonino, do século VII, declara que é toda a pessoa de Cristo, com sua natureza divina e sua natureza humana, que se adora na eucaristia. Certas liturgias antigas assinalam que, no momento da comunhão, se fazia uma elevação pela qual os elementos consagrados eram apresentados aos fiéis com estas palavras: “As coisas santas para os santos!”.

A devoção à Eucaristia é, de modo particular, vivenciada pelo monges que vivem nos mosteiros. Suas celas são contíguas à igreja e, pelo hagioscópio (abertura que permite ver o altar), eles assistem à missa, aos ofícios e comungam.

INCREMENTO DO CULTO EUCARÍSTICO

O movimento em favor da devoção à eucaristia se manifesta cada vez mais vigoroso entre fiéis e teólogos. Porém, a partir de 1200, a teologia e o culto eucarístico tornam-se, em quase toda a Igreja, objeto de constante preocupação.
Não é de estranhar que, meio século mais tarde, seja instituída a festa do Corpo de Deus (Corpus Christi).
É sobretudo na Bélgica que este fervor provoca o aparecimento do culto à eucaristia tal qual o conhecemos hoje.

Em Liège existem mosteiros inteiros dedicados à adoração do SS. Sacramento.
Santa Juliana (1192-1258), primeira abadessa das agostinianas de Mont-Cornillon, tem visões que pedem a instituição de uma festa em honra ao Santíssimo Sacramento. Alguns teólogos consultados se declaram favoráveis.
Roberto de Torote, pouco favorável no começo, muda de idéia depois de um diálogo com Juliana e, em junho de 1246, institui a festa do Santíssimo Sacramento decidindo que seja anualmente celebrada na quinta-feira depois de Pentecostes.
O papa Urbano IV († 1264) estende a festa do Santíssimo Sacramento para toda a Igreja, em 11 de outubro de 1264. A instituição da solenidade de “Corpus Christi”, como uma das maiores festas do ano litúrgico, confere à devoção eucarística um caráter oficial.
A Eucaristia, a partir do século XII, dá origem às confrarias, ordens e congregações religiosas instituídas para promover o culto ao Santíssimo Sacramento. Importante é também o surgimento, no século XIX, dos Congressos Eucarísticos diocesanos, nacionais e internacionais, ocasiões de aprofundamento da teologia eucarística.

LIÇÕES DA HISTÓRIA

Fica demonstrado portanto que a fé no culto eucarístico nem sempre se desenvolveu com equilíbrio, acusando, cá e lá, certos exageros e desvios. Assim, o desejo de ver a hóstia, que se concretizou posteriormente no rito da elevação e nas exposições do Santíssimo, alimentou excessivamente a dimensão individual do culto eucarístico, deixando, à sombra, a dimensão sócio-eclesial.
O aspecto social se restringiu preferentemente a algumas formas exteriores de culto, mas o espírito que animou estas expressões continuou profundamente individualista. Isso empobreceu a dimensão plena e integral da eucaristia.

A acentuação exagerada da eucaristia, enquanto sacramento, chegou mesmo a alimentar atitudes religiosas marcadas por elementos de superstição, como: colocar a hóstia na boca dos defuntos, dentro da mesa do altar, etc. A piedade popular careceu de uma teologia mais sólida do mistério eucarístico como um todo celebrativo, visão que orientasse a devoção eucarística fora da missa.
A presença real do Cristo na eucaristia foi de fato considerado, muitas vezes, apenas como um valor isolado. Cristo não se faz presente na eucaristia para ser simplesmente adorado, mas para ser alimento dos cristãos. Em outros termos, a presença real acontece em função da comunhão:“Isto é o meu corpo que é dado por vós... meu sangue... derramado por vós”. “Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. O pão que eu darei é minha carne para a vida do mundo” (Jo 6,21).

O motivo primeiro é a comunhão. Evidentemente, dado que o Cristo está real e substancialmente presente na eucaristia, é digno de toda nossa adoração e do nosso respeito.
O desenvolvimento deste culto eucarístico fora da missa aconteceu, historicamente, no momento em que o povo se distanciava da celebração litúrgica, porque não mais a compreendia por falta de catequese e pela distância que se estabeleceu entre liturgia e povo. Conseqüência: a não-participação ativa dos fiéis, reduzidos a meros espectadores da ação litúrgica. Dessa forma, os cristãos buscaram formas isoladas e individuais para alimentar a sua piedade e manifestar o seu amor à eucaristia.

EUCARISTIA E ECUMENISMO

O Papa Paulo VI lembra os frutos do culto eucarístico, particularmente em vista do ecumenismo:“O nosso Santíssimo Redentor, pouco antes de morrer, pediu ao Pai que todos aqueles que viessem a crer nele se tornassem uma só coisa, como Ele e o Pai são uma só coisa.
Oxalá que todos celebremos, com uma só voz e uma fé, o Mistério da Eucaristia e, tornando-nos participantes do Corpo de Cristo, formemos um só corpo, unido com os mesmos vínculos que Ele determinou” (Mysterium Fidei, 75).

Finalizando: Nunca devemos esquecer que a presença real está em relação com a comunhão e que Cristo está presente na Eucaristia, em primeiro lugar, para ser alimento dos fiéis. Por isso mesmo, a Eucaristia é digna de adoração e reverência também fora da Santa Missa.

CRISMA OU CONFIRMAÇÃO

* DINAMICA
Hoje vamos começar a refletir sobre outro sacramento, a Crisma que, juntamente com o Batismo e a Eucaristia, faz parte dos “sacramentos da iniciação cristã”.
Na Igreja primitiva os catequizandos recebiam os sacramentos do Batismo, da Crisma e da Eucaristia na noite do Sábado Santo, após longa preparação através do catecumenato.
O sacramento da Crisma tem apresentado, nestes últimos anos, muitos desafios.
Vejamos:
• Sacramento pouco valorizado como compromisso dentro da comunidade cristã.• Adequação de uma idade mais apropriada para entender e assumir este sacramento.• Tempo e formas de preparação, entendendo a catequese como processo.• Catequistas com uma preparação mais adequada.• Comunidades pouco entusiastas e motivadas para cativar e acolher os que querem continuar uma caminhada de fé.• Catequese crismal desligada dos problemas e aspirações dos crismandos.• Vivência e testemunho das famílias que pouco empolga ou motiva seus filhos.• Educação da fé vista como obrigatoriedade, tradição, ou ainda responsabilidade apenas do/a catequista.• A realidade presente em nossa sociedade, que valoriza o momentâneo, o passageiro, o que traz algum benefício, e não o que leva a assumir algum compromisso permanente.• Desengavetar as pastorais para fazer um planejamento em conjunto e realizar um trabalho em parcerias (catequese, liturgia, juventude, missão, vocacional, familiar...).
DINÂMINA:
A) Distribuir aos participantes as frases abaixo, que refletem desafios relacionados com o sacramento da crisma. Trazer as frases já escritas em papéis.
B) Enumerar de um a dez as fichas onde estão as frases.
C) Os números iguais se encontram e discutem o desafio recebido e também poderão apresentar algo de bonito que já está acontecendo na preparação de catequizandos, na paróquia ou comunidade.
D) Partilhar com o grande grupo as reflexões feitas.
1 - Pouco preparo dos catequistas.2 - Desinteresse da família.3 - Contra-valores apresentados pela sociedade.4 - Metodologia pouco adequada.5 - Falta de estímulo da comunidade.6 - Descompromisso dos cristãos batizados.7 - Catequese que não parte das motivações, interesses, problemas dos catequizandos.8 - Sacramentos vistos como tradição, ou ato social.9 - Fé vivida de forma superficial, sem convicção e seguimento a Jesus Cristo.10 - Poucas formas de engajamento na comunidade, durante e após o sacramento da crisma.
ESCLARECIMENTOS
Este sacramento aparece com dois nomes: Confirmação e Crisma.Por muito tempo se entendeu que este sacramento vinha confirmar o Espírito Santo, já recebido no Batismo, ou ainda era um assumir de modo mais consciente o que se tinha recebido como criança.
A presença e a ação do Espírito Santo se faz em todos os sacramentos, mas por excelência encontra-se no sacramento da Crisma ou Confirmação.
“Considerar o dom do Espírito Santo a partir de um só de seus aspectos (militância, força, testemunho, alegria) é sempre empobrecer a sua compreensão global. O que teologicamente está em foco é o Dom que é o Espírito na sua totalidade como o expressa adequadamente a forma sacramental. “... N .... recebe, por este sinal, o Dom do Espírito Santo”. (Pastoral dos sacramentos da iniciação cristã, pág. 25).
A palavra Crisma, no feminino, é o sacramento, ao passo que o crisma é o óleo santo. Quando usamos A Crisma queremos realçar o símbolo da unção com o óleo, portanto ao sermos crismados, somos ungidos pelo Espírito de Deus, para uma missão.
A palavra Confirmação significa que todo cristão, fortalecido pelo Espírito, é capacitado a assumir sua vocação e missão de batizado, para que persevere até o fim no testemunho de Jesus Cristo.
Não podemos pensar tudo isto como algo estático. Os sacramentos são dinâmicos em nossa vida. A cada momento da nossa vida somos convidados, sob a ação do Espírito a confirmar nosso compromisso de cristãos.
Portanto, ambos os nomes têm sua razão de ser.
Os documentos da Igreja, sobretudo o Catecismo da Igreja Católica, usa o termo CONFIRMAÇÃO. E diz: A confirmação aperfeiçoa a graça batismal; é o sacramento que dá o Espírito Santo para enraizar-nos mais profundamente na filiação divina, incorporar-nos mais firmemente a Cristo, tornar mais sólida a nossa vinculação com a Igreja... (CIC 1316).
Isto significa que a fé, na vida do cristão, é um processo. Alimentada, tem a capacidade de se desenvolver e amadurecer.
A fé é como uma planta que necessita de constante cuidados para crescer e ser capaz de dar frutos. O sacramento da crisma possibilita maior aperfeiçoamento e enriquecimento através do Dom do Espírito.
Portanto, não cabe dizer que algo faltou no Batismo e que a crisma vem completar algo, mas existe, sim, uma íntima conexão entre um e outro.
O Espírito Santo nos dá a força especial para tornar a nossa fé mais madura e portanto sermos verdadeiras testemunhas de Cristo, seja em qualquer lugar onde estivermos.
Com o Espírito Santo seremos cristãos 24 horas, isto é, no comprometimento com a paz, a justiça, a solidariedade. Ele é força, alegria, esperança, amizade, comunhão, e ele atua através das pessoas (inclusive daquela que não tem fé), dos sinais dos tempos, das situações políticas e dos desafios históricos.
TENTE RESPONDER
a) O que leva tantos cristãos e cristãs a professar e testemunhar sua fé, mesmo em meio a tantas dificuldades? Pense: nos missionários, nos mártires, santos, santas, homens e mulheres que no seu cotidiano vivem verdadeiramente o seguimento de Jesus Cristo. Que força é esta? De onde vem tanta resistência? Como resistem? Por quê resistem?
b) Enumere pessoas que para você vivem o que assumiram no dia da Crisma. Por que? Como? Onde?
c) Quem será presença do Espírito em meio à guerra do Afeganistão, nos massacres em Israel, na fome da África, na violência das favelas do Rio de Janeiro, dos sem terra em Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso...?
Ir. Marlene Bertoldi

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